INSACIÁVEL • jjk + pjm

By babyboonn

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[EM ANDAMENTO] Park Jimin é um jovem atordoado pela ninfomania, que se apaixona por Jeon Jungkook, um renomad... More

Avisos, Playlist e Cast.
Epígrafe
Meu corpo é o templo do prazer... E da culpa - I
Sobre totem, vícios e um xeque-mate - II
A arte de perder - III
Treze pássaros azuis - IV
A carne busca mais carne - V
Old money - VII
Meu pardal azul - VIII

O peão do Rei - VI

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By babyboonn

💋

#SafadezaCronica

Oiê, pessoal! Como estão?

O capítulo está cheio de estratégias e um julgamento bem revelador, estão prontos?

Além de um pouco mais sobre o passado envolvente dos amantes... 💋

Não esqueçam de comentar bastante, de votar e de ler as notas finais! Tá bom?

No meu Instagram irei postar trechos e desenhos de "Insaciável", além de mais coisas ao decorrer dos capítulos, corram lá para ver: AutoraMarcela e Marrceela!

Boa leitura!

💋

E4, e5.

Nada mais do que uma minuciosa e agressiva, embora simples, abertura do xadrez.

Duas casas do peão à frente, o rei está sem qualquer proteção visível, mas não desprotegido: Nada além de sacrificar a sua própria segurança em nome de algo maior, em nome de estar na melhor posição e ter mais tempo para uma maior e superior estratégia.

Nunca fui muito bom em jogos de tabuleiro, mas como minha liberdade foi ameaçada, estou frequentemente navegando nesta luta de poder, oscilando em um chão quadriculado de culpa, medos e incertezas.

O primeiro passo foi o que considerei mais difícil, mas Jeon vem me afirmando que o mais difícil é dar um passo de cada vez, e ultimamente não pude deixar de concordar com seu pragmático pessimismo.

Não queria discordar de Jungkook, eu queria acreditar plenamente em seu poder e queria confiar absolutamente em suas habilidades de navegar neste mesmo chão quadriculado de culpa, medos e incertezas; mas quase sempre estou à beira da loucura.

Meu homem sabe o que fazer comigo, e eu sempre o deixarei fazer o que sabe, porque confio nele; confio que ele está dando irrestritamente tudo de si para proteger o seu rei. E se a sua estratégia era colocar uma corda no meu pescoço, eu apenas direi: Sim, senhor.

Depois do episódio de imaturidade e barbaridade de Jung Hoseok, todos nós percebemos como foi fácil levá-lo a um lugar sombrio, e ele reconheceu como havia mordido a delicada isca.

O juiz declarou que suas especulações sobre o cruzamento e o sinal vermelho eram muito circunstanciais, contudo, deveriam ser acrescentadas ao registro final; papelada que senti calafrios em pensar, em ler ou reler, em falar ou relembrar.

Meu passado nunca vai me escapar, pertence a todos, pertence a Min Yoongi.

Meu corpo e mente entravam em parafuso quando me lembrava do que aconteceu: frio, sangue e morte. Carregarei nas costas um fardo pesado demais para alguém tão jovem, e na maior parte do tempo me sentia inocente, sentia-me inocente como se nunca tivesse visto o frio, o sangue e a morte.

Neste momento, estava em uma sala de conferência; Jungkook ao meu lado, debatendo o meu caso com sua equipe, algumas pessoas importantes e alguns estudantes geniais que são filhos de pessoas importantes. Ele utilizava todos os meios para salvar minha liberdade ou a estranha liberdade que me restaria depois de tudo.

Jeon sempre acreditou em mim, sempre confiou em mim, isso era importante, isso era tudo. Sem confiança não seríamos diferentes dos outros casais, mas somos únicos, somos mais.

Havia tantos papéis, tantos termos, palavras que eu duvidei do próprio sentido literal.

Piscando devagar, parte de mim desligava nessas reuniões sinuosas, porque quando eu prestava atenção, percebia como estava complicado sair daquilo.

Claro, eu estava coberto por regalias, coisas que nenhum outro réu teria e situações que nenhum outro réu viveria, mas eram por causa de Jungkook, por causa de toda a equipe, por causa do dinheiro e do poder.

Meu maior anseio era a minha liberdade, entretanto, existia uma parte inocente de mim que apenas queria que nada do que aconteceu tivesse acontecido.

Senti-me desatento, pensava em muitas coisas fora de mim, mas na verdade sou meu próprio centro, e somente a voz de Jungkook conseguiu me despertar: eram comandos cavos, estratégias explicadas, hipóteses, pensamentos que escaparam de sua genialidade.

Meu homem funcionava como um computador, meu gênio, meu salvador, meu ponto fraco, meu causador.

Dentro de minutos, o juiz e toda a equipe de defesa em apelação tomarão uma decisão: A continuidade do julgamento ou sua nulidade, abrindo espaço para uma nova investigação sobre novas evidências do posto Obama, da transversal, do sinal vermelho e do meu primeiro e único testemunho.

— Certo, muito bem... — Jungkook brandou para os demais, ocupado com alguns papéis. — Temos as fitas do posto de gasolina Obama, mas elas não chegarão a tempo, também não poderíamos fazer uma triagem adequada, então seguir em frente está nas mãos da defesa e, claro, nas mãos do juiz Kim Namjoon. — Jeon explicou com seriedade e clareza, e eu adorava ouvi-lo falando assim. — Portanto, preciso de um pouco de privacidade, toda a equipe deve se retirar, mas continuem desenvolvendo estratégias. Não importa se o sinal estava vermelho ou não, quero que haja saídas em todos os lados. — Sim, ele faria qualquer coisa por mim. — Por gentileza, me dêem um momento com o meu... — Pigarreou por escorregar em minha denominação. — Meu cliente.

Sem hesitação, suas ordens foram ouvidas com obediência cega e silente, respondidas pelos rostos sérios e cabeças balançando a seu serviço. Em segundos a sala estava vazia.

Senti a mão forte de Jungkook tocando meu ombro, massageando-o, quente e possante, e eu me sentia relaxado de imediato, meu corpo respondendo ao seu toque como se ele fosse o meu mestre.

— Jungkook...

Não importa onde eu esteja, com quem, o que estou fazendo ou em que situação encontro-me, ao lado dele o meu mundo era o nosso mundo e no nosso mundo estou seguro.

— Meu anjo. — Sua voz escapa em um sussurro, mas chega até mim como o som de um trovão. — Não tenho dúvidas sobre a minha estratégia, mas não posso avançar sem antes perguntar mais uma vez e obter a sua garantia: Podemos continuar? Não será fácil e não será convencional, mas nada é fácil ou convencional aqui, agimos por necessidade.

Minhas opções eram algo que eu não chamaria de "opções": seguir o plano do homem em quem mais confio no mundo, ou esperar a chegada das fitas, a triagem e a exibição. Não há opções, o que aceito está mais claro que o céu pela manhã.

— Sabe que tomei essa decisão faz tempo, não precisa hesitar em cada momento difícil — falei, calmo, embora escapasse um vacilar, que Jeon percebia. — Eu confio em você.

Colocar-me em risco era o plano de Jungkook, o risco seria nosso benefício, minha fragilidade salvaria-me. O assombro de Hoseok o levaria por uma vereda complicada, era isso que meu homem queria, levar seu irmão para um lugar de profunda incerteza. Um bom advogado deve ter autoconfiança, a falta dela significava nudez.

Seu toque cálido se estendeu um pouco mais, suave e deleitoso, e eu me remexi na cadeira, olhando para ele com as sobrancelhas franzidas e o rosto singelo, buscando alguma coisa nele.

Às vezes eu tinha medo que Jungkook me considerasse o provocador dessa situação, o culpado, alguém que o fez pecar, mas ele nunca o fez. Nunca.

— Não será fácil, mas faremos isso da melhor maneira possível. É melhor que esteja desconfortável em minhas mãos, do que nas mãos de outras pessoas. — Aveludado e protetor, ele acariciou minha bochecha, seu polegar quente.

Derreti em suas mãos.

— Não terei medo da verdade. — Sorri minúsculo, encostando meu rosto em sua palma. — Me assusta que toda essa mídia esteja me esperando... mas não tenho dúvidas de que sairemos daqui pela porta da frente, amor. Não vou errar, não posso errar, eu sei disso.

Jeon encarou-me, havia algo muito complexo em seus olhos, era natural, mas também havia algo doce. Ele se aproximou de mim, juntando nossas testas, esfregou seu nariz no meu, um carinho acalentador, fez-me sorrir como um tolo, então roubou um beijo dos meus lábios.

— Não precisa ter medo, porque estou aqui e enquanto você estiver ao meu lado, nada nunca alcançará você. — Sua autoconfiança era absurda, eu me sentia maior em apenas pertencer. — Tudo isso, esse julgamento, o que aconteceu... Tudo isso é assustador para todos nós, até para Hoseok. Por isso premeditei algo especial nesta sessão.

Pergunto-me: O quê? Então apenas confio.

— Quero que isso termine logo... — sussurrei, e meu hálito escapou com frescor. — Eu só quero esquecer tudo e ir para longe com você... Viver com você.

Segurei sua mão grande, afastando-a do meu rosto, sentindo seu anel universitário em seu dedo mínimo, e então beijei sua mão com devoção e suspirei.

— Estou dando tudo de mim, e tudo de mim é muita coisa. — Não era simples ego, era genuína garantia para me aliviar. Mesmo que houvesse algo quebrado dentro dele, sua maior preocupação era eu. — Isso acabará em breve.

Perder o cônjuge soava como uma dor fatal, mas esse título havia sido perdido ao longo dos últimos anos, e mudava tudo. Isso não significava que Jungkook não estivesse sofrendo, ele sofria por perder alguém que um dia foi importante. Sua infidelidade não o tornou rígido, mas um culpado.

— Seu melhor é tudo o que preciso, e eu tenho isso... Então, estou pronto, você sabe. Vamos.

[...]

Julgamento, 11 de setembro, 2020.

Existem segredos viscerais nas profundezas da riqueza, existem coisas perversas e tolas, mas quase todos podem imaginar isso. O dinheiro consome a mente sã, corrompe, degrada, estraga, o dinheiro é divino e indispensável, mas o seu uso excessivo quase nunca é apropriado.

Estar imerso neste abastado universo de Yoongi, Hoseok e Jungkook parecia uma condenação inconsciente.

Ser consumido pelo poder que o dinheiro traz não estava nos meus planos, mas escolhi amar um homem que nasceu com uma colher de prata na boca; cuja herança era uma família com complicações, e agora estou absorto nele e em seu perigoso paraíso.

Caminho devagar, com dois policiais parados bem atrás de mim, um de cada lado, direcionando-me ao banco de testemunhas.

São silenciosos, sérios e tesos, isso me traz algum alívio, nenhuma palavra era mais útil que qualquer uma. Ouço ruídos de pessoas em outro espaço, consigo ouvir e não absorver nada.

Assim que chegamos à porta, cada um dos seguranças agarrou um puxador e ambos abriram como se fosse necessário uma cerimônia: Tudo bem, serei o Rei e espero que Jeon me proteja de tudo ao meu redor, porque meu próprio movimento era mínimo e defensivo.

Ando, minhas roupas esfregando na pele, estou transpirando nas axilas, aperto meus dedos e minhas unhas marcam minhas palmas, uma contenção de danos.

Logo estou sentado no banco dos réus, ainda sem ninguém presente, sem júri, sem câmeras-luz-ação, sem espetáculo, apenas policiais sérios e um juiz centrado em seus papéis. Suspiro aliviado, eu preciso ser forte.

A porta no sentido oposto se abre, observo Jung Hoseok entrar com sua equipe: estudantes, auxiliares, um advogado mais experiente, semelhante à equipe de Jungkook.

Uma cópia da equipe perfeita? Talvez. Copiar a excelência trará apenas mais excelência? Talvez.

Em poucos movimentos Hoseok acomodou-se, cada um encontrou o seu lugar, sempre confortáveis por toda parte; nenhum ambiente era grande demais para alguém que se sente pertencente. Sinto-me minúsculo e gigante, não caibo em mim mesmo e sobro nesta cadeira de testemunhas.

Hoseok procura meu rosto, segurando seus papéis sórdidos, seus olhos estão apreensivos, consigo lê-lo com facilidade, ele não passa de uma versão menos complexa do irmão.

Criados pelas mesmas pessoas, com os mesmos desafios, com as mesmas soluções, banhados no mesmo ouro, irmãos sanguíneos, verdadeiros, semelhantes e completamente diferentes.

Seus olhos engolem-me, escuros e ameaçadores, ele quer me culpar, eu sou a própria perversão, como se nada daquilo fosse sobre Min Yoongi, frio, sangue e morte.

A porta se abre novamente, era Jungkook e sua equipe silente.

Ao contrário de Hoseok, o meu homem não busca meu rosto, não busca minhas expressões como uma urgência, e sei que será assim até o fim deste processo, mas busco por ele como se ele fosse parte do meu oxigênio.

Aperto minha coxa por cima da calça, meus dentes cerraram meus lábios, estou fixado em Jeon, e seria até vergonhoso se alguém percebesse o quanto estou clamando por sua atenção, o quanto isso muda tudo para mim.

Não tenho vergonha de admitir o quanto o quero, o quanto minha alma anseia pela sua atenção, não tenho receio dos meus sentimentos mais intensos. Isto é quem eu sou, não tenho vergonha de mim mesmo, isso me torna único dentre um milhão.

Não recebo nenhum olhar seu, suspiro em frustração e observo mais algumas pessoas importantes chegarem e se acomodarem.

Todos no lugar, uma decisão.

— Iniciamos, neste momento, a instrução do processo do réu Park Jimin, passível de nulidade prevista e expressa no Código de Processo Penal entre os artigos 563 e 573. — Foi dito com ordem, escapando com o chiado do microfone pelo assistente. — O Tribunal, regido pela Vossa Excelência juiz Kim Namjoon, está oficialmente quesível.

O juiz, em sua cômica toga preta, retirou os óculos de leitura e suspirou, em seguida, bateu seu malhete.

Eu me assusto, tremo inteiro.

— Considerando a presença da defesa, imputada pelo Doutor Jeon Jungkook, e da acusação, imputada pelo Doutor Jung Hoseok, juntamente com o réu Park Jimin, indiciado por crime contra a vida, pela morte de Min Yoongi, o tribunal define quê:

A adição de provas durante a audiência, provas ilícitas e circunstanciais, pode ser considerada litigância e resultar na nulidade do julgamento, em uma multa e afastamento do advogado em questão. O desvio foi cometido pela acusação, que não apresentou provas vivas, mas sim algo relativo. Cabe ressaltar, que segundo o artigo 243: "Sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que Ihe deu causa". — Suspirou, buscando fôlego. — A acusação está impedida de exigir a nulidade, pelo princípio jurídico de que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza, evite cometer o mesmo desvio, Doutor Jung. A defesa também não exerceu seu direito. Doutor Jeon, gostaria de uma explicação.

Hoseok, furioso, discretamente deteve-se em seu irmão, como se estivesse surpreso com ele não conseguir as fitas a tempo ou pela coragem de negar uma nulidade, afinal, adiamento significava mais tempo, e tempo era ouro. A auto-segurança excessiva de Jungkook aterrorizou Hoseok.

— Meritíssimo, agradeço sua paciência neste assunto delicado. — Gentil e direto, mas com um respeito extraordinário. — As gravações do posto de gasolina Obama e mais imagens da área ao redor estão a caminho. Isso será adicionado em breve às provas finais e, caso o réu Park Jimin cometa algum erro, seu depoimento será refeito quantas vezes as autoridades considerarem necessárias. Além disso, com base em pesquisas simples, houve um incidente no centro da cidade naquela noite, aliado a uma forte tempestade, pode ter levado os sinaleiros a continuarem funcionando comumente, mas isso também é fortuito. — Em uma breve pausa, meu homem analisou Kim Namjoon, enquanto sua voz me alcançava como uma melodia e alcançava Hoseok como um assombro. — Por estes motivos, a defesa e réu rejeitam qualquer tipo de adiamento. Como advogado experiente, não acho que isso seja uma prova sólida, mas realmente uma questão de caráter secundário. Logo, imagino que nenhum delito de litigância tenha ocorrido da parte do Senhor Jung, mas foi apenas um mal-entendido. No entanto, peço a Vossa Excelência que lembre ao júri que todos são inocentes até que se prove o contrário, e que o comportamento desviante da acusação não deve interferir suas perspectivas imparciais. No mais, é apenas isso.

O juiz ergueu uma sobrancelha, aparentemente hipnotizado pela situação caótica, afinal, Jungkook defendeu não apenas sua posição, mas também a de Hoseok; o que adiciona alguma expressão sentimental ao rosto de seu irmão, um rosto que apenas eu poderia ver naquele ponto de vista

Meu homem é tão altruísta, mas houve mau em sua bondade.

— O réu, Park Jimin, comprova perante o escrivão, a defesa, a acusação e a lei que está disposto a continuar o julgamento de acordo com a vontade da defesa?

Engoli em seco, aproximei minha boca do microfone, passei rapidamente a língua pelos lábios e disse nervosamente: — Sim, meritíssimo.

Antes de retornar à minha posição, percebo os orbes negros de Jungkook, o que me aliviou e me deu uma sensação de segurança.

O juiz Kim Namjoon averiguou alguns documentos, nem imagino o que seja, mas observo com o canto dos olhos, nervoso com seu remanso.

Minha confirmação não valia nada, mas esse juiz estava levando muitas questões em consideração, e talvez ele tenha entendido a sensibilidade e a pessoalidade em que esse julgamento caiu.

— A acusação tem algo a acrescentar?

— Sim, Sua Excelência... não tive intenção de agir de má-fé perante o júri, mas afirmo que reler o depoimento e encontrar uma falha do sinaleiro não formam uma prova contundente o suficiente para nulidade — confessou Hoseok, ajeitando discretamente o paletó. — Garanto que isso não tornará a acontecer. Não tenho objeções à decisão final.

— Na presença de todos os envolvidos, das suas equipes, do oficial juiz, do assistente e do réu, o julgamento não sofrerá nulidade, devendo ser mantida a sua continuidade e lisura, provendo assim a regularidade do processo, art. 563 do Código Processo Penal. — Sua posição era firme. — O réu permanecerá no julgamento como testemunha, a defesa e a acusação deverão retomar os interrogatórios anteriores, as próximas testemunhas só serão acrescentadas na próxima audiência. As gravações deverão ser analisadas por ambas as partes, e havendo provas reais, cabe ao réu apresentar novos depoimentos.

Ergueu seu malhete e bateu contra o cinzel com vigor e autoridade.

— A reunião está oficialmente encerrada. — O assessor branda ao microfone. — A audiência começará dentro de alguns minutos e o júri e o público poderão entrar.

Imediatamente meu corpo enrijeceu, uma multidão enfurecida estava vindo em minha direção, com espetos de madeira e tochas acesas; eles querem minha cabeça em uma bandeja de prata, servida no famoso restaurante do Chef Min Yoongi. Minha mortalidade era total.

Primeiro, os membros do júri entraram por uma porta lateral e ocuparam os lugares reservados. Mesmo sendo desconhecidos, eles ouviram e ouvirão pessoas destrinchando meu passado e meus pecados, toda minha vida diante do mundo, e eu apenas assisto.

Por isso, decorei cada rosto que iria decidir minha vida inteira, cada detalhe específico, desde suas aparências até suas almas. Agora eu os conhecia mais do que eles me conhecerão.

Ao fundo, as portas se abriram e a cavalaria chegou, câmeras e um falatório repercutindo por todo recinto, fotos indiscretas e pessoas procurando seus assentos, — minha mãe foi embora — e eu permaneci com os olhos baixos.

Jungkook sempre reforça que eu não deveria ter vergonha das câmeras e não deveria ter medo do público, afinal, não sou um criminoso, não sou um assassino, então devo olhar o abismo diretamente nos olhos, ele não se voltará contra mim, porque eu sou o abismo.

Todas as atenções estão voltadas para mim, sou uma estrela, as manchetes dos jornais querem meu nome como um cachorro faminto quer carne fresca, sou a pérola desta cidade, o precioso assassino, o cruel amante, um "ninfeto" roubando maduros e indefesos homens experientes. Sou a pérola, sou a luz, o fogo, o culpado, sou o espetáculo, a verdade e o caminho.

Agora todos estão assentados, o burburinho continua, porém suavizado. Minhas mãos suam, meu corpo esquenta sozinho, os traços fisiológicos de um ninfomaníaco se manifestam quando menos preciso deles, mas eu simplesmente aguento.

Às vezes os murmurinhos são como plano de fundo dos meus pensamentos, uma ilusão sonora, e tento pensar que não existe nada na sala inteira além de Jeon.

Meu homem em seu terno preto, sua camisa social branca, com seu corpo delineado no tecido caro, seu cinto de couro rodeando a cintura e seu rosto austero... e, de repente, estou bambo, com os lábios secos, nenhum flash captura meu inadequado anseio e paixão.

Jungkook parece sentir como eu queimo sobre ele, com ele e por ele; então me busca, me encontra e me leva para outro plano, para outro mundo, um mundo sem esse burburinho e tudo parece parar, porque quando ele olha para mim, entendo que estou no lugar certo e seguro.

Jeon sabe o que está fazendo, e eu confio em suas habilidades... Estou repetindo isso para mim mesmo, porque era como um mantra, acalmava-me. Jungkook acredita em mim o suficiente para deixar seu coração culpado, sua famosa ética, seu dinheiro e seu sobrenome em casa e nas capas de revistas.

Tudo parou, não há mais luz-câmera-ação, as manchetes de amanhã estão prontas, o silêncio ressoa alto e reverente, as portas fecham-se. Começou.

O malhete espanca a madeira de seu descanso, eu não temo.

— O tribunal está em sessão, presidida pelo juiz Kim Namjoon. — Para mim era uma repetição, mas inédito para os outros. — O escrivão confirma que a audiência tomou início? — A pergunta foi imediatamente confirmada. — Passo a palavra a Vossa Excelência, levantem-se todos.

Nós obedecemos.

Kim Namjoon, com sua expressão apática e severa, ergueu o olhar perante o escarcéu; parte dele notou o alvoroço impróprio, era sábio o suficiente, ele viu como o julgamento se transformou em um circo, e conseguiu identificar os palhaços.

Portanto, quando eu me sento nesta cadeira do réu, este homem de toga é o meu Deus, o Deus desta sessão, então terei fé na sua sabedoria.

— Boa tarde, senhoras e senhores, daremos início, neste momento, a sessão do Tribunal do Júri. — Uma pausa. — As gravações do semáforo, citado pelo advogado de acusação Jung Hoseok, serão analisadas por uma equipe especializada, até então o júri deverá suprimir quaisquer pensamentos decorrentes dessas informações irregulares, tratando assim o réu Park Jimin como pessoa sem trânsito em julgado: artigo 5º, inciso 57. — Uma verdadeira autoridade. — Todos devem sentar-se.

Nós obedecemos.

Não estou enganando-me, não estou fantasiando, Kim Namjoon não está inclinado em nenhuma direção. Sempre que seus olhos encontravam os meus, havia algo neutro neles, nada além de imparcialidade e indiferença profissional. Isso era positivo, me dava uma chance.

Esperança é uma coisa muito perigosa para alguém como eu ter, mas eu tenho. Sim, eu tenho.

— No banco das testemunhas, o acusado Park Jimin, indiciado de crime contra a vida, previsto no Código Penal, sua exequível vítima em questão: Min Yoongi. — Fez-me arrepiar. — O réu deve lembrar-se que está e permanecerá sob juramento até ao final do processo, seu dever com a verdade tem de ser sua prioridade. Está ciente disso, senhor Park?

— Sim, excelência...

— Por ordem pré-estabelecida, passaremos agora aos debates orais, da acusação e defesa. Peço aos doutores debatedores que evitem o uso de aparte sem razão crível. — Uma arfada. — A defesa está com a palavra, pode se aproximar.

Jungkook estava plácido, levantou-se e aquiesceu, educado e formal; depois caminhou em minha direção, com passos curtos, quase despreocupados, existia prudência em seus atos mais comuns, em suas atitudes mais tensas.

Seu rosto de mandíbula marcada me mantinha refém dele e de mim mesmo, refém da minha própria imaginação lancinante em sua seriedade.

Oh, céus, por que ele precisava ser tão bonito?

— Obrigado, excelência... Agradeço a atenção do júri. — Grave e aveludado, como se seu tom pudesse simplesmente seduzir todos ao seu redor; então encarou-me: — Como está se sentindo, senhor Park?

Uma pergunta recorrente da última sessão interrompida.

— Nervoso — confessei, mas evitei enfrentar o conselho.

— Mais uma vez, prezo pelo bem-estar do meu cliente e a sua honestidade perante o júri. — Olhos nos olhos. — Senhor Park, você seria capaz de dizer, precisamente, há quanto tempo conhecia Min Yoongi?

Sua voz vacilou, sempre vacilava quando dizia o nome dele, seu pomo-de-adão subiu e desceu, e eu fiquei nervoso ao vê-lo oscilar.

— Não saberia dizer precisamente... Min Yoongi esteve envolvido em toda a minha infância e adolescência, imagino que até antes disso. — Denunciei uma emoção recuante ao lembrá-lo. — Éramos como uma família na maior parte do tempo, era meu dever tratá-lo como um tio... Mas isso não significava um bom relacionamento, era exatamente como uma família comum: não escolhemos quem faz parte dela, quando nascemos tudo já está lá.

O rosto de Hoseok estava direcionado para mim, sem surpresa, ele provavelmente pensa que estamos seguindo a trama inicial. Esquecendo que a vida é apenas uma Roda da Fortuna, uma roda que não pode ser parada.

— Apesar de seus fortes laços familiares de consideração, você cometeu um erro com Min Yoongi, ou pelo menos é o que todos aqui pensam. Senhor Park, pode confirmar isso? — Retórico. — Consegue admitir que traiu a confiança de alguém que era parte física e presente de sua família?

Seus olhos estão me observando, navegando em mim... Meu homem quer muitas coisas e mesmo possuindo a minha alma, agora ele quer mais. No silêncio, ele sussurra com expectativa: faça a coisa certa, meu bem.

— Sim... — Minha voz escapou por um fio. — Eu traí a confiança e o respeito de Min Yoongi.

— E como você traiu a confiança e o respeito de Min Yoongi, senhor Park?

Franzindo a testa, Hoseok mudou sua postura.

Estudando-o como um profissional, agora seu rosto demonstrava surpresa, mas também surgiu um breve sorriso diante da minha resposta rasa, ele rapidamente se esqueceu como sou oceano.

— Traí a confiança e o respeito de Min Yoongi ao ter um caso com o marido dele. — Falhei, engasgando e limpei a garganta. — Um caso de longa data que terminou em seu divórcio...

Não era um segredo, isso foi exibido nos jornais mais sensacionalistas, estava nos documentos, mas o júri tomou uma postura ardente de negação. Nada mais era segredo.

Pares de olhos pesados ​​encararam-me, cheios de desaprovação, mesmo enquanto seus rostos procuravam uma falsa neutralidade para desempenhar seus papéis.

— Um caso sexual?

— Sim.

— Um caso romântico, senhor Park?

— Sim.

— Por quanto tempo?

— Quatro anos.

Meu estômago embrulhou com as perguntas velozes, a verdade me escapou com tons de humilhação. Meu rosto não mentiu, minha língua também não, todos puderam ver um pouco de inocência em meu pecado.

— Senhor Park, poderia me dizer o nome exato do ex-marido de Min Yoongi, com quem você teve um caso extraconjugal, sexual e romântico por quatro anos consecutivos?

Jeon era consistente e preciso, não existia vergonha em seu rosto culpado e sua voz possuía um poder indistinguível de chocar o júri e os demais, de chocar a mim mesmo.

— Objeção, Vossa Excelência. — Hoseok clama autoritário. — A defesa fez uma pergunta cuja resposta o júri sabe, perdendo assim o verdadeiro sentido da testemunha responder.

— Excelência, eu possuo um ponto aonde quero chegar — Meu Jungkook explica, curto e aplicado.

— Objeção negada, esta questão leva o júri a compreender melhor a situação para além da ótica dos papéis. A defesa pode prosseguir, mas evitando ir além do bom senso.

Jeon se aproximou de mim, passo por passo, e eu fiquei cada vez mais tenso com sua presença magnética e violenta. Ele toca a madeira, observei sua mão bruta, o relógio decorando seu braço, suspiro em deleite; ele sequer me tocou, mas eu me senti tocado.

— Senhor Park, por favor, responda.

Estou inerte.

Jeon Jungkook...

Posso ver como esta afirmação traz um espanto desnecessário para o público, era como se fosse um segredo social, como se todos quisessem esquecer a capacidade de traição que Jungkook havia demonstrado ter, a possibilidade dele estar errado, sua imperfeição.

Todos os jurados sentem um gosto amargo na boca, pensamentos sombrios tomam conta de suas expressões, e eu estou completamente rendido, todos podem provar um pouco da minha vergonha, do meu medo, dos meus segredos não secretos, estou aberto e destrinchado; tudo isso era a verdade fluindo de mim.

Hoseok soa insatisfeito, investigando para onde queremos ir, mas está sempre um passo atrás.

— Senhor Park... — Eu vivi para ouvi-lo dizer o meu nome, e mesmo no meio de uma multidão, isso era algo sagrado para mim.

Interrompendo sua pergunta, houve um rangido, posso ver a porta abrindo-se: primeiro alguns olham para trás, depois todos estão olhando, e ela entra, completamente impecável: Ofélia Jeon.

Uma advogada renomada e respeitada, conhecida por grandes casos e por resolver grandes mistérios, o epicentro do sucesso, o exemplo fatal de uma mulher indomável, a mãe de Jungkook e Hoseok.

Uma carta na manga.

A rainha da aprovação, não era importante para mim, não fazia parte do epicentro dos meus problemas e nem das minhas soluções, mas Ofélia era o ponto central para os seus filhos.

Um espelho inatingível, sua aprovação e aceitação eram como um anseios da alma, era um modo de vida, era pertencimento e merecimento.

O seu "sim" era como um "sim" de Deus, e seu "não" era como o fim dos tempos. Tudo o que ela precisava fazer era entrar e o malhete seria dela.

Com queixo alto, cabelos lisos e curtos, rosto enrugado em alguns pontos, mas elegantemente maquiado, enfiada em um pequeno terno argentário, ela atrai todas as atenções.

Daqui posso sentir Jungkook mudando, sua postura ficando mais rígida, mais tenso e menos resoluto, quando Hoseok parecia atordoado.

Ofélia caminha como se não interferisse na decisão da minha vida e, em silêncio, ela se senta atrás da equipe de Jungkook.

Ela escolheu um filho, ela escolheu seu lado, ela escolheu a mim, e isso claramente desestabilizou Jung Hoseok, seu rosto agora estava pálido e ele segurava a caneta com força, a ponto de seus dedos ficarem brancos.

Eu posso sentir o gosto de sua insuficiência, o gosto da rejeição, o gosto do furor, Hoseok engole tudo e Jungkook levanta o queixo, e eles se voltam para mim.

Ofélia sequer precisou falar, amanhã os jornais falariam por si e por ela, e em menos de um dia talvez eu me tornasse o novo rosto da inocência.

Meu homem sabe o que faz.

— Senhor Park... — Jungkook exige minha atenção e a atenção dos outros. — Depois que Min Yoongi descobriu o caso, você e o ex-marido em questão ficaram juntos?

— Não... — Ficou bambo. Não me faça reviver isso, Jeon... não faça. — Não ficamos juntos.

Meu rosto clama por misericórdia: Não me faça lembrar, porque você me prometeu que esqueceríamos isso para sempre.

Não faça isso comigo, meu homem de um milhão de dólares, não quebre meu coração na frente de todos, não outra vez.

Jeon me analisa com austeridade, mas ele me lia como um livro aberto, e eu sentia que ele estava dividido entre ser o melhor para sua mãe e fazer o melhor para seu homem.

Faça o que precisa ser feito ou faça o seu melhor sem machucar mais ninguém.

Meu bem, meu homem, meu amante, eu caio aos pedaços quando estou com você, mas não ficarei aqui se for você quem me despedaça.

— Certo. — Encerrou, como se pudesse ler meus pensamentos. — Em algum momento esse caso extraconjugal virou um relacionamento público?

— Sim.

— Quando?

— Depois do divórcio iniciamos um relacionamento sério e estável. — Tento distender.

— Após essa decisão, Min Yoongi entrou em contato com você?

— Algumas vezes.

— Em algum desses contatos, físicos ou cibernéticos, Min Yoongi sugeriu machucar você, o ex-marido ou a si mesmo?

— Sim, uma vez ou outra... Às vezes ele me ligava e fazia pequenas ameaças, estava sempre bêbado ou dopado de remédios para dormir. Através de mensagens de texto ele enviava insultos, reiterando como eu o traí e como roubei sua vida. — Minha voz ficou estridente ao recordar. — Em alguns momentos ele ameaçou arruinar minha reputação, me fazer aparecer na mídia, sempre reafirmando o quanto eu o magoei e como merecia ser magoado também. Nunca considerei isso algo físico, até que se tornou.

Jeon acena para mim, aprovando minha autodisciplina e determinação, mas ele está rígido como gelo, isso escapa pelos seus mínimos gestos, no movimento das mãos, nos papéis, no olhar de expectativa, na autoridade mínima que exercia sobre todos ali.

— Os membros do júri podem abrir o documento na página treze, no final, onde há uma captura de tela, uma mensagem de texto, totalmente autenticada. Gostaria que todos acompanhassem minha leitura. — Todos movem páginas e páginas, enquanto Hoseok cruza seus braços, quase inquieto. — Abre aspas: Você é uma "vadia", seu desgraçado, e eu me arrependo de tudo que fiz por você e por sua mãe, seu merdinha. Eu gostaria de morrer só para fazer você se sentir eternamente culpado pelo que transformou a minha vida. Fecha Aspas.

O júri parecia absorto pelas palavras agressivas da vítima; sentia-me envergonhado por ter que presenciar todos ouvindo e lendo tais coisas sobre mim.

Jung Hoseok revirou seus olhos, como se quase sentisse que essa mensagem não passava de uma estupidez de Min Yoongi, uma característica de sua agressividade passiva.

— Senhor Park. — Tomou a palavra outra vez, despertando-me. — Diante da lei, diante de Deus, do Estado, do júri e de toda a mídia, você ainda afirma, como em seu depoimento, que Min Yoongi cometeu suicídio em sua frente?

Meus lábios tremem, posso sentir o frio e o medo, posso sentir a morte e o sangue, deslizo minhas mãos pelas coxas quentes, com medo de que minha declaração possa fazer com que a mídia mude minhas palavras.

Preciso ser direto.

Senti o olhar fulminante de Hoseok, senti a expectativa de Jungkook, senti o erguer do queixo de Ofélia, a família Jeon exigindo tudo de mim, e o choque das pessoas com lumes brilhantes de terror em minha direção.

— Sim, diante da lei, diante do júri, diante de todos aqui... Sou testemunha de que Min Yoongi cometeu suicídio na minha frente, intencionalmente na minha frente. — Engulo em seco, sinto medo. — Min Yoongi enfiou uma faca em seu próprio peito e se jogou para fora do prédio em que estávamos, exatamente como disse que faria em sua mensagem... Me deixando com um sentimento de culpa que nunca irá embora.

O burburinho espalha-se.

— Isso basta. — Jeon conclui, quase eufórico pelo meu desempenho em chocar. — Peço ao júri que reflita sobre a honestidade do meu cliente, ele sentou-se nesta cadeira e, diante de todos vocês, esteve falando a verdade, a verdade repetidas vezes. Não importando o quão humilhante ou o quanto possa deteriorar sua reputação, Park Jimin segue falando a verdade. Analisem seu tom, seus solavancos de receio, suas expressões faciais, seus trejeitos, eles são os mesmos do começo ao fim... É a verdade sendo dita diante de uma mídia cruel e de um destino fatal, mas isso ainda é a verdade. — Jeon era didático, atraía o público, movia suas mãos e tinha uma postura confiante, ele era a verdade. — Obrigado, senhor Park. Sem mais perguntas, excelência.

O juiz, silente, bate seu malhete.

O júri tem pavor da minha verdade cruciante, da minha coragem, eles têm pavor da inocência em meu rosto, nas minhas mãos... Eu não sou um assassino.

Observei meu protetor tomar distância, retornando ao seu lugar de origem, sentando como um rei, oferecendo a outra face como Deus.

— A acusação está com a palavra, pode se aproximar.

Hoseok colocou-se de pé, existia algo intrigante em sua face, sem sorrisos dissimulados, sem graça, mas coagido por sua própria revolta, com uma raiva capaz de corroer sua ética e domar suas estratégias, inseguro de si mesmo.

Sua proximidade desencadeou uma recusa involuntária em mim, quando percebi estava afastado do microfone, como se metros e metros não bastassem. Sua presunção era seu único acessório neste momento.

Park, senhor Park... — Pareceu brincar com a maneira fervorosa com que meu nome escapava de Jeon. — Como foi trazido à tona, perante todos, gostaria de continuar o tema da defesa... Além da mensagem mencionada, enviada por Min Yoongi e lida anteriormente: Min Yoongi alguma outra vez exibiu um comportamento suicida?

Respiro, procurando fôlego e temendo a distorção que viria.

— Não, Min Yoongi não parecia alguém suicida. — Nada além da verdade. — Apesar de algumas piadas autodepreciativas, ele nunca demonstrou comportamento suicida ou deprimente.

— Do seu ponto de vista, Min Yoongi apresentava comportamentos autodestrutivos?

Jungkook estava austero, como se estivesse incomodado com a proximidade de Hoseok, e me encarava silente e afirmativo, devorando-me.

— Não exatamente... — eu digo. — Min Yoongi sempre agiu de forma mais... espontânea, o que o levou à violência mais leve. Ele quebrava as coisas, às vezes agredia seu marido, gritava e xingava, mas diria que isso vinha de um descontrole interno, que poderia ter sido por estresse no trabalho ou problemas pessoais, mas nada autoinfligido.

Hoseok estava visivelmente insatisfeito, seu rosto contorcido em uma careta minúscula, como se quisesse outra resposta minha, como se quisesse que todos ouvissem que Min Yoongi não era autodestrutivo, como se não quisesse encarar o nível de destruição dele com todos ao seu redor.

— Muito bem. — Ele mexeu em seus papéis, estava nervoso, as folhas tremiam, provavelmente por causa da presença de Ofélia. — Senhor Park, em algumas mensagens de texto, do celular do Min Yoongi e enviadas para amigos próximos, ele relata que você parecia possuir uma obsessão por ele; em detalhes minuciosos, como roupas, acessórios, gostos "em comum", a cor do cabelo...

Objeção, Excelência. — Antes que ele pudesse continuar, Jeon interrompeu. — Esta espécie de "afirmação" antes de uma pergunta pode levar o júri à ignorância. Essa "obsessão" mencionada nas mensagens de Min Yoongi, nada mais são do que coincidências. Ao longo da documentação, o júri pode encontrar datas comparando alguns destes fatores, por exemplo: Min Yoongi tingiu o cabelo de vermelho dez meses após Park Jimin, alguns dos acessórios do réu foram comprados ou recebidos vários meses antes de Min Yoongi. São coincidências gerais e tudo está explicado na documentação do caso, fatos esses que o Senhor Jung conhece, mas está levando o réu ao nervosismo de reexplicar-se. Isso complexifica a visão do júri.

O juiz pareceu absorvido pela quantidade de informações que Jeon revelou em seu breve aparte, então voltou-se para Hoseok.

— Objeção aceita, a acusação deve basear-se nestas informações se necessário, mas não deve acusar indiretamente o réu ou persuadi-lo ao erro. — Decidido. — Reformule sua pergunta, Doutor Jung.

Hoseok possuía menosprezo em seus olhos e em suas microexpressões.

— Perdão, Excelência. — Pigarreou. —Em algumas mensagens de texto, Min Yoongi relata que você estava obcecado por ele... Por quê?

Haviam muitas maneiras de encurralar-me, eu estava numa viela, entretanto, Hoseok sempre optava por ir na direção mais suja.

Talvez esse fosse o seu real objetivo: expor-me à humilhação pública pelo maior tempo possível.

— Não sei, nunca senti nenhuma obsessão por Min Yoongi. — Verdade ilimitada. — Imagino que não seja fácil ser traído por pessoas que você considera sua família, logo imagino que ele estava procurando mais motivos para me odiar. Talvez acreditar que eu estava obcecado o fez pensar que Jeon pediu o divórcio para ficar com uma versão mais jovem dele, não porque eu sou eu, mas como uma extensão de sua personalidade. É um comportamento quase delirante, porque nunca tivemos nada em comum, nada além de coisas materiais.

Minha voz escapou com chateação, estava realmente aborrecido, minhas sobrancelhas franzidas, sentia-me minúsculo. Sempre odiei comparações.

O júri não parece estar me dizendo nada com suas exteriorizações neutras, não posso ler suas mentes; enquanto Hoseok pareceu vitorioso em perturbar-me.

— Apesar da sua imaginação, não acha que existem coincidências, coisas em comum com Min Yoongi? — Completamente retórico, e eu discordo. — Min Yoongi tinha 1,68 de altura, você tem 1,70; os cabelos vermelhos, rostos corados, bochechas cheias, visualmente semelhantes por natureza. Senhor Park, não consegue imaginar que esse "delírio" poderia ser uma verdade na perspectiva dele? Penso também que pode significar apenas que Jeon Jungkook possui um... um tipo específico de homem.

Minhas pálpebras piscam devagar, demoro alguns milissegundos para pensar em falar, depois levo mais alguns para raciocinar, e demoro ainda mais para encarar Jungkook como se pudesse puni-lo pelo pensamento de Hoseok.

Meu homem olhou para mim com firmeza e ternura, com seu rosto cheio de preocupação, e minhas entranhas se contorcem ao menor pensamento de que eu "era" um tipo e não o ideal.

Meu silêncio pareceu uma eternidade, fiquei frágil, todos esperavam algo de mim, até que finalmente suspirei e compreendi a mim mesmo.

— Talvez. — Relutante. — Talvez, mas essa é uma questão do próprio Jeon, não minha. O que posso fazer quanto a isso? Éramos fisicamente semelhantes em pequenos aspectos, quase nenhum, mas colocando assim, como se fôssemos apenas um pedaço de carne no prato de Jeon... É, talvez ele tenha um tipo de homem, mas isso ainda não é culpa minha.

Meu aborrecimento escorre dos meus lábios, dos meus poros, dos meus olhos, mas quando percebi, Jeon tragou um mísero nó e aceitou minha resposta inculta, ele acenou com a cabeça em minha direção, como se me lembrasse que nada que Hoseok deixasse escapar seria verdade.

Eu não tinha dúvidas sobre o amor de Jungkook por mim, contudo, Hoseok faria todos acreditarem nos pensamentos de Yoongi, faria o mundo reiterar que somos mais um caso. Nós não somos um caso.

— Park, de alguma forma, arrepende-se de ter tido um caso com o marido de Min Yoongi? É imaginável que isso causou o que causou.

Talvez, mas não o suficiente para mudar essa história.

— Não — pontuei, isso foi o mais próximo da verdade. — Não posso me arrepender de ter amado a pessoa errada, mas me arrependo de não ter sido honesto, mesmo que isso tenha causado o que causou. Afinal, eu ainda escolheria amar quem eu amo, acima de tudo, e não posso mentir sobre isso... É o que sinto, mas... eu gostaria de ter errado da maneira mais certa possível.

Minha alegação era quase um atestado exemplar de transgressão, contudo, havia tanta verdade em minhas palavras que o mundo sentia isso, todos sentiam.

Hoseok seria capaz de despedaçar-me, mas eu continuaria sendo uma verdade fragmentada.

— Certo. — Exibiu um gesto de desagrado, elevando o lábio de um único lado, e seu tom duvidava do meu amor e devoção. — Senhor Park, sente que feriu a honra de Min Yoongi com suas ações?

— Sim, eu sinto, mas não significava que ele podia me ameaçar, me perseguir ou me machucar fisicamente. Isto não justifica. — Pareço revoltado.

Sentia-me revoltado: os mortos nunca têm culpa, tornam-se imaculados diante do mundo e os vivos carregam seus problemas em memórias traumáticas. Mesmo morto, ele ainda me ameaçava, me perseguia e me machucava.

— Está tudo bem, não há necessidade de alterar-se. — Quase risonho. Jungkook pareceu irritado com seu tom. — Park, sente que essa ferida que causou em Min Yoongi o levou para um lugar deprimente e perigoso?

— Objeção, excelência — Jeon exigiu. — Esta questão continua a induzir o arguido ao erro.

— Meritíssimo, estou chegando a um certo ponto.

— Objeção negada, Doutor Jeon, atenção. — Kim Namjoon aparentou não gostar de apartes. — O réu deve responder, mas siga seu propósito de forma mais objetiva, Doutor Jung.

Observo a língua de Jeon deslizar pela parte interna de sua bochecha, ele se recosta na cadeira e aceita.

— É provável, deve ter sido traumático para Min Yoongi. No entanto, não posso me culpar por ele não ter procurado uma maneira de tratar deste trauma e desta depressão, não posso me culpar por suas ações. Talvez esta instabilidade explique muito bem o que ele... o que ele fez consigo mesmo.

Não gosto de lembrar, não quero lembrar.

— Nas evidências documentais, inclui relatórios médicos que provam que Min Yoongi realmente sofreu estresse pós-traumático, mas suas habilidades cognitivas e raciocínio permaneceram as mesmas. Mais um laudo médico foi elaborado cinco dias antes do ocorrido. — Garantiu. — No momento de sua morte, Min Yoongi não tinha drogas ou remédios no estômago, apenas uma pequena quantidade de álcool. Pelas declarações pessoais, ele estava completamente normal naquele dia e até parecia mais feliz... O júri pode tirar as suas próprias conclusões. Não há mais perguntas.

Uma pessoa que sofre de estresse pós-traumático permanece com as mesmas habilidades cognitivas e raciocínio comum? Isso era ridículo.

Hoseok detém-se em mim como se conseguisse ver através, mas ele não conseguiria nem se tentasse muito, quase ninguém consegue, tentar era falho.

Sua expressão facial mostrava que ele tinha feito mais ou menos o que queria, havia uma pitada de vitória, entretanto... Hoseok mal percebeu que esteve falando exatamente sobre o que queríamos que ele falasse.

Eu encaro o júri, ninguém está convencido de nada.

[...]

27 de outubro de 2015.

Sentia-me completamente consumido pelo transe de querer o que não pode ser meu.

Minha cabeça estava além disso, não consigo controlar meu anseio inofensivo, mas consigo não transformá-lo em uma realidade.

Já se passaram duas semanas desde meu aniversário, quatorze dias desde que transei com Jeon, um homem mais velho e comprometido, com licor de perigo escorrendo dos lábios, mas agora que provei esse veneno, esse sabor circula minha boca com fervor.

Sentia-me sombrio de tanto que eu o quero novamente.

Jungkook não procurou-me, nem mesmo uma mensagem, acho que estou enfeitiçado e estive pensando nisso tudo sozinho.

Percebi o quão errado era querer tudo outra vez, mas seu toque permaneceu na memória do meu corpo, seu cheiro inundou meu cérebro, parecia que ele ainda estava sob minha pele, como se suas impressões digitais estivessem em nossa cena de crime, neste pecado secreto em que estamos flutuando.

Havia algo muito errado com minhas ideias, mas eu estava tão além disso... Jeon era comprometido e não deveria desmembrar mais partes do seu caráter, contudo, eu quero fazer exatamente isso.

Sentia-me doente de desejo.

Minha mente fluía através de minhas ideias e pensamentos sujos, e meu corpo físico permanecia no curso de inglês, no mínimo intervalo que temos.

Meus olhos apreensivos encaravam meu melhor amigo.

Você o quê...? — Taehyung perguntou em um sussurro, segurando meu antebraço em euforia.

— Eu transei com um homem. — Não acredito que revelei isso para alguém. — E gostei...

Kim Taehyung era meu amigo desde o final do ensino médio, mas fortalecemos essa amizade no curso de inglês. Infelizmente não nos víamos tanto quanto gostaríamos, havia um abismo social entre nós, fora seus pais divorciados e superprotetores.

Compartilhar segredos era nossa forma mais singela de trocar intimidades mais profundas.

— Não, Jimin! — ele disse em desaprovação e empolgação. — Você transou com um homem casado, casado com seu... "tio" famoso da tevê! Cacete, agora vou assistir ao programa matinal sabendo que ele é... um corno.

Jeon é comprometido, mas é tão honesto, e eu o quero, como nunca quis ninguém.

— Eu sei que estou errado, e me sinto confuso... — Suspiro em insatisfação, fazendo uma careta para baixo. — O que eu quero fazer e o que deveria fazer são coisas totalmente diferentes... Ele e eu estamos em mundos diferentes, mas no meu aniversário tudo isso pareceu um detalhe. Fomos íntimos, mais que "sexo de traição".

— Não me conte os detalhes do seu crime! — Taehyung protestou, ele tinha medo de mentir, então evitava saber em excesso. — Ele não procurou por você?

— Não, também não faz tanto tempo assim, acho que fomos um erro no calor do momento... Não, com certeza fomos! — Senti-me pequeno quando me coloco nessa posição descartável. — Não estou apaixonado, só queria mais do que tivemos, nada além. Caramba, ele é ridiculamente bonito, tão charmoso e sabe o que fazer comigo... Foi como se ele pudesse me saciar.

— Fodeu, você ficou viciado e está em abstinência! — Taehyung brincou. — Isso é ruim, e é errado... mas, só por curiosidade, você tem o número dele?

Meu melhor amigo também tinha alguma imprudência inconsequência, então eu estava procurando conselhos onde eu encontraria ouro.

Somos jovens e queremos cometer erros, erros inofensivos, somos imprudentes e divertidos, livres até certo ponto. Mas eu sabia que queria algo que não era meu, algo errado, e meu melhor amigo também sabia, mas estávamos além disso.

— Tenho, eu peguei no celular da minha mãe... Sendo sincero, queria mandar uma mensagem. — Estou finalmente confessando minhas más intenções.

— Jimin... — Taehyung olhou para mim, com receio de apoiar o meu anseio. — O que você quer desse cara? Tipo, ele é comprometido, e é comprometido com alguém da sua família... Ele está em outra fase da vida, sinto que você está pisando em um lugar perigoso e diferente. É apenas... sexo? Existem tantos caras por aí, e eles têm menos complicações.

Ninguém mais era como ele, e como eu o quero.

Seu conselho me atingiu porque era verdade, meu corpo se contraiu em negação e meu rosto exibiu uma expressão quase envergonhada de minha própria transgressão.

Talvez nem meu melhor amigo entendesse, ele não entenderia mesmo que eu explicasse cada pequeno momento e sensação.

Foi uma experiência pessoal, senti como se meu corpo estivesse muito além, assim como minha mente, e quando eu me lembro do toque de Jeon, não era mais uma sensação ou uma lembrança, mas sim um sentimento único e um desejo incontrolável.

Tocá-lo era como alcançar o divino, e eu estava insano, e era errado, mas eu estava além disso.

O perigo era eminente, bem como possuía dulçor e tentação, e eu não conhecia bem minhas verdadeiras intenções, mas eu queria seu sexo com sabor de fruta mordida.

É diferente com ele... — Suspirei em deleite. — Há algo intocável na personalidade de Jeon, mas, quando ele estava perto de mim, eu pude tocar, eu o sentia e o via; eu o desconcerto e o quebro, comigo ele abandona a própria racionalidade. Isso tudo é perigoso, e é provavelmente o mais perto que chegarei de algo tão obscuro, mas é tão bom...

Minha intensidade escapava de mim com toda força e a minha entrega pessoal para à vida e para Jeon estava transparente, minha conduta reprovável estava nítida.

No início, Taehyung exibiu uma feição insegura, ele balançava os cabelos encaracolados e parecia hesitante, ele não conseguia entender, e não entendia porque tinha medo de viver. Minha liberdade o assustava.

— Então... Uma mensagem? — sussurrou um delito. — Se ele não responder, então você deve esquecer tudo o que aconteceu.

— Uma mensagem... — Sentia-me eufórico, mas também me sentia fraco. — Só uma mensagem...

— Não, Jimin... — Taehyung corrigiu-me: — Não uma mensagem, mas a mensagem.

Caímos em uma gargalhada pecaminosa, porque compartilhar um crime torna-o mais aceitável.

Era como confessar-se a um padre, esperando como um cão por sua penitência, e depois cometer os mesmos erros... Mais rosários e revelações, mais castigos suaves, mais pecados e mais perdão. O perdão era ilimitado.

Abri a agenda de contatos do meu celular, fiquei com vergonha de mandar uma mensagem e ser descoberto por Min Yoongi ou alguma outra pessoa, havia medo das minhas decisões e das consequências.

Respirei fundo e decidi dizer exatamente o que queria de Jeon, sem insistência, sem bajulação, sem persuasão, sem explicação... Ou ele iria querer ou não iria querer, fim.

"Estive pensando em você, e estive querendo um pouco mais de você. Talvez você também queira um pouco mais de mim, então me diga o quanto quer ou não quer. Você sabe quem sou eu."

Deslizei a língua pelos dentes, meu coração disparado, hesitei; eu encarei Taehyung por cima dos cílios e ele parecia ainda mais preocupado.

Simplesmente enviei.

Enviar uma mensagem extraordinariamente comprometedora deixou minha cabeça aflita, e passei a tarde inteira esperando uma resposta, mas não recebi.

Nenhuma resposta ainda é uma resposta.

Era perigoso querer algo que não possa pertencer a você, era perigoso fazer coisas escondidas e depois mentir sobre isso, mentir para todos ao redor.

Quatro horas se passaram sem qualquer resposta, minha aula terminou às cinco e meia; Taehyung havia ido embora com sua mãe, que sempre o buscava na porta em curso.

Quanto à mim, deveria seguir para o ponto de ônibus; em dias de curso eu costumava chegar mais tarde em casa.

Porém, no momento em que saí do prédio, pude ver um carro preto estacionado na frente e eu o conhecia. Ele buzinou com moderação, depois o vidro abaixou lentamente, e era Jeon, apesar de tudo e sem qualquer medo.

Agarrei meu telefone com tanta força que tremi, sentindo meu corpo se inundando de pavor e alívio, de transe e perigo, mas eu queria isso e queria ele... Bem, ele estava lá.

Jeon me encarou através do vidro aberto, seu semblante sério e seu silêncio me faziam duvidar de sua verdadeira intenção.

O homem, que poderia ser meu, abriu a porta por dentro e empurrou-a; eu me movi vacilante em sua direção e entrei. Minha mente estava perturbada, isso se reproduzia por todo o meu corpo cheio de cinismo, cinismo esse que sempre surgia ao vê-lo.

— Por que está... aqui?

— Você está surpreso? — Seu tom rouco me fez estremecer, e eu contive o brilho em meu olhar deslumbrado.

Não posso ser tão transparente, não posso deixar Jeon me ver assustado, não posso deixar meu nervosismo afastá-lo, não posso ser imaturo ou ansioso, não agora.

— Eu não pensei que você viria direto na porta do meu curso, pensei que responderia a mensagem.

Havia algo particular na beleza de Jungkook, era suave e crua, seu rosto transmitia a raiva dos anjos. Seu silêncio constante me levava à tentar desvendar seus pensamentos, seu cheiro era aliciante, e naquele momento eu estava preso em uma viela criada por mim.

Notei seu paletó e gravata atirados no banco de trás, enquanto seu corpo estava vestido com camisa social branca, calça preta e cinto... Ele havia saído do trabalho mais cedo para me encontrar.

Esse homem não largou o trabalho para o aniversário da minha mãe ou pelo bolo sagrado de Min Yoongi, ele não largaria o trabalho por ninguém, a menos que esse alguém fosse eu.

Isso quase me excitou, me fez sentir especial, e ele sequer precisou falar, apenas agiu.

— Mensagens de texto são perigosas para quem quer guardar segredos. — Sua voz ríspida, a mão no volante, deslizando como se o carro fosse leve. — Prefiro evitar.

Senti meu rosto esquentar, não havia nada nele que pudesse ser melhor do que era, ele era o melhor.

— Você esteve pensando em mim? — Mordi o lábio, escondendo um ligeiro sorriso, enquanto olhava para ele.

Jungkook levou alguns longos segundos para avaliar se deveria ou não responder honestamente à minha pergunta. Ao sairmos da rua principal, seus olhos estavam focados na direção, e seu maldito magnetismo me atraía como se minha vida dependesse de sua resposta.

Sou fraco.

— Mais do que eu gostaria. — Uma confissão. Jeon inclinou o rosto e me examinou; não adiantava tentar ser o que eu não era, ele conseguia ver através da minha alma, conseguia ver tudo o que quisesse ver. — Não é fácil esquecer você.

Eu não tinha percebido o tamanho da minha rendição, ou o quanto não conseguia disfarçar isso, mas algo estava pulsando dentro de mim agora, como se eu pudesse explodir em luxúria ao ouvi-lo confessar.

Era como se em mim houvesse fome e nele anseio de comer.

— Eu quero transar com você. — Finalmente admiti, quase me libertando da tensão. — Hoje. Agora.

Sinto que estou flutuando no banco do carro, sentindo o vento frio do ar-condicionado, o cheiro de limpeza e o seu perfume... Estou intenso.

Jungkook engoliu em seco e reprovou-me, como se minha posição estivesse ultrapassando um certo limite.

— Jimin, você tem noção do que estamos fazendo? — questionou-me com firmeza, embora dividisse sua atenção entre mim e a direção.

— Tenho. — Não penso muito, apenas afirmo. — Claro que tenho.

Observo Jungkook mover as sobrancelhas, pouco convencido, enquanto adentrava num estacionamento para que pudesse me dar toda sua atenção.

Aquele momento era diferente da última vez, agora estávamos com a cabeça no lugar, agora iríamos escolher errar e não somente pelas circunstâncias.

Finalmente paramos, não havia ninguém por perto, era início do anoitecer, o céu estava dividido em claro e escuro, assim como eu e ele, ainda não existia nós.

— Jimin, o que fizemos foi um erro por tantos motivos diferentes que sequer consigo contá-los: Traí a pessoa que amo, traí aquilo em que acredito, traí a confiança e o amor de alguém, traí a minha ética. — Sério, pérfido, bravio, encarando-me como se pudesse me devorar com sua meia-moralidade. — O que estamos fazendo agora? Criando uma nova mentira, uma grande mentira, mas nada permanece em segredo para sempre, um dia a mentira irá explodir, e quando isso acontecer... Teremos problemas irreversíveis.

Sua sobriedade sobre seus próprios pecados me fez sentir minúsculo, e sua honestidade consigo mesmo era sombria.

— Eu sei, Jeon — sussurrei, olhando em seus olhos, como se meu hálito escapasse em segredo. — Sei que estamos errados, que estamos mentindo, que estamos sendo algo que nunca imaginamos antes, mas... eu simplesmente não resisti em mandar a mensagem e você... você não resistiu em vir.

Por todas as minhas razões fisiológicas da satiríase, senti como se essa ansiedade da conversa pudesse me fazer sentir bem, como se meu corpo não conseguisse distinguir tensão criada por Jeon e tesão criado por Jeon.

O rosto de Jungkook também demonstrava inquietação, ele estalou os dedos, engoliu um nó, deslizou a mão pelos cabelos bem penteados, lutando entre sua ética, sua construção de vida e eu.

— Repito, não existe mentira que permaneça em segredo para sempre. — Garantiu-me, era uma advertência.

Meu homem perfeito vinha com manual de instruções, tabela de restrições e condições, aviso de danos bem como caixas de cigarros, mas existia algo tentador na escuridão, algo que me fez acreditar que valeria a pena, muito mais que uma aventura.

Desafivelei o cinto de segurança e me aproximei ainda mais, mas Jungkook se afastou involuntariamente, minha mão tocou seu ombro, senti o tecido macio e seu corpo por baixo, deleitoso e venerável.

Tocá-lo era proibido, difícil e perigoso.

Não vale a pena, Jeon? — pergunto, meu tom escapando do timbre baixo e estilístico, piscando meus olhos e o trazendo tão fundo em mim que ele pareceu flutuar.

Meu homem de um milhão de dólares me venerou desde nosso primeiro momento, seu pecado o impedia de mentir para si mesmo ou para mim; ele não podia mais resistir, não basta olhar, Jeon precisava tocar-me, agora ele estava além disso.

— Vale. — Direto. — Vale a pena, porque você é o que eu quero, isso é o que eu quero fazer, mas as consequências disso não podem ser esquecidas... Jimin, você não faz ideia de onde está se envolvendo.

Meus dentes roçaram meus lábios, um sorriso derretido apareceu; minha mão ainda tocando seu ombro, eu estava perto o suficiente para sentir seu hálito mentolado, mas longe o suficiente devido à imobilidade do veículo.

Busquei por sua mão bruta, e Jungkook permitiu o movimento; meus olhos estavam fixos nos dele, e ele estava me devorando como uma necessidade animal. Encostei sua mão no meu rosto, esfreguei minha bochecha macia na palma dele, e depois deixei que me acariciasse.

Seu olhar vidrado em mim, totalmente hipnotizado.

Meu rosto aveludado, meus sinais espalhados na pele jovem, meu cheiro, meu corpo, meu toque quente, minha voz e meus sons, minha atitude, meu desejo insaciável, minha saliva doce, meu sabor... Eram todas coisas que estavam perante Jeon, e ele parecia desesperadamente querer possuir.

— Ter você é o que eu quero... — sussurrei para ele, quase como um segredo tão profundo que mesmo entre nós não poderia ser dito em voz alta. — Você me quer também?

Jungkook deslizou a língua pela parte interna na bochecha, quase irritado pela maneira que meu tom o levava fácil, irritado o suficiente para me foder e me ensinar a não provocá-lo.

Não era tudo sobre sexo, mas meu começo com meu homem era sobre sexo, começamos com isso, em nome disso, derretendo para isso e nos fundindo nisso. Um caso, não um romance.

Sua mão ainda estava em meu rosto, seus dedos deslizando e acariciando, eu fechei os olhos de prazer e apoiei minha mão em sua coxa, aninhando-me em seu carinho. A respiração de Jungkook acelerou sob meu toque, seu polegar traçou meus lábios e eu suspirei.

Por favor, me beije.

Não escondi minhas intenções e emoções, gostava que ele soubesse o quão fraco eu me sentia apenas com seu toque e o quanto eu o queria além da razão. Insano o suficiente para mentir, enganar e trair, confessando toda a minha capacidade de perverter, tudo somente pelo desejo de ouvir aquela boca sussurrando o meu nome.

Jeon não respondeu minha pergunta, mas seu silêncio dizia muito mais, bastava aprender a entendê-lo.

— Me leve para um lugar mais reservado, me deixe provar de você... Sem precisar de medo, silêncio e tensão... — Minha voz estava calma e excitada.

— Eu mal permiti sua entrada na minha vida, e você já está fodendo cada parte da minha cabeça. — Outra admissão. Jeon era essa espécie de homem introvertido; demorava para confessar, mas quando deixava escapar não conseguia mais conter, e ele dirá todo tipo de coisa que você não vai querer esquecer. — Você se tornará minha ruína?

— Serei tudo o que você precisar...

Sentia que estávamos mais próximos com o calor do nosso silêncio, de repente senti seus lábios nos meus, um suave selar eletrizante, excitou-me e fez-me arrepiar, eu estava muito, muito, muito além disso.

Espero mais, mas não recebo isso, pelo contrário, Jeon acariciou meu queixo e me afastou, e meus lábios, que mal conseguiam sentir o gosto dele, formigaram de saudade.

Seu rosto parecia corrompido pela luxúria do meu, seu cabelo estava arrumado, sua mandíbula definida, tudo numa expressão harmoniosa de lascívia, sua ereção quase formada me fez suspirar.

Eu não imaginava que conseguiria mexer assim com a cabeça de Jeon, um homem tão impassível, como também eu nunca me senti tão atraído por alguém tão indisponível.

— Coloque o cinto. — Ordenou-me.

Sim, senhor.

Balancei a cabeça rapidamente, recuando e olhando para ele como se esperasse por novas ordens.

— Escolha um lugar distante... — Avisei, eu também devia um segredo ao mundo, não era somente Jeon guardando um segredo, mentindo, traindo e enganando, éramos nós.

Jungkook ficou surpreso com minha ordem desinibida e honesta, tanto que moveu os lábios em plena concordância.

Movi minha boca para responder ao seu silêncio, mas de repente meu celular tocou, bradando "You can be the boss, daddy" de Lana Del Rey.

Surpreso, Jeon acabou mudando sua expressão, expondo algo raro para um homem tão evitativo... Ele sorriu, pareceu achar aquilo cômico, não engraçado, mas sim cômico.

Deteve-se em mim como se a música fosse uma proposta, e depois ergueu uma sobrancelha.

Uma parte de mim foi dominada por uma timidez que não combinava com a minha personalidade, porém esse contato espontâneo e humano fez meu coração acelerar. Jungkook conhecia a música, sorriu para mim e pareceu gostar.

— Atenda.

— Não... — eu disse rapidamente. — É só minha mãe. — Balancei os ombros, demonstrando certa autonomia em não dar satisfação a ninguém. — Você conhece a música?

— Atenda. — Insistiu na ordem, virando-se para o volante. — Avise que você voltará mais tarde. E sim, eu conheço essa música, vi no seu Instagram.

Meu Instagram? Jeon estava investigando minhas redes sociais? Não quero nem imaginar o que mais ele encontrou.

O celular parou de tocar.

— Você sabe mexer no Instagram?

Cacete... — Ele riu nasalmente, e eu me desmanchei. — Quantos anos você acha que eu tenho?

— O suficiente para me fazer feliz. — Mordi meu lábio, escondendo um sorriso travesso.

— Oh, não diga coisas assim. — Uma repreensão envolta em bom humor e um sorriso que o fazia parecer quase canalha.

O telefone tocou novamente, dessa vez atendi e disse que chegaria atrasado.

Seguimos em frente; de uma forma maluca, senti que o telefonema inesperado de Margaret trouxe algum alívio e intimidade, não éramos mais estranhos.

Logo percebi o início do meu declínio, porque mal havia conseguido tê-lo e prontamente sabia que iria querer muito mais. Era algo incontrolável dentro de mim, algo completamente faminto, e acho que posso chamar isso de... paixão.

Fomos para um motel, meu homem me olhou nos olhos e disse que meu corpo era só dele aquela noite, eu disse... Por favor.

Uma experiência absolutamente diferente, tínhamos mais liberdade e menos tensão, mais sons e menos silêncio, mais apreciação e menos brutalidade.

Tentei ser forte, mas não consegui, e de repente me contentei em mentir, trair e enganar, eu faria isso quantas vezes mais, desde que pudesse tê-lo. Não era doentio, era a verdade que todos preferem esconder quando são pegos em seus pecados, mas eu não, eu assumo.

Desde que recebeu minha mensagem de texto, desde que veio até mim, desde que abriu a porta do carro, desde que tocou meu rosto e beijou meus lábios... Jeon estava traindo desde o início, traindo tudo, todos e a si mesmo, ele sabia disso; eu não conseguiria ser o único vilão.

Uma traição além do sexo, Jungkook traiu tudo o que acreditava ser real, porque acreditou que tudo o que ele queria estava bem diante dos seus olhos, o mais puro e intenso... Eu, seu pecado mais autêntico.

Foi assim que tudo começou, totalmente consumidos por uma atração inominável, incontrolável, insaciável.

////////////////////////////////////////////////////

Oiêêê — de novo — sigo desacostumada com notas iniciais e finais! hehe

O que acharam? Deixem suas opiniões sinceras, por favor. 💋

Imagino esse capítulo com algumas músicas:

💋 You Can Be the Boss - Lana Del Rey (A PRINCIPAL!)

💋 Lie - Jimin, BTS

💋 Cherry - Lana Del Rey

E uma referência a "A História de Lily Braun".

(As músicas são super importantes na história, as letras e a melodia... ATENTOS!)

O capítulo teve duas partes importantes: Finalmente descobrimos o que aconteceu com o Yoon, ou pelo menos como ele morreu... SOMBRIO! Gostaram?

No passado, podemos ver que o casal principal se envolveu porque era inevitável... O que acharam do pecado deles?

Perdão por qualquer erro, e obrigada por lerem! 💋

I LOV U e:

JA ME VU! 💋

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