Um castelo de presente

By CeciAmaral

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Mariella não esperava herdar um castelo medieval italiano da noite para o dia. Ela estava ocupada demais tent... More

apresentação
personagens
um
dois
três
quatro
cinco
seis
sete
oito
nove
dez
onze
doze
treze
quatorze
quinze
dezesseis

dezessete (final)

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By CeciAmaral


— Sabe, Nico, no fundo eu sempre achei que você fosse o mais sábio de nós dois — Riccardo comentou naquela noite fria, enquanto os dois estavam sentados perto da lareira. — Mas eu estava errado.

Nico suspirou e massageou as têmporas. Ele já não estava miserável o suficiente? Teria que fingir um desmaio para quem sabe assim o primo deixá-lo em paz?

— A Mari está decepcionada, sabia? E triste. Ela chorou no meu ombro! Você sabe que eu não sou lá um grande apoio emocional. Ninguém chega para mim em busca de consolo. Talvez isso te dê uma ideia do quão no fundo do poço ela está.

As palavras de Riccardo o acertavam como lanças. Saber que ele era o responsável por machucar Mari daquele jeito só o deixava ainda pior.

Mas não era para evitar um sofrimento maior no futuro que Nico tinha se afastado dela?

— Ela vai perceber que é melhor assim. Talvez não entenda agora, mas no futuro...

Riccardo explodiu.

— Fica quieto com essa sua obsessão de pensar que sabe o que é melhor para as pessoas! E o que você sabe sobre o futuro, Nico? O que sabe sobre com ela se sente?

Nico queria rebater de um jeito que fizesse Riccardo ir cuidar da própria vida. Há dias o primo vinha tentando fazer com que ele voltasse atrás na sua decisão e fosse conversar com Mari, agindo como uma velha casamenteira da pior espécie.

— E o que você sabe sobre relacionamentos? — ele disse de mau humor, se levantando da poltrona de frente à lareira e caminhando até o outro lado da sala, para ficar bem longe do primo. — Não tem um homem ou mulher com quem consiga ficar por mais de seis meses. Por que eu devia receber conselhos seus?

— Porque sou a única pessoa além da Iolanda que você ainda tem por perto. Esqueceu que afastou todo mundo, Nico? — Riccardo rebateu, sem titubear. Nico ouviu seus passos pesados se aproximando.

Eu não me afastei de ninguém. Eles é que foram embora primeiro.

Ninguém aguentou a barra. Meu pai, meus amigos, a nossa família...

— Fala isso pra Mari. Ou para o Alonso. Sabia que ele está se culpando por você nunca mais ter aparecido? Aquele garoto já te amava, Nico. Sim. Ele me disse isso na noite em que fui visitar. — Nico se encolheu, a dor rasgando seu peito. Alonso não devia se culpar. Ele era só uma criança. Nada daquilo era culpa dele. E Nico também o amava. Muito. Queria ter dito isso para ele.

— Riccardo... — Nico implorou baixinho, esperando que o primo entendesse que não aguentava mais aquela conversa.

— E por mais que você seja difícil, Nico, e pareça querer afastar todo mundo de você, eu não vou fazer isso. Vou ficar aqui, te enchendo o saco, até você entender que merece mais do que viver entre essas paredes. Porque você vale a pena. Porque eu também te amo e porque me importo com você. E não sou o único.

Nico se virou na direção do primo, segurando tão forte o batente da janela que sentiu seus dedos estalarem.

— Eu não consigo esquecer o que aconteceu com o Alonso. E se um dia a Mari precisar de mim e eu não puder ajudar? E se um dia ela perceber que isso entre nós não vale a pena?

Riccardo soltou um suspiro pesado. A pausa se estendeu por longos instantes até ele dizer:

— Você espera que todas as pessoas que cruzam o seu caminho te tratem como o seu pai te tratou. Você acha que o abandono e a rejeição vão vir mais cedo ou mais tarde e por isso se afasta primeiro. Mas, Nico, você ainda não aprendeu o óbvio: as pessoas são diferentes. E graças a Deus o mundo não é feito de uma imensidão de tios Lorenzo. Eu não sou assim. Nem a Iolanda, o Alonso ou a Mari. — Riccardo chegou mais perto e pousou a mão pesada no seu ombro. — No fim, as pessoas não vão te abandonar por você ser uma pessoa com deficiência. Vão te abandonar pelas suas ações em relação a elas. Porque ninguém consegue lutar sozinho por muito tempo.

Nico sentiu o peso das palavras e a verdade contida nelas.

De certo modo, aquela tinha sido a vida que ele tinha escolhido para si.

Sim, muitos tinham se afastado e as coisas nunca seriam as mesmas depois daquele acidente, mas as escolhas que tomou o levaram para um caminho em que não conseguia vislumbrar nenhum futuro que não fosse aquele: sozinho em uma casa enorme, tendo como companhia seu cachorro e uma senhora idosa que amava e o amava de volta, com um trabalho que o escondia atrás da tela do computador e de que ele jamais desfrutaria estando mais perto de Riccardo e das funções que o levavam para fora de casa.

— É véspera de Natal, Nico. A festa no castelo é hoje. Ainda não é tarde demais — Riccardo disse antes de se afastar.

Ainda não é tarde demais.

Será que não era mesmo?

O castelo nunca tinha estado tão lindo.

Um pinheiro foi erguido no meio do salão de festas, decorado com bolas vermelhas, luzes douradas e flocos de neve em miniatura. Mari, Vitória, Giana e Alonso passaram dois dias inteiros decorando o castelo com luzes em cada uma das janelas que davam para os jardins da frente, e pendurando guirlandas e enfeites pequeninos que podiam ser encontrados em cada canto da casa. O trabalho, as brigas ocasionais e a dor nas costas no fim tinham valido à pena.

Mariella se sentia em um conto de fadas.

Só faltava o príncipe.

Ela suspirou e despejou mais champanhe na sua taça. De raiva, tinha banido todas as garrafas do vinho Moretti que Nico tinha dado de presente da festa, mas vários convidados, além de pratos especiais para o jantar, também apareceram com aqueles vinhos tão famosos na região.

Mari estava decidida a não beber nem uma gota, por mais que quisesse.

E ela queria muito.

— Essa é a festa de Natal mais linda que eu já vi — dona Odette, proprietária de uma das vendas da cidade, disse quando se aproximou de Mari. — Eu sempre quis entrar nesse castelo, desde pequenininha! Fico feliz por saber que você está pensando em abrir uma parte dele para turistas.

Mari sorriu satisfeita. Ela tinha comentado sobre a ideia com a Sra. Ofélia em um dia qualquer da cidade. Desde então, a notícia se espalhou como fogo em capim seco.

— Um lugar desses não merece ficar guardado só para mim e para a minha família. É um pedaço de história. — Ela se inclinou para Odette e sussurrou: — Além do mais, um dinheirinho extra é sempre bem-vindo.

Elas riram e a mulher mais velha foi pegar mais docinhos da mesa no canto do salão. Já era quase meia-noite e em breve todos deixariam o cômodo para comer a ceia na enorme mesa de jantar na sala ao lado. Mari tentava dar atenção a todos os convidados ao mesmo tempo em que se certificava que tudo estava indo bem na cozinha. As cozinheiras que tinha contratado faziam os pratos e sobremesas mais lindos que ela já tinha visto, e quando tudo foi transferido para a sala de jantar, Mari se garantiu que elas também se juntassem à festa antes de comer.

As músicas temáticas e alegres que vinham de uma mesa de som comandada por Vitória pareciam embriagar todos tanto quanto o vinho. Para onde quer que olhasse, Mari via pessoas alegres conversando, dançando e se beijando abaixo do ramo de azevinho.

Ela quase se arrependia de ter concordado com Giana e Vitória quando insistiram para pendurar aquela coisa na porta.

— Você é a imagem da miséria — Riccardo comentou, vindo da mesa de quitutes com as duas mãos cheias.

— Está muito na cara? — ela perguntou, tentando consertar a postura e adotar uma expressão mais tranquila. Não era tão fácil. Cada músculo do seu rosto parecia determinado a demonstrar tristeza. — Não quero que as pessoas pensem que eu sou uma péssima anfitriã.

— Ah, isso eu duvido. Qualquer pessoa que tenha se preocupado com um cardápio desses é um anjo vindo diretamente do paraíso. — E ele deu uma mordida em um bocconotto, revirando os olhos pelo sabor.

— Eu odeio o seu primo — Mari disse, em um rompente. — Odeio.

— Isso não é verdade.

— Eu odeio mesmo.

Riccardo ficou ao lado dela junto à parede e a empurrou de leve com o ombro.

— Você só está magoada.

— E eu tenho todo motivo para estar!

— Eu concordo. Mas não vale a pena ficar assim na véspera de Natal.

Mari suspirou e bebeu mais um longo gole de champanhe.

— Eu tinha me esquecido da sensação de um coração partido.

Riccardo riu e a encarou com aqueles olhos azuis reluzentes.

— Eu sofro dessa doença pelo menos quatro vezes ao ano. Quer trocar?

— Não, obrigada.

Mari observou o salão lotado, os olhos parando em Alonso, que estava correndo com outras crianças de um lado para o outro. Ela só esperava que ele não derrubasse a árvore de Natal...

Naquele momento, o irmão parou de súbito, os olhos fixos em alguma coisa do outro lado da sala.

Mari seguiu o olhar dele e viu Vitória e Giana abraçadas, sorrindo uma para a outra com aquele ar apaixonado. Giana se inclinou na direção de Vi e roubou um beijinho, fazendo a amiga corar a cinco metros de distância.

— Falando em corações partidos... — Mari sussurrou.

Ela foi até o irmão, que já tinha corrido para perto das meninas.

— Vi, você está namorando? — ela ouviu o menino perguntar, os olhos fixos nas duas.

Vitória soltou Giana tão rápido que a garota quase caiu no chão.

— Alonso! Eu...

Alonso cruzou os braços na frente do corpo.

— Por que você não me contou?

— Alonso, para de ser inconveniente — Mari repreendeu, alcançando o irmão. — Você não gosta de ver a Vi feliz?

— Mas agora ela vai trocar a gente pela namorada!

Vitória riu e deu a volta na mesa de som, se inclinando para que ficassem da mesma altura.

— Eu nunca vou substituir vocês por ninguém. Não é assim que funciona com a família.

— Mas você vai voltar para o Brasil de todo jeito. Vai ficar longe de mim — Alonso disse, à beira das lágrimas.

— Alonso, eu não vou a lugar nenhum.

— Mas...

— Meu lugar é aqui. Com vocês.

Mari, que já sabia que a amiga tinha decidido enfrentar todos os processos burocráticos e lutar pela sua permanência na Itália, sorriu feliz quando viu o brilho retornar aos olhos do irmão.

Tinha sido mais ou menos assim com ela também quando recebeu a notícia.

Alonso se jogou nos braços de Vitória, a segurando forte.

— A gente vai continuar morando juntos então?

— É claro que sim. Achou que eu ia deixar esse castelo só para você e para a sua irmã?

Alonso riu e se afastou dela.

— Mas, mesmo assim, você não vai mais me esperar crescer para ser minha namorada, né?

Vitória parecia estar se segurando para não rir. Mas a pergunta de Alonso foi tão inocente e genuína que ela o segurou pelos ombros e falou:

— Um dia, você vai achar alguém que vai gostar mais do que gosta de mim. Uma menina que ainda não tenha um namorado ou namorada. E que de preferência seja uns dez anos mais nova que eu.

Alonso fez bico.

— Nenhuma menina vai ser mais bonita que você.

— Beleza não é tudo, tampinha.

Alonso deu de ombros com um ar de quem tinha suas convicções e que não queria discutir sobre elas. Mari não conseguiu deixar de rir.

— E você não vai me apresentar a sua namorada?

— Você tem que prometer não dar em cima dela.

Alonso piscou e sorriu daquele jeito malandrinho.

— Vou tentar. Mas duvido que ela resistir.

Vitória balançou a cabeça e riu, o segurando pela mão e o levando até Giana.

Garoto impossível, Mari pensou, mas pelo menos estava contente que alguém ali sabia lidar melhor com uma decepção amorosa.

Mari foi até uma das enormes janelas de arco do salão, observando o mundo coberto de neve lá fora.

Ela pensou em Nico e em como ele estaria passando aquela véspera de Natal.

Estaria pensando nela? Não tinha considerado, nem por um instante, vir atrás dela?

Já era quase meia-noite.

Ele não viria mais. Aparentemente, tinha tomado a sua decisão.

Mari pensou nos intermináveis dias e noites que tinha passado ao lado dele. Quando estava tão perto que podia contar as sardas quase invisíveis no seu rosto e passar as mãos por aqueles cachos escuros tão lindos. Se fechasse os olhos, podia vê-lo sorrindo para ela, a encantando com tudo que sabia e dizia, fazendo com que ela se apaixonasse por tudo que ele era. Ela sentia falta até dos seus defeitos, porque eram eles que a faziam perceber que Nico era real, uma pessoa maravilhosa, é verdade, mas tão humano e falho quanto ela também era.

Nunca tinha se apaixonado desse jeito. Sua falta era uma dor física. Para além dos beijos e dos toques, ela sentia ainda mais saudade do simples fato de conversar com ele. De tê-lo por perto para desabafar, rir e chorar. Ou até para que ficasse ao seu lado no mais completo silêncio por horas. Era o bastante só saber que ele estava ali.

Isso é ridículo.

Mari colocou a taça de champanhe pela metade na mesa de doces e correu até Vitória.

— Eu já volto. Você cuida das coisas por aqui?

A amiga sorriu de leve. Giana e Alonso estavam distraídos com a mesa de som. Pareciam estar se dando muito bem.

— Você não vai fazer nenhuma besteira, não é?

— Depende de como você classifica "besteira".

— Eu cuido de tudo. Vai, anda logo.

Mari sorriu e correu para fora do salão, desviando dos convidados com pedidos de desculpa e dizendo que logo estaria de volta.

Ela voou pelas escadas e pegou o casaco no cabide do corredor. Quando abriu as portas de entrada, pronta para enfrentar o frio e a noite lá fora, deu de cara com o rapaz que tinha acabado de erguer o braço para tocar a campainha.

— Nico!

Ele estava com um gorro, luvas e um casaco enorme, tão empacotado que era fofo. Mari estava sem palavras. Pela presença dele ali, pela impossibilidade de tudo aquilo, pelo fato de o estar vendo sem os óculos escuros...

Mari piscou diante das íris castanhas que estava vendo pela primeira vez. Os cílios escuros de Nico emolduravam os olhos, cada detalhe das próteses era tão real que por um segundo ela se perguntou se de alguma forma aqueles olhos não eram verdadeiros.

— Mari. É você mesmo?

A boca dele estava azul de frio. Mariella o pegou pela mão enluvada e o puxou para dentro do castelo sem a mínima cerimônia. Só naquele momento notou Bidu e Iolanda atrás dele. O cachorro latiu e sacudiu os pelos cheios de neve.

— Bidu e eu vamos dar um tempinho para vocês — Iolanda disse, abraçando Mari e logo em seguida voltando a esfregar as mãos uma na outra. — Por favor, diz que você tem chocolate quente, querida.

Mari fez que sim com a cabeça, custando a encontrar as palavras.

— No salão do segundo andar. Fica à vontade.

Iolanda sorriu e se apressou com Bidu pelo corredor.

Quando se afastaram, ela se virou para Nico e plantou as mãos na cintura.

— Você é maluco de sair numa tempestade dessas? No meio da noite?! — ela disse, se segurando para não sacudi-lo.

Nico sorriu de leve e tirou as luvas, esfregando as mãos umas nas outras.

— Você não estava prestes a fazer o mesmo?

Mari não tinha pensado naquilo. Mas não importava. Ela ainda não tinha acabado de brigar com ele.

— O que você pensa que estava fazendo?

— Tentando desfazer a merda que causei. Queria tentar te conquistar de volta.

— Me conquistar de volta?

Nico foi tirando o excesso de casacos. Eram tantas camadas que ele mais parecia uma cebola.

— Desculpa não ter vindo mais cedo. Eu pedi a Iolanda para me levar até Bréscia de carro e só chegamos agora a pouco. Estava dando um jeito nisso — ele disse, tocando de leve a superfície de uma das próteses. Mari se encolheu por reflexo, só para depois se lembrar de que não era de verdade e por isso não machucava. — E também fui procurar seu presente de Natal.

— Oi?

— Está por aqui.

Ele revirou uns três bolsos de casacos diferentes até achar a caixinha de veludo.

— Eu espero que você goste, Mari. Feliz Natal.

Ela pegou o presente das mãos dele e o abriu.

Lá dentro havia um colar dourado com um pingente em formato de máquina de escrever. Era tão delicado e cheio de detalhes minúsculos que Mari perdeu o ar.

— Quando a Iolanda me contou que viu esse pingente em uma vitrine, eu sabia que precisava ser seu.

— Nico... É lindo. — Ela não sabia direito o que dizer. Não conseguia tirar os olhos do presente. — Eu nunca ganhei algo tão bonito assim.

Ele sorriu e Mari notou a vermelhidão nas suas bochechas. Ele parecia muito satisfeito por ouvir aquilo.

— Quer que eu coloque em você?

— Por favor.

Ele pegou o colar e Mari ficou de costas para ele, juntando o cabelo acobreado com uma mão. Nico não levou mais que alguns segundos para encontrar o fecho. Mari se virou novamente para ele e tocou o pingente que reluzia contra sua pele.

— Nico, eu não comprei nada para você. Estava com raiva demais para pensar nisso.

Ele sorriu, mas Mari notou pelo modo como não parava quieto o quanto estava nervoso.

Estava? Quer dizer que a raiva já passou?

Ela ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços.

— Depende do que você vai dizer nos próximos dois minutos. — Houve uma pausa. — Eu já estou contando.

— Eu fui um idiota — ele despejou. — Eu estava com medo, me sentindo culpado pelo que aconteceu com o Alonso e criando um milhão de futuros alternativos na minha cabeça, e em todos eles eu te decepcionava de algum jeito ou você percebia que não valia a pena ficar comigo. Eu fui paranoico e inseguro e por isso me afastei. Mas esses dias longe de você foram horríveis. Eu sabia que estava cometendo um erro, mas me convenci de que terminar com você era uma decisão altruísta. Que um dia nós dois entenderíamos que foi para o melhor.

Mari bufou e revirou os olhos, mas não disse nada. Ele ainda tinha um minuto.

— Eu sei que não vai ser fácil recuperar a sua confiança. Foi o meu medo que me fez considerar perder uma das pessoas mais importantes que conheci na vida. Se me der mais uma chance, eu prometo lutar por nós dois todos os dias. Não estou dizendo que vai ser fácil, nem que vou vencer tudo que me perturba de uma vez, porque isso é a vida real e nem tudo depende só da nossa força de vontade. Mas eu prometo nunca ir embora. Nunca desistir. Quero lutar por essa felicidade. Quero lutar por você.

Mari estava hiperventilando. Fazia zero grau lá fora e ela sentia a sua pele inteira arder.

— Por que você comprou as próteses? — ela perguntou. Nico ergueu as sobrancelhas, como se esperasse qualquer coisa, menos aquilo. Mas então ele pareceu entender.

— Cansei de me esconder das pessoas. Todo esse tempo eu fiquei procurando desculpas para não precisar sair de casa: não queria sentir o olhar das pessoas sobre mim e pensei que nunca poderia aproveitar um passeio ou experiências novas de novo. Me escondi em casa e atrás dos óculos escuros. Não quero mais isso. Quero me sentir mais confortável comigo mesmo e quero... explorar.

Mari sorriu de leve.

— Nunca pensei que ouviria essa palavra da sua boca.

Nico sorriu e encolheu os ombros.

— Se apaixonar faz coisas absurdas acontecerem.

Mari se aproximou dele e pegou sua mão. Nico pareceu se assustar um pouco. Estava tão nervoso que nem percebeu ela se aproximando.

— Eu senti a sua falta a cada segundo — Mari confessou. — Foi horrível.

Ele engoliu em seco e acariciou o rosto dela.

— Eu também. Foi minha culpa.

— Agora já está no passado.

— Está?

Mari encostou a testa na dele e sorriu contra seus lábios.

— Todo mundo merece uma segunda chance.

Nico soltou um suspiro que fez seu corpo inteiro estremecer. Ele envolveu Mari com aqueles braços enormes e convidativos e a beijou com tudo que tinha nele.

— Eu te amo — ele sussurrou quando se afastaram. — Muito. Vou passar a vida toda provando isso se você deixar.

— Eu também te amo. E você não precisa provar nada. A maior prova é esta: você está aqui.

Ela passou a mão pela lateral do rosto dele.

— É muito bom te beijar sem os óculos. E eu amei esse tom de castanho.

Nico sorriu, orgulhoso.

— Eu comprei um par de íris verdes. E azuis! Por favor, só me conta se um dia eu confundir e usar uma de cada.

Mari riu e o pegou pela mão.

— Não prometo nada.

— Você é má, Mariella Cavalieri.

— Eu tenho que me vingar de alguma forma pelos dias solitários que você me fez passar.

Eles caminharam até o salão e Mari o parou de repente.

— Estamos debaixo de um ramo de azevinho.

Nico sorriu satisfeito e colocou uma mão na base das costas dela, a puxando para perto.

— Então eu acho que deveria beijar a minha namorada.

E foi o que ele fez.

No instante seguinte, a sala explodiu em palmas e gritinhos. Mari riu e sentiu o corpo inteiro esquentar.

— Já estava na hora! — Riccardo gritou no meio da multidão.

— O Nico voltou!

Alonso empurrou qualquer um que estava na sua frente e agarrou a cintura de Nico. O rapaz sorriu satisfeito e segurou o menino no colo.

— Senti a sua falta, garoto.

— Então você não estava bravo comigo?

Nico fez que não com a cabeça e o segurou mais forte. Seu rosto estava contorcido de emoção.

— Como eu ficaria bravo com você? É o meu melhor amigo.

Alonso sorriu e envolveu seu pescoço com os braços.

— Você também é meu melhor amigo. Depois do Bidu.

Eles riram e Mari se virou para a sua família e amigos. Naquele momento, o relógio de pêndulo que ficava no fundo do cômodo soou, anunciando a meia-noite.

Todos começaram a se abraçar, com sorrisos satisfeitos e uma alegria típica daquela época do ano.

Alonso desceu do colo de Nico para abraçar Vi e Mari se deixou ser abraçada pelo namorado.

Ele beijou o topo da sua cabeça.

— Feliz Natal, Mari. É clichê se eu disser que você é o melhor presente que eu já ganhei?

— Não se for verdade.

— Então você é o melhor presente que eu já ganhei.

E ela agradeceu a qualquer ser superpoderoso que estivesse ouvindo, por ter saído naquela noite, quando uma tempestade estava a caminho.

Porque até as tempestades davam um jeito de trazer coisas boas. A maior prova disso era o homem nos seus braços. O homem que ela amava e a amava de volta.

Aquele era o melhor Natal de todos.

No fim, ela ganhou não só um castelo de presente quando menos esperava. Mas amigos verdadeiros, um labrador cheio de energia e Nico.

Nico, com quem ela queria passar todos os Natais para sempre.

___________________♥️_____________________

Foi um absoluto prazer dividir essa história com vocês!!!

Espero qu tenham gostado do final e que tenha tirado pelo menos um sorrisinho de vocês.

Não sei quais vão ser meus próximos passos no Wattpad, mas sei que sou eternamente grata por vocês e todo tempo que passamos juntos!

Espero que a gente se encontre em breve. Para novos projetos ou se quiserem me acompanhar mais de perto, estou no instagram!!

Um beijo e até mais,

Ceci.

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