Muito mais poderoso do que
simples palavras.
"Lamento, o número que você ligou não está disponível no momento. Deixe seu recado após o Bip."
— Oi, Charles, sei que não vai responder, mas preciso que saiba que os tais dos Whinchester estão aqui, em São Paulo. Sei que vai dizer que é zoeira minha, mas não é. Deixei eles em um hotel. Acho que estão atrás da minha caça.
Um momento de silêncio se passou. A pessoa apertou o telefone na mão com força, cheia de raiva.
— Merda, merda! Mais enxeridos atrás da porra da minha caça! Tenho que pará-los. Essa merda é minha! Essa cidade é minha! — Mais uma pausa. — Só queria que estivesse informado. Enfim, volta logo, ok?
Desligou a chamada e jogou o telefone na cama, encarando o quadro cheio de fotos e folhetos de jornal.
— Essa caçada é minha. Minha!
— Pera aí, tá dizendo que temos que entrar nessa festa?
Sam encarava o irmão como se ele tivesse sete cabeças.
— Você me ouviu. — Dean se sentou na cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos. — Já falamos com várias testemunhas. A festa abre hoje. Temos que ir antes que aconteça de novo.
— Dean, como vamos entrar? — Sam questionou. — Nem temos o ingresso!
— Não, mas eu conheço alguem que pode nos arranjar. — Dean olhou para Sam, arqueando as sobrancelhas. Sam pareceu entender, juntando as sobrancelhas.
— Eu não vou ligar pro Eden. — Se opôs rápido. — Ele me dá medo.
— Tá com medo de um garotinho?
— Dean, tudo que Eden diz, a gente faz. É automático. — Sam pareceu aflito por um momento. — Ele manda, nós obedecemos.
— Qual é, Sammy. — Dean sorriu, desacreditado. — De novo essa história?
— Eu tô falando, Dean. É como se ele tivesse um poder que eu nunca vi antes. Não é como o Andrew Gallagher em Oklahoma, é diferente, mais bruto. — Sam pegou o diário do falecido pai, folheando-o até achar uma página sobre paranormais. — Aqui fala de mediunidade, visões, telecinese, telepatia, controle de animais, mas nada sobre, sei lá, a voz do comando.
— A voz do comando? — Dean questionou, quase que fazendo graça. — Qual é, Sammy. Isso não existe. Essas pessoas foram extintas em mil e oitocentos.
— E se existir, Dean? — Sam arqueou as sobrancelhas. — E se estiverem renascendo? Eden pode ser uma dessas pessoas.
— Ou você pode ser só um bobão com medo de um garoto de dezesseis anos. — Dean, cético, replicou. — Liga logo pro garoto.
Sam suspirou e jogou o diário de lado, pegando o telefone do bolso e procurando o contato de Eden, adicionado há três dias. Chamou-o e colocou o telefone na orelha, esperando os toques passarem. Um arrepio se instaurou em seu corpo ao ter a ligação atendida.
— Alô? Quem ousa me incomodar? — A voz de Eden, em uma língua que Sam identificou como português, atendeu brevemente.
— Uhm, oi, Eden, é o Sam.
— Sammy-boy! — Eden provavelmente estava sorrindo do outro lado da linha. Sam ouviu o som de uma pancada do outro lado da linha, mas antes que pudesse questionar, Eden continuou: — A que devo a satisfação? — Questionou, desta vez em inglês.
— Uhm, você pode me fazer um favor?
— Querem mesmo ir nessa boate? — Eden questionou, encostado no capô do seu carro. Arqueou as sobrancelhas, tirando os cabelos brancos da testa. — Dez pessoas morreram lá.
— O que posso dizer, somos bem curiosos com a cultura. — Dean sorriu ladino, recebendo um olhar frio de Eden. Seu sorriso se desmanchou na hora. — Que... que foi?
— Morte não é minha cultura. Na verdade, é mais a de vocês. — Alfinetou, buscando algo no bolso. Levantou três ingressos em papel. — Olhem, se querem mesmo ir nessa boate mesmo com as mortes recentes, podem ir, não é meu problema. Mas vão estar comigo. Não quero vocês fazendo nenhuma gracinha.
— Você já tinha três ingressos dando sopa assim? — Sam sorriu desacreditado, franzindo o cenho. Eden começava a ser cada vez mais estranho.
O menino deu de ombros. — Alguns amigos e eu compramos na semana passada, mas eles desistiram devido á morte dos caras.
— Entendi. — Dean fez biquinho, concordando.
— Ah, mais uma coisa, caras.
Sam e Dean encararam Eden em antecipação, esperando mais uma regra tosca.
— Desmaiem.
Simples assim, com uma palavra, ambos foram nocauteados, caindo no chão com tudo. Eden suspirou, enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta techwear.
— Colocar eles no carro vai dar um trabalhão... — Resmungou.
— Sammy, acorda.
Sam acordou em um pulo, arregalando os olhos e tentando se levantar, apenas para descobrir que, além de amarrado, estava acorrentado á uma cadeira de ferro. Ao seu lado, Dean se encontrava na mesma situação.
— O que? O que aconteceu? — Sam questionou em disparada. — Onde estamos?
— Na casa do Eden. Ele nos nocauteou. — Dean comentou, irritado. — Sobre a voz do comando, você tava certo. É ele. Ele manda e nós obedecemos.
— Eu sabia. — Sam mordeu o lábio inferior, olhando ao redor. A sala era bem iluminada e grande, tinha um sofá em forma de L no canto, um notebook na mesa de centro, as paredes eram vermelhas e o chão era de piso cerâmico. — Como vamos sair daqui?
— Eu não sei. Aquele merdinha tirou tudo que a gente podia usar. E ele amarra bem, eu odeio admitir, mas amarra. — Dean engoliu em seco.
— Você viu ele? — Sam questionou.
— Ah, meu deus, calem a boca.
Dean e Sam calaram a boca em um instante, obrigados a obedecer as ordens. Pela porta da frente, Eden entrou com sacolas nas mãos, deixando-as no chão aos seus pés. Em suas costas estava uma mochila cheia, e ele estava vestido para uma festa.
— Vocês falam de mais, nossa.
— Eden, deixa a gente ir. — Sam pediu, arqueando as sobrancelhas. — Nós não vamos machucar você, se é o que você tá pensando.
Eden se aproximou com as mãos nos bolsos, rindo. — Cara, sou eu que não vou machucar vocês.
— Solta a gente pra nós termos uma conversa civilizada, Eden. — Dean arqueou as sobrancelhas. — Se é que esse é mesmo o seu nome.
— Nós já estamos conversando perfeitamente com vocês amarrados. — Eden colocou o pé na cadeira entre as pernas de Sam, seu coturno Demonia pesado brilhando sob a luz da lâmpada. — Escutem, meninos, eu não queria ter que fazer isso - amarrar vocês é bem antiquado.
— Eu que o diga. — Dean rolou os olhos.
— Mas, entretanto, todavia — Ele sorri ladino. — Essa caça é minha. Eu tô na cola desses demônios faz meses, e eu não vou deixar que dois gringos enxeridos tomem a minha caça.
— Qual é, podemos trabalhar juntos. — Sam fez seu olhar de cachorro abandonado, na esperança de que Eden cedesse. O menino pareceu ponderar.
— Ah, não. Eu odeio caçar com outras pessoas. — Clicou a língua no céu da boca. Do bolso, pegou os três ingressos e colocou dois encima da mesa de centro, mostrando o último em mãos. — Sei que são bons e que vão se soltar eventualmente, então vou deixar isso aqui. Se não vão caçar, então que aproveitem um pouco a festa, certo?
— Vai mesmo nos deixar presos aqui? — Dean rolou os olhos. — Oh, moleque irritante.
— Olha, vou, vou sim. — Eden sorriu. — Tem feijoada na geladeira e a chave das correntes está junto com os ingressos. Boa sorte, rapazes.
— Pera aí. — Sam sorriu sem jeito, desacreditado com a audácia do menino albino. — Boa sorte pra você também, eu acho.
— Sorte? — Eden riu. — Eu não preciso de sorte. Todos os meus movimentos são friamente calculados, e eu sou ótimo em matemática.
Catou a bolsa sobre o sofá e saiu da casa, trancando a porta logo após. Os Winchester se entreolharam.
— Poderia ser pior. — Disseram juntos.
Enquanto a música alta tocava no local, as luzes piscavam, coloridas, indo pra lá e pra cá. Eden tomava um copo de combo - energético e vodka acompanhado de gelo, um clássico - enquanto observava as pessoas dançando e curtindo a festa. Droga, Eden daria de tudo pra estar curtindo também, mas o trabalho a chamava.
— Ei, gatinha, tudo bem?
Suspirou antes de se virar, vendo um jovem moreno de cabelos cacheados e curtos, que usava óculos e tinha um cigarro entre os dedos indicador e médio da mão direita. Ótimo, um nerd, pensou.
— Eu sou homem.
— Ah, qual é, tem desculpa melhor não? — O jovem rolou os olhos, bufando. — Me dá uma chance, você nem me deixou falar.
— Eu sou homem, cara. — Repetiu mais uma vez, a voz alta, sobressaindo-se sobre a música, um funk aleatório que ele não se dava ao trabalho de se lembrar do nome. O jovem pareceu irritado e agarrou o braço esquerdo de Eden, o qual ele segurava o copo.
— Escuta aqui, porra. — O moreno rangeu os dentes. — Nós vamos agora lá pros fundos e vamos conversar bem direitinho.
— Você acha que manda em alguma coisa? Pois bem, se vire e saia andando sobre as mãos e os pés, imitando um cachorro, e não chegue mais perto de mim.
O jovem pareceu entrar em transe e se virou, se abaixando e saindo andando nas mãos e nos pés, latindo para pessoas aleatórias da festa. Eden riu e bebeu mais um gole de seu combo, rolando os olhos.
— Otário. — Murmurou, olhando por cima do ombro para um trio não muito afastado - dois homens e uma mulher, tinham os olhos completamente negros e conversavam entre si, baixinho, ocasionalmente olhando ao redor. Eden lentamente se virou para a parede, pensando em o quão idiotas eles eram. Não poderiam ser mais discretos (com ironia, obviamente).
Assistiu-os se separarem; a mulher foi em direção á uma das salas VIP no camarim atrás do cubículo do DJ e os outros dois homens foram um para cada lado. Eden viu isso como a hora de agir. Pegou de dentro do casaco a arma e atirou três vezes para cima. As pessoas da festa gritaram e o som abaixou. Em pânico, todos começaram a correr até a saída.
Foram apenas 7 minutos até que a boate estivesse vazia. Eden encarou os 3 demônios, sorrindo.
— Senhores e senhorita. — Cumprimentou, seu sorriso cínico não sumindo em hora alguma. O homem mais alto rangeu os dentes.
— Caçador. Ótimo. — Disse, sarcástico.
— Quero que saibam que eu não sou bonzinho como os outros. — Eden levantou a pistola, mostrando-a aos demônios. — Um tiro pra cada, e estaremos em paz.
— Eden Taylor. — A mulher chamou, se aproximando. — Você é famoso no inferno. Todos querem um pedaço de você, Demônio do Controle.
— Estou lisonjeado! — Eden forçou uma risada tímida. A mulher bufou e fez um movimento com a destra, a arma de Eden escapando de sua mão e voando para longe. — Oh?
— Vamos ver se nos aguenta sem sua arma.
Eden lhe lançou um sorriso.
— Quem disse que eu preciso de uma arma?
— Vocês dois, peguem ele. — A mulher cruzou os braços.
Os dois homens saíram correndo na direção de Eden. O primeiro homem, mais alto, tentou dar um gancho de esquerda no rosto do garoto, depois outro de direita, e mais um, todos devidamente desviados. Eden agarrou seu braço e o torceu com facilidade, e, em um movimento súbito, o quebrou, o som alto dos ossos se partindo ecoando junto de um grunhido alto do homem. Eden trouxe seu rosto para perto de si, sorrindo.
— Querem ver um truque? — Questionou, alto, seus olhos frios encarando os olhos negros do demônio. — Volte para o inferno.
O homem abriu a boca e uma grande fumaça preta deixou seu corpo acompanhada de um grito se mesclando com a música que ainda tocava. Os dois demônios e Eden assistiram a fumaça atravessar o chão e sumir completamente. O garoto largou o corpo desacordado no chão e colocou as mãos na cintura enquanto assistia os dois demônios secarem suas facas.
— Ah, qual é! — Bateu o pé no chão, como uma criança. A mulher arremessou a faca na direção do garoto, atingindo sua jaqueta e o prendendo contra o balcão. Eden tentou se soltar sem rasgar a jaqueta, agarrando o cabo da faca e tentando soltá-la. — Vocês são um pé no saco!
— Fico lisonjeada! — A mulher resmunga, se aproximando junto com o parceiro. O homem acerta um soco no estômago de Eden e outro em seu rosto. Eden pareceu tonto, colocando as mãos no balcão atrás de si para se apoiar. — Você ladra e não morde. Igual qualquer outro caçador por aí. Não entendo o que vêem de especial em você.
— O que vêem de especial em mim? — Eden sorriu, recuperando o fôlego. — É que eu sou difícil de pegar.
Se livrou da jaqueta e pulou, agarrando o pescoço do demônio com as pernas e jogando seu peso para o lado. Ambos caíram no chão, e Eden não perdeu tempo antes de arrancar um soco potente no rosto do homem.
— Quebre seu próprio pescoço e volte para o inferno. — Ordenou, e o homem não tardou antes de agarrar o próprio queixo e quebrar o próprio pescoço, uma fumaça negra deixando sua boca e entrando no chão, deixando um rastro de queimação no piso. O albino se levantou e tirou a poeira das roupas, olhando a mulher com avidez. — Agora somos só eu e você, gracinha.
— Eu vou arrancar a pele dos seus ossos, gracinha. — A mulher retrucou.
Eden gargalhou e levantou a mão, fazendo sinal para que ela parasse.
— O que foi? — A mulher sorriu, seus olhos negros encarando-o com maldade. — Com medo?
— Eu raramente uso isso, mas... Use sua telecinesia. Exploda sua cabeça.
Estalou os dedos, e a cabeça da mulher simplesmente explodiu. Eden deu um pulo para trás, com cara de nojo ao ver o corpo cair no chão e o sangue escorrer como uma catarata.
— Ai, merda! Que nojo!
Passou as costas da destra pelo nariz, limpando um filete de sangue que escorria da narina esquerda. Fungou, e enfiou as mãos nos bolsos.
— Eden!
Eden deu um pulo diante da voz de Dean. Os irmãos se aproximavam correndo, armas nas mãos, em guarda, mas pararam ao ver a cena diante deles.
— Merda, o que aconteceu? — Sam questionou, assustado com a cena. O sangue da mulher estava por todo lugar, um homem estava jogado no chão com o braço retorcido em uma posição assustadora e bizarra e o outro estava com o rosto totalmente virado para as costas.
— Que chacina é essa? — Dean resmungou.
Eden deu de ombros. — É meu trabalho. — Saiu mais como uma pergunta.
— Vamos, garoto, temos muito o que conversar.
hhihihihijij
como sempre, comentem qualquer coisa! uma review, análise, qualquer coisa já me alegra bastante