Ela sabe a verdade.
Clementine Lincoln
Silêncio. O pior tipo de reação quando alguém lhe conta a verdade. O silêncio pode ser calmo mas também pode ser sombrio. Uma onda de emoções tão forte que te faz ficar calado. Ferido, ou não. Alegre, ou não. Tudo o que eles conseguem ver, é um vazio. Eu continuo fitando o copo de whisky em minhas mãos, balançando e ouvindo o barulho dos gelos baterem.
— Diga o que quer saber. — Brian pediu.
— A verdade. — O fitei pela primeira vez, dês de que entramos neste escritório.
— Quando eu tinha meus 16 anos, eu conheci um garoto, Jackson. A gente frequentava a mesma escola e acabamos virando amigos. — Brian suspirou, como se essa memória quebrasse ele. — Depois da escola, nós perdemos o contato. Os anos passaram e eu conheci a sua mãe. A gente não tinha as melhores condições e quando você tinha dois anos, tudo piorou. Ficamos tão zerados que não tinha como te sustentar. Elijah queria cuidar de você, mas sua mãe não deixou, já sabendo em o que ele era metido na época.
— Mamãe me disse que meu avô tinha dinheiro, e Elijah ficou com tudo.
— Elijah herdou o dinheiro. — Me corrigiu. — Seu avô deixou tudo para ele e ele investiu nesse mundo, por isso sua mãe não apoiava.
— E por isso ela não deixou ele ficar comigo até as coisas melhorarem?
— Sim. Eu já perdido e sem saber o que fazer, acabei indo para um bar aonde eu encontrei o meu amigo do passado, nós nos reaproximamos e eu descobri a escuridão do seu passado. Sua mulher foi estuprada pelo pai de Jackson e se matou, Jackson matou o pai depois disso. Eu contei para ele tudo que estava acontecendo comigo, mas ele nunca soube de você. Sua mãe nunca gostou dele e não queria nem que ele soubesse da sua existência. Quando estávamos no limite, ele me arrastou pra ir assaltar uma loja. Deu tudo certo, mas eu e sua mãe brigamos feio. Com o tempo, nós continuamos faturando mais e buscando por mais. Até que Jackson me contou sobre um plano para matar um chefe de tráfico de drogas, para ganharmos mais poder. Ele sabia de tudo, sabia das brigas e sabia que eu iria "abandona-ló" pra continuar com minha mulher. — A mão de Brian começou a tremer e ele fechou os punhos, uma lágrima caiu do seu olho e ele secou rapidamente.
Suspirei e respeitei seu silêncio. O meu corpo está frágil, minhas mãos estão suadas e minha respiração acelerada assim como meu coração. Eu não poderia imaginar meteda dessa história. Pra mim ele simplesmente resolveu ficar ao lado de Elijah e nos deixar para trás, foi o que eu sempre pensei.
— Na noite em que eu disse a ele que iria desistir, sua mãe morreu. Me ligaram de noite, você estava no meu colo e porra.. eu sabia que algo de errado tinha acontecido. Eu tentei esquecer, tentei deixar pra lá, mas não aguentei. Te deixei com Rose e vim atrás de Elijah, para ele me ajudar a descobrir a verdade.
— E você nunca mais voltou. — Disse com a voz falha.
— Filha.. — Brian levantou da poltrona, vindo para perto de mim. — Eu me tornei um homem horrível, não queria que você crescesse comigo por perto. Todos iam querer te atingir pra chegar até mim.
— Por que nunca me contou antes?
— Sua mãe me pediu, no dia em que brigamos. Ela não queria que você achasse bonito um pai que mata e rouba.
Se ela soubesse que me envolvi com um cara assim.
— Isso é demais eu preciso... eu preciso descansar. — Terminei meu whisky em um gole. — Obrigada por me dizer a verdade.
Coloquei meu copo em sua mão e saí do escritório.
Andrew Blake
Sinto meus cabelos molhados pelo suor, mas isso não me impede de continuar socando o saco de areia na minha frente. Sinto o olhar de Aron me queimar e isso me dá mais raiva para socar o objeto na minha frente.
— Até hoje você não me contou o que rolou depois da boate. — Aron disse, ficando ao meu lado.
— Tá querendo saber muito da minha vida. — Disse indiferente, vendo ele revirar os olhos.
— A gente sempre contou tudo um para o outro, você que tá diferente.
Suspiro e me afasto do saco de areia, ele me ajuda a tirar as luvas de boxe e eu pego a garrafa de água da sua mão.
— Passei a noite com Clementine.
— Está afim dela? — Aron abriu um sorriso.
— Ela é de boa. — Dei de ombros. Nem eu entendo o que eu realmente sinto e mesmo se entendesse, não ia falar sobre isso com Aron.
— Ela não é qualquer uma, bro. — Ele apoiou sua mão no meu ombro. — Vê se não vacila.
— Já entendi. — Bufei, começando a me incomodar com o assunto.
A porta da academia abriu e um Brian possesso entrou, parecendo um furacão. Eu e Aron nos entreolhamos.
— Drew! — Me chamou, vindo até mim. — Aonde está Clementine?
Olhei para Aron e franzi o cenho. Como que eu vou saber?
— Ainda não vi ela hoje.
— E você Aron? — Perguntou rude.
— Também não.
— Porra.. — Brian resmungou e saiu as presas da academia.
— Vamo ver o que rolou. — Aron chamou, passando por mim.
Pegamos nossas coisas e saímos da academia, indo até a mansão. Na sala de estar, Ari e Chris estavam com uma cara de desespero e eu pude ouvir os gritos de Brian no escritório.
— Que porra tá acontecendo? — Perguntei.
— Clementine sumiu. — Ari respondeu tão baixo que eu quase não escutei.
— Como assim sumiu, porra? — Passei as mãos pelos meus cabelos, já irritado.
— Brian contou sobre Jackson.
Sentei no sofá e comecei a bater o pé, impaciente. Ela sabe a verdade e sumiu. Aonde essa garota se meteu? Não é todo dia que se escuta que a sua mãe foi assassinada pelo melhor amigo do seu pai. Mas porra! Ela não pode sumir sabendo dos riscos.
— Já sei! — O grito de Ari me assustou. — Ela tá no studio, com as crianças.
— Como tem certeza disso? Hoje é domingo. — Chris disse.
— É melhor ir lá conferir do que ficar aqui sem fazer nada. — Aron se levantou.
Me levantei junto com Aron e peguei meu celular, ouvi Chris dizendo que ia avisar Elijah para onde estamos indo.
"Aonde você está?"
Enviei para Clem enquanto entrava no meu Corvette vermelho. Digiri com velocidade pela cidade, querendo ter a certeza que ela está bem, ela tem que está bem. A possibilidade de Jackson ter pego ela faz minha raiva crescer. Quando paramos em frente ao stúdio, pude ver Brian praticamente pular pra fora do seu carro. A rua está movimentada, e a gente já chamou uma atenção do caralho, parando 5 carros em fileira na rua.
— Se dispersam e vigiem o perímetro. — Brian mandou. Fiz a menção de ir atrás dele mas ele me parou.
— Você também fica, Drew.
— De jeito nenhum. — Disse sério e Elijah me fitou.
— Não é a hora e nem lugar para isso. — Elijah olhou em volta, ajeitando seu terno.
— Estamos falando da Clementine, Elijah. — Brian lançou um olhar para o irmão.
— Clementine não é um mal, é apenas uma mulher assustada. Você acabou de contar a verdade que sempre esconderam dela, o que esperava? — Tive que conter o meu sorriso com a fala de Elijah. — Vamos entrar, e sem discussões.
Fitei Ari rapidamente, que se encontra encostada no seu carro. Ela sorriu e me encorajou a entrar, piscando pra mim. Suspirei e fui atrás dos mais velho na minha frente. A entrada do stúdio estava escura, mas a luz da sala principal chamou nossa atenção. Comecei a ouvir uma música calma quando nos aproximamos da porta. Elijah se aproximou calmamente e abriu a porta, e ela estava lá.
Com movimentos calmos como a música, Clem dançava. Sua expressão calma e seu corpo relaxado. Ela sentiu nossa presença e olhou para o nosso reflexo no espelho, três idiotas observando-a. Clem parou sua dança e desligou o som, se virando para nós.
— Por que estão aqui? — Perguntou.
— Você sumiu! Tem noção o tanto de gente que tá te procurando agora e.. — Elijah colocou a mão no ombro do irmão, cortando sua fala.
— Vamos para casa, Clementine.
E com isso, ela simplesmente assentiu e pegou sua bolsa, passando por nós e me deu um beijo casto nos lábios. Brian me olhou com sangue nos olhos mas eu o ignorei, indo atrás de Clem.
— Vem comigo. — Pedi e ela assentiu.
Quando chegamos na rua ela abraçou Ari e sorriu para Chris e Aron, entrando no meu carro em seguida. Observei Brian e Elijah saindo do Studio e então os outros entraram em seus carros. Só depois disso que eu tomei meu lugar de motorista no meu carro, vendo Clem quieta. Liguei o carro e saí dali.
— Está muito calma para alguém que acabou de descobrir a verdade sobre sua vida. — Disse depois de alguns minutos em silêncio, mantendo meu olhar sobre a estrada.
— Já tive o meu momento de surto. — Resmungou.
— O que pensa sobre tudo isso?
— Preciso ficar sozinha, colocar meus pensamentos no lugar. Eu não quero entrar nesse mundo, mas eu fui colocada aqui, não tem volta. — Fitei Clem brevemente, e vi o desespero no seu olhar.
— Acho que você só precisa se acostumar com a ideia. — Dei de ombros. — Não é tão ruim e..
— Não tente me convencer a gostar da máfia. — Clem revirou os olhos.
— Clementine. — Dei uma risada fraca. — O seu sangue já estava no jogo antes mesmo de você saber.
----- Vanilhax0
Esse capítulo é mais curtinho do que o normal. Porém, é um dos meus favoritos. Espero que tenham gostado :)
OBSERVAÇÃO!
A montagem da foto não é minha e foi encontrada nessa conta: https://pin.it/5xP1QckQi.