Shibuya, Japão - 19 de agosto de 2007.
Wakasa entrou na casa de Takemichi por volta das sete da manhã, estava cansado depois de todos as emoções do dia anterior, além de que visitou todos os imóveis que pertenciam a Takemichi – exceto pela mansão atualmente ocupada, o que não eram poucos, mas nenhum em Tóquio foi de seu agrado. E se ele não gostava duvidava que Takemichi iria gostar. Não querendo se gabar, mas nem mesmo Shinichiro conhecia o Hanagaki tanto quanto ele.
— Só mais um pedaço Genko, não fique agindo como uma criança — A voz de Takeomi chegou a Wakasa quando terminou de subir as escadas, a porta do quarto do Hanagaki entreaberta.
— Eu não sinto fome — A voz foi baixa e o bicolor teve que se aproximar bem para escutar.
— Sua última refeição foi o almoço na sexta Genko. É sete da manhã de domingo — Benkei estava com a voz muito amena, Wakasa estranharia se não soubesse da situação.
— Se você não vai contar ao Shin e não quer falar com Waka então terá que engolir tudo isso. Se ficar sem comer sua dieta vai pelo ralo e você mais do que ninguém sabe o quanto isso vai influenciar no seu corpo e mente — Takeomi estava com o braço estendido, a comida nos hashis oferecendo para Takemichi que ainda hesitava — Genko, eu não quero te forçar a nada. Mas você sabe que não tem para onde correr. Eu não conseguirei fazer isso, não fui treinado. Ou você deixa na mão de quem foi ou você continuará sendo nosso chefe.
— Não é que eu não queira falar com o Wamai, só não quero falar sobre isso. Ele ainda é meu... Amigo. Meu melhor amigo como o Shiro. Independente do que Manjiro fez, ele ainda é meu Shiro. E independente do que eu sinto Wamai também é meu melhor amigo. Só... — Takemichi suspirou, o silencio se estendendo pelo mais novo ter aceitado a comida que lhe era dada a boca — Só preciso enfiar na minha cabeça que é isso afinal.
— Pela quinta vez Genko, Waka não entregou as chaves para o Mikey — Takeomi repreendeu.
— Eu entendi Tami. Mas ele não está errado em uma coisa, eu acho que o Wamai não me ama, não desse jeito. Mas eu não tenho direito algum de falar algo quando me aproveitei da situação.
— Genko...
— Está tudo bem Keikei. Eu queria ficar com ele e ele queria ficar com alguém. Agora eu o entendo nunca querer conversar. Não vou dizer que não dói, mas também sabia que algo assim poderia acontecer.
— Genko...
— De qualquer modo eu não mereço o Wamai. Não merecia antes e agora muito menos. Ele sempre foi incrível, não devia ficar com alguém sujo — Takemichi olhou para o pulso marcado, começando a esfregá-lo com força.
— Genko...
— Mas amar é deixar, então não importa. Sempre estive preparado para isso — Takemichi interrompeu Benkei novamente, já arranhando o pulso em vez de apenas esfregar — Nunca esperei que fosse retribuído de qualquer forma. Não tinha motivos para isso antes, agora menos ainda. Não depois do que aconteceu.
— Genko? — foi a vez de Takeomi chamar, receoso como olhar de Takemichi que passou de tristeza a raiva, os pulsos começaram a sangrar, Benkei se aproximou e segurou suas mãos.
Alguma coisa lhes dizia que essa raiva poderia ser mais perigosa do que os olhos sem vida, já que mesmo com toda aquela aura pesada Takemichi sempre estava no controle. Se ele se perdesse em raiva talvez nem Wakasa pudesse o parar. Por sorte o olhar do moreno se tranquilizou, assim como toda sua expressão.
— Tudo bem. Manjiro receberá o que merece quando for a hora e Wamai não precisa ser minha rainha, foram as duas conclusões do momento — Takemichi fechou os olhos e sorriu, puxando os pulsos de Benkei.
— Você poderia me escutar um momento? O Waka quer... — Takeomi fechou os olhos com força quando sentiu a mão em seu ombro que não era de Benkei — Que porra que ninguém me deixa falar?!
— Talvez seja eu que tenha que dizer a ele, por isso — Wakasa tirou a mão do amigo — Podem ir descansar.
—Já terminou o que ia fazer? — Benkei olhou esperançoso, talvez já pudesse ir atras do responsável pela situação.
— Nem perto, mas primeiro preciso que me deixem com Genko e depois conversamos — Wakasa pediu, Takemichi até abriu a boca para negar a ideia, mas sabia que hora ou outra precisaria ter essa conversa considerando que havia escrito algumas cartas e o que havia falado. Já estava se sentindo mal, então por que se recuperar antes de ficar novamente?
Wakasa se sentou na cama em frente a Takemichi enquanto a dupla saia em silencio. Takeomi queria dizer que não era o melhor momento para essa conversa, mas Wakasa só o escutava em lutas e duvidava que Benkei lhe apoiaria. Keizou fechou a porta deixando os dois se encarando no quarto, descendo as escadas atras de Takeomi e se jogando no sofá.
— Talvez seja a hora de um novo passo — O Akashi abriu o sorriso parando a frente de Benkei — Não vamos conseguir lidar com Mikey agora, mas que tal extravasar um pouco? Aquela propriedade em Suginami talvez seja do agrado de Genko. Vamos limpá-la.
— Tomara que seja mesmo, não quero ouvir merda depois — Benkei se levantou em um pulo indo até a mesa e pegando a chave de sua moto — Vamos lá, preciso de sangue.
— E depois diz que Shin não deve se preocupar com você matando os outros — O mais velho zombou.
— Eu não disse isso, disse que ele devia preocupar-se mais com o Genko e o Waka, o que não é mentira.
[...]
— Nunca, jamais, pense uma coisa dessa novamente — Wakasa tomou a mão de Takemichi, acariciando-a desde a ponta dos dedos até a marca no pulso — Se há alguém aqui que não merece sou eu, eu que não poderia merecer você Genko. E não importa o que aconteceu, você não é nojento e não vai diminuir seu valor, a única coisa que eu consigo sentir sobre isso é raiva daquele anão desgraçado. Não teve um segundo desde que eu descobri que eu não tenha desejado transformar aquele projeto de gente em carne moída. Mas não você. A culpa não é sua. Você não queria.
— Não, não queria, eu pedi para ele parar — Takemichi balançou a cabeça, confirmando as palavras — Mas ele não me deixou sóbrio. Meu corpo não respondia, eu... Eu não pensei que ele poderia chegar a isso. Desculpe.
— Quem tem que pedir desculpa é Manjiro, a você. Mas nem isso vai adiantar.
— Nunca perdoaria ele. Eu quero o destruir.
— Então por que está me pedindo desculpa? — Wakasa não deixou que Takemichi respondesse — Não tem motivo. Mas sabe, teve uma única coisinha que o pirralho disse que é verdade. Eu te usei — O Imaushi apertou as mãos do mais novo entre as suas quando ele tentou as puxar — Me escuta Genko. Eu te usei, eu menti, porque eu nunca quis outra pessoa e nem que você tivesse outra pessoa. Eu queria ser o único para você do mesmo jeito que você era para mim. E eu usei seu corpo do jeito que eu queria sem que soubesse o que eu estava fazendo. Eu nunca te vi como irmão Genko. E eu odiava a cada segundo que eu não era capaz de te dizer isso.
— Poderia ter me dito após o que Haru contou, eu achei que não era verdade já que você fugia sempre que eu tentava conversar.
— Eu fiquei com medo. Medo de perder o que tínhamos, ou de te prender em algo que você não queria de verdade. Quando você sugeriu me pedir em namoro, caralho, eu acho que chorei durante o caminho para casa inteiro, porque na minha cabeça você não me amava, não tinha o que me provar — Wakasa não olhava para o rosto de Takemichi, se fixando na pele irritada e vermelha — Depois do primeiro beijo que me deu após aquela batalha do Imperador em 97 não teve um dia que eu não tenha sonhado em estar no lugar do Shin. Eu ansiava por poder atacar seus lábios do mesmo jeito, ou ter você me tocando intimamente como fazia com ele. E depois de um tempo eu queria mais, mais do que você na minha cama, mais do que você como meu melhor amigo.
— Sabia que eu e o Shiro começamos a nos beijar daquele jeito por sua causa? Eu sabia que estava apaixonado por você, mas não sabia o que fazer. Então ele decidiu que eu ia usar ele. Se eu fizesse com ele o que eu queria fazer com você... enfim. Eu fazia, mas ainda não tinha coragem de tentar com você e não queria que outra pessoa me tocasse do jeito que eu queria que você fizesse, como já descobriu.
— Foi... por mim?
— O que eu disse — Takemichi deixou o silêncio durar alguns minutos, então suspirou — Wamai, eu te amo desde meus onze anos. Você sempre esteve no centro dos meus pensamentos. Me sinto horrível pelo que Manjiro fez comigo. E eu tive que colaborar, porque eu não aceito que ninguém faça comigo o que você faz.
— Genko, era para eu estar te confortando, não o contrário — Wakasa finalmente olhou para Takemichi, encontrando as safiras o olhando com intensidade.
— Wamai. Me ame. Por favor.
Os olhos oceânicos estavam transbordando, tempestuosos de mais sentimentos do que Wakasa conseguia entender com apenas uma olhada. Mas ele tirou seu tempo, não se preocupando com nada além da água vertendo pelas bochechas pálidas, da tristeza mal escondida naquelas írises que carregavam tantos tons de azul. Do carinho que agora tinha outro significado. Parecia que uma nevoa havia saído de seus olhos, um véu colocado por seu inconsciente como forma de proteção, de medo, que agora não lhe impedia de ver que não era o mesmo que era dirigido a qualquer outro. Sempre foi único o jeito que Takemichi lhe olhava, havia sido tão idiota de não ter notado antes, de ter mascarado os sinais que sempre tiveram presentes.
Seu peito se aqueceu, os batimentos se acelerando, a endorfina e serotonina se espalhando em seu corpo com extrema velocidade, o deixando automaticamente mais leve. Um sorriso afetuoso pintou seus lábios, o que foi retribuído por Takemichi.
— Você não pode me pedir algo que já faço Genko. Io sono la tua anima, tu sei il mio corpo. siamo uno solo e nulla potrà separarci (eu sou sua alma, você é meu corpo. Somos apenas um e nada será capaz de nos separar) — Wakasa se aproximou com calma deixando um beijo casto nos lábios que antes eram maltratados pelos dentes do Hanagaki.
Os dois deixaram lágrimas caírem, se misturando ao beijo e o deixando com gosto salgado. O osculo durou custosos minutos, até que Takemichi colocou a mão nos ombros do mais velho o puxando delicadamente para ficar sobre si na cama.
— Me faça esquecer que eu já fui tocado por outra pessoa que não você — Takemichi pediu, sem desviar dos orbes violetas — Faça como eu gosto, me engula por inteiro. Me deixe sangrando. Mostre o quão seu eu sou. O quão meu é.
Notas da autora:
Pensei em colocar Takemichi rejeitando contato com Wakasa por N motivos e fazer o clichê do casal que precisa conversar para se resolver mas um deles fica fugindo e se culpando. Gosto de casal que não enrola para ficar junto e os dois já enrolaram demais.
Além disso foge muito do personagem bem resolvido, decidido e direto que eu montei para Takemichi na historia. O meu Takemichi, herdeiro de mafia, alguém grande no submundo e na luz, é do tipo que apresentou resolver racionalmente todos os problemas e guardar sua dor. E a base para essa reação calma dele é o próprio acidente do Shinichiro que o deixou em coma.
Relembrando vocês: ele ficou triste, muito, se permitia fugir para chorar, mas não com os outros. Ele se manteve forte e não se deixou demonstrar o quão quebrado ele estava.
Mas não é por isso que ele deixará passar batido. Mikey quebrou uma regra dele. Com ele. Mikey cometeu um dos pouquíssimos crimes que BD não aceita, que as divindades não aceitam.
Mikey pagará.
Proximo capitulo: Aquecer. Esconder.