Breaking Legacies

By chaenniet

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Em uma terra empobrecida por uma guerra que começou antes de seu nascimento, Rosé sempre sustentou sua mãe e... More

01. Part 1: O Corvo
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14. Part 2: O Dragão
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By chaenniet

Na quietude da manhã fria, eu saboreei o calor do corpo nu ao lado do meu e o peso dos cobertores quentes nos cobria. Jen não apenas ficou na cama comigo a noite toda, mas ela estava enrolada em mim, seu rosto escondido contra o meu peito e seus membros emaranhados com os meus. Eu me aninhei no topo de sua cabeça enquanto pisquei meus olhos abertos, pressionando um beijo nela.

Se o beijo a acordou ou se ela já estava acordada, ela soltou uma gargalhada, passando a mão pelas minhas costas. — Foi assim que imaginei acabar nua com você.

Eu murmurei concordando quando ela inclinou a cabeça para trás para olhar para mim, dizendo: — Nós finalmente fizemos dar certo.

— Vamos fazer dar certo novamente — Ela sussurrou, pressionando um beijo na parte de baixo da minha mandíbula. — E de novo. — Outro beijo. — E de novo.

A próxima vez que ela tentou me beijar, eu abaixei meu queixo, pegando seus lábios com os meus. Eu a beijei lenta e profundamente, tão imediatamente consumida por ela que me afastei apenas o tempo suficiente para dizer: — Você poderia me fazer esquecer que temos uma guerra pela qual lutar.

— Esqueça — Ela insistiu, rolando de costas quando me levantei para deitar em cima dela. — Apenas por mais uma hora.

Não havia nada que eu quisesse mais do que ceder ao seu pedido. Eu me encaixei entre as pernas dela, uma mão alcançando atrás do joelho, guiando-a para embalar a curva do meu quadril enquanto meus lábios caíam no pescoço dela. Ela já estava pressionada contra mim, seu queixo inclinado para incentivar minha boca enquanto suas mãos percorriam minhas costas, e deuses, era tão fácil se perder nela. Após uma ausência tão longa, eu poderia me perder nela por dias.

Eu teria me perdido, mas a voz familiar de Jisoo chamou — Rosé — seguida por uma batida na porta — posso entrar?

Minhas bochechas coraram quando me afastei e encontrei o olhar de Jen - estávamos quase chegando no nosso momento favorito... — Não — Eu respondi. — Eu já vou levantar.

Essa não parecia a resposta que Jisoo esperava, porque houve uma breve pausa antes que sua voz abafada dissesse: — ...tudo bem… — Outra pausa, longa o suficiente para que eu pensasse que ela tinha ido embora para me esperar em outro lugar e comecei a me abaixar novamente no pescoço de Jen. — Você já está de pé? — Jisoo perguntou.

Jen bufou, rindo, jogando a mão sobre a boca para permanecer quieta, e era difícil para mim manter a diversão fora da minha própria voz enquanto respondia: — Ainda não.

— Você está se sentindo bem? — Jisoo questionou e eu respondi afirmativamente enquanto as risadas de Jen a sacudiam embaixo de mim. — Haverá festividades o dia todo — continuou ela, — para que os soldados possam passar tempo com suas famílias antes de marcharmos para a Cornualha. — Ela parou mais uma vez, como se estivesse esperando para ver se isso me tiraria da cama. — Se você alguma vez fará as pazes com Jen, é hoje.

— Eu garanto a você, Jisoo — eu falei, pressionando a palma da mão no rosto de Jen porque a risada dela estava dificultando a minha resposta, — você não precisa se preocupar com isso.

— Não preciso me preocupar? — Jisoo repetiu, parecendo horrorizada. Foi o suficiente para fazê-la abrir a porta e marchar em direção à cama, murmurando para si mesma: — Por Deus, você perdeu... — Ela parou quando avistou Jen e eu, na posição em que estávamos, embaixo das cobertas e congelou no meio do caminho em sua jornada para me tirar da cama. — Ah! — Ela exclamou, uma divertida mistura de choque e alegria em seu rosto. — Ah, deixe para lá! — E ela se virou para fazer uma saída rápida. — Por favor, continuem, desculpa, esqueçam que eu estive aqui, nos falamos depois, adeus.

A porta se fechou atrás dela, deixando Jen e eu sozinhas mais uma vez. Nós olhamos uma para a outra e para onde Jisoo havia desaparecido e depois de volta para nós mesmas enquanto o sorriso de Jen se alargava, e nós duas caímos na gargalhada.

— Bem — Jen riu, — essa é uma boa maneira dela descobrir que resolvemos as coisas.

Eu rolei de cima dela, rindo: — Ela nunca vai me deixar em paz depois disso. — Jen se virou o suficiente para me dar um beijo na bochecha e depois saiu da cama para pegar suas roupas do chão. — Vamos levantar? — Eu perguntei.

Ela assentiu ansiosamente e puxou as calças até os quadris. — Passei os últimos seis meses em cativeiro, como você sabe. Eu poderia aproveitar um bom dia de festividades.

Me sentei, esticando-me do lado da cama em direção ao chão para pegar minha túnica, perguntando enquanto a vestia: — Quem sou eu para manter uma Princesa fora de uma festa?

Já vestida, Jen sentou na cama com um sorriso, se colocando no meu colo. — Não sou uma Princesa — disse ela, e pressionou um beijo persistente nos meus lábios. — Ao final desta guerra, eu serei uma Thaon. — Eu me inclinei para trás para olhá-la em choque, mas meu coração pulou poderosamente e eu pude sentir a intensidade na minha expressão. — Eu não sou uma Gaveston — disse ela com um encolher de ombros, — nem nunca me senti como uma Ironwood, mas ficaria orgulhosa em usar seu sobrenome.

Eu não sabia o que dizer ou o que mais fazer para expressar exatamente o que isso significava para mim, então segurei seu rosto e dei-lhe um beijo longo e profundo.

Ela se afastou lentamente e com um zumbido contente. — Você é capaz de me fazer esquecer que temos festas para ir.

— Tudo bem — Sorri, acenando com a cabeça para ela sair de cima de mim. — Vamos tomar um café da manhã então. Você me deu um apetite feroz.

Ela saiu e esperou que eu terminasse de me vestir e calçar minhas botas antes de me levar pela porta. Atravessamos os salões da montanha até o salão de jantar, onde eu podia ver Jisoo sentada com minha mãe e nossos irmãos. Jen e eu fizemos o nosso caminho através da caverna movimentada, e nos sentamos em frente a Jisoo e os meninos.

— Bom dia — cumprimentei o grupo, beijando minha mãe na bochecha enquanto me abaixava ao lado dela. — Mãe.

Ela sorriu para mim e depois para Jen antes de olhar para mim novamente. Seus lábios se abriram em um sorriso e ela agarrou meu rosto com as duas mãos, dando uma sacudida alegre como se dissesse que estava feliz por minha óbvia reconciliação com Jen. Isso me deixou terrivelmente constrangida e não melhorou quando olhei para Jisoo do outro lado da mesa. Ela estava radiante, olhando para mim e apoiou o cotovelo na mesa e o queixo na mão quando eu a encarei, mostrando os dentes da maneira mais desagradável possível.

— Não precisa se gabar tanto por isso — Eu repreendi, sentindo minhas bochechas aquecerem com um rubor.

— Eu aguentei sua tristeza por cinco meses — Ela brincou. — Eu vou ser tão convencida quanto eu quiser.

A cabeça de Jaehyun levantou de sua tigela de mingau e ele olhou de Jisoo para mim. — Por que Jisoo está sendo convencida?

O sorriso de Jisoo cresceu e ela se inclinou para mais perto de Jaehyun como se fosse contar um segredo a ele, mas respondeu alto o suficiente para ouvirmos: — Eu peguei Rosé e Jen se beijando — Meu rosto ficou vermelho e Jaehyun e Akamar bufaram de tanto rir.

— Se beijando!? — Jaehyun exclamou. — Mãe, eu disse que Rosé gostava dela!

— De fato — minha mãe riu, — você disse.

Akamar estava rindo com a mão sobre a boca, mas ele a abaixou para apontar para nós, rindo: — Elas estavam se beijando.

— Viu o que você começou? — Perguntei a Jisoo com uma encarada falsa, e depois olhei para Jen: — Eu disse que ela nunca me deixaria em paz. — Todas as duas deram sorrisos mais largos.

— Vamos lá, meninos — minha mãe riu, levantando-se da mesa enquanto alguém trazia comida para Jen e eu. — Deixem as meninas comerem em paz.

Jaehyun e Akamar se levantaram, mas antes que Jaehyun se afastasse, ele deu a volta na mesa para mim, piscando esperançosamente seus olhos castanhos.

— Você vem jogar depois?

Eu não tinha dúvida de que ele tinha notado como meu humor tinha melhorado nos últimos dias e ele merecia meu tempo e atenção tanto quanto Jen, especialmente porque estaríamos indo em breve. — Claro — Eu respondi, estendendo a mão para passar os dedos pelos cabelos dele. Então cutuquei o queixo de Akamar, porque ele ficou ao lado de Jaehyun: — Mas não há mais conversa sobre beijos, vocês ouviram? Ou vou me vingar quando algum de vocês tiver uma garota.

Os olhos de Akamar se arregalaram e ele apontou um dedo acusador para Jisoo. — A culpa é dela! — A cabeça de Jaehyun balançou em concordância. 

Jisoo ofegou, fingindo estar ofendida. — Vocês são tudo dedo-duro! — Ela exclamou, tentando conter um sorriso quando saiu da cadeira. — Vocês dois! — Eles gritaram e saíram correndo em direção à saída da caverna, minha mãe correndo para alcançá-los. Jisoo sentou-se, rindo e murmurando para si mesma — Peguei vocês duas fazendo mais do que beijar.

Até Jen estava rindo ao meu lado, e me virei de lado na cadeira para apertar os olhos para ela. — Acha engraçado, não é?

Ela tentou, sem sucesso, tirar o sorriso do rosto e estendeu a mão para beliscar minhas bochechas ainda coradas. — Eu não consigo evitar, você fica tão vermelha.

— Certo, então — provoquei, — devo contar a Jisoo o que você achava de nós? — Os olhos de Jen se arregalaram e ela balançou a cabeça.

— O que ela achou? — Jisoo me perguntou. 

Respirei fundo para responder, mas Jen passou um braço em volta do meu pescoço para cobrir minha boca com as duas mãos. — Ela pensou — eu ri, tentando puxar para o lado para falar. Jen me seguiu e eu tive que afastar suas mãos para dizer: — Ela pensou que você e eu éramos um casal.

Jisoo bufou, começando a rir alto. — Um casal? — Ela repetiu respirando. — Eu? Cortejar esta merdinha atrevida? — Ela ainda estava rindo tanto que bateu com a mão no joelho. — Não nesta encarnação.

Jen resmungou, suas bochechas escuras corando em um raro tom de rosa quando ela deixou cair a testa sobre a mesa. — Não é tão engraçado assim.

— Mas é, — Jisoo gargalhou, respirando fundo para tentar se acalmar. — Ah, querida irmã — ela suspirou, ainda entretida o suficiente para estar sorrindo, — como se alguém pudesse convencer Rosé a lançar um simples olhar na direção de outra mulher. — Ela colocou um pouco de mingau na boca, balançando a cabeça. — Essa foi boa.

Jen levantou a cabeça e revirou os olhos, me dando um cutucão com o ombro. Nós duas puxamos nossas tigelas de comida para mais perto para começar a comer e Jisoo nos deu alguns minutos de silêncio enquanto terminava seu próprio café da manhã. O salão de jantar estava movimentado hoje, provavelmente por conta de todas as supostas festividades que aconteciam - comendo e comemorando, dando aos guerreiros tempo para passar com suas famílias antes de saírem para lutar na Cornualha. 

Era algo pelo qual eu também estava feliz, porque fazia muito tempo desde que eu havia passado horas felizes com minha mãe e irmão. Se eu nunca voltasse dessa batalha, queria que esse dia alegre fosse o que eles se lembrariam, fosse a verdadeira eu que eles se lembrariam. Não a eu que fui nos últimos seis meses.

— Há um torneio de arco e flecha ao meio-dia — Disse Jisoo, afastando a tigela vazia. — O vencedor recebe um novo arco feito especialmente para a ocasião.

— É? — Eu perguntei. — Você vai participar?

Ela assentiu e disse: — Você também — Com os lábios curvados em um sorriso. — Eu tenho que ganhar o arco de forma justa.

— Se você quer ganhar o arco — eu disse a ela, — você não deveria querer que eu competisse. — Dei de ombros facilmente para adicionar à minha provocação. — Além disso, eu gosto do meu arco.

Jisoo fez uma careta para mim, claramente tentando encontrar alguma resposta espirituosa, mas Jen riu e perguntou antes que ela pudesse: — Haverá outros torneios? Com espadas?

— Sim — Respondeu Jisoo, olhos castanhos iluminando com interesse. — Em algumas horas. Você tem experiência com uma espada?

Eu dei um aceno sincero em resposta e Jen me deu um sorriso orgulhoso e agradecido antes de admitir — Já faz algum tempo. O torneio deve ser uma maneira emocionante de reviver meus sentidos.

— Bem, então vamos! — Jisoo disse. — Você pode se aquecer antes da competição e eu adoraria ver o que você pode fazer.

Jen olhou para a tigela quase vazia, empurrou ela para longe e depois olhou para mim, como se perguntasse se eu também iria.

— Eu preciso falar com Kingston primeiro — Eu disse a ela, e ela assentiu em lembrança.

— A respeito? — Jisoo perguntou.

Abri minha boca para responder, mas Jen respondeu: — Sobre encontrar um dragão. — Eu olhei para ela em choque, porque eu não tinha pensado que ela tinha decifrado tão completamente meus pensamentos na noite passada, e ela me deu um sorriso radiante.

— Um dragão? — Jisoo repetiu, os olhos arregalando-se. — Digamos que você pode até encontrar um dragão, o que você fará com ele além de ser comida?

— Amizade, espero — eu disse.

— Com a magia dela — Jen acrescentou.

Com isso, Jisoo parecia um pouco menos cética. Seus olhos foram de mim para Jen e depois de volta para mim com profunda consideração. Ela me olhou por um longo minuto antes de seu queixo cair com um aceno rápido. — Esplêndido! Quando partimos?

Suspirei, sabendo que não havia maneira possível de convencer Jisoo a não vir se ela tivesse decidido sobre isso. Não lhe importaria se fosse perigoso. No máximo, era encorajador. — Amanhã, ao nascer do sol — respondi, — se Kingston concordar.

Jisoo começou a vasculhar o refeitório, sem dúvida procurando por Kingston no meio da multidão. — Ali está ele! — Ela apontou. — Ele acabou de sentar, vamos lá.

Consegui empurrar mais uma colherada de comida antes que ambas me arrastassem do meu assento. Ao chegarem a Kingston, Jen e Jisoo me jogaram no banco entre elas, as duas sorrindo.

— Bom dia, comandante — Jisoo cumprimentou.

Kingston ergueu os olhos da tigela de mingau, os olhos indo e voltando entre nós três. Embora eu me sentisse um pouco calma, ele podia ler claramente a emoção nos rostos de Jen e Jisoo, e ele já parecia exasperado com o pedido que ainda não tínhamos feito - não era nem perto da primeira vez nesses últimos cinco meses que Jisoo e eu, principalmente Jisoo, o pediu algo ultrajante. Ele levantou o dedo indicador para nos fazer esperar enquanto ele engolia algumas colheradas de comida.

— Bom dia — ele disse finalmente, e olhou para mim. — Como você está se sentindo?

— Novinha em folha — respondi.

Seus olhos vagaram para Jen. — A mãe de Rosé explicou sua situação com a magia de Hazlitt. Você está se sentindo bem?

— Muito — Jen respondeu e eu não tinha certeza de quando minha mãe tinha sido informada sobre a situação de Jen, mas deve ter sido quando ela trouxe comida para Jen na noite passada. — É uma grande paz de espírito, minha vontade sendo sempre minha.

— Imagino que seja — concordou Kingston. 

Quando Jisoo abriu a boca com uma respiração excitada, ele levantou o dedo indicador novamente, lentamente dando mais algumas colheradas. Parte de mim imaginou que ele estava fazendo isso apenas para mexer com a gente, e eu não pude deixar de

sorrir quando o calcanhar de Jisoo começou a bater. Depois de mais um minuto, ele abaixou o dedo e colocou a colher de lado, dando-nos toda a atenção. — O que vocês querem?

No mesmo exato momento, Jen e Jisoo responderam: — Queremos encontrar um dragão.

Embora várias pessoas próximas o suficiente para ouvirem se virassem com interesse, não parecia que Kingston sabia como reagir. Parte dele parecia estar incrédula e outra parte parecia tão horrorizada que ele queria rir. — Perdão?

Houve uma longa pausa enquanto Jen e Jisoo esperavam que eu explicasse.

— A Cornualha está do lado de uma montanha — comecei, e ele assentiu. — Eu não posso pular além das muralhas sozinha, mas se eu pudesse controlar um dragão com minha magia, isso poderia levar alguns de nós direto para a porta ou para uma torre onde poderíamos nos infiltrar no castelo e encontrar Hazlitt antes de nossas tropas entrarem pela frente. — Olhei em volta para as várias pessoas que se inclinaram para ouvir, de

repente me preocupei em ter colocado suas esperanças em algo que eu não poderia entregar. — E se pudéssemos terminar a batalha cedo, sem perder mais vidas do que precisamos?

Kingston sacudiu a cabeça, dizendo: — Você estaria enfrentando Hazlitt sem nosso exército. Você estaria sozinha.

— Sozinha não — protestou Jisoo, e pelo canto do olho, pude ver o queixo de Jen descer em concordância. Não era nenhum conforto, no entanto, e eu e Kingston sabíamos disso. Parecia haver muito pouco que Jen ou Jisoo pudessem fazer contra a magia

de Hazlitt. 

— Eu sempre enfrentaria Hazlitt sozinha — Eu disse, apertando os lábios com um sorriso tranquilizador. — Você sabe disso.

— Rosé — Kingston suspirou, — eu não ouvi falar de alguém que sequer viu um dragão em centenas de anos. Onde você pretende procurar?

— Nas profundezas das montanhas das planícies de Amálgama — respondi, e pude ver seu rosto cair com relutância e reconhecimento. — Você me contou a lenda.

— Uma lenda — Ele concordou. — Uma tão velha e talvez alterada que você nem pode ter certeza se existe alguma verdade nisso.

— E se eu dissesse que já vi? — Eu perguntei, de repente ansiosa para fazê-lo acreditar como eu. — Em uma memória evocada pelos mestres da mente. E se eu lhe dissesse que vi provas das origens da minha magia? Que eu olhei nos olhos de um dragão e o toquei com minhas próprias mãos?

Kingston não respondeu imediatamente. Parecia que ele não sabia o que dizer e ele apenas ficou sentado, pressionando as palmas das mãos para colocar as pontas dos dedos contra a boca e olhar para mim. — E se você não encontrar um? — ele perguntou eventualmente, deixando as mãos caírem.

— Então tudo o que perderemos são alguns dias — eu disse a ele. — Estaremos na Cornualha para nos reunir com o resto de vocês.

— E se você encontrar um — ele sugeriu, — e você não poder controlá-lo. Isso pode te matar.

— Não vale a pena o risco? — Eu perguntei. 

— Não sabemos se conseguiremos entrar no castelo, em primeiro lugar, ou que Hazlitt não terá mais centenas de soldados esperando além dos muros para protegê-lo. — Inclinei-me para a frente com a enorme importância e peso dessa missão, uma importância que senti mais profundamente ao falar sobre isso. — Não sei se as tropas dele vão largar as armas no momento em que verem que temos um dragão do nosso lado, mas se eu conseguir alguém para lutar por nós, Kingston, muitos outros rebeldes conseguirão ver suas famílias novamente.

Kingston soltou um suspiro pesado e pensou em tudo o que eu havia dito por mais um minuto. — Vocês duas — ele apontou para Jen e Jisoo, — vocês a acompanharão? — As duas assentiram. — Dê-me sua palavra — ele solicitou, voltando seu foco para mim, — que não importa o resultado, você estará na Cornualha. — Sua testa franziu, implorando. — Nós precisamos de você lá, Kiena.

— Você tem a minha palavra — eu disse. — Eu juro.

— Muito bem — ele concordou, e ouvi murmúrios entre as pessoas que estavam ouvindo. Ele acrescentou em um tom carinhosamente severo: — Vocês três passem o dia com sua família, não deixem de se divertir.

— Sim, comandante — eu disse. — Não deixe de participar das festividades também.

— Sim, Chefe — Ele respondeu com um sorriso provocador. — Podem ir.

Nós três o deixamos para tomar seu café da manhã em paz. Eu sabia que Jisoo estava ansiosa para participar dos torneios, mas eles não começariam logo cedo e eu prometi a Jaehyun que passaria um tempo com ele e Akamar. Então, saímos das cavernas para a campina do lado de fora, onde muitos habitantes da montanha já haviam montado uma abundância de jogos. Demorou um pouco para localizarmos nossos irmãos e minha mãe, mas eventualmente os encontramos. Eles estavam jogando um jogo de ferraduras contra dois rebeldes crescidos e, apesar de nossos irmãos serem muito mais jovens e muito menores, as pontuações estavam realmente muito próximas.

Vendo que eles ficariam ocupados pelos próximos minutos, eu disse a Jen que voltaria e deixei ela e Jisoo com minha mãe enquanto eu me dirigia para a beira da campina. Como havia tantas pessoas por perto, eu andei pelo bosque, a uma boa distância do barulho para que a loba não se intimidasse.

Depois que senti que estava em um lugar seguro, soltei um assobio estridente e esperei um minuto para que ela me encontrasse. Ela caminhou em minha direção, já cheirando o ar em busca de comida.

— Desculpe — pedi perdão, agachando-me e estendendo as mãos vazias, — não trouxe nada para você hoje. — Quer ela se importasse ou não, ela parou na minha frente, sentando-se em suas patas traseiras e me olhando com seu bom olho. — Nós estamos indo para a guerra — eu disse a ela, — eu vou embora amanhã — E sua cabeça inclinou um pouco. — Você não precisa vir — acrescentei, baixinho, — não sei o porquê você ficou tanto tempo. — Estendi minha mão, agradecida por ela me deixar coçar seu pescoço. — O que eu fiz para ganhar sua lealdade todos esses meses, hein? — Meus dedos levantaram para acariciar sua orelha perdida. — O que uma coisa selvagem como você está fazendo me seguindo por aí?

Em resposta à minha pergunta em voz alta, o lobo se esticou para frente, tocando a ponta do focinho no pingente de dragão atrás da minha túnica. No começo, pensei que talvez a magia fosse o motivo de ela ficar por aqui, mas nunca a controlei. Ela sempre parecia mais do que satisfeita em seguir minhas instruções, apesar de se recusar a ser domada.

— Se eu não soubesse mais — eu disse com um bufo divertido, — eu acharia que os deuses enviaram você para me salvar naquele dia na floresta.

E com isso, pela primeira vez desde que eu a conheci, ela fez algo para mostrar apego. Ela inclinou a cabeça, pressionando o topo dela no meu peito, e ela permaneceu, de forma gentil. Era o tipo de carinho que um cachorro daria quando sabia que você mais precisava, e fazia tanto tempo desde que eu sentia esse tipo de carinho e devoção por um animal que eu não pude evitar. Meus olhos se encheram de lágrimas. Coloquei minha mão na parte de trás da cabeça dela, acariciando a parte de trás do pescoço dela para retornar o gesto.

— Você pare com isso — Eu disse depois de um momento de carinho, aspirando a umidade e agarrando a cabeça dela em minhas mãos. — Ou eu vou achar que você está começando a gostar de mim. — Ela soltou um rosnado baixo quando seu lábio superior se curvou e se afastou das minhas mãos. — Assim está melhor — eu ri, e me arrisquei a acariciá-la novamente, apesar do rosnado. — Partimos de manhã cedo. — Ela bufou um reconhecimento, pressionando contra a minha mão por apenas um momento antes de se virar para começar a se retirar para a floresta. — Até amanhã, Assombração.

Depois que ela desapareceu no bosque, voltei para onde havia deixado minha família. Jen e Jisoo estavam conversando com minha mãe quando voltei e as três estavam rindo de alguma coisa. Isso me deixou imediatamente cética, especialmente porque, quando os alcancei, Jen jogou os braços em volta do meu pescoço em um abraço carinhoso.

— Eu quero saber do que vocês estão rindo? — Eu perguntei.

Jen me soltou, dizendo enquanto se afastava: — Sua mãe estava nos contando sobre o dia em que percebeu que você gostava de mulheres.

Meu rosto ardia de vergonha quando olhei para minha mãe. — Eu mal saí por cinco minutos — reclamei, — e você tinha que vir e contar a elas essa história?

— Sete anos de idade — Jisoo riu, — e segurando as mãos das mulheres aleatórias na cidade. Você devia se envergonhar.

— O que você disse a ela? — Jen solicitou, bochechas inchadas com um sorriso. — A primeira.

— Você quer dizer que ela não contou? — Eu perguntei com uma careta, apontando para minha mãe.

— Eu estava prestes a contar — Minha mãe respondeu. — Continue, conte a elas o que você disse.

— Mãe — , eu reclamei, mas as três simplesmente piscaram para mim com expectativa. Então eu suspirei e murmurei na esperança de que eles não ouvissem: — “Eu gostaria mais da minha casa com alguém tão bonita quanto você por perto.”

Jen riu enquanto Jisoo perguntou: — E o que ela disse?

Meus ombros caíram. — Ela riu e disse para eu ir encontrá-la quando eu tivesse idade suficiente.

Elas trocaram olhares curiosos para minha mãe, que gargalhou: — Ela era uma garota que trabalhava na taberna! — Jen e Jisoo caíram na gargalhada e, por causa das minhas queixas sobre elas serem insuportáveis, minha mãe segurou meu rosto, dando um tapinha brincalhão. — Você tinha bom gosto, mesmo que não pudesse pagar pela companhia dela — ela riu. — Ela era bonita.

Tendo terminado o jogo com os rebeldes, Jaehyun e Akamar correram até nós. — Jaehyun — indaguei, ainda corando enquanto me ajoelhava e fazia sinal para ele subir nas minhas costas. — Diga às mulheres o que acontece quando elas me provocam.

Jaehyun olhou de mim para eles enquanto eu me levantava e apontou em repreensão: — Ela vai te dar de comer a loba!

— Ah — Jiso falou com remorso fingido.

— Desculpe — Jen concordou.

Eu estreitei os olhos, murmurando em descrença enquanto considerava seu pedido de desculpas, mesmo que eu não pudesse evitar sorrir. — Tudo bem — eu concedi, olhando para Jen enquanto batia meu dedo na minha bochecha, — bem aqui e tudo está perdoado.

Ela deu um beijo na minha bochecha, e Jaehyun imediatamente se inclinou sobre o meu ombro e bateu no mesmo local do rosto dele, dizendo com um sorriso na voz: — Bem aqui.

— Assombração! — Eu gritei antes que ele pudesse receber seu próprio beijo, puxando-o para os meus braços. —Onde está a loba?

— Não! — Ele gritou com uma risadinha. — Mãe!

— Desculpe, cordeirinho — minha mãe riu, — você mereceu essa.

Antes que Jaehyun pudesse se desvencilhar do meu aperto, outro peso mais leve agarrou uma das minhas pernas. — Eu vou resgatar você, Jaehyun! — Akamar gritou, virando de um lado para o outro para tentar me desequilibrar.

Ele era pequeno demais para fazer muita diferença, então dei um grande passo, lutando para segurar Jaehyun em meus braços enquanto arrastava Akamar junto com minha perna. Eu fazia barulhos de grunhidos a cada passo apenas para entrar na brincadeira e fazer Akamar sentir que ele estava ajudando, mas realmente estava me tirando o fôlego enquanto eu lutava contra a contorção de Jaehyun e arrastava Akamar ao mesmo tempo que ria. Consegui dar alguns passos antes de Jaehyun gritar: — Você nunca vai me levar vivo! — E cutucou os dedos nas minhas costelas. 

Não sei se doeu ou fez mais cócegas, mas me afastei ao mesmo tempo em que um dos pés de Akamar estava preso entre os meus. Ele me fez tropeçar e soltei um grito quando perdi o equilíbrio e caí no chão. Eu bati na terra de costas e com todo o peso extra de Jaehyun em cima de mim, mas nem ele nem Akamar cederam. Akamar levantou-se e agarrou meu braço, puxando-o para o lado enquanto Jaehyun estava sentado em cima do meu tronco, continuando a cutucar minhas costelas.

— Está certo! — Eu ofeguei, rolando o máximo que pude para tentar tirar Jaehyun de cima de mim. — Está certo! Você me pegou! 

— Quem vai virar comida de lobo? — Jaehyun perguntou, apontando para mim em ameaça.

— Não vai ser o Jaehyun — Eu me rendi.

— E? — Ele perguntou com expectativa. Olhei de soslaio para Akamar. — Nem o Akamar.

Akamar soltou meu braço para colocar os punhos nos quadris e perguntar: — E quem mais?

Eu ri, respondendo: — Nem a mãe, nem a Jisoo e nem a Jen.

— Bem… — Jaehyun considerou.

Akamar murmurou: — Ela poderia comer a Jisoo.

Os dois começaram a rir quando viram a carranca no rosto de Jisoo. Isto é, até que ela disse: — Sem mais pão doce roubado para vocês dois. — Então eles se jogaram em seus pés para implorar dramaticamente.

Eu ri quando me levantei e sacudi a sujeira. — Vamos ver os torneios?

— Quem vai competir? — Jaehyun perguntou, me virando para dar um tapinha nas minhas costas e indicar que ele queria uma carona. Eu me agachei o suficiente para ele pular e respondi quando todos começamos a ir para as cavernas, — Jen e Jisoo.

Jaehyun olhou para Jen, que estava andando ao meu lado. — Você também é arqueira?

Jen balançou a cabeça. — Eu participarei dos torneios de espadas.

Jaehyun respirou fundo, seus olhos se arregalando. — Vai? Você é habilidosa? Há quanto tempo você pratica? Você pode me ensinar?

Os lábios de Jen se curvaram e ela respondeu da maneira mais rápida que Jaehyun havia perguntado: — Não sou ruim, pratico há anos e adoraria ensiná-lo quando o lazer permitir.

Ele sempre quis que Jackson o ensinasse a usar uma espada, mas Jackson nunca teve tempo por causa de seu dever como cavaleiro. Eu mesma teria lhe ensinado se fosse boa, mas não era, e ele era jovem demais para participar do treinamento dos soldados ainda. Agora ele estava tão feliz com o fato de que

Jen finalmente o ensinaria que ele pulou e se remexeu nas minhas costas todo o caminho até os campos de treinamento. Já havia pessoas se aquecendo quando chegamos lá, praticando com espadas, arcos e outras armas. 

Depois de um tempo, todo mundo foi retirado do meio da enorme caverna para que os torneios de espadas pudessem começar.

Havia vários círculos criados no chão com corda, nos quais os competidores lutavam com armas de treinamento. Jen foi uma das primeiras e ter vencido essa rodada significava que ela passou para a próxima. Passamos a maior parte do dia assistindo Jen se virar no torneio e depois Jisoo fazendo o mesmo no arco e flecha, quando os torneios se alternavam. Embora nossos irmãos, minha mãe e eu estivéssemos apenas assistindo, ainda estávamos nos divertindo muito assistindo e torcendo, fazendo nossa própria competição de prever vencedores quando não era a vez de Jen ou Jisoo. No final, enquanto Jen conquistou o terceiro lugar entre os espadachins, Jisoo ganhou em primeiro lugar e conseguiu o arco que tanto queria.

Já era tarde da noite quando tudo terminou e o jantar estava sendo servido, apesar de todas as mesas da caverna de jantar terem sido empurradas para um lado. O outro lado estava vazio e música animada já enchia a caverna, ecoando nas paredes de tal maneira que você podia senti-la em sua alma.

Muitos que terminaram de comer já estavam dançando, outros estavam bebendo e rindo, comemorando e aproveitando seu tempo com os entes queridos antes de irem para a guerra. Era a primeira vez em seis meses que me sentia realmente à vontade, pelo menos quando não pensava nos dias que viriam pela frente. Eu brinquei com minha família enquanto comíamos e bebi cerveja suficiente para sentir o calor em minhas veias. Até comi tanta comida que, quando terminamos e Jaehyun queria dançar, precisei de alguns minutos para superar a lentidão de uma barriga cheia.

Eu sentei lá, enquanto ele e Akamar arrastavam Jisoo e minha mãe para a multidão de dançarinos, com Jen inclinada confortavelmente contra o meu lado. Nós os observamos por alguns minutos antes que um rosto familiar bloqueasse nossa visão.

— Rosé — Lisa cumprimentou com um breve sorriso, imediatamente olhando para Jen. — Você é Jen — disse ela, agarrando a saia do vestido para fazer uma reverência - um tipo de movimento estranho para ela, aparentemente, provavelmente por causa da falta de sinais físicos de respeito da cultura de Ronan. — É um prazer finalmente conhecê-la.

Jen se levantou e, embora ela não estivesse usando um vestido, ela imitou o movimento para refletir o gesto formal. — E você é… — ela concordou, sua voz sumindo para deixar espaço para a introdução.

— Lisa — Lisa forneceu.

— Prazer em conhecê-la — Jen disse com um sorriso amigável, convidativo o suficiente para livrar a rigidez de Lisa e ela fez um gesto ao seu lado enquanto se sentava. — Você se juntará a nós?

— Por um minuto, obrigada — Lisa concordou, sentando ao lado dela. — Eu assisti alguns torneios hoje, você foi esplêndida.

— Você é muito gentil — Jen disse, e acrescentou com uma risada, — embora eu acredite que seja eu e não a espada que está enferrujada.

Lisa riu, seus lábios puxando para o tipo genuíno de sorriso que a amizade de Jen tão facilmente trouxe. — Eu não teria notado — ela elogiou, — invejo sua habilidade.

— Você é uma guerreira? — Jen perguntou.

— Não — Respondeu Lisa, virando-se mais para olhar para mim. — Para ser sincera, é por isso que eu vim. Eu tenho um pedido... — Estudei a expressão em seu rosto, como ela parecia mais relutante em fazer seu pedido agora do que quando ela me disse que queria aprender com o ferreiro. Quando fiquei em silêncio para deixá-la falar, ela disse: — Ouvi rumores sobre você ir procurar um dragão.

Endireitei-me da minha posição relaxada. Ela não estava realmente prestes a perguntar o que eu pensei que ela estava ... — Lisa — Protestei.

Ela não deixou que isso a impedisse de dizer: — Eu quero ajudar.

Mas ela não era uma lutadora. Ela passou a maior parte de sua vida com uma facção de magos pacíficos, nunca aprendendo a lutar ou a usar uma arma. — Sua magia é limitada a- 

— Autodefesa, eu sei — ela interrompeu prontamente, — mas isso não significa que eu não possa ser útil. Veja quanto eu já te ajudei.

Foi o quanto ela já ajudou, o quão gentil e quão boa amiga ela era comigo que me deixou tão relutante. Isso era perigoso, especialmente para alguém que não tinha sido treinado em batalha, e isso me deixava com medo por ela.

— Isso foram os mestres — eu respondi sem pensar, porque eles foram os únicos a me familiarizar com a minha magia, mas me arrependi no momento em que seus olhos se estreitaram, ofendidos. Ela parecia tão magoada com esse desrespeito por seu apoio que nem sabia o que dizer, então ficou sentada, oscilando entre sua determinação em ajudar e o desejo óbvio de ir embora. — Sinto muito — eu disse imediatamente, suspirando enquanto me inclinava para colocar os cotovelos nos joelhos.

Houve alguns momentos de silêncio antes de Lisa murmurar: — Isso foi injusto.

— Eu sei. — Sentei-me novamente, girando no meu assento para que ela pudesse ver as desculpas no meu rosto. — Eu sinto muito. Você tem sido uma ajuda incrível e uma amiga melhor do que eu mereço. Mas essa é a raiz do meu medo, Lisa. Não estou preocupada com sua utilidade para mim. Estou preocupada com a sua segurança.

— Como eu me preocupo com a sua — respondeu ela, — e da Jen e Jisoo. — Sua testa franziu com desespero. — Como eu me preocupo com todas as pessoas que vão lutar na Cornualha, ou todas as pessoas aqui cujas vidas foram arruinadas por esta guerra. Toda pessoa que foi expulsa da sua casa ou perdeu alguém que amava. Eu nunca consegui ser aprendiz com o ferreiro. Não fiz nada por essa rebelião, mas preciso. Enquanto eu ainda tenho a chance. Por favor, deixe-me retribuir.

Tudo o que eu podia fazer era olhar para ela, indecisa. Já era bastante estresse que Jen e Jisoo estavam me acompanhando. Só porque eu as deixei prontamente me acompanhar não significava que não estava preocupada com elas, mas pelo menos elas podiam se proteger e atacar se precisassem. Elas poderiam lutar. Se algo acontecesse com Lisa... eu não poderia perder nem mais uma pessoa que me importava nessa guerra. Eu simplesmente não

conseguia.

Antes que eu pudesse me decidir, a mão de Jen pousou na minha coxa. Ela encontrou meu olhar, ofereceu um pequeno sorriso e disse: — Talvez ela não seja tão indefesa quanto você pensa que ela é.

Senti meu rosto amolecer com o reconhecimento quando essas palavras se afundaram. Aprendi muito rapidamente a não subestimar Jen e aprendi a mesma lição quando Jisoo me pediu para torná-la arqueira. Era possível que eu estivesse cometendo o mesmo erro com Lisa? Afinal, ela não sabia

melhor do que era capaz? Com o que ela poderia se proteger ou com o que poderia contribuir? Por mais que eu quisesse que ela estivesse segura - especialmente agora que estávamos tão perto do fim desta guerra - essa não era minha escolha.

— Você me promete que isso não é um capricho? — Eu perguntei a Lisa. — Que você conhece os perigos do que estamos fazendo?

— Você tem a minha palavra — Disse ela. — Eu dou conta disso. Minha magia pode estar limitada à autodefesa, mas é o suficiente.

Eu balancei a cabeça em consentimento, um pouco confortada por sua confiança. — Partimos ao amanhecer.

— Obrigada! — Ela quase vibrou de emoção, mas eu pude ver pela luz esperançosa em seus olhos que era mais do que aventura. Ela estava feliz por estar fazendo algo pelas pessoas nesta montanha que eram como ela. — Obrigada.

— Agora é a hora da celebração — disse Jen. — Você vai dançar?

— Eu vou — respondeu Lisa, seu queixo inclinando-se timidamente. — Na verdade, uma pessoa está guardando uma dança para mim.

Ela jogou um gesto muito breve atrás dela para que pudesse ser específico, mas eu sabia quem era a rebelde. Era uma mulher modestamente atraente, com cabelos longos e habilidade em batalha desenvolvida, e quando ela viu Jen e eu inclinando-se para olhar, ela deu uma saudação em nossa direção. Eu direcionei meu sorriso para Lisa e ela retornou o sorriso com um rubor colorindo suas bochechas.

— Vá — eu ri. — Consiga mais do que uma dança. Não nos deixe te atrapalhar por mais tempo.

Lisa levantou-se e agarrou uma de nossas mãos, dando-lhes um aperto alegre e agradecido. — Vejo você de manhã.

Quando ela se foi, eu virei minha alegria para Jen. — Você está pronta para dançar também, Coisinha Pequena?

— Você está voluntariamente se oferecendo? — Ela brincou. — Eu nunca pensei que veria esse dia.

— Eu quero que você saiba — comecei com uma falsa ofensa, levantando e oferecendo minha mão, — que gosto bastante de pessoas com as quais estou familiarizada e sem a pressão de impressionar membros da nobreza.

Ela pegou minha mão e levantou-se da cadeira, os lábios puxando um sorriso divertido. — Bem, então, por nunca ter aprendido danças folclóricas no castelo, você terá que me mostrar os passos.

Eu assenti, feliz por ela não parecer tão insegura por não conhecer as coisas quanto eu em Ronan. Ela me seguiu na multidão, para onde nossa família ainda estava se divertindo. Com a combinação da cerveja que eu bebi e minha alegria de estar com Jen e de ver minha família tão feliz, senti um profundo contentamento que não havia experimentado há muito tempo, e só cresceu. Toda vez que Jen errava um dos passos animados e rápidos e ria de si mesma. Toda vez que nossos irmãos nos separavam, a fim de obter alguma atenção para eles. Quando Jisoo se juntou à Jen para adaptar uma dança Ronan à música e alguns dos refugiados Ronan se juntaram. Mesmo quando Jaehyun me arrastou até ele para que pudéssemos executar os passos que criamos para nos divertir em um inverno lento tantos anos atrás. 

Havia energia, alegria e diversão, coisas que haviam sido uma coisa rara nos últimos meses para todos aqui. Coisas que tinham sido raras para mim e certamente para Jen, e eu não sabia o quanto precisava disso até dançar e rir tanto a ponto de sentir sede. Eu me afastei para pegar uma caneca de água e me encostei na parede enquanto me reabastecia, aproveitando a oportunidade para assistir. Só que, vendo o quão feliz minha família estava dava uma visão tão diferente e satisfatória que, mesmo depois de terminar de beber, não consegui me juntar a eles.

Jaehyun e minha mãe pareciam mais saudáveis do que eu já os tinha visto, Jen parecia mais feliz, Jisoo e Akamar pareciam mais contentes do que nos últimos cinco meses. Eu queria noites como essas com mais frequência. Queria que houvessem dias em que todos sorrissem sem parar e dançassem

tão incansavelmente. Queria que a guerra terminasse para que pudéssemos parar de nos preocupar com segurança, comida ou se esconder, para que pudéssemos voltar para casa e ser uma família confortável novamente, e assim Jen pudesse fazer parte disso. Mas tínhamos que terminar essa guerra primeiro e eu tinha que garantir que todos nós estivéssemos por perto quando terminássemos. Apesar do calor e satisfação em minhas veias, senti essa preocupação nas profundezas da minha alma, com uma severidade que se enraizava mais a cada segundo que observava.

Depois de mais alguns minutos de pé lá, minha mãe veio em minha direção, ofegando por dançar e pegando minha caneca para beber o que restava nela.

— Eu conheço esse olhar — Disse ela, a emoção desaparecendo de seu rosto enquanto se enchia de preocupação. — É o olhar de uma jovem que não conseguiu caçar pro jantar e que sempre achou que era culpa dela quando não tínhamos comida para comer.

Inspirei de maneira profunda e preocupante e soltei um suspiro pesado enquanto pensava em como articular a preocupação dos meus pensamentos.

— Vamos partir amanhã. Quase todos os lutadores da montanha e das aldeias vizinhas partirão para lutar na Cornualha. — Fiz uma pausa e minha mãe murmurou em reconhecimento. — Hazlitt é um homem cruel e vingativo, e não confio que ele não mandaria soldados para atacar a montanha enquanto ela estivesse desprotegida apenas para machucar Jen ou eu. — Jen disse que nunca havia contado a Hazlitt onde estavam as cavernas, mas isso não significava que ele era incapaz de saber ou descobrir. — Se ele fizesse isso, não tenho dúvida de que você, Jaehyun e Akamar seriam os únicos alvos, e todos os rebeldes que ficassem para trás estariam despreparados demais para o pior da batalha. Pode muito bem não haver guerreiros aqui para protegê-los. — Olhei para meu irmão e Akamar e, apesar de não querer arriscar minha família, ainda não tinha certeza de que o que eu estava pensando estava certo. Se era a melhor coisa a fazer, ou se realmente me traria conforto. — Nenhum, exceto um.

Eu pude sentir o momento em que ela percebeu, mas não havia nenhum medo ou relutância que eu esperava ver em seu rosto. — Jackson.

— É tolice? — Eu perguntei. — Eu nem sei se confio nele, mas ele será o melhor lutador restante, o único capaz de tirar você daqui e mantê-la segura até que isso realmente termine. — Eu olhei para ela, minha testa franzida por minha própria relutância e desconforto com a ideia. — Diga-me que você está desconfortável com isso. Diga-me que você não confia nele e eu vou tirar isso da minha cabeça. — Eu balancei minha cabeça em descrença e então suspirei quando fechei os olhos e encostei a cabeça na parede,

murmurando: — Deuses, o que estou pensando?

Minha mãe colocou uma mão reconfortante no meu ombro. — Você está pensando que tem tão pouca fé em Hazlitt, que ficar no conforto dessas cavernas é um risco maior do que sair daqui com Jackson.

— Mas é? — Eu perguntei com uma respiração estressada. — Ou estou sendo paranoica?

— Você nunca foi de se arriscar — disse minha mãe. — Especialmente quando Jaehyun e eu estamos envolvidos.

— E o que você acha? — Eu perguntei.

— Eu acho... — Disse ela, parando por um longo momento para considerar. — Acho que Jackson falhou com você no inverno passado e que ele a machucou de maneiras que você talvez nunca esqueça. Mas também acho que há uma parte de você que se lembra de uma época antes dele falhar, e que sabe que ele sempre fez o que pôde para ajudá-la a cuidar de mim e Jaehyun.

Isso era o mais difícil nisso. Eu disse que não deixaria Jackson livre novamente e eu não estava nem perto de estar pronta para perdoá-lo por tudo o que ele havia feito - apenas o próprio pensamento em relação a ele causava uma forte dor no meu peito. Também não queria que ele confundisse a pouca fé que eu tinha com perdão. Mas eu tinha alguma fé. Pelo menos, eu tinha fé em suas habilidades para protegê-los, e por sua culpa ser severa o suficiente, ele faria tudo o que podia para não falhar nisso. Talvez isso fosse o suficiente.

— Você iria com ele? — Eu perguntei. — Se ele concordasse.

Ela assentiu. — Eu iria.

Era isso então. — Obrigada — eu disse, inclinando-me o suficiente para beijar sua bochecha. Eu dei o melhor sorriso que pude e disse a ela: — Continue se divertindo. Eu amo ver todos vocês tão felizes.

Ela passou os braços em volta de mim, me dando um abraço longo e apertado. — Tem sido um peso a menos no meu coração vê-la feliz também.

— Voltarei em breve — eu disse quando ela me soltou e, com seu aceno de consentimento, comecei a sair da caverna. Eu só percorri uma curta distância antes de uma mão familiar agarrar a minha, e me virei para encontrar o olhar de Jen. — Vou ver Jackson — expliquei. — Você não precisa vir.

Seus olhos caíram quando ela considerou para onde eu estava indo, e se ela queria ou não me acompanhar. — Eu preciso sim.

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