A linha tênue entre o amor e...

Por GomesKaline

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Universo alternativo A família Prentiss e Hotchner são inimigos, ninguém sabe ao certo quando isso começou... Más

Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 25
Capítulo 26

Capítulo 24

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Por GomesKaline

Caminhar com seu pai ainda tinha a mesma alegria de quando era criança.

Quando menor, sempre que vinha para o parque, chorava por algodão-doce azul, era seu favorito. E mesmo agora, tendo mais de 30 anos, seu pai comprava um algodão-doce azul para ela toda vez que eles vinham. E um para Ethan se estivessem com eles, como está hoje.

Emily sente vontade de chorar toda vez que ele faz isso. Acontece com tudo que ela gosta. Como há um mês, ele foi visitá-la e comprou salgadinho com um sabor que ele ainda não tinha visto. Emily achou uma delícia e na semana seguinte ele chegou lá com uma dúzia deles.

Ele é seu papaizinho e ela a sua caçula. Emily o ama muito e não sabe o que vai fazer se um dia ele inventar que é mortal.

— Pai?

— O que foi? — Emily olhou para ele e pensou "como ele podia ser o melhor homem do mundo?".

Como sua mãe deu tanta sorte?

— Eu te amo tanto. Promete que nunca vai morrer? — Suas palavras foram tão repentinas que ele só pôde meio que rir e ficar muito confuso.

— De onde isso está vindo, Caçula?

— Acho que só estou muito emotiva essa semana.

Ele segurou seu ombro a fazendo parar, Ethan que segurava a outra mão dele também parou. Seu pai a olhava como se a entendesse por completo.

E talvez entendesse mesmo.

— Eu reparei. Você me liga toda manhã para me lembrar de tomar apenas uma xícara de café, com bastante leite. No máximo duas. E praticamente implora para não comer qualquer coisa gordurosa.

— Só estou cuidadando de você.

— Eu sei, amor. Mas você e sua mãe vão acabar me deixando louco. O médico apenas disse que preciso tomar cuidado por causa da idade, que meu coração não é mais tão jovem.

Ele fez carinho no seu cabelo e mais uma vez Emily se sentiu como a menina dos olhos dele, uma garotinha magrela de 6 anos com cabelo ondulado e cheio de frizz.

— Você não pode me deixar em um mundo sozinha com a mamãe, iríamos nos matar.

Ele revirou os olhos e começou a rir.

— Eu não vou morrer.

— Promete? — É, estava mesmo bastante emotiva.

— Prometo.

Mas ele não poderia fazer isso. Não podia prometer. E isso fazia o coração de Emily doer.

— Mentiroso.

Emily estava tão imersa no momento que não viu o que se aproximava, só sentiu o baque contra si que quase a fez cair de bunda.

Logo percebeu que não foi nenhum adolescente que corria sem olhar para onde. Era um cachorro. Um bem feliz em vê-la. Ficava latindo como se falasse "Oi, fala comigo. Oi, eu estou bem aqui na sua frente".

Mesmo não sendo a maior apreciadora de cachorros, Emily reconheceu esse latido mimadinho por atenção.

— Oi, Laica. O que está aprontando, garota?

Ethan também a reconheceu, logo se aproximou para brincar com seu pelo.

Emily olhou ao redor e não encontrou nenhum sinal de Aaron. Será que fugiu dele aqui no parque ou estava perdida mais tempo que isso? Ou podia está com outra pessoa, talvez um passador de cães que Aaron contratou para cuidar dela.

— De quem é esse cachorro? — seu pai perguntou.

Emily não respondeu, apenas pegou o celular e discou o número de Aaron, era só um pouco assustador que sabia o número dele de cor.

Não atendeu da primeira vez, e na segunda a chamada estava quase caindo quando a voz ofegante dele soou do outro lado da linha.

— O que foi? — Tem certeza que sempre reconheceria a irritação na voz dele, como reconheceu agora.

— Perdeu Laica?

— Sim, como você sabe? — Agora sua voz estava um pouco mais tranquila, mas ainda com pesar.

— Ela está aqui comigo. Apareceu do nada pulando em mim. Estou perto da água, bem próximo daquele banco em formato de bola que parece uma lixeira. Sabe qual é?

— Sei — e desligou.

Laica estava pulando e latino à sua frente, como se tivesse convidando Emily para brincar. Era a cadela mais boba e fofa que ela já conheceu. Estava começando a entender porque Aaron gostava tanto dela.

Emily se abaixou.

— Você não parece nem um pouco triste para uma cadela perdida, sua danadinha.

Ethan estava adorando a alegria de Laica, que estava tão eufórica que mais parecia uma criança que havia ingerido açúcar demais.

Em menos de 5 minutos Aaron apareceu, Christine o acompanhava, que parecia hesitante em se aproximar, os olhos cravados no pai de Emily.

— William — disse. Se Emily não soubesse o que foram no passado, teria pensado que havia hostilidade em seu tom, mas continha algo parecido com camaradagem, ainda que não fosse muito. Muito pouco mesmo.

— Christie.

Será que a rivalidade entre as famílias acabou com todo afeto que tiveram?

Emily poderia dizer com quase 100% de certeza que Christine Hotchner não amava Craig, não podia dizer o mesmo, com a mesma certeza, do seu pai e sua mãe.

Poderia Christine ter esquecido seu melhor amigo por alguém que não amava? E seu pai, o melhor homem que já conheceu, poderia ser levado por essa mesquinhez?

Christine tossiu, finalmente reparando em Laica com Emily.

— Mas o que é isso? — perguntou a Aaron.

— Você sabe que Laica não sabe julgar caráter de ninguém — foi sua bela explicação. Idiota.

Emily fez mais carinho na cadela, deixando-a mais eufórica. Não era somente que gostasse de todo mundo, Laica adorava a atenção, isso é certo.

— Pois eu acho que ela sabe, já que fugiu de você. — Emily fez carinho em ambas as orelhas peludas — Laica, pisque se precisar de ajuda.

Laica apenas esperava à sua frente, com a língua pra fora.

Emily bateu palma perto do seu rosto, fazendo-a piscar com o movimento repentino.

Aaron balançou a cabeça e riu baixinho, falando alguma coisa sobre ela ser infantil.

— Como está o tratamento? — William perguntou a velha amiga, no momento não mais interessado em saber sobre porque Laica estava tão à vontade com Emily.

Emily e Aaron trocaram um olhar. Um clima denso estava ao redor deles, se quisessem, poderiam até pesar e medir sua altura. Qual a última vez que se falaram?

— Nada agressivo, por enquanto.

Podia ver um pouco de confusão no rosto de Aaron. Era sua doce e adorável mãe quem estava sendo seca e evasiva, enquanto o pai dela parecia querer perguntar muito mais.

Depois de saberem que eles eram tão amigos antes, ela e Aaron esperava que fossem mais gentis um com o outro. Também não esperava que Christine fosse quem mais usaria da frieza.

— Vamos embora Laica — a mãe de Aaron chamou e a cadela soltou um pequeno choro à frente de Emily. Em seguida foi de cabeça baixa até Christine.

Conseguiu ver o pequeno sorriso que Aaron foi rápido em esconder quando Laica hesitou, e o brilho de diversão em seu olhar quando encontrou com dela.

O celular dela notificou uma mensagem quando se afastaram.

Você fica bem de azul, Açúcar.

Foi inevitável não olhar para a blusa azul que estava usando, que ia até o cotovelo. O short branco com certeza devia está sujo das patas de Laica, mas a combinação estava bonita.

Ele tinha razão, ela ficava bem de azul.

— O que foi que acabou de acontecer, Caçula? — A pergunta do seu pai lhe tirou a autoapreciação.

— Com Laica? Ou o clima tenso entre você e Christine?

— Não houve nada disso. Sei que aquela cadela parece dócil, mas ela parece realmente gostar de você.

Emily revirou os olhos.

— Pai, como sabe, aparentemente é difícil evitar aquela família, então com grande frequência, eu e Aaron já nos esbarramos por aqui uma centenas de vezes, Laica está com ele na maioria das vezes. Parece que é muito fácil ganhar a lealdade dela.

Seu pai bufou.

— Esquece, Em, às vezes esqueço o quanto vocês dois são estranho. Lembro que quando ele foi para a faculdade e você ficou sem ter com quem implicar pelo restante do ensino médio, ficou meio perturbada. Mesmo se odiando, parecem precisar um do outro.

Emily quase engasgou com essa última declaração.

Precisar um do outro? Não acredito que acabou de falar isso! — Oh, droga. Ela ainda não estava pronta para entregá-lo para um asilo, mas era óbvio que sua mente está demonstrando sinais de fraqueza.

— Não me olhe assim. Vocês ligavam um para o outro para que ficassem trocando insultos. Você ficava radiante depois de uma briga. — Seu pai deu risada, ganhando a atenção de Ethan. O garoto amava o avó e costuma dizer que ele tinha uma gargalhada gostosa de escutar. E tinha mesmo. — Eu ficava preocupado com o quanto essa briga de família afetava os outros, pessoas como você e Aaron que apenas compram a briga de seus pais.

— Eu e Aaron nos odiaríamos em todos os universos, acho — disse, mas mesmo Aaron não parecia mais acreditar nisso. E desde que a possibilidade dele voltar a usar drogas a assustou até a morte, não sabe mesmo se o "ódio" define a relação deles. Você não se importa se a pessoa que odeia tem problemas ou não.

— O contrário do amor não é o ódio, querida — seu pai disse, como um alerta.

— E o que está querendo me dizer?

— Quero dizer que ódio é um sentimento tão forte quanto qualquer outro. Ele atrai com um magnetismo que a indiferença não faz. Indiferença sim é o contrário do amor. Como famílias inimigas — disse com um tom de deboche, ele sempre odiou que se tratassem como se fossem inimigos mortais em filme de fantasia medieval — deveríamos ser todos indiferentes. Mas não, as duas famílias escolhem viver o mesmo ciclo vicioso, sempre competindo, nunca saindo do mesmo círculo social, nunca tentando ir para um lugar que o outro não está. Prentiss e Hotchners estão sempre se atraindo. Olhe sua mãe e Craig, seus avós. Se um Prentiss abre uma sorveteria, um Hotchner também vai, ou uma lavanderia, uma oficina de carros, não importa. Isso não vai parar até que paremos de nos importar.

— Isso é um sermão? Não sei se mereço, eu e Aaron não nos envolvemos em uma briga com repercussão na mídia faz tempo.

— Reparei nisso. Acho que finalmente cresceram. Diferente na sua mãe e Craig.

— Na verdade — Emily sorriu — é porque não tenho um adversário à altura na equipe de Craig. Está uma chatice agora.

Ele deu risada.

— No fundo todos vocês se admiram mas do que se odeiam.

...

A câmera fez um clique alto quando ele apertou o botão de captura. Emily estava usando o laptop (dele) no balcão enquanto tomava café. Assim que ela se sentou e chamou sua atenção vestindo a camisa azul clara que ele havia usado ontem à noite no jantar com sua mãe, Aaron correu para o quarto para buscar sua câmera digital.

Estava linda.

— O que está fazendo? Mal acordei, meu cabelo está ridículo e eu estou usando essa camisa? — disse olhando-o por cima do ombro. A camisa deslizou um pouco de um dos ombros quando fez isso.

Ele clicou novamente.

— Aaron!

— O quê? Você está linda assim.

— Você não vai guardar essas fotos, vai? — perguntou um pouco irritada, mas ainda assim fazendo sinal para que ele se aproximar.

Ele ignorou sua pergunta e abaixou o rosto para beijar o ombro agora nu, deixando a câmera ao lado do laptop. Emily relaxou e se deixou ser envolvida pelos braços dele. A banqueta do balcão era alta e permitia que ele fizesse isso sem ter que se curvar. Sabia que escolher um apartamento com balcão seria útil, lhe permitia assistir TV da cozinha, substituía uma mesa, permitindo jantar e trabalhar nela, e agora isso, envolver alguém em um abraço que não fosse desajeitado.

Ela descansou a cabeça no ombro dele e colocou suas mãos sobre as dele.

— Acho que encontrei algo que possa te ajudar — falou rindo e estapeando a mão dele quando tentou abrir o botão de cima da camisa.

O quê?, disse pra si mesmo em sua própria defesa. Eles não se viam faz mais de uma semana. E ontem à noite ela disse que apareceria para dormir. Ele só não sabia que era somente dormir mesmo.

— Ajudar em quê? — Ele estava se sentindo um grande idiota, pois ela claramente estava querendo conversar e ele estava pensando em levantar a barra da camisa que ela usava.

— Encontrei um fórum online de pessoas que compartilham suas vivências e algumas dicas de como elas passam por uma crise do pânico ou de ansiedade.

Aaron enrijeceu, as palavras dela adormeceram o calor e suas intenções.

— O quê?

— Não é nada muito profissional, é apenas um grupo de pessoas que querem conversar com outras que compartilham da mesma dor. Acho que é como o AA. — Ela ergueu o rosto para o dele — Quer escutar algumas coisas que acho que podem ajudar?

— Isso ainda é sobre as drogas? — questionou.

Vez ou outra Aaron a pega observando-o, como se procurasse por algum sinal de que ele havia quebrado sua promessa.

— Não. Mais ou menos. — Ela revirou os olhos quando viu o sorriso dele. — Eu só quero te ajudar. Você ajuda todo mundo, mas é negligente consigo mesmo.

— Eu... me senti totalmente atacado com essa última fala.

— É apenas algumas mudanças de hábito. Apesar de que o primeiro deles vai ser muito difícil para você. — Ele estava prestes a dizer que era uma má ideia, mesmo nem tendo escutado, quando ela prosseguiu — Estou só pensando no seu bem. Não é nenhuma promessa de que irá sumir, é apenas algumas coisas que te ajudarão a passar pelas crises.

Aaron suspirou. Ele deveria ter previsto isso, claro que depois de como ela reagiu com a possibilidade de uma recaída da parte dele, óbvio que seus transtornos seriam os próximos.

— Ok, me conte sobre o que encontrou.

Ela lhe deu um pequeno pequeno sorriso animado.

— Não fuja da ajuda. Não precisa se esconder quando tiver passando por uma crise. Deixe que alguém te faça companhia, afague suas costas ou segure sua mão.

— Não, Açúcar. Ninguém precisa parar a vida só porque meu corpo idiota perde toda a lógica e pensa que vai morrer.

— Ninguém precisa suportar nada sozinho, Aaron. Aprenda a aceitar ajuda.

— Não.

— Aaron...

— Não — disse com mais firmeza.

— Tá bom, então não chame ninguém, mas se tiver alguma crise quando estiver comigo ou com algum dos seus amigos, avise. Não se esconda.

— Eu já disse que não.

— Você é teimoso — falou com facas nos olhos. E de alguma forma ele tinha certeza que não seria a última vez a escutar sobre isso. — O próximo, acredito que seja mais fácil. Tenha uma música. Escolha uma música para ser sua âncora. Muitos disseram que têm a sensação de que vão desaparecer, a música te lembrará que está ali.

Ele tentou beijá-la, mas ela virou o rosto. Soltou uma respiração ao observar seu rosto determinado. Certo, é isso que ele ganha por discordar.

Mas é injusto. Ela afirma que ele pode discordar, mas o pune se ele o fizer.

— Essa não é de todo ruim, mas duvido que ajude muito. — Ele parou de falar quando ela fez cara feia. Parece que ele não entendeu corretamente no início, ele terá que fazer pelo menos alguma dessas coisas que ela sugerir.

Emily não está apenas contando o que descobriu no fórum online, está impondo.

— Vi também que não ajuda segurar o choro. Se tiver vontade de chorar, então faça.

— Olha só, Açúcar, agradeço que esteja tentando ajudar... — Aaron parou quando notou sua expressão magoada. Ela estava tentando ajudar, e ele nem mesmo estava se esforçando para pensar se o que ela dizia funcionaria ou não. — Não pode depositar suas crenças nisso, pode funcionar para alguém, mas não para todos. Vou considerar algumas dessas, a música pelo menos, mas não fique decepcionada se não funcionar.

Ela assentiu.

— Pode ligar para mim, você sabe, sempre que tiver uma crise. Posso não poder vim a qualquer hora, mas posso te fazer companhia pelo celular.

— Não precisa fazer isso.

— Eu quero.

Com essa Emily ele não sabia lidar. Nunca chegaram nesse ponto do relacionamento peculiar deles onde cuidam um do outro. E isso é estranho, pode até ter tido curiosidade em relação a certas coisas em relação a Emily, mas nunca sequer cogitou que chegariam à essa camaradagem esquisita.

Ainda há àquela irritação e vontade de colocá-la em um nave com passagem só de ida para Marte, mas há essa satisfação de passarem um tempo juntos numa espécie de limbo, onde não são amigo nem inimigos, apenas Aaron e Emily.

Ela finalmente deixou que a beijasse, também não impediu que ele abrisse aquele botão superior que havia tentando antes. Sorriu satisfeito quando uma visão parcial de seus seios surgiu.

A provocação era a melhor parte de se relacionar com alguém que você não gosta. Mesmo se passasse 40 anos e ele perdesse a memória, sabe que ainda gostaria de jogar esse jogo com ela.

— Não que eu esteja reclamando — começou a dizer, as palavras saindo abafada pelos lábios dela — Por que veio apenas dormir aqui? Aconteceu alguma coisa?

— Não aconteceu nada, apenas quis aparecer. E, sabe, — virou para ficar de frente com ele e o envolveu — gosto da sua comida. O macarrão estava ótimo, a propósito.

— Eu soube desde aquela primeira vez na minha cabana, mas você era orgulhosa demais para admitir. — Ela deu risada inclinando a cabeça para trás, ele aproveitou a chance para esquadrinhar a pele macia com a boca.

Sentiu seu tremor quando ele desfez mais um botão.

— Por que continuar negando quando posso me aproveitar do seu ego? Você gosta de ser bom no que faz e adora ter minha aprovação em cada refeição que faz.

Como suspeitou, ela não usava nada por baixo. Aaron não sabe em que momento ela trocou o vestido que usava quando chegou para essa camisa. A última vez que ele levantou para usar o banheiro, Emily ainda usava o vestido.

— Isso já está ficando parecido demais com com uma relação a longo prazo. Você vindo até aqui mas sem intenção de transar — brincou enquanto desfazia o último botão e abria a camisa.

— Mas eu tive vontade — suas palavras foram mais um sussurro ofegante que qualquer coisa.

Aaron se afastou do seu pescoço para olhá-la.

— O quê? Quando? — Aaron tem certeza que não deixaria de notar qualquer parte dela ávida por sexo.

Ela ergueu a mão para acariciar o rosto dele e se aproximou para um beijo.

— Eu... — Ela estava corando? — Eu acordei no meio da noite e... — Ela sacudiu a cabeça. — Você estava em um sono tão profundo, não quis te acordar. Eu não gosto de ser despertada de um bom sono só para isso, imaginei que você também não.

Ela acordou no meio da noite cheia de desejo mas achou que ele não gostaria de ser acordado? Ele entendeu certo?

Por isso ela acordou vestindo a camisa dele?

— Ah, açúcar, tenho certeza que sabe que nós homens somos idiotas superficiais. Mas você tem que saber que por baixo dessa camada de superficialidade, tem outra camada ainda mais superficial. Dito isso, — ele a beijou, com ainda mais sugestão de suas intenções que antes — sempre pode me acordar no meio da noite para sexo.

— Mesmo?

— Claro que sim. Para nós homens idiotas superficiais acéfalos não existe hora ruim para sexo.

Ela riu, mas era verdade. Homens são idiotas em relação ao sexo.

— O mesmo não se aplica a mim — disse com uma carranca — Se você me acordar para sexo eu vou arrancar seu pau com os dentes.

Deu uma risada alta. É um risco de se dormir com o inimigo.

— Pelo menos vai ter colocado a boca lá.

Emily revirou os olhos, fazendo com que a risada dele aumentasse.

— Ah, que merda, não acredito que gosto de me relacionar com pessoas dessa espécie.

Ela puxou a camiseta vermelha desbotada dele, e dessa vez foi ela quem começou. O provocou onde sabia que teria respostas e aceitou as provocações dele.

A respiração ofegante dela era inconfundível, Emily poderia ser indecifrável quanto a qualquer coisa em sua vida, menos em relação a isso. Todas as reações do corpo de Emily falam melhor do que palavras. Ela pode não implorar, mas seu corpo faz isso, mesmo que não seja a intenção.

— Que horas são? — perguntou, as palavras quase não saíram devido a respiração desregrada.

Espiou no relógio da cozinha enquanto ela começava a tirar a camisa dele.

— 08:30.

Ela parou de mover as mão.

— Preciso ir para casa. Às 10:00 tenho uma entrevista.

Aaron soltou um gemido um pouco frustrado.

— Não — disse enquanto colava a testa em seu ombro. — Por que você está me punindo?

— Pare de ser dramático, Aaron, não faz muito tempo desde que transamos.

— Mais de uma semana!

— Coitadinho desse nenê — zombou beijando seu nariz. Aaron arrepiou. Até onde consegue lembrar, é a segunda vez que ela faz isso. — Não está dormindo com outras mulheres?

— Nenhuma delas é como você.

— Se mantendo fiel a mim, veja só.

Ele subiu uma mão, lentamente, pela parte interna da coxa dela, arrancando-lhe um tremor.

— Fique. Temos tempo.

Os olhos tremularam e soltou uma respiração profunda tentando obter algum controle.

Estapeou a mão dele como fez minutos antes.

— É uma entrevista gravada. Preciso fazer maquiagem e cabelo. Pode parecer que temos tempo, mas ainda tenho que fazer a viagem até minha casa, tomar banho, me arrumar e então ir até o local da entrevista, que pretendo chegar com antecedência — explicou.

— Acabou de me lembrar porque não gosto de você.

Emily sorriu.

— Eu te ligo esta noite, vou tentar combinar algo.

— Eu não sei, talvez eu esteja com alguém que realmente queira está comigo.

— Nossa, quanto drama.

...

Tinha esquecido que Amélia tinha dito que apareceria para fazer as unhas e mararonar Arquivo X, uma série que as duas adoram, apesar dos efeitos visuais serem tão ruins.

— Mel? — Sua irmã tirou os olhos dos esmaltes que separava, o que era um desperdício de tempo, porque ambas sabiam que ela iria escolher o de cor vermelha. — Tem algum problema se eu chamar Aaron pra cá esta noite?

Ela olhou para o relógio e franziu o cenho.

— Agora? Não está muito cedo?

Demorou um pouco para pegar a insinuação da sua irmã.

— Ele não vai chegar aqui e logo tirar minha roupa, Amélia. — Sua irmã apenas riu. — E sobre o horário, — Emily abriu um sorriso — estou contando que ele faça o jantar.

Amélia bufou.

— E ainda ousa dizer que isso não é namoro.

Ignorando o comentário de Amélia, Emily pegou o telefone ao lado do sofá e discou o número de Aaron. Sua irmã ainda a olhava com um sorriso divertido no rosto.

Ela pensou que a ligação estava prestes a cair quando ele atendeu.

— Alô?

— Oi, sou eu. Que tal você aparecer por aqui e cozinhar o jantar enquanto eu Amélia fazemos as unhas?

— Amélia? — Podia imaginar perfeitamente ele com a sobrancelha arqueada.

— Sim.

— Escute bem, Açúcar, eu aceito totalmente ser usado para alívio sexual, mas não acho que gosto de ser explorado na cozinha. Mas admito que fico muito sexy cozinhando.

— Isso é um não?

— Apenas me diga o quanto você gosta da minha comida?

Ele é um idiota.

Ele não precisava de validação, já era arrogante o suficiente. Só queria provocá-la.

— Muito.

Ele estalou a língua e prosseguiu:

— Vou ter que levar Laica.

— Não vai ser a primeira vez dela aqui. Não demora, não quero jantar tarde.

— Você é uma folgada.

Só percebeu que estava sorrindo quando desligou o telefone ao notar que sua irmã a encarava com cenho franzido.

— O quê? — perguntou.

— Ele deve transar muito bem se te faz agir assim igual a mim quando tinha 12 anos e era apaixonada por ele.

Emily sorriu ignorando o comentário inicial. Lembra dessa fase assombrosa de Amélia apaixonada por Aaron. Sua mãe detestava, porém quanto mais era proibida, mais ela colocava recortes das fotografias dele em seus cadernos. Ainda havia os casos em que ela morria de ciúmes quando ele aparecia nas revistas e blogs com uma namorada.

— Aquela foi uma fase difícil para toda família, você era completamente obcecada.

— Você tinha ciúmes.

— Não tinha, não!

— De uma forma distorcida e peculiar, você tinha ciúmes de qualquer que um tentasse interferir nessa coisa entre vocês.

— Claro que não.

Ela e Aaron se detestavam, e era só isso. Por que de repente está todo mundo querendo dizer que eles tinham algum tipo de dependência desde a adolescência? Uma dependência que dependia de troca de insultos.

Mas não foi você quem pediu para que ele voltasse para que não te deixasse sozinha nesse campo minado, Emily?

Nesse caso, era diferente. É diferente de quando eram adolescentes.

Assim que abriu a porta para Aaron, Laica simplesmente invadiu o apartamento como se tivesse acabado de chegar no parque. E a pegando totalmente de surpresa, Aaron a puxou para um beijo e entrou guiando-a para dentro enquanto fechava a porta com o pé.

Com a tosse de Amélia, finalmente se afastaram. Pareceu com aquela noite em que foram pegos por ela, só que dessa vez Aaron fez de propósito. Ele sabia que sua irmã faria algum comentário engraçadinho.

— Você prometeu que ele não chegaria tirando sua roupa.

Emily olhou feio para Aaron, mas isso só lhe arrancou um sorriso. Sabia que não tinha esquecido que a irmã dela estava ali, fez de propósito porque ele também gostava de trocar farpas com sua irmãzinha.

— Oi, Amélia.

— Oi. Deixe as mãos fora da calcinha de Emily e vá preparar nosso jantar. Estou ficando com fome.

Laica latiu e tentou se colocar no meio dos dois, tentando chamar a atenção dela. Emily fez carinho em cumprimento. Ao tornar olhar para Aaron, o encontrou sorrindo.

Aaron dirigiu-se para cozinha, deixando-a com um beliscão na cintura. Laica não o acompanhou, como normalmente fazia. Ao invés disso, caminhou até ficar à frente de Amélia.

Não conteve a risada. Haveria na Terra um animal que mais gosta de atenção do que Laica?

— Está esperando você falar com ela — Emily informou.

Laica continuou esperando. Latiu do seu famoso jeito, como se dissesse: "Não vai falar comigo?".

— E aí? Que fazer as unhas com a gente? — sua irmã perguntou, recebendo um latido em resposta. Logo em seguida Laica foi sentar do seu lado.

Essa cadela é inacreditável.

Emily voltou a assistir Arquivo X e limpar as unhas. Escutava o barulho de Aaron na cozinha, e a música baixa do rádio. Ele gostava de cozinhar assim. Quando o rádio não estava ligado, ele cantarolava.

Estava com as unhas dos pés secando quando ele voltou e se espremeu ao lado dela no sofá, com Amélia e Laica na outra ponta, o "espremeu" não era nem um uso exagerado da palavra.

Ele não havia feito nada muito demorado, mas do jeito que era, provavelmente era uma refeição da qual pagariam caro em um restaurante de comida caseira. Quando até mesmo uma macarronada servia.

— Gosta de Arquivo X? — perguntou enquanto passava o braço pelos ombros dela.

— Sim, eu e Amélia somos meio obcecadas.

— Se bem me lembro, você gosta de suspense e terror. Lembro que no ensino médio você era fissurada no Exorcista.

Às vezes era assustador o quanto sabiam um sobre o outro. Assim como ele deve saber que ela foi assistir O Silêncio dos Inocentes no cinema quando lançou, ela sabia da obsessão dele por Star War.

Pessoas rivais têm que se conhecerem melhor que qualquer um, para saber como fazer as melhores jogadas. Porém, ainda é estranho saber mais dos gostos dele do que uma namorada.

Amélia bufou enquanto coçava a orelha de Laica.

— Sério, vocês nunca quiseram se pegar antes? — perguntou como se soubesse de alguma coisa que eles deixaram passar despercebido.

— Por que pergunta isso, Pequena Prentiss?

Emily deixou que seus olhos se revirassem. Por que estava sempre inventando apelidos? Pensou que isso era coisa do amigo dele, Derek.

— Porque vocês são obcecados um pelo outro.

— Não somos — resmungaram juntos, e isso fez com que se olhassem.

Novamente, por que todo mundo parecia querer insinuar isso? Seus mundos estavam sempre se encontrando, mas e daí?

— Não acredito que nunca pensaram em se beijarem pelo menos uma vez quando eram mais novos.

— Não, Mel. Nós realmente nos detestávamos quando éramos adolescentes. — Emily virou para ele — Ainda nos detestamos.

— Mas por quê? — questionou. — Já se perguntaram isso? Claro, nossas famílias sempre se odiaram, mas vocês têm mais motivos para se detestar agora do que no passado. Vocês não se tornaram rivais até trabalharem com política. Porém, no agora, vocês estão transando.

— Olha só, PP...

— PP? — dessa vez ela e Amélia falaram em uníssono.

— Pequena Prentiss — explicou como se fosse óbvio — Eu e Emily não estamos em um caso de amor agora, ok? E parece que apagou da mente os últimos anos entre nós dois.

Amélia ergueu as mãos defensivas.

— Só estou dizendo. Mas vocês têm que admitir que é estranho.

Aaron voltou para cozinha para evitar que o jantar queimasse, e provavelmente para fugir das reflexões louca de sua irmã. Dessa vez Laica o seguiu, podia até ser a cadela que mais gostava de atenção, mas também sabia aproveitar as oportunidades para ganhar uma boa refeição.

— O que está fazendo, Amélia? — Emily perguntou em um sussurro — Parece que está tentando nos colocar um contra o outro.

— Um contra o outro? Sério, Emily? Você só pode está brincando.

Emily escolheu um esmalte azul escuro para as unhas das mãos. Resolveu ignorar o que quer que Amélia estivesse insinuando e pintou uma primeira camada nas unhas da mão esquerda.

O que Aaron pensava sobre as provocações de sua irmã? Qualquer outro teria fugido.

Bem, não qualquer outro. Queria dizer que qualquer outro rival teria fugido.

Mas...

... é como tinha dito, eles se conheciam bem demais, por isso era fácil para os dois manter essa coisa entre eles. É covarde querer permanecer na zona de conforto, no entanto, estava funcionando até então. Estava sendo... bom.

Eles se entendiam de uma maneira esquisita.

Funcionavam muito bem separados, contudo, melhor ainda juntos. Nas pegadinhas do ensino médio, competindo, no sexo. Era apenas isso. Bons jogadores.

Esperou o esmalte secar um pouco antes de tirar com removedor o que passou para o dedo. Da televisão ela escutou as vozes de Mulder e Scully. Sempre foi difícil para ela, em um cenário hipotético, escolher com quais dos dois se casaria. Eles eram uma dupla incrivelmente atraente.

Aaron ainda estava na cozinha quando ela estava concentrada na mão direita, tentando não borrar muito. Revirou os olhos quando escutou o som do liquidificador. Ele insistia em preparar suco natural, Emily não sabia que saúde nutricional estava incluída na parte do benefício. Ele também a obrigava comer banana com aveia pela manhã, não que ela desgostasse, porém quando começava a falar sobre seus benefícios cortava totalmente o clima.

Ele sabia muito bem ser um chato.

— Aaron! — Emily gritou.

Apareceu em um instante.

— O que foi?

— Minha cabeça está coçando.

Ele ergueu a sobrancelha, entendo. E a olhando com divertimento.

— Ah, me desculpe, senhora, por não oferecer também uma massagem nos pés. Estava ocupado cozinhando seu jantar.

— Rápido, seu babaca. Meu esmalte ainda não secou. Minha cabeça está coçando! — gritou sentindo a coceira aumentar. A Nasa deveria inventar uma solução para a coceira que acometia todas as pessoas que resolviam pintar as unhas.

Ainda por trás do sofá, ele se aproximou, e pôs as pontas de seus dedos na parte da cabeça que não estava coçando.

— Aposto que sempre fantasiou mandando em mim, sua pervertida.

— Sim, mas nas fantasias você era eficiente. Não é aí. — Ele trocou para outro lugar que também nada resolveu. — Também não. Não. Aaron!

— Estou tentando, Açúcar.

— Então coce todo meu couro cabeludo. — Escutou Amélia rindo, mas não se importou.

Finalmente!

Ele diminuiu o coçar com as unhas para um cafuné leve. Não foi isso que ela pediu, mas não pediria que parasse.

Quem dispensaria?

— Terminou lá na cozinha? — perguntou, quase suspirando, ainda deleitando do cafuné oferecido por ele. Aaron fez que sim. — Tenho outra coisa para você. — Mas antes virou mão esquerda, que já estava finalizada, para que ele visse.

Ele apenas encarou sua mão, comprimindo os lábios. Emily fez um careta e baixou a mão, fazendo sinal com a cabeça para que sentasse ao lado dela.

— Tudo bem, faz de novo — pediu ele.— Me mostre suas unhas novamente.

Considerou não fazer quando ele se sentou no sofá. Ela não sabe ao certo o que a levou a fazer o que ele pediu.

Ele sorriu ao olhar mis uma vez para as unhas pintadas de azul.

— Lindas. — Depois da reação dele instante atrás, Emily não esperou que fosse isso que ele fosse dizer. Por isso o leve rubor que cobriu suas bochechas não pôde ser detido. — Acho que nunca vi unhas tão lindas. Se houvesse um prêmio, com certeza você ganharia por ter algo tão bonito.

Emily revirou os olhos para as palavras exageradas dele. Quando uma mulher quer ganhar apenas um simples elogio não adiantar exagerar para compensar.

Ela queria que você reparasse, mas você não reparou. É totalmente anticlímax.

— Para de ser idiota. — Emily virou o rosto quando ele se aproximou para beijá-la. Ele suspirou, pensando que era porque estava chateada, mas era por Amélia está ali. Não gostava de casal que ficavam aos beijos na frentes das pessoas. Era desconfortável. Mas talvez quisesse, só um pouquinho, puni-lo. — Você vai tirar para mim o esmalte onde eu borrei.

— Sério, Açúcar, eu preferia que suas fantasias comigo fosse apenas prestação de serviços sexuais.

— Será que você poderia deixar o sexo fora de nossa conversa pelo menos uma vez? Acho que nunca mais escutaria sua voz se parasse de falar qualquer obscenidade — disse enquanto passava a espátula fina com algodão encharcado na ponta com removedor de esmalte.

Aaron apenas piscou um olho, nada afetado pela provocação dela. Como previu, Aaron limpou o esmalte cuidadosamente, concentrado como era em tudo que fazia.

Foi impossível não compará-lo com Tommy. Ele nunca faria tal coisa. Não coçaria sua cabeça, com certeza ele esperaria que numa tentativa de aliviar a coceira, onde quer que fosse, borrasse seu esmalte.

É humilhante saber que o cara que foi seu inimigo por todos esses anos a tratou com mais tato do que a pessoa que escolheu para namorar.

Seu pai poderia está certo em partes, ela e Aaron se procuravam para brigarem. Quando Emily estava com Tommy, ter uma briga com Aaron era como uma chuva mandada para aliviar uma tarde quente.

Foi um período que brigaram com muita frequência. Era como sadomasoquismo.

— Eu pensei que você não deixava as unhas crescerem — ele disse quando terminou.

— Por quê?

Ela já deveria saber antes mesmo de perguntar, mas o erguer de sobrancelha dele foi resposta o suficiente. Se tirasse também o controle das sobrancelhas dele, ele ficaria totalmente incomunicável.

— Jesus Cristo, Aaron. Você é um tarado. — Ele mordeu o lábio para não sorrir e em seguida beliscou o nariz dela. — E, — Ela revirou os olhos — tem razão, eu geralmente não deixo. Por algum motivo as deixei crescer nesses últimos meses.

— Não será por ter terminado com Tabitha e por está dormindo só com Aaron? — Amélia não tinha falado nada por tanto tempo que Emily quase se esquecera que ela estava ali.

— Eu... — Ela o quê?

— Você sempre deixa as unhas crescerem quando está namorando um homem. Você gosta demais de mulheres para deixar as unhas serem uma inconveniência.

— Eu não faço isso.

— Claro que faz — Amélia disse cheia de certeza — Você sempre esconde seus namoros, a única forma de sabermos se é homem ou mulher é pelas suas unhas.

— Isso é tão besta. — Sua irmã deu de ombros. — E Aaron e eu não temos nada. Sua teoria está errada.

— Pode até ser, mas ou está dormindo só com ele ou somente com homens. E é difícil acreditar que em plena consciência você dispense uma mulher.

— Será que podemos deixar o sexo de fora das nossas conversas?

Estava cercada de pervertidos.

...

Fazia algum tempo que Emily havia adormecido contra ele. Parecia tão confortável que não teve coragem de acordá-la.

Após o esmalte delas secarem e eles finalmente poderem jantar, sentaram ali para continuarem a maratona de Arquivo X. Em nenhuma das famílias, Prentiss e Hotchner, se tinha o hábito comer na frente da TV. Deve ser por isso que é um dos primeiro obtidos quando passamos a morar sozinhos.

Depois de terminar seu jantar, Emily simplesmente se aconchegou nele, sem dar importância no fato de terem companhia, e assistiram por um longo tempo. Emily permitia que levantasse apenas para ir no banheiro.

Emily passou a noite brincado com o fato de que ele tinha uma mente pervertida, mas lhe deu um sorriso sacana quando disse que o suco que tinha preparado era de abacaxi. Na verdade, ele ficou bem ofendido por não ter pensado na piada primeiro.

De alguma forma haviam chegado à um acordo de que ela era proibida de tomar refrigerante no tempo que passavam juntos. Uma taça de vinho, sim, uma cerveja, talvez. Refrigerante só se a etiqueta os impedissem de negar, o que não os atingiriam, pois vão a poucos lugares juntos. A última vez que saíram foi para a exposição de fotografia e eles beberam champanhe.

No entanto, não era realmente uma proibição. Se ela quisesse tomar um copo ou um litro de refrigerante, nada a impediria. Ele nunca conseguiria proibir Emily de fazer nada, mesmo com uma arma apontada para sua cabeça.

Mas Emily optava por qualquer outra bebida apenas porque gostava de beliscar a comida dele, isso inclui também tomar sua bebida. Portanto, ele sempre tinha que está tomando algo de que ela gostava. E ele quase nunca tomava refrigerante.

— Açúcar — a chamou com cuidado para não assustá-la.

Como sempre faz quando estão tentando acordá-la, resmungou e escondeu o rosto.

— Açúcar — chamou novamente e dessa vez ela ergueu seu rosto ranzinza para encará-lo. Ela estava pronta para mandá-lo para o inferno. — Vá para cama. — Ao beijar seu nariz, sentiu ela derreter um pouco. — Vou limpar a cozinha e lavar a louça.

— Não sabia que isso estava incluso no pacote — com o sorriso que deu parecia um pouco mais desperta, mas não era muito. Desconfiava que assim que deitasse a cabeça no travesseiro dormiria novamente. — Está se mostrando cada vez mais útil, Aaron. Ainda bem que deixei você me convencer disso.

Aaron olhou para o lado quando a televisão foi desligada, Amélia os observava com a mesma curiosidade e diversão.

— É melhor eu ir e deixar os pombinhos namorarem — PP disse.

Aaron ainda estava decidindo se a chamava de Pequena Prentiss ou apenas PP. Não podia usar o mesmo critério que usou com Emily, Amélia não se irritava com nenhum dos apelidos.

— Não, você veio... sei lá... ter uma noite das garotas? — Amélia pareceu aceitar o termo. — Enfim, vou limpar e depois vou embora.

Emily o abraçou com mais força. E ele não sabe dizer muito bem o que aquela pressão das unhas no ombro queria dizer.

— Por que um de vocês está sempre querendo ir embora? — Aconteceu apenas duas vezes. — Ninguém vai embora. — Foi como uma ameaça. Se corressem, ela atiraria para matar. Olhou para a irmã como se realmente apontasse uma arma. — Amélia você sempre pode ficar aqui. E Aaron, — ela beijou suavemente seu nariz, e então o mordeu. Com bastante força. — quando terminar de limpar, venha para meu quarto.

Emily então levantou, deixando ele com o nariz dolorido. Havia dado dois passos em direção ao quarto quando ele disparou:

— Boa noite, Emily.

Ela o olhou com fogo nos olhos.

Ele adorou. Tem certeza que ela está considerando quebrar o nariz dele.

— O quê? — Aaron perguntou inocentemente. Ela virou, mal humorada, continuando seu caminho. — Estou brincando, Açúcar. — Fingiu muito bem que não o escutou. — Você não sabe mais brincar.

Mas ele tinha um sorriso enorme no rosto quando escutou a porta do quarto dela bater com uma força considerável.

— Por que a chama assim? — Amélia perguntou.

— Porque... — Por que mesmo ele fazia? — No início, porque a irritava. Foi uma longa lista agora até encontrar um que a irritasse profundamente. Agora, acho que por ser nosso. Uma parte de nós, seres humanos, sempre vamos querer algo que outros não conseguem penetrar. Esse é nosso limbo.

— Não o inferno? — E lá estava novamente com aquele olhar curioso.— É engraçado que vocês se achem meio inocentes e meio culpados.

É, Aaron acha sim que seus pecados os levariam ao Purgatório. Ele e Emily são culpados por encontrarem o intermédia entre o Inferno e o Paraíso.

— Acho que limbo se encaixa melhor conosco do que céu e inferno. É um meio termo. Quando estamos nisso, não nos odiamos, exatamente. E o sexo, muitos dizem que ele é a extensão do que é o amor. Posso dizer que estamos numa linha tênue entre o amor e o ódio.

— Acho que Dante foi muito inteligente quando escreveu a Divina Comédia, mas ainda acho que não haja meio termo, Aaron. Ou você é culpado ou inocente.

— Não estamos discutindo Dante, não é? Isso é muito diferente do que estudei na faculdade. Nossos professores iam achar essas análises tenebrosas.

— Óbvio que não é Divina Comédia que estamos discutindo — disse com um revirar de olhos que a deixava igual a Emily. — Não existe limbo no amor e ódio. Ou você está de um lado ou do outro.

Aaron recolheu a louça e levou para cozinha.

Ainda bem que não estavam discutindo sobre Divina Comédia, as análises de Amélia com certeza seriam reprovadas. Será que ela não gostava de Dante?

Está divagando, Aaron. Está claro que Dante não era o ponto.

Mas qual era? Se não estavam no limbo, onde estavam?

...

Laica estava perto da porta dormindo na caminha que Aaron tinha trazido para ela na mochila. A luz fraca do abajur permitia uma visão não muito boa de todo quarto.

Aaron estava dormindo, sereno. Não lembra dele entrando no quarto, então provavelmente estava dormindo quando chegou.

Emily estava sentindo culpada. Ela o chamou e ele veio, cozinhou, fez todos o caprichos que ela exigiu, limpou, aturou as provocações de Amélia e a provocou de volta também. Tudo isso pra quê, para acabar dormindo do lado dela? Sem contar que ela dormiu primeiro.

— Aaron.

— Hmm — resmungou.

Uma coisa que tem reparado, é que ele tem um sono muito leve. Mesmo muito cansado, mesmo não dormindo bem à noite, ele sempre acorda com muita facilidade.

— Você está bem com isso? Eu sei que esperava que essa noite terminasse de forma diferente.

— Estou sim — disse, os olhos ainda fechados.

— Sério? Você estava cheio de expectativa essa manhã. — Ela se aproximou mais o rosto dele e o beijou na bochecha. — Podemos fazer agora, se quiser.

— Emily, vai dormir — a puxou para os braços dele. Ela ergueu-se um pouco para continuar olhando para o rosto mal iluminado dele, que ainda não se preocupava em abrir os olhos.

Emily.

Será que estava provocando de novo?

— Você disse que eu poderia te acordar...

— Acredite, Açúcar, eu sei muito bem quando você quer transar. E você não quer agora.

Ele estava certo. Mesmo ela não era sexualmente disposta o tempo todo. Porém, não queria que Aaron pensasse que ela não estava cumprindo sua parte do acordo.

Ela já o deixou muito tempo na expectativa. Isso tem charme só até certo ponto.

— É que eu não estou acostumada com homens que aceitam a condição de indisposição para sexo.

Ele finalmente abriu o olho. Os braços ficaram rijos, assim como todo resto do seu corpo.

— O que quer dizer com "não estou acostumada"?

— Me expressei mal. O que eu quis dizer é que você aceitou até que muito bem, e isso, mesmo que não seja a intenção, passa uma mensagem de que não há desejo...

— Sexo sem vontade é estupro, Emily.

Ela estremeceu com o uso do seu nome. Aaron gostava de provocá-la a chamando pelo nome, mas definitivamente há algo de errado quando ele abandona o apelido como agora.

No momento ele parece bastante zangado.

— Não foi isso que eu disse.

— Na verdade, sim. Acabou de falar que não é normal eu aceitar sua escolha. Que outros tentariam te vencer pela insistência. — Ergueu o corpo e ela lamentou pela troca de posição. Pelo menos a deixou em seu colo. — Se você precisa ser convencida, então o desejo não é verdadeiro. O "sim", depois de um "não" definitivamente não é consentimento.

— Não foi o que eu disse! — Mas ele ignorou novamente — Pela manhã você disse que homens sempre estão pensando em sexo.

— Eu me lembro. Porém, há limites a serem respeitados. E mais, não a nada que corte o clima mais do que perceber que sua parceira não está no mesmo nível que você. — O toque dos dedos dele em seu rosto foi suave, carinhoso. Ainda era estranho usar qualquer coisa remetente a "carinho" em relação aos dois. — Se você não quer, Emily — Ele abriu um sorriso quando a viu ficar tensa — Açúcar. Eu também não vou. E isso nada tem a ver com meu desejo em relação a você, apenas que respeito sua decisão.

Ou Aaron era estranho, ou todas as outras pessoas eram erradas.

Agindo como Laica quando quer atenção, descansou o queixo no ombro dele. Logo Aaron a envolveu em um abraço. Sabia, de alguma forma, que essa seria a reação dele.

— Admiro que me respeite, mas ainda acho que me interpretou mal.

...

Ele havia acordado muito cedo. Era sempre assim, mesmo que dormissem às 4:00 da manhã, 6:30 Aaron estava de pé, isso quando não era às 5:00. E por que estava com ele? Por ainda se sentir culpada. Queria fazer companhia antes que ele fosse embora com Laica.

Deu um gole no café dele e fez uma careta pela falta de açúcar. Um sorriso automático brotou em seus lábios. Açúcar. E contra todas as probabilidades, principalmente a de encontrar seu bafo matutino, Emily o puxou para um beijo.

Nenhum protesto da parte dele, respondeu mesmo Emily não tendo tomado café suficiente para enganar o mal hálito. É o que os filmes não explicam, como beijar alguém pela manhã com um hálito terrível? Como isso pode ser romântico?

Ficaram uns bons 15 minutos ali perdido naquele beijo. Era...diferente. Não como na manhã anterior onde ele tentava desabotoar a camisa que ela usava para dar uma espiada nos seus seios, era mais como aqueles beijos lentos e inebriantes depois do sexo, os corpos nus e entorpecido pelos orgasmos recentes.

O barulho emitido pelos movimentos de seus lábios um no outro os incentivava a continuar. A permanecerem nos braços um do outro. Ela mal teve chance de roubar qualquer beijo dele ontem à noite, não queria deixar Amélia desconfortável.

Aaron estava relutante em se afastar, por isso concentrou em distribuir beijos em seu pescoço e ombros. Ele gostava de fazer isso. Devia ser porque funcionava, ele a elevava à outro quando se concentrava nisso.

— Aaron — Ele parecia querer compensar todos os beijos que não conseguiram ter ontem. — Você dorme com outras pessoas?

Os lábios dele não a perseguiram mais. Percebeu a confusão no olhar dele quando a encarou.

Ontem ela havia feito essa mesma pergunta, mas era apenas uma brincadeira e ele não lhe deu exatamente uma resposta.

— Ah... você vai agir como possessiva ciúmenta? Estou realmente questionando se conheço você. — Ela ergueu um sobrancelha, esperando. — Estou encrencado?

— Apenas responda.

— Sim — falou com hesitação — Nos últimos dias, porém...

Droga. Não era essa resposta que queria.

— Eu também. — Confessou. Antes de Amélia trazer isso à tona, não havia reparado nesse detalhe. — Nos acomodamos nisso. Porra, deixei minhas unhas crescerem!

— Ei — lhe deu um selinho — espere aí. Não surta. Há uma lógica por trás disso. Nós concordamos com isso porque é fácil. Recorremos um ao outro para o sexo porque foi isso que combinamos.

— Ontem não aconteceu nada e ainda assim chamei você.

Ele abriu um sorriso dissimulado e inclinou-se para falar no seu ouvido:

— Compreensivo. Depois de transar comigo, todos serão ruins de cama comparados a mim. É claro que acabará me ligando.

— Mas... — Aaron suspirou sabendo que não a tinha convencido a abandonar a questão — Amélia não está totalmente errada. Por mais que eu odeie admitir, sempre tivemos uma bolha só nossa. Sempre nos atacamos, mas também atacávamos quem nos atacassem. Pensa que não sei que foi você quem furou os pneus do carro do meu ex babaca do ensino médio?

Ela não tinha certeza, realmente, mas o sorriso que ele lhe deu confirmou.

— Por um motivo totalmente diferente do que Amélia deu a entender. Era nosso jogo, ninguém interferia. E por favor, — o selinho que lhe deu dessa vez foi demorado, como se quisesse distrai-la — não vamos explanar todas as vezes que meio que agimos em vingança um do outro.

Ela aceitou que a conduzisse por aquele caminho onde tudo que se importavam era em se perder ainda mais no beijo.

— Está tudo bem, certo? — perguntou se afastando brevemente para encarar seus olhos. — Estamos dentro dos termos do nosso acordo.

— Totalmente.

Não havia motivos para preocupação. Se havia pessoas capazes de lidarem com a situação, essas pessoas eram eles.

Eles sabiam brincar com fogo sem se queimarem.

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