Triagem

By AnnaFrathane

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Charlotte tem quinze anos e desde sempre vive no subsolo da terra devido a uma explosão solar, ela sempre se... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo Bônus (Klaus)
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13

Capítulo 7

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By AnnaFrathane

Por um momento eu não acreditei no que estava vendo. Era meu pai. Seus olhos castanhos e seu cabelo grisalho, que a luz da lâmpada ao lado esquerdo refletia, eram inconfundíveis, além da sua voz determinada. Estava um pouco cansado de fato, mas era ele, e ainda que ele tenha feito muitas coisas ruins pra mim e para minha mãe, todas as imagens da minha infância retornam a minha mente. Os momentos olhando para o jardim, nossas idas secretas à Triagem. Tudo isso parece me invadir de uma só vez, é um misto de sentimentos. Parte de mim quer o seu beijo na testa novamente, depois de tantos anos, mas parte de mim ainda quer bater nele, quer que ele desapareça dali pra nunca mais voltar, porque eu nunca vou aceitar o fato dele nos deixar para viver com outra mulher.

- Como você tem coragem ? Depois de tantos anos sem ao menos dar notícia, depois de fingir que eu não existia e não me mandar ao menos um memorando. Depois de sair de casa pra viver com uma outra mulher. Como você tem coragem de reaparecer achando que tem possibilidade de falar comigo? Eu nunca mais quero que você apareça na minha frente, nunca mais quero ver você. - As palavras saem da minha boca antes mesmo de serem pensadas, eu tenho o terrível costume de agir sem pensar e assim eu saio correndo e quando me dou conta estou chorando, chorando como uma criança.

Vou para o lugar onde sei que ninguém descobrirá por enquanto, o meu lugar favorito com Klaus, na torre antiga, ficávamos brincando quando tínhamos aproximadamente 10 anos, Klaus era o melhor contador de histórias existente e sempre dava um jeito de cuidar de mim. Sempre zeloso, mesmo aos 10 anos de idade, mas nada disso importa agora. Quando chego percebo que continua do mesmo jeito de sempre, sem câmeras e iluminado apenas com uma lâmpada, imediatamente lembro de cada momento vivido aqui, todas as histórias e brincadeiras que fazíamos. Klaus era o melhor amigo do mundo, as vezes me pego pensando nele, querendo seu abraço, mas nada é como se espera nessa vida. Sento-me próxima a uma pequena e única janela que o local possui. Penso em cada momento que vivi hoje e em como meu pai parece fingir que nada aconteceu, como ele acha que mesmo depois de tantos anos ele pensa que pode vir falar comigo. Confesso que uma coisa somente me intriga, por que minha mãe fez isso ? Por que ela me levou até ele, se ela sempre falou dele com desprezo. A muito tempo minha mãe não estava normal comigo, parecia sempre nervosa e insegura, e parece que achei o motivo disso.

Acordo exausta e nem ao menos percebo que dormi, pela hora já deve ser tarde e então decido voltar para casa, sem ninguém pelos corredores, somente as câmeras, sigo até em casa e abro a porta central bem devagar. Vou para o meu quarto e, para minha sorte, minha mãe já deve estar dormindo. Minha cama nunca foi tão confortável, devo ter dormido por apenas algumas horas, mas ainda assim consigo sentir a diferença entre um chão duro e uma cama macia.

Acordo sem saber o que fazer, apenas permaneço imóvel olhando para o teto. Percebo que há um memorando em meu programador, mas quando olho é somente a mesma coisa de todos os dias. Sei que vou ter que levantar para ir as aulas mas não sei como encarar minha mãe, ainda que minhas perguntas nunca fossem respondidas, ontem eu sei que a deixei mal, mas não posso pedir desculpas. Afinal, o erro não fora meu.

Hoje a aula foi cancelada devido a problemas da manutenção do prédio, então eu me levanto e vou até o banheiro escovar os dentes e tomar um banho a fim de que toda preocupação se esvaia através da água. Os acontecimentos de ontem a noite me fizeram querer buscar respostas, e para isso, infelizmente eu teria que falar com meu pai. Saio do banho e me deparo com ele olhando para mim no sofá, ao lado de minha mãe, como se estivesse em casa novamente, como se essa fosse sua casa. O olhar de ambos tornam-se confusos de repente, confusos e misteriosos, como se estivessem para revelar algo surpreendente.

- Eu não acredito que você tem coragem de vir até aqui depois de tudo que passou. - Eu o observo perplexa. Sinto meu rosto ficar vermelho de raiva e sinto vontade de socá-lo, no entanto eu me lembro que preciso de respostas e sinto que ele é o único que poderá me ajudar.

- Olha, Char eu sei que está com raiva de mim, mas precisamos conversar sobre algo muito sério. Eu, você e sua mãe. Só nos dê uma chance. - Sinto que ele está falando sério, pois aquela expressão eu já conheço a muito tempo. Seu olhar sisudo e sua boca formando uma linha fina demonstra seu ar de seriedade e eu acabo me lembrando das broncas que levava quando me machucava.

Eu enfim cedo, apenas pego uma maçã e sento-me no sofá nude que a direção fez questão de dar à minha mãe por conta de sua dedicação aos plantões e por assumir o cargo de sócia do hospital.

Meu pai me analisa como sempre fez e começa a falar.

- Você já está na hora de saber que tudo que aconteceu foi por um motivo.

- Do que está falando ?

- Char, preciso que entenda o que vamos falar agora. - Minha mãe diz com a típica voz calma que ela utiliza sempre quando está prestes a dar uma notícia ruim.

- Eu e seu pai nunca nos separamos. - Eu não consigo acreditar, eu nunca senti tanta raiva na minha vida, como assim eles nunca se separaram ? Então não havia mulher nenhuma ? E se não havia, por que meu pai desaparecera por tanto tempo ? Então a minha vida foi uma mentira ?

- Como ? - Eu somente deixo um dos dois pronunciarem e tento não me concentrar na raiva que estou sentindo.

- Vamos explicar. Seu pai e eu armamos durante esses anos todos esse suposto desaparecimento, somente a fim de proteger você, nós nunca nos separamos e nunca existiu mulher alguma, eu não podia te contar o que aconteceu até o dia da Triagem, e ainda não posso contar o motivo disso tudo, mas preciso que acredite que fizemos tudo isso somente para te proteger.

Como ninguém nunca me conta nada e a minha vida parece ser uma mentira somente olho para o programador que está sobre a mesa de centro cor de madeira. É de meu pai. No momento em que eu olho vejo o seguinte memorando:

"Assim que sua filha passar na prova final de Analisadora, sugiro que ela desapareça, para o bem de todos"

Chanceller Richard

O Chanceller Richard me odiava, e disso eu já sabia, mas pedir pra que eu desapareça eu já achei exagero. Por que eu seria tão prejudicial as pessoas que viviam ali ?

Uma coisa que realmente me deixou surpresa no que eu vi no memorando foi o fato dele mencionar desaparecimento e não exoneração. Desaparecimento nos tempos anteriores ao subsolo era algo terrível, mas aqui, agora, tornou-se bem melhor do que ser exonerado. A exoneração é ser jogado para a superfície sem nenhuma proteção, sem armamentos ou medicinas, ou até mesmo sem uma proteção solar, diferentemente do desaparecimento, que consiste em assumir outra identidade, mas só o que eu queria entender é o porque disso tudo.

No momento seguinte ele percebe que leio o memorando e o retira da pequena mesa de centro, cujo só cabe um vaso de flores de plástico cor de rosa. Então essa é a deixa para eu me retirar para o meu quarto, eles não insistem para que eu fique, o que não me admira, já que tudo ao meu redor parece sucumbir em mistério, quando descubro que minha vida é simplesmente uma mentira. Será que Klaus também tem a ver com isso ?

Deito-me na cama e olho para meu teto com aquelas estrelinhas coladas, que Klaus me dera de aniversário uma vez. Ele sempre foi um grande amigo, e para mim ele já sabia de tudo, o que em parte piora a situação e eu deveria estar ainda mais furiosa com ele, mas não é isso que sinto, surpreendentemente eu quero agradecê-lo por me proteger de não sei o que, mas quero somente agradecê-lo.  

Imediatamente lembro-me das nossas conversas, o como ele parecia inquieto e cochichava e olhava para os lados como se alguém, além das 3000 câmeras, estivem nos observando. Eu sabia que ele não podia me dizer nada, isso me incomodava e me deixava com raiva mas no fundo eu queria ele de volta em minha vida, queria que todos aqueles momentos que vivemos juntos retornassem, eu precisava dele e sei que ele precisava de mim.

Decido fazer o que já deveria ter feito a muito tempo.

"Klaus, precisamos conversar, prometo não fazer perguntas que você não poderá me responder. Encontre-me  na torre, é urgente"

Beijos, Char

Ele imediatamente me responde com um "ok", não era o que eu queria que ele me respondesse, mas era o que eu já esperava. Afinal, depois de tanto tempo sem mandar ao menos um memorando, é natural que as coisas se esfriem entre nós. Porém, eu decidi que não ficaria assim, sei que tudo que ele anda fazendo é fingimento, sei que ele não tem culpa, sei que me ama.

Pego meu casaco vermelho e sigo até a porta sem dar espaço para que meus pais me questionem de alguma coisa, não estou afim de manter  contato com nenhum deles e quanto mais tempo eu passar fora de casa melhor. Passo pelo corredor norte e sigo até a torre. As câmeras parecem focar em qualquer movimento que eu faça, mas as despisto quando chego próximo a torre. Não demora muito até que finalmente enxergo aqueles olhos azuis próximo a única lâmpada que ilumina o local. Seus cabelos claros são refletidos pela lâmpada e seu olhar parece estar cansado. Ele abre o sorriso mais lindo quando me vê e eu imediatamente me levanto e o abraço.

Naquele momento esqueço de tudo e finalmente entendo que ele só quer meu bem, ouço seu coração bater no mesmo compasso que o meu e nossos lábios se tocam. Nunca havia experimentado essa sensação, e é como estar num paraíso, seu beijo é suave e seus lábios são quentes, a sensação de êxtase me domina. Apenas me deixo levar por aquele balanço que nunca havia sentido antes.

Ficamos ali durante o resto do dia, abraçados no chão frio, mas o seu amor me aquecia. Sem perguntas ou brigas, eu até me esqueço o que vim fazer aqui. Pois ali, nos seus braços, nada mais importava.

·············
Oi oi gente, eu queria pedir novamente pra que se vcs gostarem do capítulo, dar um votinho, ajuda muito. Beijinhos.

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