boxer' ⁘ jikook

By beemoon_

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{Concluída} Jeon Jungkook é um boxeador que está experimentando o auge de sua carreira, acumulando grandes vi... More

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By beemoon_









⚠ – Conteúdo sensível: colapso emocional, depressão.





Haviam ocasiões em que o tempo agia de modo estranho e era possível sentir como algumas vezes ao se pensar sobre determinado período, ele passava a sensação de ser muito e ao mesmo tempo, pouco. Era o que acontecia quando Jimin olhava para trás, ele sentia que aqueles dois meses tinham passado em um piscar de olhos e na mesma medida, a quantidade de coisas que aconteceram o fazia sentir que não tinham sido apenas dois meses.

As primeiras duas semanas foram as mais complicadas. Eles de fato seguiram a sugestão de Jungkook e alugaram a pista que Jimin tinha se acostumado a frequentar quando queria um tempo para si mesmo. Shin Hari, estava determinada a ser uma discípula de Park Jimin e empenhava-se duas vezes mais, fosse nos treinamentos na pista, na academia de balé, na yoga ou em manter-se saudável. Nunca reclamava da rotina de treinos, das muitas horas que tinha que passar repetindo séries de exercícios e figuras. Jimin puxava o treino, porque ele sabia como era o Grand Prix e sabia com que tipo de atletas ela estaria disputando e queria ajudá-la o máximo possível, passar o máximo de conhecimento sem sobrecarregá-la.

Era mais fácil ter apenas uma atleta a quem se dedicar e ao mesmo tempo, fazia com que tivesse de ser mais cuidadoso com as cobranças que fazia. Queria ensiná-la e transmitir apenas as partes boas do que sabia, nunca desejaria que ela fosse uma cópia do que tinha sido e muito menos que acabasse cometendo os erros que tinha sido induzido a cometer.

Estava aprendendo muito com a terapia. Enfim havia encontrado um profissional que entendia e sabia como lidar com o seu problema e aos poucos, começava a absorver o papel que cada um ao seu redor teve nas decisões que se viu tomando.

Dentro daquelas duas primeiras semanas, havia acontecido de Jimin ter recebido a ligação do diretor do outro ginásio em Seoul e ele começava a pensar que dentre os muitos dons de Jungkook, estava o de conseguir atrair aquele tipo de coisa com sua personalidade positiva e otimismo. Claro que não pensava a sério, mas era um ponto interessante a se refletir, visto que nunca tinham entrado em contato anteriormente.

Em seguida veio a adaptação, eles tinham uma infraestrutura muito boa, mesmo que um pouco abaixo da que possuía seu antigo ginásio. De qualquer forma, aqueles eram detalhes e a pista tinha o tamanho que precisavam para Hari poder treinar o programa e dedicar todas as horas restantes até o dia de partirem em viagem, para refinar sua apresentação.

Estavam trabalhando muito e não sobrava muito tempo para ficar com Jungkook, que também estava um tanto ocupado, levando adiante o plano de atrair o outro lutador para conseguir disputar o cinturão que tanto queria, em meio ao treinamento que nunca abandonava.

Ao longo daqueles quase dois meses, tinham se encontrado algumas vezes, duas delas, na ocasião de seus aniversários, entretanto, foram poucas as que conseguiram de fato ficar juntos, ter um tempo para se curtir e aproveitar a companhia um do outro. Jimin sentia falta dele, tanto quanto jamais imaginou que poderia vir a sentir de alguém algum dia. Tentava compensar ligando ou trocando mensagens, mas o tempo livre que tinha disponível, passava revisando coisas, ou então apenas adormecia em meio a ligações, ou antes de conseguirem trocar algum carinho mais profundo ao ir para a cama. Tentava não se pressionar com aquilo, Jungkook continuava a tratá-lo da mesma maneira e houveram vezes que tinha sido ele o primeiro a dormir.

Todavia, Jimin ainda tinha muito para trabalhar em sua mente deturpada. Muitas vezes se pegava pensando se fazia sentido estar em um relacionamento, ou quanto tempo levaria até que Jungkook se cansasse da situação e considerasse melhor romper o que tinham para viver sua vida. Sentia uma dor que beirava a física, sempre que tomava o rompimento como uma solução. Era uma luta travada entre duas partes de sua mente. Uma que as pessoas chamavam de coração e a outra de cabeça, embora de modo geral, a batalha fosse travada no mesmo lugar: em seu cérebro.

De qualquer forma, entendia porque diziam que determinadas decisões eram tomadas pelo coração, o órgão doía fisicamente sempre que uma situação que vinha acompanhada da resolução de nunca mais ver Jungkook lhe ocorria. Não era médico e nem cientista, mas acreditava que algum tipo de reação química fazia o coração doer, quando pensava em não ter mais o amor de Jungkook. Devia ser o mesmo tipo de reação que acontecia, para deixá-lo tão eufórico e feliz quando falava com ele e podia vê-lo por algum tempo, pois seu coração reagia fortemente.

A única coisa que desejava, era poder curar-se da doença que o fazia querer desistir tantas vezes. Era cansativo viver lutando e desejava não ter mais aqueles pensamentos, porque amava Jungkook e uma parte sua também sabia que ele o amava de volta, que ele nunca pensaria em deixá-lo ou ficaria cansado por causa da rotina de trabalho que tinham. Era o contrário, Jungkook o entendia e Jimin precisava muito ficar bem, para conseguir superar o que havia passado e para aprender que para um relacionamento dar certo, as pessoas não precisavam estar juntas na maior parte do tempo, que desde que se respeitassem e quisessem viver momentos juntos, não era a falta de tempo que faria tudo ruir. As coisas podiam dar certo e os relacionamentos se encaixavam nas rotinas. A temporada não ia durar para sempre e quando terminasse, haveria tempo para fazer coisas, quando todos tivessem de descansar e o treinamento não precisasse ser tão pesado.

Felizmente o momento de sua mente ter um descanso estava chegando. Dois meses de preparação que pareceram longos devido a todos os acontecimentos e ao mesmo tempo curtos, pois o tempo nunca parecia ser suficiente quando um atleta estava se preparando para uma competição, haviam enfim passado.

Tinham tomado a decisão de viajar com alguns dias de antecedência. A equipe de Shin Hari era composta por Jimin, seu treinador e co-coreógrafo; Nari, a coreógrafa; Han, o assistente técnico. Então tinham o preparador físico, a fisioterapeuta, a psicóloga, Nadine que cuidava das coisas de Jimin. Também a mãe da jovem a acompanhava. Para além de sua equipe, tinha Jungkook e Jinyoung.

Os custos da viagem estavam sendo divididos entre o patrocínio mantido por Jungkook, pelo ginásio pelo qual ela treinava e o departamento esportivo de Seoul, afinal, independente de onde treinasse e de quem a treinasse, ainda era uma atleta da Coreia do Sul e representava o país na competição.

Quando se reuniram no aeroporto, havia um clima de expectativa animada e Jungkook estava empolgado para acompanhar Jimin de perto, o seguindo pelo saguão do aeroporto internacional de Incheon, sem se preocupar com a proximidade. Era ótimo não ser mais um segredo. Tinham de lidar com uma carga grande de problemas diariamente, como correntes de ódio e ataques na internet, mas momentos como aquele fazia tudo valer a pena.



...



A viagem foi tranquila e assim que chegaram a Tokyo foram direto para o hotel. Não era uma viagem longa, durava menos de duas horas e meia, mas ainda assim, viajar sempre deixava aquela sensação de cansaço no corpo e todos seguiram para seus quartos para descansar.

Na manhã seguinte, ao abrir os olhos, Jimin sentiu que estava despertando junto aos primeiros raios de sol. Não havia exatamente uma explicação para aquilo, as cortinas estavam fechadas e o quarto permanecia em uma penumbra, todavia, a leve fadiga em seus músculos, o fizera crer que tinha acordado muito antes do horário planejado.

Ele respirou fundo e seu olhar recaiu sobre um Jungkook adormecido ao seu lado, sorriu sem sequer se dar conta de que o fazia e seus pulmões encheram-se de ar por completo uma segunda vez, ao que se espreguiçou, enfim esticando o braço para alcançar o celular e verificar as horas.

Estava certo, tinha acordado cedo demais, de modo que moveu-se suavemente sobre o colchão depois de deixar o aparelho de volta na mesinha de cabeceira e aconchegou-se ao corpo do boxeador.

Sendo um atleta, Jungkook tinha músculos bem trabalhados e eram duros, como se acomodar a um punhado de pedras, mas seu corpo era quente e ele tinha uma aura tão aconchegante, que a dureza de seus músculos não incomodavam, pensava que até gostava mais do que se de algum modo, ele fosse fofo como um travesseiro.

O pensamento trouxe um sorriso ao seu rosto e o apertou de leve. Talvez fosse por sempre ter vivido em ambientes com temperaturas baixas, mas Jimin tinha a pele naturalmente mais fria que a de Jungkook e era gostoso ficar daquela forma com ele sob as cobertas. Como se não houvesse nada no mundo que pudesse de fato perturbá-lo.

De repente, sentiu dedos sobre os seus e sorriu mais, sabendo que o tinha despertado, mas tampouco disse qualquer coisa, continuou aconchegado nele e deixou a sensação agradável de tê-lo fazendo o mesmo, acomodar-se junto a que já tinha dentro de si.

- Ainda é madrugada, hyung? Me diz que é. - Sua voz estava mole e distante.

- Hm. Para você pode ser.

- Não! Eu dormi sem perceber, quero que seja pra nós dois.

- Hoje vai ser um dia tranquilo, vamos estar descansados a noite.

- Então eu posso ter você pra mim?

- Você pode.

Jungkook emitiu um resmungo longo e manhoso, virando o corpo e pressionando os lábios sobre os do treinador, antes de levá-los ao pescoço dele e encaixar-se ali, dando leves selares sobre a pele, acabando por sorrir.

- O que foi?

- Eu me lembrei que uma vez pensei sobre como o seu pescoço era lindo e que parecia um lugar perfeito pra eu me encaixar e... - Beijou para completar a resposta.

- Você pensou isso? - Disse, os dedos nos cabelos dele e suas pernas enroscadas.

- Pensei sim e eu estava tão certo. - Pontuava as palavras com selares sobre a pele dele, o que fazia Jimin sorrir, os dedos percorrendo as costas dele suavemente.

- Que bom que você gosta.

- Gosto de tudo sobre você, hyung. Eu já disse. Até o lado misterioso onde mantém as coisas que ainda não conheço.

Jimin sorriu e Jungkook parou com os lábios na cavidade que havia no início do esterno, sentindo o queixo do mais velho ser apoiado no topo de sua cabeça.

- Não que exista muito para saber.

- Eu sei tão pouco, hyung.

- É? Eu acho que você coloca muita expectativa em mim. Sinceramente, o que há mais para você saber?

- Você nunca me contou sobre a época em que patinava, por exemplo. Também não me falou quase nada sobre a sua infância. Tirando os momentos em que estava tenso, não fala muito de como se sente. Na verdade, eu sinto que sei tão pouco, que às vezes me pergunto se estou fazendo isso direito. Se de repente eu devia te fazer perguntas ou qualquer coisa assim.

Não houve nenhuma inflexão na voz de Jungkook, ele continuou falando no mesmo tom que estava usando, suave, carinhoso, um pouco mole pelo sono. Inclusive tinha continuado a deixar pequenos beijos em sua pele, mas Jimin sentiu seu coração se apertar com aquela coisa dolorosa e o peito pesar, sentiu o nó em sua garganta e que aquela posição já não era tão confortável como momentos atrás. Ele respirou fundo, as pontas dos dedos se pressionando na pele dele, tal qual ele fazia com os lábios sobre a sua. E antes que pudesse conseguir respirar, processar suas emoções e pensar em uma resposta, ele estava falando de novo.

- Mas eu acho que está tudo bem, porque eu tenho o meu tempo e você tem o seu, é assim para cada pessoa e não ajuda ficar pressionado e além do mais, foi por mim que você procurou daquela vez, quando você teve uma conversa importante com o seu médico. - Jungkook sorriu, a respiração escapando rápido por suas narinas como se fosse rir, ao que o apertava. - Foi a primeira vez que você patinou em anos e você quis fazer isso comigo. Tiveram outras. No começo quando você chorou no meu peito porque estava sobrecarregado com o trabalho e quando me contou sobre a sua lesão. Quando realmente me levou na casa dos seus pais e no museu de Park Jimin. Esse último foi particularmente bom, mesmo que estivesse quase tudo dentro de caixas.

Jungkook o apertou mais uma vez e esfregou o nariz sobre a pele dele.

- Esses são momentos preciosos pra mim, hyung. Então está tudo bem se eu não posso saber tudo ainda, eu não me importo de caminhar no seu tempo. Eu sei que você confia em mim, quando penso sobre essas coisas e que se você não me mostrou mais, é porque ainda não está pronto pra isso. E como eu já te disse, eu não me importo de esperar. Desde que eu possa fazer isso do seu lado, está tudo bem.

- Obrigado.

- Pelo que, amor?

- Não sei, apenas, obrigado. - Também o apertou e respirou fundo, inalando o cheiro dele.

- Bom, de nada. Você deve se sentir muito sortudo, por ter um namorado tão bonito e incrível, não é? - Disse o fazendo rir, o que fez com que sorrisse.

- Eu com certeza me sinto. Eu não sei onde fui arrumar tanta sorte.

- É como dizem, algumas pessoas nascem com a bunda virada pra lua e você tem uma bunda e tanto, hyung. Deve ser isso.

- Ah meu Deus, Jungkookie!

Não pôde mais segurá-lo, pois seu riso se prolongou e acabou tombando para trás na cama. Quando se recuperou, Jungkook o observava com o braço apoiado sobre o colchão, a bochecha na mão fechada em punho e um sorriso que se estendia aos seus olhos.

- Você é muito lindo mesmo, hyung. - Decretou, esticando a mão livre para tocar os cabelos dele.

- Você também é, neném. Tanto que eu fico tonto só de olhar para você.

Jungkook piscou lentamente, o sorriso mais suave. Pensou que aquele era mais um momento que gostaria de poder congelar e manter intacto para sempre, depois se lembrou de que se tivesse feito isso da outra vez que ponderou o assunto, não o estaria vivendo e descartou a ideia.

Por fim, pegou-se imaginando se estar ali e ter uma de suas atletas competindo naquele lugar, despertaria alguma lembrança ruim em Jimin, se ainda seria capaz de arrancar risos e sorrisos dele a cada vez que saíssem e voltassem para o quarto e pensou que aquilo era algo com o qual não devia se preocupar, primeiro porque se ele estava ali, era porque estava pronto para estar, ou ao menos, devia acreditar que estava e depois, porque não importava o que acontecesse, ficaria ao lado dele independente da situação, mesmo que não fosse para fazê-lo sorrir e ao invés disso, secar suas lágrimas ou ajudar em alguma crise. Ficaria ao lado dele.







No decorrer dos dias que antecederam o torneio, eles usaram o tempo para algum ajuste final, visitaram o local da competição, Hari fez provas de figurino e tiveram pequenas sessões de ensaios, relembrando o programa, tanto o curto quanto o livre. A jovem estava animada e a medida que os dias avançavam, eles sentiam a expectativa aumentar.

No dia da primeira competição, Jimin acordou antes de Jungkook mais uma vez, embora naquele dia tenha sido com o auxílio do despertador. Se sentia um pouco enjoado quando escovou os dentes e não conseguiu comer muita coisa no café da manhã. Jungkook estava atento a ele e como se fizesse parte da equipe, tinha acordado cedo e os acompanhado por todo o caminho que foi permitido a ele segui-los.

Uma vez no Ginásio Olímpico onde se daria a competição, Jungkook junto de Jinyoung, Nadine e a senhora Shin, separou as coisas que tinham levado e tomaram seus assentos, sendo praticamente um dos primeiros a chegar. O boxeador estava animado por ter conseguido lugares tão bons e ansioso para torcer por Hari.

Entrementes, Jimin se sentia cada vez mais nervoso, não tinha tido a oportunidade de estar em uma competição grande como aquela, desde que assumira a posição e o pensamento de que algo em suas instruções pudesse vir a prejudicar Hari, o perturbava. Também tinha cruzado com algumas pessoas do meio que conhecia e aquilo fizera a sensação de enjoo retornar. Todavia, Jimin não tinha tempo ou espaço para lidar com seus conflitos, aquele era o dia de Hari e tudo deveria ser sobre ela.

Enquanto seguiam pelo interior do ginásio, percorrendo os corredores para os vestiários e cruzando com outros atletas e membros de equipes, por vezes Jimin escutava:

"É o Jimin Park ."

"Aquele é mesmo Jimin Park?"

Houve até um momento em que um jovem patinador que caminhava na direção deles, parou abruptamente no meio do corredor e passou alguns segundos os encarando, até que tivessem seguido direto e o deixado para trás.



-



Quando enfim Hari entrou no vestiário em companhia de Nari, Jimin aguardou no corredor de acesso a pista. Sua patinadora estava no segundo grupo de aquecimento e o treinador pediu que Han fosse com o restante da equipe verificar como estavam as coisas.

Decorridos vinte minutos Hari estava de volta e ela estava muito adorável no figurino que tinham pensado juntos. Era de um azul acinzentado, cuja cor vinha em um degradê até a barra da saia solta que culminava no branco, pedrarias na cor vinho, adornavam a parte da frente e também formavam um lindo V nas costas.

- Você está tão bonita.

- Linda, não é? - Nari reforçou e Jimin assentiu.

- Obrigada.

- Nari, você pode se juntar aos outros, precisamos de um minuto.

- Claro. Boa sorte.

Se despediram e depois que Nari se afastou, Jimin a ajudou com o casaco, fechando na parte da frente e eles caminharam para a área de espera, onde sentaram.

- Você está nervosa?

- Estou, mas acho que ter todas aquelas pessoas reconhecendo o senhor, de alguma forma me ajudou a ganhar confiança.

Jimin sorriu afável e respirou fundo.

- Para alguma coisa minha antiga reputação tinha que servir. - Disse em tom de brincadeira, algo que era muito raro fazer quando estava trabalhando, mas competições eram muito estressantes, de modo que tentou aliviar o clima para ela.

- Não só para isso, mas... - Ela parou e virou-se, encarando Jimin. - Obrigada por não desistir de mim, treinador.

- Nesse caso, obrigado por não se importar com o que os outros andam dizendo.

- Hm. - Assentiu com um sorriso.

- Continue seguindo isso e não pense nos outros aqui também, preocupe-se com o seu programa, certo?

- Sim senhor.

- Você tem alguma dúvida final?

- Antes de dormir eu fiquei me perguntando se devia trocar o duplo axel por um triplo.

- Você se sente confiante o suficiente para isso? É uma mudança de última hora, você precisa ter certeza de que se sente capaz de sustentá-la e que na hora de executar, não vai embaralhar as coisas na sua cabeça ou hesitar sobre o que fazer. - Seu olhar estava no dela e sorriu leve. - Saiba que está tudo bem, se você acredita que consegue. Vá em frente.

- Obrigada, treinador.

Jimin assentiu e guardaram silêncio pelos próximos minutos, até que um sinal anunciou que era o momento de Hari entrar para o aquecimento e eles seguiram em direção a quadra, junto de outras atletas que também se dirigiam ao rinque.



-



Nas arquibancadas, Jungkook estava que era só expectativa, seu nervosismo perdia somente para o da senhora Shin e quando viram o grupo de Hari entrar no rinque Jungkook não poupou gritos e aplausos, sendo acompanhado pela senhora e o casal de amigos. A bem da verdade, todo o ginásio estava em polvorosa e voltavam a se agitar sempre que uma das patinadoras dava algum salto, ou fazia um movimento mais ousado.

- Eu não pensei que fosse ficar assim nervoso. - Disse Jungkook devorando um punhado de amendoins.

- Sempre fico nervosa em todas as competições, mesmo as regionais. - A senhora Shin até mesmo tremia um pouco.

- Ela parece segura. - Disse Jinyoung apontando e todos sorriam ao balançar a cabeça em concordância.

- Sei que ela está. - Disse a senhora Shin. - Ela confia tanto no treinador.

Ouvir aquilo, fez um sorriso emergir no rosto de Jungkook, mas não chegou a responder além de um leve balançar de cabeça, pois a atenção deles era novamente tomada pelas atividades no gelo.

Vez ou outra, durante aqueles minutos, Jungkook também buscou por Jimin, às margens do rinque. Estavam bastante próximos da pista, mas na parte oposta a que ficavam os juízes e as equipes técnicas, de modo que ele não conseguia saber exatamente a expressão que Jimin tinha, embora parecesse que ele estava focado em acompanhar o aquecimento de Hari.



-



Aquilo era de fato verdade, o olhar de Jimin não saia do rinque, sobretudo porque havia um burburinho de vozes e podia ser coisa de sua cabeça, mas entre as falas rápidas e cochichadas nos idiomas que transitavam pelo inglês que, era pelo menos a segunda língua falada por quase todos, ele conseguia ouvir seu nome aqui e ali. Forçou-se a pensar que devia estar imaginando coisas, ele não saía para uma competição de nível internacional há seis anos, certamente estava sendo pressionado pelo momento.

O sorriso suave e quase imperceptível, apenas retornou a seu rosto, quando o sinal para o final do aquecimento soou e observou Hari vir em sua direção, apanhou os protetores de lâmina que Han estendia e os entregou a ela, quando veio para onde estavam.

- Como se sente?

- Foi bom, acho que posso tentar o que conversamos antes.

- Claro, vá em frente e faça o que você sabe. - Disse enquanto seguiam para o espaço reservado aos atletas que esperariam por sua vez.



-



Enquanto isso, Jungkook sentia as mãos começarem a suar, ele com certeza preferiria subir ao ringue do que estar naquela expectativa. Ficava mais tranquilo por não ser o único, a senhora Shin estava a ponto de devorar os próprios dedos, pois não restavam unhas para ela roer.



-



Patinadora atrás de patinadora, eles assistiram com apreensão.

No momento, Jimin estava atrás da parede que delimitava o rinque, do lado de dentro estava Hari, que seria chamada em segundos.

- Você sabe o que fazer. - Jimin disse a ela. - Fighting!

- Fighting!

Assim que a palavra saiu por sua boca, a voz voltou a ecoar pelo ginásio, anunciando primeiro em japonês e depois em inglês "Representando a Coreia do Sul, Hari Shin.".

As pessoas gritaram, sobretudo o pequeno grupo posicionado na primeira fileira do lado oposto ao que estavam os juízes.

Jimin assistiu, apreensivo, Hari fazer uma volta de apresentação, acenando para as pessoas. Tentou se lembrar de como estava se sentindo na primeira vez que se apresentou para o público em uma competição de nível internacional, mas sua mente não conseguiu trazer de volta o sentimento, apenas conseguia sentir as batidas apressadas e incômodas de seu coração, o formigamento leve e o tremor suave, oriundos da ansiedade.

Hari parou no centro do rinque, assumiu a posição inicial e a música começou a tocar, uma versão instrumental de uma canção que ela gostava "I Am Not Afraid".

Ela começou com um movimento de tronco, antes de se deslocar passando pelos elementos que tinham praticado, patinando de costas, fazendo trocas de pés em uma sequência de giros, então foi para seu primeiro salto, um triplo, perfeitamente executado que fez Jimin soltar a respiração que não lembrava de estar prendendo.

Conforme a música seguia, ela deslizava pelo gelo realizando os movimentos que eram todos obrigatórios no short program. Jimin sentiu-se tenso novamente, quando ela saiu do layback spin e voltou a ganhar velocidade, porque aquilo significava que faria o elemento que tinha decidido trocar antes de entrar no rinque. Ele tentou se controlar, porque sabia que era de praxe eles filmarem a reação do técnico para reprisar depois, mas sentiu o coração como se tivesse parado na garganta quando ela saltou, quase desabando no instante em que aterrissou graciosamente no gelo.

Pela primeira vez desde que ela tinha entrado, Jimin sentiu que respirava, enquanto o público ainda aplaudia. Ela entrou na sequência de espiral, que a levaria para a sequência de saltos. Jimin sentiu sua apreensão retornar, ao que ela saltou para o primeiro triplo e seu corpo todo estremeceu no momento que viu Hari cair, ao voltar do segundo triplo.

A patinadora levantou e deu sequência ao programa, como era o esperado que qualquer patinador fizesse. Estavam nos segundos finais e ela terminou junto da música, exatamente como tinham treinado.

Jimin aplaudiu com os outros e a viu dar uma segunda volta de agradecimento. Patinadores de apoio entraram no rinque para recolher os presentes que ela tinha ganhado, mas Jimin não podia dizer que conseguia sentir seu coração, era como se estivesse anestesiado e buscou se recuperar, porque ele sabia que precisaria confortá-la quanto aquilo.

Antes mesmo que ela chegasse onde estava para poder sair do rinque, viu a expressão dela mudar e seus olhos encherem de lágrimas, Jimin puxou uma respiração profunda, sentindo que suava sob o casaco que usava por conta da baixa temperatura.

- Me desculpe, treinador.

- Está tudo bem, Hari-ah. - Disse envolvendo os braços ao redor dela. - Está tudo bem. Vamos. - Entregou os protetores de lâmina a ela. Precisavam se deslocar para a sala de espera e aguardar as notas.



-



Passaram por Han, que tinha conseguido um dos presentes que ela ganhara, uma flor de pelúcia e Jimin a segurou entre os dedos trêmulos. Depois deixou a pelúcia sobre o assento e a ajudou a vestir de volta o casaco.

- Eu sei que você está frustrada, mas você foi muito bem. Segure. - Entregou a pelúcia para ela e sentou-se ao seu lado. - Você está com dor?

- Hm. - Negou, ao fungar.

- Shh. Está tudo bem. É apenas o primeiro dia. - Respirou fundo e olhou adiante. - Vamos lá, olhe para eles. - Disse baixinho e apontou discretamente para a câmera. Nem sabia como, mas manteve o semblante tranquilo, enquanto aguardavam o anúncio das notas.

Jimin segurou uma mão com a outra, olhando para Hari que cobria parcialmente o rosto com a pelúcia, até que a nota foi anunciada. 74,8. A tensão em Jimin dissipou um pouco quando a jovem emitiu um soluço e pendeu o corpo em sua direção. A abraçou e sussurrou em seu ouvido, dando palmadinhas em suas costas.

- Foi muito bom.

- Não acredito.

Sorriu e a instigou a olhar para a câmera mais uma vez, o que ela fez, acenando timidamente. Em seguida se levantaram.

- Quanto eu teria tirado se não tivesse caído?

- Você foi ousada trocando o duplo pelo triplo e o fez perfeitamente. Não pense agora no que poderia ter sido, isso é algo para trabalharmos quando a gente chegar em casa, sua mente deve estar preparada para amanhã.

- Eu não vou cair de novo, eu prometo treinador.

Jimin tinha o coração muito apertado e o estômago embrulhado quando disse:

- Eu sei.



-



Depois daquilo eles encontraram o restante da equipe, Hari devia passar um tempo com o preparador físico e o fisioterapeuta, também faria bem a ela conversar um pouco com a psicóloga naquele momento, de modo que ele se despediu ao que ficou determinado que não assistiriam o restante das apresentações.

Não demorou muito para que a mãe dela viesse até eles, junto de Jungkook, Nadine e Jinyoung. Jimin cuidou para que a mulher estivesse com a filha e voltou para o hotel com os outros, também não se sentia muito disposto e não achava que traria algum bem assistir a outros patinadores. Claro, poderia prestigiá-los, todavia, não se sentia mesmo bem.



...



O percurso de volta para o hotel foi silencioso e Jimin acabou não permitindo que Jungkook carregasse sua bolsa com os materiais, sentia que se soltasse aquilo no momento, não teria forças para fazer mais nada. Sua cabeça estava girando com as imagens da queda, com pensamentos acerca do que poderia ter sido feito para evitá-la, do que fazer para que não acontecesse novamente no dia seguinte. E tudo se tornava um tanto obscuro, quando tinha fleches de seus próprios momentos ruins no gelo.

- Você quer que eu peça alguma coisa, hyung?

Jungkook estava apreensivo com o comportamento de Jimin, ele parecia tão distante e desconectado de tudo à sua volta. Se não sabia antes como era para Jimin estar naquele lugar pela primeira vez depois de tanto tempo, era ainda mais complexo tentar imaginar o que a queda de Hari tinha feito com que sentisse. Ainda que não tivesse parecido tão ruim a Jungkook. Ela tinha se recuperado tão bem, deu sequência como se nada tivesse acontecido e todo o resto foi tão bonito. Ele não podia falar da parte técnica, pois não entendia, mas como expectador, não achava que a queda tinha prejudicado muito a performance.

- Jiminie?

- Hm? - Piscou, olhando para o rosto de Jungkook e levando um instante para notar que estavam no quarto.

O boxeador sorriu de seu jeito afável, aproximou-se e tirou a bolsa do ombro dele, a deixando sobre o chão, depois o envolveu em um abraço.

- Você quer que eu peça alguma coisa? - Tocou os lábios na têmpora dele, sentindo os dedos de Jimin apoiados com suavidade sobre suas costas.

- Não, obrigado. Eu vou tomar um banho. - Disse, mesmo que tivesse se aconchegado no abraço.

- Você tá bem, hyung?

- Sim. Mais tarde quando eles voltarem, vamos ter uma reunião.

- Hm? - O boxeador levou o rosto para o pescoço dele e beijou. - Eu quero saber sobre você, hyung. Sabe, eu me dei conta de que nunca pensei muito sobre como Kang se sente quanto às minhas lutas. Eu sei que ele fica satisfeito quando ganho e bravo quando faço alguma coisa errada, mas nunca parei pra pensar exatamente nos sentimentos dele. - Sorriu, exalando pelo nariz, meio rindo. - Acho que é um pouco egoísta da minha parte, quando ele dedica tanto tempo da vida dele pra me ensinar. E é o mesmo pra você, certo? Eu espero que a esposa dele pergunte como ele se sente quanto a mim, acho que ela deve perguntar, porque eu estou mesmo querendo saber sobre você, amor.

- Você é muito gentil. Mas eu estou bem. Só preciso tomar um banho.

- Hm. Quer ajuda com isso?

- Obrigado, mas se você não se incomodar, eu gostaria de fazer sozinho.

Jungkook afastou-se, levando as mãos ao rosto dele e o segurando entre elas, fixou o olhar no dele e o percebeu sorrindo, mas o sorriso não alcançava seus olhos. Então assentiu e pressionou os lábios na testa dele.

- Tudo bem. Eu vou ficar aqui e checar algumas coisas.

- Ok. - Respirou fundo, seu coração estava tão apertado e sua garganta doía. - Eu sei que disse que não queria, mas você pode pedir alguma coisa para nós.

- Você quer comer?

- Hm. A-Algo leve.

- Claro hyung. - Apertou as bochechas dele e selou seus lábios.

- Eu não demoro.

Jungkook assentiu, acompanhando com o olhar enquanto ele se afastava para o banheiro, acabou suspirando sem perceber e mordeu a pontinha do lábio, negando levemente com a cabeça ao caminhar para o telefone para fazer o pedido.



...



Depois que Jimin saiu do banho, sendo inesperadamente rápido, eles comeram a refeição que Jungkook pediu e mais tarde Jimin saiu para se reunir com a equipe, enquanto Jungkook permaneceu na companhia de Nadine e Jinyoung. Uma experiência sempre desagradável na opinião do boxeador. As formas de tratamento melosas, não pareciam tão legais quando não partiam dele ou de Jimin.

- Você não devia estar com o hyung? - Disse a Nadine

- Eu estou com ele. - Ela deu um beijinho na bochecha de Jinyoung e Jungkook fez cara de nojo.

- O Jimin hyung. Você não é assistente dele?

- Foi você que veio pro nosso quarto, JK. Por que tá querendo expulsar minha namorada?

- Vocês são desagradáveis.

- Não somos não. - Nadie disse rindo. - E eu não sou da equipe, sou assistente pessoal do Jimy, você sabe como isso funciona, JK.

- Mas o hyung pode estar comigo quando eu quero.

- Cada esporte tem suas regras, garotão. Logo ele vai estar de volta.

- Como ele estava?

- Não sei, noona. Ele parecia distante, mas estava agindo como sempre.

- Como se ele quisesse parecer bem?

- É, tipo isso.

- Ele deve estar se perguntando o que fez de errado, ou o que poderia ter feito de diferente para evitar uma coisa que não estava no poder dele mudar.

Jungkook suspirou com a resposta, porque aquilo tinha passado por sua cabeça.

- Também tem a queda. - Nadine continuou. - Elas caem o tempo todo no ginásio, mas aqui é uma competição, o mesmo tipo de competição onde ele se machucou. Você já viu?

- Hm? - Os olhos de Jungkook se arregalaram um pouco e ele ergueu a cabeça que mantinha encostada no sofá.

- O vídeo? Já viu como ele se machucou?

- Eu nunca assisti nenhum vídeo do hyung patinando.

- Por que não?

- Porque ele nunca me mostrou.

- Você pediu para ver?

- Não.

Houve silêncio e Jungkook não gostou muito da forma que Nadine olhou para ele, como se o estivesse julgando por não ter visto um vídeo de Jimin ou pedido que ele mostrasse, de modo que sentou-se corretamente.

- Por que?

- Bom, você gosta dele, estão juntos praticamente o mesmo tempo que eu e o Yo e você não viu sobre isso? Eu não sei, acho que seria algo que eu gostaria de saber, se fosse com o Yo.

- Você está dizendo que eu não estou interessado o suficiente na vida dele?

- Pega leve, JK.

- Não. - Ergueu levemente a mão na direção de seu amigo. - Eu quero entender.

- Eu só estou dizendo que se fosse eu, gostaria de saber sobre o que aconteceu a ele.

- Mas não é você, não é? Sou eu. E eu acho que tenho o direito de escolher respeitar a vontade dele e não ficar enchendo ele de perguntas, ou pesquisando sobre sua vida como se fosse um stalker. Porque eu não sou. Eu sou o namorado dele e se tem qualquer coisa sobre ele que eu precise saber, ele que tem que me contar.

- Eu não estou dizendo que você tem que desrespeitar a vontade dele, mas já te ocorreu que talvez ele não te conta ou não te mostre, por que você não pergunta?

- E como é que você sabe como a gente funciona? Eu não sei porque você tá tirando essas conclusões, mas se você acha que o certo seria investigar a vida dele, eu prefiro do meu jeito. Porque eu sei que desse modo ele me conta coisas quando está se sentindo confortável pra fazer isso, porque confia em mim o suficiente, porque ele quer que eu saiba e não porque eu quero ou o pressiono pra isso.

- Tá. Tudo bem. - Ela suspirou e agitou as mãos em sinal de rendição.

- Noona. - Respirou fundo. - Você não imagina como eu quero saber tudo sobre ele, desde os detalhes mais triviais, até as coisas mais importantes. Mas eu não quero saber se pra isso eu tenho que pressionar ele. Que bem isso vai fazer pra nós? Pra ele? - Engoliu em seco e mordeu o lábio. - Eu não sei o que você está pensando e eu também sei que não te devo satisfação da minha vida, assim como eu sei que você é uma pessoa importante pra ele, então é por isso que vou dizer. Eu sempre deixo a porta aberta pra ele. Mesmo que eu não faça perguntas do tipo "como você se machucou?", "você pode me mostrar um vídeo de quando você patinava", eu ainda deixo claro pra ele que quero saber, quando ele quiser me contar.

- Me desculpe. - Ela sentou ao lado de Jungkook e segurou sua mão. - Você tem esse jeito de que tudo está bem do jeito que está, eu não sabia que era tão sensível assim.

- Eu não sou. Tá me tirando? - Empurrou de leve o braço dela com o seu. - Não fica preocupada, noona. Eu também quero cuidar dele. - Deu um suspiro e esfregou a ponta dos dedos pela bochecha.

- Tudo bem, eu vou me acostumar com essa ideia de que não sou mais a única cuidando dele.

- Não é mesmo.

- E eu fico como nessa história? - Jinyoung disse, se fazendo de muito indignado.

- Você cuida de mim. - Disse Nadine.

- Na verdade, ele é pago pra cuidar de mim.

- Eu posso dar conta dos dois.

Eles riram, mas embora estivesse mais relaxado, a mente de Jungkook ainda estava pesada com os pensamentos sobre Jimin e continuou daquela forma, até por volta das 22h, que foi quando o mais velho finalmente se reuniu a eles e os dois rumaram para seu quarto.




• - ‼️⚠️



Estava muito escuro quando Jungkook despertou. Por um instante, ele se sentiu perdido e deslocado, até ponderar que devia ter acordado no meio da noite. Uma respiração longa e pesada escapou de seu corpo e levou outro breve momento para perceber que estava sozinho na cama. A partir dali, tornou-se imediatamente desperto e atento, ouvindo de imediato o fungar pesado que vinha de algum ponto na escuridão.

Seu primeiro impulso, foi o de chamar por ele, mas o refreou e saiu da cama. Estava frio fora dela, ainda que o aquecedor do quarto estivesse ligado e Jungkook tentou deixar que sua visão se ajustasse à escuridão, antes de desistir e buscar pelo celular. Ativou a tela e lançou sua luz à volta, caminhando alguns passos pelo local espaçoso.

- Meu Deus, hyung. - Disse mais para si mesmo do que para ele, ao ver Jimin encolhido no chão, a meio caminho do banheiro. - Jiminie. - Chamou suavemente, deixando o celular no piso e apoiou de leve os dedos nos cabelos dele. - Vamos pra cama, amor?

Como resposta, Jimin fungou e se encolheu. Jungkook franziu as sobrancelhas, o coração há muito apertado e acelerado. Investiu com os dedos para dentro dos cabelos dele e sentiu os fios úmidos junto à cabeça.

- Ei, hyung?

- Eu não fiz. - Ele soluçou com exaspero, apertando os braços que tinha ao redor dos joelhos. - Não... Eu quis, mas não fiz.

- Shh. Tudo bem. - Teve que respirar fundo, ele estava tremendo. - Você tomou banho? Seu cabelo tá molhado.

- Não. - Fungou. - Só... Eu... - Ele se engasgou com as palavras e Jungkook sentiu que ia começar a chorar também.

- Você quer tomar banho?

- Não!

De repente, ele pareceu alarmado, olhando para o rosto do boxeador pela primeira vez.

- Tá, tudo bem. Não precisa, amor.

- Jungkookie?

- Sim.

Todavia, tudo o que ele fez foi chorar mais, enfiando o rosto entre os braços e ficando tão pequeno que por um instante, Jungkook teve medo que ele fosse sumir, tanto medo, que deitou no chão com ele e abraçou seu corpo, sentindo que não eram apenas seus cabelos que estavam molhados. A camiseta que ele usava, parecia ter saído da água.

- Tudo bem, hyung. Eu tô aqui.

- Eu quis tanto, Jungkookie, tanto. - Contou entre soluços. - Mas eu não p-podia.

- Por... - Mordeu o lábio para se conter, queria perguntar porque ele não o tinha chamado. - Você podia ter me chamado. A gente pode conversar, ou... - Engoliu o nó em sua garganta. - Fazer outra coisa pra você se distrair. - Tentou soar sugestivo, como uma brincadeira.

- Por que você gosta de mim, Jungkookie?

- Eu quero. Quero gostar de você, hyung. Eu gosto de gostar de você. - Respirou fundo, mas não conseguiu evitar as lágrimas, não quando podia ouvir sua voz naquele tom, ou sentir como tremia e saber o que ele pensava de si mesmo.

- P-Por que?

- Porque você é incrível, você é gentil, você é doce e amável, você é inteligente e você é humano, hyung. Você tem falhas e você não tem medo de admitir que tem.

- Mas eu t-tenho. Tenho m-medo de e-estragar tudo. - Continuou a soluçar. - E-Eu não d-devia ter v-vindo. N-Não devia e-estar aqui.

- Você se saiu muito bem, hyung. O que aconteceu não foi sua culpa, ela sabe disso, todo mundo sabe e tá tudo bem.

- Não tá.

Jungkook mordeu o lábio e o apertou um pouco mais.

- Está bem, não tá. Mas escuta, tem uma coisa que eu ouvi um dia desses e você vai ficar chocado, hyung. A gente não é o centro do universo, o mundo não vai parar por nossa causa. O Sol não vai explodir e a Terra não vai parar de girar por sua causa, hyung. E sabe a coisa boa sobre isso? É que já que o universo vai continuar o mesmo, tá tudo bem você ficar triste, você ficar assustado ou com medo, tá tudo bem. Tudo bem você ter momentos que você acha que não vai conseguir e que você só quer ficar longe de tudo. Tá tudo bem, porque o mundo não vai acabar por causa disso, o sol ainda vai nascer amanhã. E é um alívio não ter essa responsabilidade, você pode ficar triste que isso não é o fim do mundo. - O apertou um pouco mais e beijou seus cabelos. - Você pode chorar, Jiminie. Não precisa ser forte agora.

- Mas e-ela... Eles precisam de mim...

- Shh. Não é agora, hyung. Agora só tem você. E eu sei que você sabe que só pode ir até certo ponto, não pega essa culpa pra você, amor.

- To-todo mundo vai fazer isso. A culpa vai ser minha.

- Hyung. - Respirou fundo e o apertou mais. - A gente só pode viver no hoje e eu sei que é difícil, sei que o amanhã é assustador, mas a gente só pode viver no hoje. A gente não sabe como vai ser, alguma coisa ruim pode acontecer, mas pode acontecer uma coisa boa também, não sofre antes de acontecer. Você tá tão frio. - Quase arfou, se sentia meio desesperado com o quanto ele tremia.

- Eu tô com frio.

- Quer ir pra cama?

- Não.

- Então espera só um pouco, tá bom?

Respirou fundo quando ele assentiu e se pôs de pé, indo ao banheiro onde apanhou toalhas, molhando uma de rosto na água quente da torneira. Em seguida voltou para o quarto, deixando as toalhas secas perto de Jimin e puxou os cobertores que estavam sobre a cama. Também deixou os cobertores de lado e abaixou-se mais uma vez junto dele, lançando um olhar a tela do celular e verificando que passava um pouco das três da manhã.

- Hyung, vou tirar sua camiseta, tá bom? Está muito frio e ela tá molhada, você vai acabar ficando doente. - Como Jimin não fez nada além de fungar, respirou fundo mais uma vez e fez aquilo, deixando o tecido molhado de lado e depois usou a toalha úmida e morna para remover o que acreditava ser suor da pele dele.

Jungkook o secou com as toalhas limpas e forrou um cobertor no chão, usando os outros para lhes cobrir ao abraçá-lo junto. Ficou contente por Jimin ter saído daquela posição e ter retribuído o abraço, ainda que ele continuasse a chorar e tremer.

- Por que você faz isso?

- O que, amor?

- Por que continua comigo?

- Por que você não me diz, Jiminie? Por que você continua comigo? - Disse e aguardou, mas Jimin não respondeu, ele apenas apertou seu corpo, tremeu e chorou mais. - Shhh. Tudo bem. O amor é assim, Mimi. A gente não precisa achar uma explicação. Eu não sei explicar e eu não preciso. Eu só quero ficar do seu lado.

- E... - Teve de engolir o nó que apertava sua garganta. - Eu também. Obrigado.

- Eu sei. - Beijou a testa dele e recebeu um beijo leve no queixo.

- Não quero mais fazer isso, Jungkookie.

- O que, hyung?

- Não sei. Eu... - Estremeceu, pressionando os dedos nas costas dele. - Estou com medo de... De voltar para o início de novo.

- Você não vai. - Disse, depois mordeu o lábio e puxou uma respiração profunda, moveu-se pelas cobertas e encostou a testa na dele. - Mas se você voltar, hyung. Eu vou voltar com você, tá bom? Se for pra frente ou pra trás, se você apenas ficar parado, eu vou ficar com você e eu vou te ajudar se você precisar de mim. - Selou os lábios dele e envolveu seu corpo.

Houve silêncio, apenas o fungar eventual de Jimin que ainda chorava.

- Jungkookie. - Chamou meio alarmado.

- Eu tô aqui, hyung.

- Você... Você pode pegar o meu remédio.

- Claro que eu posso.

- Está na minha mala. É o frasco azul.

- Ok.

Antes de afastar-se, beijou a testa dele, indo até a mala procurando pelo frasco, o encontrando entre as roupas. Não sabia exatamente porque parecia estar escondido, mas apanhou uma garrafa de água e voltou para junto de Jimin, abaixando-se ao lado dele e o ajudando a sentar. Talvez estivesse fazendo algum tipo de expressão preocupada, pois antes de levar o remédio a boca, Jimin disse:

- É só para eu dormir. O médico disse para não usar com frequência, para não acabar dependente. Eu preciso descansar.

- Hm. - Assentiu. - Então toma pra gente poder dormir no ninho que fiz pra nós. - Sorriu leve e o viu dar uma sugestão de sorriso, antes das lágrimas deslizarem por suas bochechas. - Você tá cansado, hyung. - Esperou que ele engolisse o comprimido com a água e passou os dedos por suas bochechas.

- Tanto, neném.

- Eu sei. Não pensa mais, a gente vai dar um jeito, mas agora vamos dormir.

Jimin concordou e Jungkook selou os lábios dele, antes de apanhar a garrafa e deixar de lado com o frasco, por fim voltando a deitar com ele. Demorou a pegar no sono depois daquilo, pensando que realmente queria fazer alguma coisa, ajudá-lo efetivamente. Mas sentia-se mais tranquilo quando adormeceu, uma vez que o corpo dele estava mais quente junto ao seu.







Na manhã seguinte, Jimin se sentia um pequeno caos e seu exterior refletia muito bem a catástrofe que tinha sido sua noite, a qual devia ter usado para se recompor e poder se apresentar ao lado de sua atleta com a confiança que ela precisava. Tentou o melhor que pôde para lidar com o inchaço em seus olhos e com a expressão casada, aceitando qualquer comentário de Jungkook que o fizesse sorrir.

Jungkook.

Ele nem conseguia começar a pensar na forma como o boxeador tinha agido e no quanto se sentia agradecido por ele ser quem era, como era. Na verdade, ele não podia pensar muito sobre aquilo, pois sentia um aperto no peito que trazia à tona uma fragilidade que não podia expor naquele dia.

O primeiro dia de competição era importante, mas o programa livre, aquele era o verdadeiro momento. Hari podia atenuar em muito o fato de que tinha tido uma queda e até ficar entre as primeiras colocações, se realizasse o programa de maneira impecável.

Com aquilo em mente, Jimin saiu com o restante da equipe para o ginásio, as preparações eram muito similares, mas ele ainda queria ter algum tempo para conversar com ela. Hari não parecia tão abalada no jantar, mas ainda assim, uma queda podia deixá-la receosa de realizar até os elementos mais simples que já dominava.

- Nari conseguiu te deixar ainda mais bonita, hoje. - Disse quando estavam apenas os dois.

Ela estava mesmo linda no figurino em tom de cinza prateado de mangas compridas. Assim como o do dia anterior, ele tinha um degradê que terminava em cinza chumbo nas mãos e na barra rodada da saia. Também era adornado de pedrinhas vermelhas e azuis bem miúdas.

- Obrigada. O senhor parece cansado.

- Não se preocupe comigo. Tudo aqui é sobre você. - Disse fechando o casaco dela.

- Eu não vou cair de novo, treinador.

- Eu sei. Mas quero falar disso mais um pouco. - Sentou-se com ela na sala de espera. - Não quero que você fique pensando sobre não cair, se entrar lá pensando assim, vai se esquecer sobre o que realmente precisa fazer. - Respirou fundo a vendo assentir. - Todos os melhores patinadores já caíram em competições, mas o que faz um patinador ter sucesso, não é a queda, é o seu passo seguinte depois disso. Então não pense mais nisso, Hari-ah. Pense no seu programa, em como executá-lo exatamente da forma que treinamos durante todos esses meses.

- Sim senhor.

- Não tenha medo. Você treinou, você sabe o que tem que fazer.

- Obrigada.

Jimin assentiu e permaneceram em silêncio, à medida que aguardavam e o tempo transcorria lentamente. Ainda haviam muitos pensamentos nublando a mente do treinador, todavia, para o bem ou para o mal, não conseguia se apegar a nenhum deles. Hari estava na quarta rodada de apresentação e quando foi chamada para o aquecimento, parecia menos ansiosa que no momento em que chegaram à sala de espera.

A exemplo do que aconteceu no dia anterior, o aquecimento foi pontuado por gritos e aplausos vindos da plateia e para aquele dia, não tiveram que esperar muito pela vez de Hari. Após a terceira patinadora sair, ela entrou no rinque e permaneceu olhando para o rosto de Jimin, enquanto aguardava ser anunciada.

- Você está linda, apenas faça o que você sabe fazer.

- Sim senhor.

- Fighting! - Murmurou com um sorriso, o coração esmagado no peito.

- Fighting! - Repetiu ela, dando uma respiração profunda.



-



O nome de Hari foi chamado e ela fez uma volta de apresentação, parando no centro do rinque como tinha feito no primeiro dia. Mas quando a música começou a tocar, foi uma melodia diferente. Ela tinha escolhido uma música que chamava "Polar Night".

O programa longo ou livre, como podia ser chamado, era um espetáculo à parte, pois o patinador podia colocar os elementos que quisesse, mesmo que os saltos que seriam pontuados, fossem limitados e Hari executou tudo com a mesma excelência que fazia nos treinamentos, ainda que Jimin tivesse sentido o estômago revirar e seu corpo estremecer a cada novo salto, mas ela fez tudo conforte tinham treinado e inclusive acertou o salto que tinha errado no dia interior, finalizando em sincronia com a música.

A patinadora tinha sido bastante aplaudida no dia anterior, mas a plateia estava apenas em êxtase com sua apresentação, sobretudo o pequeno grupo que estava no mesmo lugar do do primeiro dia. Ela novamente ganhou presentes e tinha um grande sorriso no rosto depois que agradeceu e deslizou até onde estava Jimin.

Ele a abraçou e deu os parabéns e Hari parecia a ponto de chorar, ainda que naquele momento fosse ser de alegria.



-



Enfim eles se encaminharam para a sala de espera e o clima não podia ser mais diferente, Hari sorria e acenava sem nenhum esforço e mais uma vez segurava uma flor de pelúcia. Jungkook tinha comprado um monte daquelas para levar, depois que a senhora Shin lhes revelou que a filha gostava.

Houve um pequeno momento de tensão quando as notas foram anunciadas e Jimin a abraçou, quando ouviram: 179,25.

- Eu não acredito!

- Parabéns!

Hari se inclinou para frente, em leves reverências e acenou. Ainda não era suficiente para ela ganhar uma medalha, mas a combinação das notas a colocava entre os dez primeiros e isso a deixava em uma ótima posição para a próxima etapa do torneio, o Skate America, em uma semana.

Enquanto a acompanhava para os vestiários, Jimin ainda tinha aquela sensação de náusea presente, a cabeça pesada e os pensamentos um tanto enevoados, todavia, estava satisfeito por ter conseguido se manter firme durante o tempo que foi necessário.

Quando a equipe se juntou a eles, ficou decidido que iriam assistir ao restante das apresentações, exceto Jimin, que optou por voltar para o hotel. Ele enviou uma mensagem a Jungkook que o encontrou com Nadine, Jinyoung e a senhora Shin, então eles se separam, deixando os outros para assistir junto com Hari e a equipe.

Não restavam muitas coisas a serem feitas naquele dia além de aguardar a classificação final, mas seu assistente técnico Han, tinha ficado responsável por aquilo e mais tarde comunicou a Jimin que Hari de fato tinha terminado entre os dez primeiros colocados, tendo ficado na nona posição.

Como teriam de fazer outra viagem dentro de poucos dias, Jimin se concentrou em arrumar suas coisas e partiram de Tokyo logo na manhã seguinte.








Chorei escrevendo e choro toda vez relendo. kk Eu quis fazer pelo menos uma parte do Jimin efetivamente como treinador e também era necessário para a evolução dele e para ele se dar conta de algumas coisas. Enfim, vamos caminhando para o fim, faltam 5 partes agora. Eu novamente preciso dizer que essa não é a melhor história que escrevi, ela existe pelos personagens e sua relação. kkkk Mas espero que se você chegou até aqui esteja gostando e se divertindo. Obrigada por ler! ♥~

         







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