Querido Vizinho

By jgukthv

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Depois de tomar um pé na bunda, a última coisa que eu precisava era me tornar vizinho de alguém que me lembra... More

Prólogo
AUDIÇÃO SUPERSÔNICA
LATIDOS E ORGASMO
BURACO NA PAREDE
VOCÊ ME DEIXA DOIDO DE BACON
BOTANDO FOGO NA CASA
O JOGO DA PAQUERA
MUDE A HISTÓRIA
LUZES DE SEXTA À NOITE
CAIXA DE PANDORA
EX E OHS
TRETA DE BÊBADO
AI, MANO
BEM FERRADO
STALKER
CORAÇÃO PARTIDO
NO CHÃO
BANHEIROS E CASAS NA ÁRVORE
COBERTURA
EMBAIXO DO PARAÍSO
LE NOMBRIL
JURAS NÃO INTENCIONAIS
O LUTADOR
PLANO DE DEUS
PINGO NO I
EPÍLOGO

SEGUIR EM FRENTE

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By jgukthv

Naquela noite foi impossível dormir.

De algum jeito, agora que o dia da mudança havia chegado, cada vez mais eu tinha a impressão de que ir embora era a decisão errada. Não tinha volta. Minhas coisas estavam encaixotadas e eu tentava encaixotar mentalmente meus sentimentos junto com os objetos. Tinha que lembrar o tempo todo que, em última análise, Jungkook não estava lutando para me fazer ficar. Uma parte dele também queria esse cenário, porque a vida dele seria mais fácil se eu não estivesse por perto.

O forno que ele tinha me dado estava desligado em cima da bancada. Decidi ir ao apartamento ao lado devolvê-lo.

Com o cabelo despenteado e os olhos vermelhos, Jungkook parecia ter tido uma noite igualmente difícil. Seus músculos pareciam querer saltar da camiseta azul e justa.

— O que está fazendo? — ele perguntou.

— Devolvendo isto aqui.

— Está brincando?

— Não, é seu.

— Fica com ele, Taehyung.

— E se você precisar assar alguma coisa? O forno não vai estar mais no apartamento ao lado.

— Eu vou sobreviver.

— Prefiro que pegue de volta.

— Estamos mesmo discutindo por causa de um forno? Fica com ele. Leva de lembrança.

Acomodei melhor o forno nas mãos e cedi.

— Está bem. Falando desse jeito...

— Leva o forno de volta, depois vem tomar café com a gente.

Comemos em silêncio, sem tocar no assunto sobre o que aconteceria hoje. Jungkook levaria os cachorros para a casa da Jenna após o café, depois passaria o dia me ajudando com a mudança. Tínhamos combinado que eu não me despediria dos animais, que os trataria como se fosse um dia qualquer. Teoricamente, essa era a solução ideal, mas, quando me levantei para sair, eles me seguiram até a porta e eu poderia jurar que sabiam. A rotina era não me deixarem sair sem uma festa de lambidas, mas dessa vez durou mais. Eles também me deixaram abraçá-los, o que não costumava acontecer. Os Dois Ds sentiam alguma coisa, sem dúvida.

Limpando as lágrimas dos olhos, me recusei a olhar para Jungkook quando voltei ao meu apartamento para esperar meus pais. Também me neguei a olhar pela janela para ver Jungkook e os cachorros atravessando o pátio porque isso me faria chorar de novo. Eu precisava me controlar antes que meus pais chegassem.

                                          * * *

Era um dia nublado, e isso parecia adequado. O fato de estar mais frio também justificava a blusa de gola alta para esconder a marca no pescoço.

Meus pais tinham acabado de chegar. Como Jungkook havia ido buscar o caminhão alugado, eles ainda não o tinham conhecido.

Minha mãe embrulhou um vaso em plástico bolha.

— Você sabe que adoramos ver você, mas por que tudo isso hoje? Este apartamento é lindo. Por que se mudar?

Não contaria a história toda para eles, de jeito nenhum, por isso menti.

— Eu precisava mudar de ares, só isso.

Meu pai riu.

— Quanto esforço só para mudar de ares.

— Eu sei. Obrigado por terem vindo me ajudar.

Minha mãe me encarou.

— Está tudo bem? Não parece.

— Estou bem. Só um pouco cansado, não dormi muito ontem à noite.

Ela tocou meu ombro.

— Ficou nervoso com o filme?

— Talvez um pouco, sim.

— Bem, quando seu amigo chegar, espero que a gente possa acomodar tudo rápido para você deixar isso para trás. Seu pai vai nos levar para jantar para comemorar.

— Que bom. — Sorri.

— Qual é o nome do seu amigo mesmo? — meu pai perguntou.

— Jungkook. Ele é dono do prédio e mora no apartamento ao lado.

— Ah, interessante.

Minha mãe sorriu.

— Falando no diabo — Jungkook comentou ao entrar na sala.

— Peço desculpas pela grosseria do meu marido.

— Sra. Kim, é um prazer conhecê-la. — Ele se virou para o meu pai. — Sr. Kim.

— Pode me chamar de GongYoo.

— Muito bem, senhor.

Jungkook olhou para mim.

— Parei o caminhão lá fora e trouxe alguns carrinhos. Vou ver o que consigo levar de mais pesado sem a ajuda do seu pai.

— Legal. Boa ideia. Obrigado.

— Por nada.

Ele saiu, e minha mãe disse:

— Ele parece legal.

— Ele é. — Continuei fechando as caixas para não ter que olhar para ela.

Meu pai se dirigiu à porta.

— Vou ajudar o Jungkook. Ele não devia estar fazendo tudo sozinho.

Meu pai e Jungkook trabalhavam juntos, enquanto minha mãe e eu fazíamos várias viagens, subindo e descendo pelo elevador com as coisas menores.

Duas horas mais tarde, o caminhão estava carregado e era hora de ir para a minha casa nova.

Meus pais entraram no Subaru deles, e meu pai colocou o novo endereço no GPS.

— Você vem conosco ou vai com o Jungkook?

— Vou no caminhão com ele.

— Certo. — Minha mãe sorriu. — Seu pai quer um café. Vamos parar no caminho para comprar. Quer um?

— Sim, eu adoraria.

— Jungkook?

— Não, obrigado — ele respondeu depressa.

Meus pais partiram, e Jungkook e eu ficamos sozinhos.

— Vamos? — ele perguntou.

— Vou lá em cima só mais uma vez. Não consigo lembrar se verifiquei a pia do banheiro.

Na verdade, só queria ver minha casa pela última vez.

— Tudo bem.

Meus passos ecoavam no piso de madeira. O apartamento podia estar vazio, mas estava repleto de lembranças. Olhei pela janela e vi o mural do Jungkook.

Não percebi que ele tinha me seguido, até ouvir sua voz profunda atrás de mim.

— Tinha esquecido alguma coisa?

— Oi?

— Embaixo da pia.

— Não. — Continuei olhando pela janela.

— Não foi por isso que subiu, foi?

Virei e disse a verdade:

— Queria dar uma última olhada.

Jungkook se aproximou de mim devagar.

— Pode voltar e visitar quando quiser, sabe disso.

— Sei.

Ele estava perto demais e nós só nos olhamos. O silêncio era ensurdecedor. No fundo, eu sabia que nada seria igual depois de hoje. Sentindo seu cheiro familiar e reconfortante, tive a sensação de que realmente saía de casa, e a sensação era ainda mais intensa do que quando deixei a casa dos meus pais.

— Temos que ir — ele sussurrou. — Não quero que seus pais tenham que esperar.

Eu chorava por dentro, mas a verdade era que, àquela altura, todas as minhas lágrimas tinham secado. Eu tinha que calçar os sapatos de adulto e fazer o que precisava ser feito.

— Vamos.

O trajeto foi silencioso. Nenhum de nós falava.

Quando paramos na frente do meu novo prédio, meus pais estavam esperando do lado de fora e bebendo café.

Minha mãe me entregou um copo para viagem.

— Talvez não esteja tão quente quanto você gosta.

Jungkook abriu a porta de trás do caminhão, e meu pai brincou:

— Agora fazemos tudo de novo.

Lembrei que ainda não tinha a chave e disse:

— Preciso ir ao escritório da administração. Já volto.

A mulher no balcão verificou a minha identidade e me deu três chaves em uma corrente.

— Aqui estão as chaves — disse.

— Não é só uma? São cópias?

— Não. O proprietário mandou instalar fechaduras novas na sua porta. Você vai precisar das três chaves, uma para cada fechadura. Esta é da principal, esta é do cadeado, e a última é da fechadura de baixo. 

 — Todos os inquilinos têm três fechaduras? Não me lembro de como era quando vim ver o apartamento.

— Não. Foi uma solicitação especial de alguém.

Isso tinha o dedo do Jungkook.

Quando voltei ao caminhão, balancei o chaveiro.

— Três fechaduras?

Jungkook riu com cara de culpado.

— Quando vim ver o lugar, consegui invadir seu apartamento. Conversei com o proprietário sobre todas as outras violações que notei, nada que ponha você em perigo, só coisas que eu notaria por ser proprietário de um imóvel de aluguel também. Vamos dizer que ele teve o prazer de instalar as fechaduras gratuitamente.

— Você é maluco.

— Não estou mais no apartamento ao lado para ficar de olho em você. Só quero que fique seguro.

Minha mãe interrompeu a conversa:

— O bairro não é seguro? O prédio não parece ser tão bom quanto o do Jungkook.

— É bem seguro — Jungkook respondeu. — Mas com as trancas fica muito mais seguro.

Meu pai tocou o ombro de Jungkook.

— Obrigado pelo cuidado.

— Não foi nada. Vou começar a levar as coisas mais pesadas.

Minha mãe olhou para mim com uma expressão confusa. Ela havia percebido meu humor e começava a suspeitar de alguma coisa em relação a mim e Jungkook. Era evidente que queria conversar comigo, mas provavelmente não teria chance.

Mais duas horas se passaram e finalmente tínhamos levado tudo para dentro. Embora todas as coisas menores estivessem fora do lugar, os móveis estavam todos em seus lugares.

Meu pai juntou as mãos com um estalo.

— Bom, não sei vocês, gente, mas estou morto de fome.

— Vamos sair para jantar, Jungkook. Você vem com a gente? — minha mãe perguntou.

— Só se o Taehyung não se importar. Ele pode querer aproveitar para falar mal de mim por eu ter transformado o apartamento em uma fortaleza militar.

Bati nele de brincadeira e respondi:

— Acho bom você ir.

— Então eu vou.

O jantar no Hooligan’s Family Style Restaurant começou como sempre. Cada um pediu uma salada, pela qual eles eram famosos, e uma entrada. Meu pai e Jungkook pediram uma jarra de cerveja Blue Moon, e minha mãe e eu dividimos uma garrafa de Chardonnay. Eles me ouviram falar dos últimos acontecimentos no Centro da Juventude, e Jungkook contou a história da apresentação na Noite das Artes.

Depois que a garçonete tirou os pratos, meu pai decidiu começar a me interrogar sobre a mudança. Foi quando tudo desandou.

— Tenho que admitir, meu bem, que não fiquei muito impressionado com sua nova casa. Adoro estar com você, mas foi um trabalho danado só para se mudar para um bairro ruim. Se houvesse um motivo legítimo, eu entenderia. Mas não tem, e isso me faz questionar um pouco sua capacidade de julgamento.

Bebi o vinho da taça e olhei para Jungkook.

Ele estava me encarando quando jogou a bomba.

— Ele se mudou por minha causa.

— Qual é a sua? — cochichei.

— Do que está falando? — minha mãe perguntou.

— Não tem nada a ver com o apartamento. Ele se mudou por minha causa.

— Jungkook... — Tentei fazê-lo parar.

— Deixa eu explicar para eles. São seus pais. Eles amam você. E não quero que questionem sua capacidade de julgamento. Não tem nada errado com ele.

Jungkook olhou para meu pai.

— Seu filho é uma das melhores pessoas que já conheci. Ele se tornou um grande amigo e abriu o coração para mim várias vezes. Gosto muito dele, como já deve ter percebido. E quero protegê-lo. E isso significa protegê-lo de mim. Não posso ser o tipo de homem que ele merece ter como parceiro de vida. Foram muitos os momentos em que me esqueci disso porque ele torna esse esquecimento fácil demais para mim. Fiz o possível para não magoar o Taehyung como ele o magoou, mas consegui justamente o contrário. Ele se mudou para se proteger de um sofrimento ainda maior. — E olhou para mim. — Desculpa.

Eu precisava de ar.

— Com licença. — Empurrei a cadeira para trás e corri para o banheiro.

Por alguma razão, a atitude franca de Jungkook diante de meus pais, o pedido de desculpas na frente deles, deu à situação um indesejado caráter de encerramento. Ele nem tentava mais fingir que as coisas eram maravilhosas entre nós, porque não eram.

Era como um rompimento.

Nunca houve o ato sexual no nosso relacionamento, mas minhas emoções fizeram parte da história desde o primeiro dia.

Jungkook me ajudando na mudança.

Aquele discurso.

Eu precisava ver a situação hoje como ela era.

Jungkook estava encerrando a história.

Depois que voltei à mesa, o resto do jantar transcorreu em silêncio.

Quando Jungkook foi embora no caminhão alugado, pedi aos meus pais para não me perguntarem mais nada e garanti que ficaria bem. Eles me abraçaram, se despediram, e eu fiquei sozinho no meu novo apartamento.

Naquela noite, mais tarde, sentado em minha cama e cercado de caixas, recebi um presente indesejado de boas-vindas à nova casa. Um e-mail da última pessoa de quem eu esperava ter notícias.

Taehyung, 

Levei um tempo para decidir se devia mandar este e-mail, principalmente porque não quero te incomodar. Eu precisava contar como foi bom te ver no Bad Boy Burger. Tenho certeza de que você me viu, mas, caso não tenha visto, foi no dia em que você estava beijando um cara com uma tatuagem no antebraço. Eu ia falar com você, mas achei que estava ocupado. Tenho convivido com a culpa desde que terminamos. Ver que você conheceu outra pessoa e segui em frente me deixou muito feliz.

Desejo toda felicidade do mundo.

Elec 

Eu não ia responder. O timing dessa mensagem era equivalente a um soco no estômago.

Desliguei o notebook, fechei os olhos e chorei pela última vez até dormir, jurando que o dia seguinte seria o começo de uma nova fase na minha vida. 

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