Tinha cheiro de madeira, lustrador de móveis e um pouco de cada pessoa que morava naquela casa. Estava escuro, mas Harry não tinha medo. Na verdade, ele nunca tinha medo ali. Sentia como se fosse o único lugar verdadeiramente seguro em todo o mundo, nada nem ninguém poderia o encontrar ali-
Louis abriu a porta grossa com um rangido, achando pés descalços e pernas curtas cobertas por uma calça moletom embaixo dos inúmeros casacos pendurados. Harry viu seu sorriso diabólico se reduzir a algo simples, que destacava os vincos acima da sua boca, traiçoeiro.
— Por que está se escondendo aqui?
— Acho que essa casa é assombrada.
— O quê? Sério? Por que pensa isso? — perguntou, franzindo o cenho, fechando a porta e sentando-se na frente de Harry, embora o garoto ainda estivesse escondido entre as roupas.
— Não sei. Seu pai está bravo de novo.
Louis engatinhou entre os casacos e sapatos e se sentou ao lado de Harry, encostando ombro no ombro.
— Ele está falando no telefone. — disse, suspirando pesadamente. — Ele só faz isso. E eu quero ir logo.
— Como assim quer ir logo? — Harry exclamou, lágrimas pesadas caindo dos olhos.
— Por que você está chorando? — Louis franziu o cenho violentamente, sem entender, tocando sua bochecha molhada com a ponta dos dedos.
— Não quero ir embora. — e escondeu a cabeça entre os joelhos.
— Mas hoje ainda é sábado.
— Mas depois de amanhã é segunda, e eu vou ter que voltar para a escola...
— E daí? Hoje ainda é sábado, bobinho.
— Louis! Você falou e daí! — repreendeu, boquiaberto e com bochechas vermelhas de choro.
— E daí?
— De novo! Não pode! É feio!
— Por que?
— Porque é feio!
— Por que é feio?
— Ai, você faz muitas perguntas. — lamentou, apoiando a cabeça na palma da mão em cansaço.
— Harry, você está com medo?
— Do quê?
— Da casa.
Harry hesitou, apertou os dedos dos pés com as mãos, os olhos verdes combinando com a cor da madeira. — Sim... Tenho medo daqueles amigos malvados do gasparzinho.
— Eles estão aqui? — Louis franziu o lábio, pensativo.
— Não sei... Mas tenho medo que apareçam. Estou protegido aqui.
— Posso te proteger lá fora, quando você sair.
— Pode?
— Claro que eu posso! Podemos brincar agora?
— Brincar de quê?
— Piratas. Fantasmas têm medo de piratas.
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(quarta tem mais)