Passamos o resto da tarde nos arrumando, já que éramos muitas e meninas quando se arrumam juntas demoram bem mais.
Conseguimos ficar todas antes do esperado e seguimos para a praça. As meninas parecem animadas mas com um pé atrás por ser na praça.
— Chegamos lindas. — Digo e vejo que a maioria já está aqui.
— Yas! Você veio. — Nanda diz me abraçando e sorri para as meninas. — Prazer, eu sou Fernanda.
— Essas são Ayla, Raquel, Stella, Nat e Helena. — Elas sorriem e cumprimentam Nanda.
— Venham conhecer o pessoal. — Ela nos guia até a roda onde seus amigos estão e apresenta as meninas.
— Amigas da Yas são nossas amigas também, sentem ai. — Cecília diz e as meninas se ajeitam na roda.
— Cadê aquela sua amiga bonitinha? — Stella sussurra no meu ouvido e demoro um pouco para entender de quem ela fala.
— A Sofia? — Ela concorda com a cabeça. — Não sei se ela vem, mas sinto em te dizer que ela namora.
— Não acredito. Ela é muito linda para namorar com outra. — Ela faz uma cara triste e eu dou risada dela. — Então vocês nunca ficaram?
— Não, claro que não.
— Achei que já tinha ficado com alguém.
— Já fiquei, mas não foi com ela não. Nem vai dar pra você conhecer a menina porque ela se mudou.
— Você sempre dá sorte, né? Nenhuma dura. — Rimos juntas. Somos amigas antes do meu namoro com a Ayla então ela conheceu várias ficantes minhas, que nunca duraram. — A única que durou tá bem ali. — Ela diz olhando para Ayla, que está conversando com Cecília.
— Você nem começa.
— Sabe que só viemos para vocês voltarem, né? — Ela diz tão naturalmente que me pergunto como não pensei nisso.
— Não vieram para me ver? — Digo um pouco chateada e acho que ela percebe.
— Claro que viemos mas essa coisa de não nos vermos é mentira, sempre nos encontramos mas sempre parece que falta alguém. — Ela me dá um empurrão com o braço. — Queríamos nosso casal de volta também.
— Não tem muito que vocês possam fazer.
—Ela ficou muito mal Yas. Desde que vocês terminaram. — Ela parece pensar no que vai dizer. — Eu sei que ela não demonstra e nem te falou nada mas ela sofreu muito. Ela ficou sozinha em casa, não queria ver ninguém, nem a Nat. Foi um período difícil para todo mundo.
— Eu não fazia ideia.
— Nem tinha como você saber. Sempre que falamos que íamos te contar ela ficava brava e chateada e não deixava. — Ela respirou fundo. — A gente respeitou o tempo dela. Agora ela parece melhor. — Ela diz e eu olho para Ayla.
— Achei que ela tinha ficado de boa com o término, ela sempre aproveitou ser solteira mais do que eu. — Antes de termos algo sério ela ficava com várias pessoas e nunca me escondeu isso, mas eu nunca liguei.
— Era diferente, ela não tinha te conhecido e não sabia o que era estar com você. — Não respondo porque não sei o que dizer, não fazia ideia dessas coisas.
— E você Stella? Faz o quê? — Escuto Cecília perguntando e vejo que todas estão conversando agora.
— Eu faço curso de direito. — Ela responde e elas engatam em uma conversa sobre o curso.
— Eu vou ao banheiro. Já volto. — Digo e saio sem saber se alguém ouviu o que eu disse. Aqui na praça tem uma vendinha que parece aquelas de bairro e nos fundos tem um banheiro. Cumprimento a moça que trabalha lá e sigo para os fundos. Entro na cabine para respirar e quando saio vejo Ayla parada na pia, vou na torneira do lado e lavo a mão, fingindo não ligar para sua presença.
— Você tá bem? — Ela pergunta encostada na parede me olhando.
— Sim, por quê?
— Você saiu tão rápido de lá, fiquei preocupada.
— Não foi nada, só tava apertada. — Minto na cara dura.
— Não tava não. — Olho para ela sem entender. — Você não deu descarga e eu te conheço para saber que se não fez isso não foi ao banheiro.
— Você é fiscal de xixi agora? — Ela ri.
— Só quero que saiba que eu me preocupo, se quiser conversar pode me procurar.
— Você também. Pode me falar se precisar. — Digo e ficamos em silêncio nos olhando. — Não vai falar nada?
— Não tenho nada o que dizer.
— Não foi isso que fiquei sabendo.
— Stella já foi abrir a boca, né? Sabia que ela não ia aguentar. — Ela desvia o olhar do meu sem conseguir me encarar.
— Por que não me procurou? — Essa é a parte que não consigo entender. Se ela tivesse vindo falar comigo, com certeza teríamos voltado.
— Não queria que ficasse comigo por pena.
— Você é maluca? — Ela me olha confusa. — Eu te amo. Te amo desde que a gente se viu pela primeira vez. Acho que isso nunca vai passar e por mais que tenhamos... — Sinto minhas palavras se perderem assim que ela encosta nossas bocas. É um beijo calmo, que representa saudade. Nossa, como senti falta disso.
— Desculpa, não ter te procurado. Eu fui a errada, eu tinha que ter ido atrás de você. — Ela diz assim que nos separamos, mas continua bem perto de mim.
— Não importa. Na verdade importa muito, mas só de você saber que errou já me dá um alívio. — Ela ri e fica me olhando.
— Você sempre gostou de estar certa.
— Quem não gosta né?
— Sempre que penso nisso lembro daquela frase que amar é melhor do que ter razão.
— Eu sei. É uma boa frase. — Ficamos em silêncio e depois de um tempo me olhando ela sorri. — O que foi?
— Senti falta de te olhar. Você é muito linda. — Sorrio e é minha vez de beijá-la.
Nos beijamos por um tempo até que escuto a porta abrir. Olhamos rapidamente em direção a ela e vejo que é a Bia.
— Meu Deus! Me desculpa. — Ela parece tão envergonhada e sai tão rápido quanto entrou, nem consigo dizer nada.
— Acho melhor irmos. — Ayla diz.
— Sério? — Digo em um tom irônico e ela me beija novamente antes de sairmos. Vejo Bia encostada na parede do corredor e decido falar com ela. — Vai indo que eu já vou. — Ayla concorda e segue. — Oi. — Digo me aproximando devagar e ela me olha tímida.
— Foi mal, não sabia que vocês tavam lá.
— Não tem problema. Você nem tinha como saber. — Ela assente e o silêncio permanece. — Vim conversar pra saber se não ia ficar um clima estranho entre a gente, mas pelo visto já tá. — Ela ri.
— Não queria que ficasse estranho também, só que eu já tava tendo um dia ruim, fui para o banheiro tentar respirar e vejo vocês se pegando.
— Você quer conversar sobre seu dia ruim? — Pergunto pois não custa nada tentar ajudá-la.
— Sem ofensas, mas você seria uma das últimas pessoas que eu poderia falar. Você é legal e tal, mas é muito próxima do meu problema. — Penso um pouco e me toco que o problema talvez seja Sofia.
— Se for sobre Sofia, não ligo. Minha vó que é puxa saco dela. — Ela ri.
— Ela não gosta de mim. — Ela diz mas parece não se importar muito. — Geralmente quem gosta da Sofia, não gosta de mim. Não sei o que ela diz para as pessoas.
— Para mim ela nunca disse nada. — Ela disse poucas coisas sobre seu relacionamento com Bia.
— Talvez isso seja coisa da minha cabeça só, e as pessoas realmente não gostem de mim sem influência dela.
— Não fala isso. Vai ver você é muito pra essa cidade, muito pra essas pessoas, grande demais para tudo isso. — Não sei da onde isso surgiu, mas acho que foi a coisa certa a se dizer pois ela me abraça e parece emocionada.
— Obrigada Yas. Eu tenho que ir agora. Muito obrigada. — Ela grita já saindo do lugar e me deixando sem entender nada. Mas ela parece feliz, acho que é isso que importa.
Voltei para o lado de fora e ficamos conversando até tarde, quando decidimos ir para casa.