Muito obrigada a quem está lendo comentando, comentando e dando estrelinhas. É por vocês que continuo postando. Nas últimas semanas, passei a postar somente uma vez por semanas, isso em grande parte é pela correria, assim que as coisas derem uma melhorada, espero postar, 2 vezes por semana como no início.
Além da Máscara
"Agora que a terra é redonda
E o centro do universo é outro lugar
É hora de rever os planos
O mundo não é plano, não pára de girar
Agora que o tempo é relativo
Não há tempo perdido, não há tempo a perder
Num piscar de olhos tudo se transforma
Tá vendo? Já passou, mas ao mesmo tempo
Fica o sentimento de um mundo sempre igual
Igual ao que já era de onde menos se espera
Dali mesmo é que não vem
Agora que tudo está exposto
A máscara e o rosto trocam de lugar
Tô fora se esse é o caminho
Se a vida é um filme, eu não conheço diretor
Tô fora, sigo o meu caminho
Às vezes tô sozinho, quase sempre tô em paz
Num piscar de olhos tudo se transforma
Tá vendo? Já passou, mas ao mesmo tempo
Esse mundo em movimento parece não mudar
É igual ao que já era de onde menos se espera
Dali mesmo é que não vem
Visão de raio-x, o x dessa questão
É ver além da máscara além do que é sabido
Além do que é sentido, ver além da máscara"
Humberto Gessinger
Eram três paraquedas, destinados a Bishop, Lisbeth e Lyra. Somente eu e Asriel não ganhamos um. Mas eu já tinha recebido um nesse dia, então só o carreirista não havia ganhado presentes ainda.
Entramos na casa, e os três começaram a abrir os seus embrulhos. Notei que o rosto de Lyra e Asriel tinham arranhões, esse último ainda estava com a mão cortada, mas não parecia grave. Falei com a garotinha, que me contou que eles tiveram de fugir de uma carreirista. Em certa etapa, chegaram a ficar cara a cara com ela. Mas Asriel usou a espada, conseguiu atordoá-la e os dois fugiram. De certa forma, ele tinha salvado a vida de Lyra. E eu fiquei agradecida por isso.
O via em um canto. A sala era iluminada por velas, então não conseguia enxergar muito bem. Mas ele estava triste, tentava disfarçar isso. Lyra ficou feliz com o seu presente, ela recebera um pão grande, uma rosca doce, segundo ela a sua preferida. Lisbeth ganhara uns fios e fusíveis que ela pretendia usar no carro. E Bishop uma luva, que o facilitaria manusear o machado. Já Asriel nada. E eu pensei no que ele deveria estar sentido e no que poderia ter acontecido. Aquilo não era justo... Falei com Lyra. E pensamos numa forma de animá-lo. Me sentei ao lado do nosso pescador, puxando conversa:
– Um grande dia para gente, não?
– Sim- ele me deu um sorriso amarelo.
– A glória também é sua, sabia?
–É verdade.
– Eu entendo, todos receberam presentes, menos você. Mas essa vitória é tão sua quanto nossa- continuei e ele riu – Você atraiu os carreiristas, lutou contra um deles e salvou Lyra. Obrigada, sem você isso não teria dado certo.
– Eu só fiz a minha parte- ele falou mais animado.
– E foi muito bem. Entenda uma coisa, é diferente para você. Você é um carreirista. Seus mentores podem não ter visto a nossa ação com bons olhos, e não te mandaram nada. Mas isso não quer dizer que você não é bem visto. Aposto que assim como a gente, muitos patrocinadores querem te mandar coisas, seus mentores é que não tentaram, pois eles escolheram Lune... Alguns mentores escolhem tributos. Isso aconteceu com minha irmã. E acho que é o que está acontecendo com você. Mas o nosso sucesso é seu sucesso também... Com a gente é diferente, nós somos de distritos não carreiristas, somos um desafio ao grupo deles, e os nossos mentores gostam disso. Além do mais, só eu tenho o companheiro de distrito vivo, então dos outros 3, nenhum mentor precisou escolher.
– Isso quer dizer que seus mentores escolheram você?
– Não é bem assim. Eu tenho dois mentores, acho que isso está balanceado, um luta por mim, o outro não. Mas pelos menos tenho algum deles do meu lado, você não parece ter isso – é claro eu tinha uma vantagem da qual não podia nem queria falar claramente ... Kent!
– Entendi. - ele riu.
– Anime-se garoto. Você também pode ganhar um presente.
– Posso? - ele parecia confuso.
– Lyra? - ela estava com uma faca na mão, fez um x na parede, e eu continuei – Mas antes tem que passar por algo, mostrar o que realmente consegue fazer com a zarabatana. Aqui! Só para a gente! Sem a pressão dos Gamemakers. Não trema, mostre que você consegue acertar aquele X.- dei a arma para ele e seus olhos brilharam.
Ele se posicionou em frente à parede. Todos prestavam atenção nele. Então Asriel soprou a sua arma e acertou o alvo em cheio. Nós gritamos e o parabenizamos. Lyra se aproximou dele. Partindo o seu pão e lhe dando um pedaço:
– O seu prêmio, Asriel – ela sorriu e ele lhe devolveu o sorriso.
Ele pegou o pão, parecendo satisfeito. Fui até ele e disse:
– Acho que isso é pouco, não? Você merece mais. - aproximei o seu rosto do meu e o beijei na bochecha.
Ele ficou ruborizado, mas estava sorrindo, acho que tinha gostado. Todos começaram a assobiar e gritar. Fora um momento bem feliz e cheio de companheirismo.
***
Já estava amanhecendo e eu acordei. Olhei em volta, vendo Lisbeth na cama, os meninos dormiam em colchonetes no chão, mas não via Lyra. Fui andando pela casa e a avistei em um corredor. Ela estava com uma mochila. Num primeiro momento, achei que fosse a dela, mas olhando com cuidado, percebi que era a minha. Ela segurava meus bilhetes e os lia. Corri até ela, bruscamente, arranquei a mochila e os bilhetes das suas mãos. Eu estava furiosa, e a garota se assustou bastante:
– Você não tinha esse direito, Lyra. Isso é meu! Minha privacidade e você a invadiu!- virei às costas, deixando-a no corredor.
– Desculpa, Hope... Eu ... – ela ainda tentou falar, mas eu não dei atenção.
Aquilo não tinha desculpa, eu havia confiado nela, de todos era a que eu mais confiava e ela me traíra, bisbilhotara as minhas coisas, e por quê? Por causa de uma curiosidade boba. Eu estava possessa, voltei ao quarto. Guardei os bilhetes de Kent, me sentando num canto.
Ela entrou e me olhou triste. Eu a mirei brava, logo depois virei o rosto. Não queria conversas com ela. Ficamos em silêncio até o pessoal começar a acordar. Todos comeram e depois nos empenhamos em nossas tarefas.
Durante esse tempo, eu ignorava Lyra completamente. Roda vez que ela me olhava arrependida, eu desviava o olhar. Sabia que ela era somente uma menina, mas mesmo assim, sentia raiva pela forma que tinha agido.
Asriel foi pescar, eu e Bishop o acompanhávamos. Não era mais uma escolta, era uma proteção, pois andar sozinho na arena se provara bem perigoso. As meninas haviam ficado no carro, iam usar o presente de Lisbeth nele. Eu pensava sobre elas. As duas eram pequenas. Tinham facas, mas não sabiam usá-las bem. Ambas estavam desprotegidas e isso me incomodava. Não era por que eu brigara com Lyra, que queria algum mal acontecesse a ela.
Resolvi voltar pela segurança delas. Fui ao carro e as duas trabalhavam nele. Lisbeth estava bem animada. Lyra a ajudava e eu também acabei dando uma mão. Não entendia muito daquilo, mas tinha um conhecimento básico em tecnologia, então não era uma inútil completamente.
O trabalho no carro estava ficando promissor. Mas eu e Lyra ainda não nos comunicávamos e ela me olhava com culpa. A situação estava ruim, ainda sentia raiva, mas a gente precisava resolver as coisas. Não poderia perder tempo com rusgas na arena.
Me sentei em um passeio, chamandoo Lyra, ela ficou surpresa, mas se sentou ao meu lado, eu falei baixo com ela, praticamente sussurrando em seu ouvido:
– Então, Lyra. Foi muito feio. Era algo particular, por que você fez aquilo?
– Desculpa, é que eu estava curiosa sobre você e seu mentor. E... – sua voz fraquejava.
– Eu imaginava, mais isso não é desculpa... Então conseguiu matar a sua curiosidade? Descobriu o que queria?
– Mais ou menos. Eu só queria saber mais, mas não queria que você ficasse brava, eu pensei que você não ia descobrir.
– Mas descobri, né? E isso me magoou, era algo meu, que eu não queria compartilhar, gostaria que você respeitasse. Nunca mais faça isso. Tá bom?
– Tá. Prometo. – a tensão havia diminuído, mas ainda continuava entre a gente.
– O que achou dos bilhetes de Kent? – perguntei rindo para quebrar o clima.
– Do seu Kent? Intensos! – Lyra riu.
– São mesmos. Ahh... Lyra é complicado. Ele ...
– Não precisa ser complicado. Ele é seu namorado?
– Ainda não definimos o que acontece entre a gente, mas pode se dizer que ele é meu amante.- ela arregalou os olhos e ficou vermelha – Você estava toda assanhada, fazendo suposições e querendo saber, agora aguente o que estou dizendo. – eu ri.
– Por que é complicado, Hope?
– Kent é o motivo de ter me voluntariado, ele matou a minha irmã nos jogos vorazes e eu queria matá-lo. Mas... sei lá, eu não consegui, acabei me envolvendo com ele. Ele é sedutor... encantador, por assim dizer. – Lyra continuava com olhos arregalados, até eu fiquei surpresa em conseguir contar aquilo, mas ela se acalmou.
– Você gosta dele?
– Isso é ainda muito novo para mim. Não sei o que dizer, sinto a falta dele, dos seus olhos, do seu corpo, das sensações que compartilhamos, das nossas conversas... Penso bastante nele, seus bilhetes me animam... Sonho com ele... Mas não consigo perdoá-lo, ele matou a pessoa que eu mais amava. É difícil. Já ele... bem ... antes de eu vir para cá, ele disse que me amava.
– Você não disse nada para ele?
– É, mas as palavras dele me fizeram bem, ele disse que esperaria por mim e que me amava.
– É complicado mesmo. Mas é tão bonito! – ela riu.
Uma sensação boa tomava conta de mim ao compartilhar aquele segredo. Era como se um peso fosse tirado de meu corpo, mas Lyra não podia achar que sempre teria vantagem com o que fez:
– Eu te contei tudo, mas preste atenção, não faça nada parecido novamente. Da próxima não terá perdão, garotinha.
Me levantei, indo ajudar Lisbeth, Lyra fez o mesmo e depois de um tempo, notei um vulto aparecendo no início do rua. Um garoto se aproximava da gente, peguei duas facas e as segurei firme...
Vocês gostaram? Saibam que muitas surpresas ainda nos aguardam. Não deixem de comentar e dar estrelinhas se gostaram, isso é muito importante para mim.