38 - camiseta

377 59 85
                                    

Eram duas da manhã, Louis não conseguia dormir, e seu quarto era terra de ninguém; desceu as escadas e se jogou no sofá. Levantou-se e foi até a cozinha, bebeu um copo de água, encarou o móvel no hall de entrada: a chave dele não estava ali. Harry não tinha voltado ainda.

Chovia torrencialmente lá fora e Louis se questionava onde ele estava. Daquela vez, Harry tinha saído e ele nem viu. Tinha ido a outra festa? Tinha saído com alguém? Fugido de casa? Ido se casar? Pegou um trem para Paris? Se mudou? Foi abduzido?

Por favor, volte para casa. Louis se jogou no sofá de novo, sentindo-se vazio, naquela casa vazia, naquela floresta vazia e maldita.

Harry estava dormindo na cama de outra pessoa, Harry estava sorrindo com outra pessoa, Harry estava lá fora, nem um pouco vazio, numa sala cheia de gente ou com apenas uma pessoa que não o faz se sentir vazio. Harry estava bem, não estava? Bom.

Louis ligou a Tv e congelou no sofá. Passava Modern Family, um episódio diferente que ele não tinha visto ainda. Fechou os olhos com força. Merda. Merda. Merda. Merda.

Uma luz reluziu na janela, se movendo até parar. Louis pulou do sofá, correu até a porta de vidro dos fundos, na cozinha, esperando, esperando, esperando. Uma silhueta corria debilmente pelo quintal, o farol amarelo sombreando seus cachos molhados na terra, fazendo as gotas pesadas de chuva brilharem. Harry acenou para o carro antes de seguir, calmamente, pela chuva, até a porta da cozinha, a cabeça baixa enquanto água não parava de cair.

Foi necessário um passo em direção a varanda para que Louis estivesse encharcado.

— O que você tá fazendo na chuva? Vai enrolar mais para entrar ou já tá bom? — ele gritou por cima do barulho alto de água.

Harry pareceu se assustar, mas logo gritou de volta: — O que você tá fazendo na chuva?

— Você vai ficar resfriado, sabe que não pode pegar chuva assim.

— É chuva de verão.

— Não é, não. Estamos na primavera ainda.

— O que faz acordado?

— Estava esperando você chegar.

Os dois se olharam, na chuva, até que Harry desviou seus olhos para o chão e passou por Louis, subindo os degraus da varanda e entrando na cozinha.

— Merda. Vai molhar tudo. — Louis escutou sair da boca do garoto quando alcançou a varanda.

— Deixa. Eu seco depois. — disse, torcendo sua camisa.

Harry olhou para ele, ou melhor, para sua camisa e engoliu em seco, os olhos irritados com tanta água, os ombros tremendo de frio.

— O quê? — Louis perguntou, sem entender, olhando para baixo e entendendo.

Tinha se vestido no escuro, literalmente, quando saiu do banheiro porque estava exausto e talvez tivesse olhos inchados e acabou não notando o que tinha vestido.

Louis passou os olhos pelas manchas vermelhas na camiseta clara, sentindo seu peito se apertar mais, levantando a cabeça novamente quando memórias de um banheiro azul e de unhas finas em seu abdômen tomaram conta de sua mente, mas Harry já deixava a cozinha.

— Harry. — Louis foi atrás dele, sentindo o coração disparar ao decidir falar — falar tudo.

Mas as palavras lhe fugiram ao chegar à sala e encontrá-lo parado atrás do sofá, encarando a TV enquanto Phil falava alguma coisa. Louis viu uma das mãos de Harry tremer, a corrente de cruz estava visível sob a camiseta fina e molhada, assim como a estrela preta, assim como os músculos das costas, dos ombros e dos braços.

— Ha-

— Eu... vou dormir. — disse, tão baixo que Louis quase não escutou. E subiu as escadas, sem olhar para trás.

esse capítulo me atinge num nível pessoal demais

august (larry's version)Where stories live. Discover now