57 - bolas e línguas

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Fazia calor, muito calor. E todos os jovens que moravam naquelas enormes casas ao redor dos lagos e perto da cidade e da costa decidiram se reunir, como de costume, no extenso gramado perto da estrada que levava ao centro.

Diferente de coisas muito óbvias como Beverly Hills ou Malibu, aquele aglomerado de pedras na ponta da Inglaterra era bem mais que isso. Muitas famílias ricas tinham casas de veraneio ali, muitos velhos também, e já que as únicas atrações eram lagos e mais lagos de água doce, uma praia extensa e um centro que cercava a bahia com meia dúzia de lojinhas de suvenir e restaurantes muito bons, era meio que inevitável que todos os jovens herdeiros se encontrassem no mesmo local.

Já passava das quatro da tarde. O sol ainda estava forte. Alguns adolescentes estavam sentados ao redor do campo, embaixo dos salgueiros e suas sombras enormes, a maioria vestida em roupas de banho, enquanto outros jogavam futebol.

Suor escorria por suas costas por debaixo da camiseta de um time qualquer que achou no armário, e Harry não aguentava mais. Nunca foi o melhor jogando futebol, mas foi obrigado a aprender alguma coisa para não ser o alvo nas aulas de educação física da sua antiga escola.

Antigamente, apenas Louis ia para aquele tipo de evento (sim, era um evento, para todos aqueles jovens qualquer coisa que os tirassem de seus quartos abafados era um evento), ele e Louise, que conseguia ser pior que o irmão quando se tratava de futebol. Mas, depois de passarem um dia inteiro mal se falando (por precaução) Harry nem pestanejou quando Louis surgiu usando chuteiras e uma camiseta da seleção da Inglaterra.

Àquela altura, já estavam há tempo demais jogando. Harry era competitivo, então só isso o movia agora. Haviam muitos jovens jogando, muitos palavrões soando em sotaques diferentes e embolados, muito suor, muitas trombadas, muita terra em sua bermuda, muito sol.

Sua intenção era ficar a sós com Louis por pelo menos alguns segundos para que pudessem trocar meia dúzia de palavras, tinha ido ali só para isso, afinal. Só não esperava que teria que correr atrás de uma bola junto com adolescentes seminus ao invés disso.

— Harry!!!! — Ele escutou Louise cantarolar quando um garoto trombou consigo e o derrubou no chão. — Cair não faz parte do jogo!!! Aiai, esses novatos...

Harry ergueu uma mão e levantou o dedo do meio para ela, respirando com dificuldade, vendo as canelas de Louis se aproximando e sentindo sua mão sendo envolvida por outra antes de ser puxado para cima.

— Você está bem? — Louis perguntou, segurando-o bem próximo, quase colando seus peitorais.

— Uhum. — murmurou de volta, sem nem olhá-lo direito, a garganta seca, emburrado porque só queria fazer um gol!

Ele pediu para o juiz (um homem de cerca de 40 anos que via algum divertimento em tudo aquilo) para beber água, e seguiu até a casa mais próxima, a dos Bakers, se ele se lembrava bem. A parte boa de estar em uma cidade pequena com um número reduzido de pessoas, onde todos se conhecem, era exatamente aquela: A sra. Baker sempre deixava sua cozinha à mercê dos adolescentes enquanto seus filhos estavam jogando.

Harry encheu um copo d'água, controlando a respiração afobada, escutando passos familiares se aproximando atrás de si.

— Não sabia que você jogava futebol. — A voz de Louis soou, e ele se virou, encostando-se na pia e se permitindo olhar em seus olhos de verdade pela primeira vez naquele dia (era difícil fazer isso no meio do jogo).

— Eu não jogo. — resfolegou, sentindo a água gelada lhe sarar os lábios partidos de sol. — O pouco que fiz até agora foi sorte de principiante. — e deu de ombros, descendo os olhos pelas coxas torneadas marcadas pela bermuda branca.

august (larry's version)Where stories live. Discover now