Honestamente, o que não havia de errado em tudo aquilo? Louis colou chiclete na cruz? Deixou um papel de bala cair no chão da rua e não pegou? Enganou seu cachorro pedinte? Fingiu escutar suas irmãs enquanto não escutava de verdade? Sério, o que tinha feito para merecer aquilo?
Argh! Sinceramente, não havia nada de mais depreciativo do que estudar feito um condenado todo santo dia da semana e ter que suportar aquilo no sábado. Suportar Styles. Aquele troço de cabelos cacheados e esvoaçantes e um sorriso irritante.
Louis queria gritar, socar sua cabeça contra um daqueles pinheiros altos que os rodeavam, se afogar naquele lago enorme, ser picado por mosquitos até a própria morte, se esconder debaixo da grande mesa de madeira até que todos se distraíssem o suficiente para que pudesse fugir.
Mas ele sabia, sabia, que mesmo saindo de fininho, ele o veria e o denunciaria e o humilharia e sua mãe brigaria com Louis de novo pelo seu mal comportamento e infantilidade.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH.
Odiava Styles.
Odiava Styles, odiava aquele lago, aquela porra de floresta cheia de inseto, aquele silêncio ensurdecedor, odiava aquelas reuniões idiotas que não levavam a lugar algum que não fosse mais um fio de cabelo branco em sua cabeça. Pra que precisavam fazer aquilo? Renovar votos? Compartilhar as próprias vidas? Provar que "12 é demais-2" poderia ser real? Todo final de semana, meu Deus?
Parecia a porra de um culto. Que se repetia e repetia para não aborrecer quem quer que fosse que cultuavam, no meio da floresta, na varanda daquela casa enorme que Louis rezava para apodrecer com cupins. Francamente, se qualquer um chegasse ali, no meio de lugar nenhum, e visse um bando de crianças dispirocadas correndo sem parar, comida a dar e vender, todo final de semana, com certeza pensaria ser um culto demoníaco.
Ah! Louis faria de tudo para ser a oferenda, já que o demônio já era Harry.
Seus pais cumprimentavam os Styles com beijinhos e abraços e sorrisinhos, ah!, que família unida! Louis fez uma careta ao ver os sorrisos e cumprimentos empolgados que Lorelai e Sarah trocavam como se não tivessem se visto na semana anterior. Assim como Louise se aproximava timidamente com um abraço simples a oferecer enquanto Lina e Lissa pulavam e falavam muito ao mesmo tempo, Grace e Dylan observavam a confusão com olhos arregalados.
Louis, parado na soleira de uma das portas de vidro da cozinha, tinha a pior expressão que alguém pode ter para visitas, tal qual poderia ser definida como cara de poucos amigos, antipático ou cara de cu — dava no mesmo — Até que ele desceu, seus cachos grandes e volumosos demais sendo atingidos pelo vento, um casaco embolado em uma das mãos, fones pendendo das orelhas, saindo do carro daquele jeito, lerdo, calmo, paciente demais, um semblante fechado ao olhar a floresta ao redor, dando uma volta completa sobre seus pés e parando ao achar Louis.
Ele sorriu, aquele sorriso irritante e publicamente falso, as covinhas sendo a única parte que Louis julgava como "não ruim", sorrindo diretamente para ele, como se fossem amigos há séculos, como se estivessem tão felizes em se ver quanto Sarah e Lorelai estavam. Louis não sorriu. Não moveu um músculo do rosto e, lenta e discretamente, ergueu um dedo do meio, na altura do quadril para que Harry fosse obrigado a descer os olhos.
E, simples assim, guerra estava declarada.
— Eu estive pensando... — Lorelai começou, parando de comer para apoiar o rosto na mão de forma pensativa. — Se a família do outro lado do lago vender a casa deles e nós a comprarmos, o lago passa a ser só nosso?
— Por que quer que o lago seja só nosso? — Louis perguntou, a boca cheia.
— Pare de falar de boca cheia, consigo ver tudo aí dentro, parece uma máquina de lavar. — Harry resmungou, fazendo uma cara de nojo.
— Então para de olhar. — Louis debochou, começando a comer de boca aberta, de propósito.
— Duvido que os Duncans queiram vender aquela casa. — Sarah opinou, uma leve expressão de desgosto no rosto.
— Por que nós compraríamos outra casa? — A mãe de Louis, Jo, perguntou.
— Por que não comprar? É uma casa incrível, tão grande quanto a nossa, sem contar que eles tem mais sombra perto da beira do lago. — Lorelai falou, e um falatório inundou a mesa de almoço.
— Concordo com a Lore, eles têm mais sombra que nós! — Sarah opinou.
— Mas a nossa parte do lago é mais equilibrada, e nós temos um píer. — Louise falou.
— Mas eles têm um pula pula aquático. — Lina falou, sua comida esquecida no prato enquanto trançava o cabelo de Lissa.
— E nós não podemos ter um pula pula aquático porque a nossa beira é muito rasa e o píer atrapalha. — Lissa completou.
— Do que estão falando? — O tio Johnny pareceu repentinamente ofendido. — Eu montei um pula pula aquático no verão passado e ninguém usou-
— Porque estava muito no fundo. — Lorelai, Louise, Sarah, Lisa e Linna disseram, em uníssono, e Louis pensou que aquela era a parte onde leriam palavras em latim para o sacrifício.
— E vocês não sabem nadar? — Louis debochou, mexendo os ombros com indiferença.
— Não. — Harry falou, encarando-o através do sol.
— Me diga: qual é o sentido em ter uma casa no lago e não saber nadar? — Louis começou.
— Não precisa ter sentido. A casa é no lago, mas isso não significa que eu também precise estar no lago. — respondeu, dando de ombros, desviando os olhos de Louis.
— Então não reclame se não puder usar o lago da casa do lago porque não sabe nadar.
— Eu não reclamei.
— Reclamou, sim, indiretamente.
— Ah, e agora você é inteligente o suficiente pra identificar o que é direto e o que é indireto?
— Eu prefiro a nossa casa. — Sarah interrompeu. — Mas seria bom ter o outro lado do lago.
— Eu também prefiro a nossa casa, mas ter o lago todo é bem melhor. — Louise falou, voltando para sua comida e permanecendo calada, como se seu estoque de interações sociais chegasse ao fim.
Todos concordaram com a ideia de que gostavam da própria casa mas a grama do vizinho ainda era mais verdinha.
— Eu prefiro não vir para cá, nunca, mas, como não tenho essa opção, — Louis suspirou, entredentes. — se ter a outra casa significa nunca mais ver a bunda do vizinho pela janela, eu voto sim.
— É só não olhar. — Harry falou, comprimindo os olhos com desgosto para Louis. — Se não olhar, nunca verá bunda nenhuma. Eu gosto da nossa casa e gosto do nosso lado do lago, não faço questão de ter mais.
— Aposto que você olha propositalmente. — Louis provocou, um sorriso sacana no rosto, e Harry calou-se.
— Okay. — Tia Jane se intrometeu. — Não importa quem vota sim ou não, não vamos comprar a casa dos Duncans.
— Mas e se eles quiserem vendê-la?! — Lorelai insistiu.
— Acredite, não vão querer. — Jo e Jane disseram em uníssono.
— Sem contar que eles têm um batalhão pra herdar aquela casa, não é como se fossem abrir mão tão facilmente. — Jo continuou.
— Verdade. — Louis concordou, escutando o vento passando por entre as árvores robustas e despenteando seus cabelos. — Parece uma ninhada de coelhos aquela família, quando você acha que acabou, caem mais sete de cada árvore.
— Acho que eles devem pensar da mesma forma em relação a nós. — Harry falou, levando os braços para trás da cabeça como se estivesse se expondo ao sol.
— Eca, não! Eu não sou seu irmão. — falou, com tanto nojo que a ideia de dividir o mesmo sangue que Harry soava como transmitir uma doença.
— Graças a Deus que não. — Harry murmurou, jogando a cabeça para trás.