Anne entra no meu quarto com toda a pressa do mundo e senta-se ponta da minha cama completamente irritada. Giro-me na minha cadeira e encaro a minha amiga, dando um pequeno sorriso amigável e preocupado.
- Não perguntes! – Anne desvia o seu olhar do meu e deixa-se cair para trás, suspirando tão profundamente que quase sinto a sua dor. – Porque é que eu tenho o pior irmão de sempre?
Não sei qual foi a minha reação ao ouvir tais palavras da Anne, mas eu estava completamente admirada com isto. Anne nunca ficava chateada com o irmão. Não a ponto de vir para minha casa neste estado.
- Anne... - Volto a girar a cadeira, colocando-me assim à frente da secretária onde eu estava no computador. – O que o James fez?
- O estúpido levou para casa a Abigail e tu sabes bem o quanto ela me odeia. – Anne volta-se a sentar na cama e eu fecho o computador, olhando novamente para a minha amiga.
- Anne o teu irmão não o devia ter feito, mas também não podes ficar assim por isso. Porque não a mandas-te embora? – Conseguia ver uma raiva enorme presente em Anne, sei que ela e Abigail nunca se deram, ela sempre tratou Anne do piorio e James sabia disso.
O que mais me admirava no meio desta história era como é que mesmo James sabendo o que a irmã passava nas mãos daquela rapariga, ele a levava para casa deles. Como é que ele tinha coragem de levar para a sua própria casa a rapariga que praticava bullying à irmã.
- E tu não achas que eu o fiz? É obvio que eu expulsei aquela maldita da minha casa, mas o meu irmão começou a bancar o herói da queridinha Abigail e mandou-me à merda.
- E tu vieste para minha casa? – Olho curiosa para ela, que dá por fim uma risada não muito demorada.
- Parva, eu não te estava a chamar merda. – Anne atira-me uma almofada, que por sorte consigo agarrar antes de me acertar em cheio na cara. - Mas de facto tive de vir, eu não queria ficar dentro das mesmas paredes que ela.
- Ignora o teu irmão, tu sabes bem o quanto as raparigas têm efeito nele. Isso passa. – Anne suspira novamente e dá um pequeno sorriso, concordando comigo.
Anne levanta-se da cama e caminha até a meu lado e dobra-se sobre a secretária, abrindo o meu portátil.
- E tu, o que estavas a fazer? – A sua voz chega até mim, sem nunca receber um olhar da mesma, que estava concentrada no meu computador. – Wow, Niall?
Lembro-me logo da conversa aberta com Niall e instantaneamente a minha mão fecha o computador deixando Anne olhar seriamente para mim, como se não acreditasse no que eu tinha realmente acabado de fazer.
- Marian, quem é o Niall? E que raio de reação foi essa? – Anne pega na minha mão e empurra-me até à cama, onde nos sentamos as duas.
Olho para todos os lados, envergonhada, menos para Anne. Como é que eu lhe iria explicar tudo isto? Teria de lhe contar tudo?
- Niall é só um amigo, Anne. E tu sabes quem ele é. – Falo, olhando finalmente para a minha amiga.
- Ai sei?
- O rapaz loiro da festa? – Faço-a relembrar dos anos da sua prima.
- O amigo do Liam? OH MEU DEUS! – Rio-me com a sua reação e ela levanta-se disparada da cama, começando a andar de um lado para o outro. – Tu andas a falar com o amigo do Liam? Como é que isso aconteceu? Marian... - Anne coloca-se à minha frente e olha-me com um olhar esperançoso. – Tens de arranjar forma de eu voltar a ver o Liam, eu preciso imenso de o voltar a ver.
- Eu... Ah... Posso tentar!? – Anne levanta-se e salta imediatamente gritando um pequeno "yey".
- Obrigada, obrigada, obrigada! És a melhor amiga do mundo! – Anne abraça-me, apertando-me e mais uma vez rio-me dela. – Mas mudando de assunto... - Ela volta a sentar-se a meu lado. – Nunca mais me falas-te nada do Louis. Como é que as coisas vão?
- Eu acho que me apaixonei mesmo por ele, Anne... - Suspiro e Anne murmura um "eu já tinha percebido isso". – Não sei, isto é tudo tão difícil. Não queria que nada disto estivesse a acontecer, tu sabes perfeitamente que ele me recusou, que ele disse que eu era demasiado nova para ele.
- Eu sei, e lamento por isso, acho que isso não devia importar.
- É, diz-lhe isso a ele. Eu vi-o no dia da festa, sabias? – Anne acena com a cabeça.
- James contou-me que estavas lá...
- E Louis deu-me boleia até casa... - Anne olha para mim completamente surpreendida.
- Isso não deveria ser algo bom? – Ela sorri.
- Não quando isso requer trazer a ex namorada no carro também. – Suspiro e observo a parede do meu quarto em frente. – Foi horrível. Ela começou a insinuar coisas e a dizer que eles estavam quase a voltar, que se estavam a acertar.
- E o Louis? Ele deixou ela fazer-te isso, mesmo sabendo que tu podes estar a sentir algo por ele?
- Ele não fez nada na altura, o que ele poderia fazer? Ele veio cá no dia a seguir.
- Como assim ele veio cá? – Anne quase que se entala com as minhas palavras e eu rio-me por breves segundos da sua reação.
- Ele veio cá a casa desmentir a conversa dela toda... - Anne murmura um "e?" e continua a encarar-me assustadoramente. – E ao início quase que parecia que ele realmente queria algo, que ele estava disposto a por a nossa diferença de idades de lado e sei lá, talvez lutar por um "nós" futuro, mas depois tudo voltou ao normal e eu não aguentei mais e expulsei-o de minha casa.
- Tu o quê?
- Anne, eu não aguentei mais. Eu não consigo entender-me a mim mesma, eu não consigo entender o que se está a passar comigo, eu sinto-me perdida e confusa e ele não me está a ajudar nada, tanto me dá esperanças, como me afasta. Sabes o quanto isso é difícil?
Anne abraça-me e mesmo eu lutando contra, as lágrimas começam a cair-me dos olhos e escorrendo lentamente pela minha cara. Eu gostava que as coisas fossem sempre fáceis. Gostava que tudo corresse sempre da forma como eu planeava e que nunca existissem contratempos. Tal como me ter apaixonado por um homem que para além de fazer nove anos de diferença comigo, ainda era o homem mais confuso do universo e que eu mal conhecia.
- Meu amor, tem calma. Tu sabes que eu estou aqui, eu vou estar sempre aqui para ti. E que sabe, talvez este Niall decida ocupar o lugar que Louis não quis?
- Eu não quero ter de passar por isso novamente, Anne. Ter-me apaixonado foi um erro. Um erro que eu não devia ter deixado acontecer.
- Para com isso, Marian! Apaixonares-te por alguém não é um erro, não pode ser um erro. Não podes dizer isso apenas porque um rapaz te magoou. Não podes deixar de viver a tua vida por causa daquele estúpido. Se gostas de Louis de verdade? Não desistas. Se queres desistir dele, desiste apenas dele e não do amor. Tu mereces ser feliz.
Encaro o chão e penso se Anne realmente tinha razão. Anne parecia realmente a minha mãe a falar. Elas eram tão iguais quando se tratava deste assunto. Sempre diziam a mesma coisa, sempre me aconselhavam da mesma maneira e eu realmente estava grata por ter conhecido Anne, por a ter deixado entrar na minha vida e por me sentir segura em lhe contar todos os meus segredos, qualquer um que fosse.
- Tudo bem, vamos esquecer isto certo? – Limpo os meus olhos molhados pelas lágrimas e levanto-me mostrando um sorriso. – Vamos fazer alguma coisa de interessante hoje.
Antes que Anne me pudesse responder o seu telemóvel toca e a mesma encaro-o repreensiva.
- Não atendes? – Anne encara-me.
- É o James, estou sem vontade.
- Anne, apesar de tudo ele é teu irmão. Atende.
Anne suspira e por breves segundos ela pensa se deve ou não atender, mas a sua consciência diz-lhe para ela o fazer e a mesma atende a chamada. Como não queria ouvir a sua conversa pego no meu telemóvel para me poder distrair e mando uma mensagem ao Niall, o qual eu deixei de responder na internet.
"Hey, eu tive um pequeno imprevisto, falamos antes por aqui?"
Niall como sempre, responde de seguida e eu sorrio ao ver que o mesmo me dá uma resposta positiva e logo começamos novamente a trocar mensagens.
Anne logo desliga a chamada e eu olho para ela a sorrir.
- Então, correu assim tão mal?
- Não, mas tenho de ir para casa agora. – Ela murmura indignada.
- Não vás, não me deixes sozinha num dia como este! – Coloco-me de joelhos à frente da mesma suplicando na brincadeira para ela não me deixar sozinha.
- Porque não vens comigo e dormes lá? Ao tempo que não fazemos algo assim. – Anne sugere e eu logo me levanto indo em direção ao meu armário.
- Estava a ver que não perguntavas! – Ouço Anne rir-se e enfio um pijama e uma muda de roupa para dentro do meu saco.
Pedir a permissão da minha mãe não custou muito, ela deu logo. A minha mãe e a mãe de Anne conheciam-se muito bem, devido à nossa amizade também, por isso sempre que ía para lá, ou Anne vinha para cá, as nossas mães nunca se opunham.
Chegar a casa de Anne foi o que mais custou, pois tivemos de ir a pé e a casa dela não era propriamente ao pé da minha. Mas felizmente fomos o caminho todo a conversar e foi isso que fez custar menos, porque podemos nos distrair um pouco uma à outra e até nos animar.
Assim que avistamos a casa da minha amiga, ela hesitou um pouco antes de se aproximar e de abrir a porta. Eu sei o quão difícil é estar dentro das mesmas paredes que a pessoa que nos magoou de uma forma imperdoável. Eu sei o quanto isso custa. E sei que Anne não gosta de quando Abigail ainda a tenta incomodar depois de tanto tempo.
- Anda, eu estou aqui! – Falo para a minha amiga que sorri e caminha então até à porta de casa.
Anne coloca a chave na fechadura e roda a mesma para destrancar a porta e entrar em casa. Anne deixa-me entrar primeiro e depois dela também estar dentro ela bate a porta com um pouco de força, provavelmente para dizer que está em casa de uma forma não direta.
Avançamos então as duas até ao seu quarto e eu coloco o meu pequeno saco num canto do seu quarto e retiro as minhas sapatilhas, colocando-me em cima da cama da Anne que se senta na sua cadeira e retira os seus sapatos também.
Não demora muito tempo até que o irmão de Anne abra a porta do quarto de Anne e entre sem pedir autorização.
- Marian? Não sabia que estavas aqui... - James fala surpreso.
- Olá também para ti, James. – Falo sem mostrar qualquer tipo de emoção ao vê-lo. Não suportava ver Anne mal e eu sabia o quanto James a tinha magoado hoje, por isso não, hoje James não merecia alguma atitude simpática de minha parte, pelo menos até ele pedir desculpas à sua própria irmã.
- Ah... Marian...
- Não te preocupes, eu deixo-vos sozinhos. E vê lá se pedes desculpa à tua irmã, James. – Começo a caminhar então em direção à porta.
- Ah... Marian, o Louis...
Antes que James pudesse acabar de falar, a imagem de Louis aparece à minha frente, mal eu abro a porta entreaberta. Engulo em seco e logo sou capaz de ouvir James novamente.
- Está aqui...
Desvio os meus olhos de Louis e viro-me para trás fitando James.
- Fala com a tua irmã.
Fecho rapidamente a porta à minha frente e quando me vejo sozinha no corredor com Louis, apresso-me a fugir para a parte de baixo de casa de Anne e James, para não ter que falar com Louis.
Sento-me no sofá, mal chego à sala e ligo a televisão da mesma que inicia no canal Hollywood.
- Marian... - A sua voz rouca apanha-me de surpresa e eu sinto o meu corpo ficar descontrolado. Olho para trás na espectativa de ele não estar lá, de eu estar apenas tão incomodada com o facto de estar no mesmo local que ele, que eu estava já a imaginar coisas. Mas não, o seu olhar estava penetrado em mim, os seus olhos azuis pediam para que eu nunca parasse de olhar para ele também. – Marian, não são apenas eles que precisam de falar. Nós também precisamos.