P O S I T A N O

By ReSouzah

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ROMANCE - DRAMA ⸻⸻ E se um trágico acidente tirasse a vida das pessoas que você mais ama? E se depois disso v... More

SINOPSE ⚘
CONHEÇA POSITANO ⚘
P R Ó L O G O
𝟙
𝟚
𝟛
𝟜
𝟝
𝟞
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𝟠
𝟡
𝟙𝟘
𝟙𝟙
𝟙𝟚
𝟙𝟛
𝟙𝟜
𝟙𝟝
𝟙𝟞
𝟙𝟟
𝟙𝟠
𝟙𝟡
𝟚𝟘
𝟚𝟙
𝟚𝟚
𝟚𝟛
𝟚𝟜
𝟚𝟝
𝟚𝟞
𝟚𝟟
𝟚𝟠
𝟚𝟡
𝟛𝟘
𝟛𝟙
𝟛𝟚
𝟛𝟛
𝟛𝟜
𝟛𝟝
𝟛𝟞
𝟛𝟟
𝟛𝟠
𝟛𝟡
𝟜𝟘
𝟜𝟙
𝟜𝟚
𝟜𝟛
𝟜𝟜
𝟜𝟞 ♡ 𝔽 𝕀 ℕ 𝔸 𝕃

𝟜𝟝 - 𝔽 𝕀 ℕ 𝔸 𝕃 - 𝕡𝕒𝕣𝕥𝕖 𝟙

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By ReSouzah


༻ 

𝑵𝒂̃𝒐 𝒔𝒆𝒊 𝒔𝒆 𝒆́ 𝒃𝒐𝒎 𝒐𝒖 𝒓𝒖𝒊𝒎, 𝒎𝒂𝒔 𝒅𝒊𝒗𝒊𝒅𝒊 𝒐 𝒖́𝒍𝒕𝒊𝒎𝒐 𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝒆𝒎 𝒅𝒖𝒂𝒔 𝒑𝒂𝒓𝒕𝒆𝒔 𝒔𝒐́ 𝒑𝒓𝒂 𝒈𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒊𝒓 𝒔𝒆 𝒂𝒄𝒐𝒔𝒕𝒖𝒎𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒄𝒐𝒎 𝒐 𝒇𝒊𝒎 𝒌𝒌𝒌𝒌 😁🤭

𝑵𝒐 𝒎𝒆𝒊𝒐 𝒅𝒂 𝒔𝒆𝒎𝒂𝒏𝒂 ""𝑶𝑼"" 𝒏𝒐 𝒇𝒊𝒏𝒂𝒍 𝒅𝒆 𝒔𝒆𝒎𝒂𝒏𝒂 𝒕𝒆𝒓𝒆𝒎𝒐𝒔 𝒐 𝒇𝒊𝒏𝒂𝒍 𝒐𝒇𝒊𝒄𝒊𝒂𝒍, 𝒂𝒊́ 𝒔𝒊𝒎 𝒔𝒆𝒓𝒂́ 𝒖𝒎 𝒂𝒅𝒆𝒖𝒔 𝒑𝒓𝒂 𝒗𝒂𝒍𝒆𝒓!

𝑨𝒍𝒈𝒖𝒏𝒔 𝒕𝒂𝒍𝒗𝒆𝒛 𝒂𝒄𝒉𝒆𝒎 𝒖𝒎 𝒔𝒂𝒄𝒐 𝒕𝒆𝒓 𝒒𝒖𝒆 𝒆𝒔𝒑𝒆𝒓𝒂𝒓 𝒖𝒎 𝒑𝒐𝒖𝒒𝒖𝒊𝒏𝒉𝒐 𝒎𝒂𝒊𝒔, 𝒎𝒂𝒔 𝒐𝒖𝒕𝒓𝒐𝒔 𝒆𝒖 𝒔𝒆𝒊 𝒒𝒖𝒆 𝒗𝒂̃𝒐 𝒓𝒆𝒔𝒑𝒊𝒓𝒂𝒓 𝒂𝒍𝒊𝒗𝒊𝒂𝒅𝒐𝒔 𝒌𝒌𝒌𝒌 

𝑴𝒂𝒔 𝒂𝒑𝒓𝒐𝒗𝒆𝒊𝒕𝒆𝒎 𝒂 𝒍𝒆𝒊𝒕𝒖𝒓𝒂... 𝒆𝒖 𝒎𝒆 𝒅𝒊𝒗𝒆𝒓𝒕𝒊 𝒎𝒖𝒊𝒕𝒐 𝒄𝒐𝒎 𝒆𝒔𝒔𝒆 𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝒆 𝒆𝒔𝒑𝒆𝒓𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔 𝒕𝒂𝒎𝒃𝒆́𝒎 𝒔𝒆 𝒅𝒊𝒗𝒊𝒓𝒕𝒂𝒎 𝒎𝒖𝒖𝒖𝒊𝒕𝒐! 𝑩𝒋𝒔! 🥰😘

༻ 

𝒂 𝒆 𝒔 𝒕 𝒉 𝒆 𝒕 𝒊 𝒄

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— O que tem a Donatella? — Melissa perguntou de novo quando todos ficaram em silêncio e olhando sem reação para ela.

— Mel...

— Era só uma curiosidade idiota. — Graziella falou interrompendo Lucca e sentou na beirada do sofá ao lado de Fiorella. — A gente só estava se perguntando por onde aquela sem vergonha anda.

— Ai, meu Deus. — Fiorella sussurrou e afundou no sofá se escondendo atrás de Guido que olhava com os olhos arregalados para Lucca sentado no outro sofá.

— Bom, depois de tudo o que houve acho natural que a Donatella não tenha mais dado as caras. — Melissa disse e atravessou a sala para se sentar. — Todo mundo nessa cidade odiava o irmão dela, acho que ela não ia ficar muito à vontade andando por aí recebendo os olhares das pessoas. Mas, será que dá pra gente mudar de assunto? Meus bebês não precisam ficar ouvindo sobre essa gente.

Lucca e o pastor trocaram um olhar cúmplice.

Melissa se sentou meio desengonçada ao lado de Lucca, deu um suspiro cansado acariciando a barriga, olhou para ele e sorriu.

Lucca sorriu de volta, mas o sorriso não alcançou muito seus olhos, baixou a cabeça e coçou a nuca. Voltou a olhar para Melissa e ela parecia tão inocente. Ele quase contou, mas naquele instante pareceu muito inadequado contar a verdade a ela, especialmente diante de todo mundo, por mais que eles também soubesse achava que seria melhor contar quando estivessem sozinhos.

Ele inspirou fundo e decidiu que ainda não era a hora certa para falar sobre aquilo. Conhecia Melissa muito bem e sabia que ela era forte, mas parte dele ainda via a Melissa mais frágil, teve medo de que saber sobre o coração agora pudesse afetá-la ou aos seus filhos de alguma forma e não queria que ela carregasse o peso daquela história quando precisava estar bem por causa dos bebês.

Sabia que ela ficaria abalada não apenas por causa do coração, mas também ao saber como Donatella morreu. Lucca imaginou que se Melissa soubesse agora que foi durante uma briga com ele, ela ficaria realmente transtornada.

Lucca contaria a ela. Estava determinado a fazer isso porque agora achava que era a coisa certa, mas não ainda.

— Você tem razão, minha linda. — Lucca disse e segurou a mão dela. — Não vamos deixar aquela família estragar esse dia.

Graziella soltou um suspiro aliviado e exagerado.

— Maravilha. Vocês estão com fome? — Fiorella perguntou ficando em pé tão rápido que Guido sobressaltou ao lado dela. — Vou pegar mais bolo de laranja. Depois dessa tensão toda eu preciso comer. Mais alguém vai querer?

— Eu quero? — Melissa falou. — Nunca pergunte a uma grávida se ela quer comida porque a resposta vai ser sempre sim.

Aquela noite eles conversaram sobre muitas coisas, inclusive sobre o casamento.

Todos tinham uma sugestão sobre como deveria ser e Melissa e Lucca apenas ouviam sorrindo sabendo dentro do coração deles que não fariam nada pomposo como os amigos estavam sugerindo.

Guido ofereceu a igreja, Graziela disse que pagaria o melhor salão e daria a melhor festa de presente a eles, mas Melissa e Lucca não queriam nada daquilo. Só queriam um dia lindo e simples pra selar o amor deles com um compromisso que duraria a vida inteira.

— E como vai ficar o nome dos meus sobrinhos? — Graziella perguntou.

— Quer saber se já escolhemos os nomes? — Melissa perguntou confusa.

— Não. Se o nome de Lucca não é Lucca Giordano, meus afilhados vão receber o nome real do pai ou o nome de fugitivo?

Melissa riu baixinho e Lucca fez uma careta pra ela.

— Meus filhos vão ter o nome das nossas famílias, não que eu te deva alguma explicação. — Lucca disse para Graziella.

— Ótimo. — Graziella disse satisfeita, mas olhou pra ele intrigada. — Só tem uma coisa que ninguém disse ainda e que eu acho que eu devo perguntar.

— E o que seria, Graziella? — Ele perguntou revirando os olhos já sem paciência.

— Você é Lucas ou Lucca, afinal?

Os outros ficaram de queixo caído.

— Vocês podem me chamar como quiserem.

— Nós vamos te chamar de Lucca porque é o Lucca que nós conhecemos. — Guido falou com autoridade e os outros nem discutiram.

Melissa apenas sorriu segurando e acariciando a mão dele.

Lucca meneou a cabeça, ao contrário do Lucca de antes que teria dito que nada daquilo era da conta de ninguém, ele agora estava acostumado com a intromissão de Graziella e a intimidade que tinha com aquelas pessoas e não se importava porque amava a todos eles.

Antes que ficasse muito tarde para atravessar a trilha e chegar á rua onde seus carros estavam, eles decidiram que era hora de ir embora.

Melissa acompanhou as amigas até o lado de fora da casa de Lucca e Guido o segurou por um momento na sala.

— Você fez bem em não contar ainda. — O pastor disse para Lucca. — E pode desfazer essa cara de preocupado. Você não está mentindo pra ela. Está poupando sua futura esposa e a mãe dos seus filhos. Essa verdade é pesada demais pra Mel passar por isso agora. Eu teria tomado a mesma decisão, meu amigo.

Guido colocou a mão no ombro de Lucca.

— Conte a ela quando achar que deve.

— Eu só tenho medo que ela descubra de outra forma. Acho que a Mel nunca me perdoaria.

— Bom, nós, os amigos dela, também não vamos falar nada. Os médicos também não contariam por questão de ética e acho que a única maneira de Melissa descobrir seria através das notícias que saíram a respeito, mas já faz alguns meses então não acho que isso seja possível agora. Então relaxa, meu amigo. Na hora certa, você faz o que achar melhor e tudo vai ficar bem.

— Não tenho tanta certeza. Não tenho um bom pressentimento sobre isso.

— Bem, não dá pra saber o que vai acontecer quando você contar. Mas até onde eu sei a Mel confia em você. Arrisco dizer de novo, vai ficar tudo bem.

Quando os amigos foram embora Lucca levou Melissa para a casa dela.

Ela não parou de falar nem por um segundo pela trilha toda. Estava eufórica e feliz depois de passar o dia com os amigos. E não parou de atormentar Lucca brincando sobre ele ter finalmente ficado amigo dos funcionários de sua loja.

Ao chegarem em sua casa ela fez questão de parar na porta antes de abrir e ficou com as mãos na barriga olhando um pouco tímida para Lucca.

Ele sorriu ao notar porque sabia que ela não era nada tímida.

Lucca deslizou as mãos pela barriga dela até chegar na parte de trás da cintura de Melissa e a puxou pra mais perto, Melissa tentou colocar as mãos no pescoço dele, mas ficou toda esticada porque a barriga mantinha os dois a certa distância. Ela então colocou as mãos nos ombros dele meio desengonçada e riu.

— Isso ainda é meio estranho. — Ela disse.

— É porque eu não estava aqui enquanto eles iam crescendo, você não teve tempo pra se acostumar a dar uns amassos em seu homem com esse pequeno obstáculo no caminho. — Ele respondeu sorrindo, deu um beijo na testa dela e Melissa riu.

— Pequeno obstáculo? Eu não sei o que você anda colocando na comida que faz pra mim, mas desde que você passou a fazer nosso café da manhã, o almoço e a janta esses dois cresceram tão rápido que eu já devo estar pesando o dobro de umas semanas atrás.

— Você está linda.

— Mesmo parecendo um mini elefante?

— O mini elefante mais lindo do mundo.

Ela riu e beliscou o braço de Lucca. Ele fingiu que doeu, agarrou Melissa e deu um beliscão na bunda dela. Ela abriu a boca e ficou indignada.

— Você acabou de beliscar a bunda de uma mulher grávida?

— A bunda da minha mulher grávida. — Lucca falou, se inclinou, passou os braços ao redor dela de novo, suas mãos deslizando com cuidado, pressionando com desejo e carinho, subiu uma das mãos pelas costas de Melissa e embrenhou os dedos entre os cabelos dela. Melissa perdeu o ar ao sentir os toques dele em sua nuca ao mesmo tempo em que a boca de Lucca prendeu a sua em um beijo apaixonado, provocando os lábios dela, mostrando o quanto a queria.

Quando eles pararam depois de alguns minutos e Melissa ficou olhando ofegante para Lucca.

— Como é que você ainda consegue me desejar tanto assim? Eu não sou a mesma pessoa de quando você foi embora. Meu corpo está diferente... maior. Eu vivo inchada, eu como sem parar...

— Você não me ouviu? — Lucca desceu a mão pelas costas dela lentamente provocando uns arrepios na espinha dela, pressionando até parar sobre a bunda de Melissa e apertá-la mais forte contra seu corpo deixando-a zonza. — Você é linda, Mel. E não me entenda errado, mas eu acho que você está ainda mais linda e ainda mais gostosa agora. Quer dizer... — Ele baixou os olhos e mordeu o lábio. — ...olha só esses peitos.

Ela estava olhando atordoada para Lucca. Ele a deixava louca. Também o queria e estava a um passo de arrastá-lo para sua cama, mas faltava pouco pra que pudessem fazer isso sem culpa, e além do mais ela ainda não se sentia preparada para ficar nua na frente dele agora.

— Eu me diverti muito hoje. — Ela disse mudando de assunto, encostou contra a porta de sua casa ainda fechada e ficou olhando em silêncio para ele.

— O que foi? No que está pensando? — Lucca disse, apoiou uma das mãos ao lado da cabeça dela e ficou acariciando os cabelos de Melissa.

— Em como você também está diferente.

Lucca franziu as sobrancelhas.

— Você acha que estou diferente?

— Eu tenho certeza de que você está diferente. Pra começar, você está muito mais fofo que antes.

— Uumm... — Ele resmungou jogando a cabeça para trás e Melissa riu.

— É verdade. — Ela apoiou as mãos no peito dele. — Não se lembra das coisas que você me dizia quando a gente se conheceu?

— Eu não me lembro de nada e acho que você também deveria se esquecer... turista imbecille.

Ela deu uma gargalhada.

Lucca sorriu e deu outro beijo na testa dela.

— Eu era um idiota.

— Você não era um idiota. Você já estava apaixonado por mim, só não queria admitir.

Ele revirou os olhos. Olhou pra cima um instante e voltou a olhar para ela.

— É, acho que cedo ou tarde eu ia ter que confessar isso.

Melissa arregalou os olhos e abriu a boca espantada.

— Lucca! Eu estava brincando.

— Mas eu não estou. O meu coração voltou a viver no dia em que eu te encontrei dormindo em meu barco aquela manhã na praia.

— Isso não é possível. Você me odiava.

— Uumm... leve em conta que eu já nem sabia mais o que era amar alguém então acho que confundi raiva e paixão.

— Sei, então você agia como um garotinho da quinta série que demonstra amor dando pedradas na mulher amada.

— Exatamente isso.

Ela riu e deu um tapa no peito dele.

— Seu bobo.

— Mas estou falando sério. Eu não consegui parar de pensar em você desde aquele momento antes de te acordar e te jogar pra fora do meu barco. Foi naquele momento que senti alguma coisa mudar aqui dentro.

— Está confessando que foi amor à primeira vista?

— Estou confessando que pode ter sido amor à primeira vista.

— Pode ter sido, sei.

— E você? Não tem nada pra me confessar?

— Deixa eu ver. — Melissa olhou para o lado um instante. — Eu confesso que não deixo você dormir em minha casa porque solto uns puns involuntários durante a noite desde que esses dois aqui chegaram.

Lucca deu uma gargalhada fazendo Melissa suspirar ao ouvir aquele som.

— Uau, isso é tão romântico. — Ele disse rindo. — Você acha mesmo que eu me importo? Você pode fazer isso na minha frente agora mesmo se quiser, minha linda, mas eu sei que está dizendo isso só pra mudar de assunto.

— Ok, ok. Bom, em primeiro lugar, eu não vou fazer isso na sua frente. Em segundo, desculpe te decepcionar e pode parecer muito estranho, mas não me apaixonei por você no momento em que gritou comigo e me jogou pra fora do seu barco.

Lucca fechou os olhos e colocou a mão no coração fingindo estar triste e Melissa riu segurando a mão dele.

— Quer parar? — Ela riu e entrelaçou os dedos nos dele mantendo a mão sobre o peito de Lucca. — Não demorou muito pra que eu descobrisse que na verdade você tinha um bom coração e que toda aquela fúria era só um disfarce pra dor que você tinha aí dentro. — Ela suspirou apaixonada olhando nos olhos de Lucca. — Você conquistou o meu coração aos poucos, meu amor. Toda vez que você mostrava que se importava comigo, mesmo que fingisse que não dava a mínima pra mim. Eu também vi o quanto você se importava com outras pessoas e como gostava de ajudar mesmo sem admitir que estava ajudando. Todas as vezes que você cuidou de mim quando eu precisei e quando não precisei também. — Melissa parou de falar um instante e olhou um pouco mais séria para ele. — Lucca, você foi meu anjo da guarda mesmo quando eu nem sabia que você existia. Eu sei que você daria a vida por mim do mesmo jeito que eu faria por você.

— Foi assim que eu ganhei seu coração? Cuidando de você? — Ele perguntou se gabando.

— É. Cuidando de mim. Salvando a minha vida. Trazendo comida.

Lucca riu sem fazer nenhum som.

— Não. Tem só um ponto errado nessa sua versão, minha linda. Foi você quem salvou a minha vida. Eu ainda estaria andando por aí feito um morto vivo e muito bravo com o mundo inteiro se não fosse por você. Foi você quem me fez acreditar que eu podia ser feliz de novo um dia. — Lucca colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. — Você iluminou a minha vida, Mel. Você trouxe mais amor pra minha vida do que eu achava que merecia. — Ele acariciou a barriga dela. — Muito mais.

Lucca se inclinou e a beijou antes que Melissa começasse a chorar.

— Então, acho que tenho que concordar com você. — Ele falou ao olhar para ela novamente e com a testa encostada na de Melissa e com a mão no rosto dela. — Eu estou diferente sim, mas só porque você mudou a minha vida.

Melissa sorriu, deu um beijo demorado no canto da boca de Lucca e ele fechou os olhos, deslizou a boca até recomeçar outro beijo de verdade, mas ela parou.

— É melhor eu entrar. — Ela disse relutante.

— Está cansada, não é?

Melissa fez que sim.

— Tudo bem. Eu já vou então. — Ele disse sem se mover nem um centímetro e fez cara de cãozinho sem dono para ela.

— Não vai adiantar me olhar assim. — Melissa falou rindo. — Você ainda vai dormir na sua casa.

— Eu sei.

— Estou falando sério. — Ela falou sem convicção nenhuma.

— Tudo bem.

Melissa se moveu fazendo com que ele se afastasse um pouco, ficou de costas para Lucca para pegar a chave da casa no bolso de seu macacão, mas a chave caiu de sua mão quando ele se encostou nela por trás, passou o braço ao redor dela e a puxou contra ele.

— Lucca... — Ela disse de olhos fechados em meio a um suspiro.

— Só estou dando boa noite.

Ela se derreteu toda, se contorceu, ficou de frente para Lucca de novo e empurrou o peito dele.

Lucca sorriu de lado sabendo muito bem o que estava fazendo, deu um passo na direção dela como se fosse começar a beijá-la de novo, mas ao invés disso se abaixou olhando nos olhos dela, Melissa ficou tensa sem saber o que ele estava fazendo, Lucca se levantou, segurou a mão dela e colocou a chave.

— Você vai precisar disso se quiser entrar. — Ele disse provocando e Melissa estreitou os olhos.

— Boa noite, Lucca.

Melissa entrou tentando não sorrir, acendeu a luz, fechou a porta e apoiou as costas na madeira.

Lucca inspirou fundo com as mãos apoiadas no batente, encostou a testa na madeira pensando no quanto Melissa era teimosa e no quanto isso o deixava ainda mais louco por ela.

Melissa fechou os olhos juntando as sobrancelhas.

Podia sentir a presença dele.

Abriu os olhos, virou e abriu a porta ansiosa certa de que ele estaria ali só esperando...

— Lucca... — Ela sussurrou quando não o viu ali. — LUCCA! — Melissa gritou.

Com uma das mãos segurando a porta aberta ela ficou olhando ansiosa e ofegante através da escuridão na direção da mata depois da cerca de seu quintal.


Melissa deu um suspiro desanimado antes de entrar, começou a fechar a porta, mas parou ao ver um vulto farfalhar a vegetação, surgir correndo, pular a cerca sem hesitar nem um segundo e correr em sua direção.

Ela sentiu o coração acelerar, abriu um sorriso e tapou a boca com as duas mãos ao ver Lucca vindo bem rápido também com um sorriso no rosto, parar ofegante diante dela, apoiar aqueles braços poderosos no batente na porta e olhar com intensidade para ela.

Melissa mordeu o lábio no instante em que Lucca se abaixou, a pegou no colo e a levou para dentro. Ele fechou a porta, parou no meio da sala olhando para ela e Melissa olhava ansiosa e apreensiva para ele.

— Está tudo bem. — Lucca disse quebrando o silêncio. — Não me esqueci do combinado. Eu só quero ficar aqui com vocês, só isso, Mel.

Os olhos dela brilharam.

Melissa passou os braços em volta do pescoço de Lucca e deitou a cabeça no ombro dele enquanto ele a levava calmamente para o quarto.

Ele a colocou no chão e por um momento Melissa não sabia muito bem o que fazer quando chegaram lá.

— Eu preciso de um banho... ainda estou cheirando a churrasco. — Ela disse, foi até o armário e começou a escolher um pijama. Lucca parou ao lado dela e viu que havia algumas roupas dele por ali também. Pegou uma camiseta que estava dobrada na prateleira e levantou com os dedos olhando para ela com uma sobrancelha levantada.

— O que você quer que eu diga? Eu senti sua falta e trouxe umas roupas suas.

Ele apenas sorriu e deu um beijo na têmpora dela.

— Isso é bom. Assim posso tomar um banho também e usar minhas roupas roubadas.

Melissa ficou olhando aflita para ele e Lucca riu.

— Não se preocupe. — Ele disse. — Não vou tomar banho com você, por mais que eu queira.

Ela nem disfarçou quando respirou aliviada, desviou dele e saiu desconcertada para o banheiro.

Quando Melissa terminou, Lucca entrou logo no chuveiro.

Aquela noite não estava fria, mas Melissa colocou um pijama de calças e mangas compridas, não queria passar a ideia errada se escolhesse algo mais provocante.

Antes de Lucca voltar ela ficou toda perdida. Passou um pouco de perfume, ajeitou os cabelos mesmo úmidos e passou apenas um pouquinho de base pra esconder umas manchinhas causadas pela gravidez e colocou um pouco de cor na boca.

Se deitou na cama ensaiando em que posição deveria dormir já que ele estava de volta, mas se levantou de novo e começou a andar pelo quarto procurando inutilmente o que fazer, não queria que ele pensasse que ela estava nervosa.

— Não é nada de mais. — Ela disse baixinho tentando espantar a tensão. — Nós só vamos dormir mesmo.

Melissa pensou que se o cachorro e a gata não tivessem ficado na casa de Lucca poderia muito bem usá-los como barreira entre eles dois, mas os pequenos traidores também adoravam ficar na casa dele.

Quando ouviu o chuveiro desligar ela ficou ainda mais tensa e seu coração disparou.

Melissa correu até o outro lado da cama, pegou um livro que estava no parapeito da janela, se sentou ali, abriu e fingiu que estava lendo calmamente quando Lucca saiu do banheiro e voltou para o quarto.

Ela deu uma olhada que era para ser rápida, mas não conseguiu tirar os olhos de cima dele. Lucca estava com o peitoral, o abdome trincado, seus músculos, aqueles cabelos molhados, umas gotas escorrendo pelo peito dele, tudo aquilo à mostra e apenas com uma toalha presa na cintura.

Melissa levou um dedo lentamente à boca e começou a mordiscar uma unha enquanto seus olhos percorriam o corpo dele.

Lucca olhou para ela e sorriu meneando a cabeça.

— O livro parece bem interessante. — Ele brincou. Sabia que ela não estava lendo coisa nenhuma.

— É... é muito interessante. — Ela inclinou a cabeça e tinha a impressão de estar babando. — Você andou malhando enquanto estava no mar?

— Não, por quê?

— É que... você parece maior, mais gostos... mais forte.

Ele estava de costas para ela enquanto pegava uma calça de moletom e uma camiseta no armário e riu balançando os ombros.

— Eu não malhei. Mas manter o barco em movimento exige certo esforço.

— Entendi... — Ela respondeu meio aérea e limpou o canto da boca porque tinha certeza de que estava babando enquanto seus olhos desciam pelas costas dele.

Lucca podia sentir o olhar dela, não deixou barato e tirou a toalha de repente.

Melissa abriu a boca, arregalou os olhos e deixou o livro cair de sua mão.

Ela se esforçou para não ficar olhando para a bunda dele, as coxas fortes, as costas cheias de músculos e se abaixou, pegou o livro e se sentou na beirada da cama de costas para ele.

— Isso não é justo. — Ela falou bem baixinho.

— O que foi? — Ele perguntou se fazendo de desentendido. — Tudo bem?

— Tuuudo. — Ela disse fazendo um sim frustrado com a cabeça e se ajeitando em seu lado da cama. — Tudo maravilhoso.

— Tem certeza de que está tudo bem pra você se eu ficar aqui? Eu posso dormir no sofá se você não estiver à vontade.

Melissa virou para o outro lado e olhou para ele. Não sabia se estava aliviada ou decepcionada quando o viu parado lá em pé ao lado da cama agora todo vestido.

— Não seja bobo. Você nem cabe naquele sofá. Além do mais nós só vamos dormir. Está tudo bem.

Ele sorriu, se deitou de lado e apoiou a cabeça na mão pra ficar olhando para ela.

— É, nós só vamos dormir. — Lucca disse com um sorriso torto e safado e Melissa estreitou os olhos para ele. — Está com fome? — Ele perguntou.

— Estou, mas está meio tarde, não vou comer agora. Não seria boa ideia dormir com a barriga ainda mais cheia. Mas se você estiver com fome eu posso preparar alguma coisa pra você.

— Tipo o quê? Macarrão com queijo?

Ela riu.

— Eu estou bem, Mel. Não estou com fome.

O sorriso dela deu lugar à tensão novamente enquanto olhava para ele.

Lucca ajeitou o travesseiro, se deitou de costas, olhou para ela e bateu no peito.

— Vem cá. — Ele chamou, ela piscou de um jeito inocente e não se moveu. — Dá pra ver que você está pensando um milhão de coisas. Não tem porque ficar tensa assim. Sou eu, Mel. O seu Lucca.

Melissa sorriu sentindo o coração esquentar ao ouvir aquilo.

Ele colocou a mão no peito de novo.

Ela sorriu encabulada, chegou mais perto e se encaixou peito e no abraço dele.

Eles nem perceberam, mas os dois suspiraram ao mesmo tempo quando se tocaram.

Lucca estava maravilhado por ter Melissa e sus bebês ali daquele jeito, tão perto do jeito que ele queria desde o dia em que chegou. Ele ficou acariciando o braço dela com a outra mão.

Ao se encaixar ali no pescoço dele, no peito dele, Melissa se lembrou de que os braços de Lucca eram o seu lugar preferido no mundo.

Ela fechou os olhos por um instante só pra ter certeza de que não estava sonhando.

Melissa sorriu ao pensar que o peito forte dele era sua montanha favorita de Positano e Lucca olhou para ela ao notar que ela estava sorrindo.

— Está melhor?

— Muito melhor. Acho que estou feliz.

— Não tem certeza?

— Eu tenho medo de dizer que tenho certeza e alguma coisa muito ruim acontecer.

— Não vai acontecer nada de ruim, Mel. As coisas estão finalmente no lugar agora.

Ela suspirou confiando nas palavras dele. Segurou a mão de Lucca e levou até a barriga.

Ele sobressaltou assustado ao sentir a barriga mexer e Melissa riu.

— Uau! — Ele disse espantado. — Isso foi um belo chute.

— Eles andam fazendo muito isso ultimamente.

Lucca não disse mais nada. Ficou com a mão na barriga dela tentando adivinhar onde seria o próximo chute e estava com sorte porque os bebês estavam agitados. Ele colocava as duas mãos, encostou o rosto na barriga dela e não conseguiu evitar quando uma emoção bateu forte em seu peito.

Melissa olhou para Lucca quando ele se deitou de novo e ficou mais quieto.

— No que está pensando, amor?

— Só... me dando conta de que eles nem nasceram ainda, mas eu já me sinto pai de novo. — Ele olhou com um brilho nos olhos para Melissa. — Eu mal posso esperar pra ver esses dois aqui fora. Eu já sou louco por eles, Mel.

Ela sorriu sentindo o coração explodir dentro do peito, fez um carinho no rosto dele e deu um beijo rápido em Lucca.

— E eles têm muita sorte porque vão ter o pais mas fofo do mundo.

— Acho que nós precisamos entrar em um acordo.

— Acordo? — Ela perguntou curiosa e rindo porque já imaginava o que ele ia dizer.

— Acho que você precisa parar com esse negócio de me chamar de fofo o tempo todo. Isso é humilhante pra um cara do meu tamanho.

— Mas é justamente por isso que você é fofo. Não tem nada mais fofo do que um cara grandão e de coração mole.

— Olha, pelo menos promete que nunca vai me chamar assim na frente dos meus filhos.

Ela gargalhou alto. Os dois discutiram sobre aquilo por um bom tempo depois de apagarem as luzes.

Quando viram estavam grudados um no outro, falando mole, rindo devagar e então pegaram no sono.

Melissa acordou um pouco horas depois, virou de costas para ele, ficou de conchinha, mesmo dormindo Lucca passou o braço por cima dela e ela logo voltou a dormir.

Lucca acordou pra checar se ela estava bem. Tateou e viu que ela havia mudado de posição, mas queria senti-la ainda mais perto. Enfiou a mão por dentro da blusa do pijama dela e abraçou a barriga. Ficou acariciando até pegar no sono novamente.


⚘ ⚘ ⚘


Nos dias seguintes eles não dormiram mais separados.

Na maioria das vezes Lucca dormia na casa dela pra que Melissa não corresse o risco de cair se descesse a trilha para a casa dele e só se separavam quando iam para o trabalho.

Ela adorava quando Lucca aparecia de surpresa nos sets de fotografia. Principalmente porque ele sempre levava comida, mas adorava fazer uns minutos de pausa e ficar namorando com ele escondidos pelos cantos.

Vez ou outra ela também aparecia na loja dele e ficava no escritório com Lucca como antes trabalhando em seu computador, mas ele sempre se distraía e a distraía também porque nunca resistia e sempre se aproximava para brincar com a barriga cada vez maior de Melissa, a colocava em seu colo e ficava conversando com os bebês.

Aos finais de semana sempre encontravam os amigos.

Ele descobriu que Melissa agora ia todos os domingos de manhã na igreja do pastor Guido e é claro que não a deixava ir sozinha. No começo ia apenas para fazer companhia para Melissa, mas quando viu estava gostando mais do que imaginava de ouvir os sermões do amigo, de conhecer pessoas novas e não achou nem um pouco estranho quando começou a se sentir mais próximo de Deus quando estava lá e quando não estava também.

Lucca também voltou a trabalhar em sua plantação e assim voltou a doar o que produzia em seu quintal para a ONG da igreja.

Eles quase sempre almoçavam na casa de Guido e Fiorella depois de saírem dos cultos e aproveitavam para planejar a cerimônia de casamento.

Melissa e Lucca conseguiram convencer os amigos a aceitarem uma cerimônia mais tranquila, menor e só para os amigos e ele sempre notava como ela ficava um pouco chateada porque os pais deles disseram que não poderiam estar lá para o casamento.

Melissa estava adorando poder voltar a cuidar de Lucca.

Às vezes ele voltava do trabalho e ela estava em sua casa esperando com algum prato que ele gostava, às vezes fazia massagens pra que ele relaxasse, mas sempre acabavam se pegando.

As semanas iam passando e apesar da barriga estar cada vez mais pesada, Melissa ainda tinha energia pra não parar nem por um segundo, mas Lucca estava sempre por perto pra fazer com que ela desacelerasse um pouco.

Se Melissa ia até o riacho encher o balde para regar as plantas, Lucca aparecia do nada para carregar para ela. Não deixava que ela fizesse nada pesado em casa mesmo que ela protestasse dizendo que não estava doente, mas estava amando ser paparicada o tempo todo por ele.

Uns dias depois Lucca avisou que iria para Sorrento fazer as compras de sempre para a loja e passaria o dia todo fora.

Como aquela primavera estava mais quente os turistas já estavam infestando a cidade novamente o que fazia a loja de aluguel de barcos e assessórios aquáticos de Lucca ficar sempre cheia e se estava sempre cheia os barcos eram mais usados e se eram mais usados precisavam de mais manutenção e mais reparos. Melissa já sabia disso então, apesar de não gostar de passar o dia longe dele, se despediu demoradamente antes que ele saísse de casa pela manhã.

Era uma quinta feira e ela não teria de ir ao centro da cidade para trabalhar então passaria o dia todo quietinha trabalhando de casa em seu computador e na companhia dos bichinhos.

Sem Lucca para comer com ela aquele dia, Melissa fez macarrão com queijo para o almoço, depois se deitou no sofá pra tirar um cochilo, algo que não conseguia mais evitar nos últimos dias.

Assim que se deitou, como sempre a gatinha subiu em sua barriga e o cachorro se aconchegou embaixo do braço dela e os três pegaram logo no sono.

Não muito tempo depois Melissa acordou ao sentir algo macio em seu rosto.

Abriu os olhos e sorriu ao ver Lucca abaixado ao seu lado fazendo carinho e olhando para ela com os olhos vivos e brilhando como nunca.

— Oi, minha linda. — Ele sussurrou.

— Oi. — Ela disse se espreguiçando. Olhou pra frente e a gata ainda dormia sobre sua barriga com as patinhas esparramadas pros lados e o cachorro agora dormia sobre suas pernas.

Lucca meneou a cabeça, se levantou e tirou a gata de lá com cuidado e a colocou na cama dela no chão. Tirou o cachorro também e ele rosnou quando foi colocado no chão, mas não tentou voltar.

— Acho que vai ser uma briga e tanto entre esses dois e os bebês quando eles chegarem. — Lucca falou e voltou a se abaixar ao lado dela.

— Você voltou mais cedo. — Melissa disse sonolenta.

— Voltei.

Ele então segurou as mãos dela e ajudou Melissa a se sentar.

— O que está fazendo? Eu não terminei de dormir.

Lucca riu.

— Você está sorrindo e me olhando de um jeito estranho. — Melissa disse olhando desconfiada para ele. — O que está aprontando?

— Você me conhece como ninguém. — Ele disse exibindo um sorriso travesso como o de um garoto.

— Meu Deus. Você está mesmo aprontando alguma.

Sem dizer nada, Lucca se levantou.

Foi até a porta sem deixar de olhar para ela e abriu.

Melissa ficou observando sem entender nada, mas quando ele mais a porta ela sobressaltou ao ver alguém entrar.

Ela tapou a boca e gritou com os olhos arregalados ao ver seus pais e os pais de Lucca entrarem juntos em sua casa.

Melissa soltou vários gritos chacoalhando as mãos.

O cachorro se levantou e começou a latir, mas não estava bravo, só ficou animado com toda aquela agitação repentina, e a gata apenas se sentou observando tudo do alto de sua elegância.

A mãe de Melissa e a mãe de Lucca também davam uns gritinhos, riam, choravam, e os pais deles riam alto e Melissa se levantou chorando, rindo, esmagando e sendo esmagada por abraços intermináveis em seus pais e nos pais de Lucca.

— Mel, filha! — Ellen disse em meio a lágrimas de alegria enquanto beijava e abraçava Melissa. — Meu Deus, você está tão linda, filha.

— Mãe... a senhora está aqui. Pai... vocês estão aqui.

— Nós não víamos a hora de chegar só pra te ver, filha. — Francisco falou também agarrado à filha e a saudade e o amor que ele sentia eram tantos que não sobrou espaço para julgamentos quando viu sua filha grávida sem ter se casado antes. Ele só queria estar perto dela e agora só pensava nela e nos netos.

Os pais de Lucca também a abraçaram sem parar e quando Melissa se deu conta os quatro avós estavam inclinados sobre a barriga falando com os netinhos todos ao mesmo tempo.

Ela olhava para eles atordoada ainda sem acreditar que estavam mesmo lá. Então olhou para Lucca com um sorriso que mal cabia em seu rosto, correu até ele e o agarrou.

— Você me enganou direitinho. Não acredito que você trouxe eles. — Ela disse baixinho no ouvido dele emocionada e tentando parar de chorar.

— É claro que eu trouxe. Não achou que a gente se casaria sem eles aqui, achou?

Melissa encheu Lucca de beijos e logo voltou para os braços dos pais.

— Antes de ir embora do Brasil esse garoto disse que traria nós quatro pra Positano pro casamento de vocês. — Leonardo falou.

— Mas... você nem sabia se eu ia aceitar voltar pra você, quanto mais querer me casar. — Melissa disse indignada e rindo.

— Bom, talvez eu seja um homem de fé, afinal. — Lucca falou e cruzou os braços.

⚘ ⚘ ⚘

— Seu vestido ficou perfeito. — Graziella disse emocionada quando as duas saíram de uma casa de costura típica da Itália quando Melissa foi buscar seu vestido de noiva e Graziella seu vestido de madrinha.

— Você achou mesmo? Não ficou meio estranho, quer dizer... eu nunca imaginei que me casaria com uma barriga desse tamanho. — Ela olhou para a barriga. — Sem ofensa, pessoal.

Graziella riu.

— Não é estranho. Você está linda e ficou ainda mais linda de noiva. O seu ogro vai pirar.

Melissa sorriu sem muita certeza.

— Por que sua mãe não veio? — Graziella perguntou.

— Meus pais e os pais de Lucca resolveram alugar uma casa aqui no centro. Eles ficam muito cansados subindo e descendo a trilha todos os dias. Além do mais, eles vão ficar mais tempo dessa vez, decidiram ir embora só depois que os bebês nascerem. Eu sugeri que alugassem um lugar aqui perto da praia, assim podem aproveitar a cidade também.

— Que bom, achei que ia passar sua lua de mel com os pais no quarto ao lado.

— Na sala ao lado já que nem minha casa nem a casa do Lucca tem dois quartos.

As duas riram.

— Mel, já parou pra pensar em quantas coisas aconteceram desde que você chegou aqui? — Graziella falou enquanto as duas andavam pelas ruas do centro de Positano numa tarde ensolarada do comecinho de Maio. As duas caminhavam sem pressa alguma de braços dados descendo em direção à praia, desviando de turistas eufóricos e curtindo o eterno clima festivo daquela cidadezinha da Costa Amalfitana.

— Nem me fale. — Melissa disse pensativa.

— Isso tudo mudou você, Mel.

— Pode apostar que sim. — Ela respondeu chacoalhando a barriga de leve e Graziella riu.

— Não estou falando disso. Bom, não só disso porque realmente, a última coisa que eu imaginei foi que minha amiga santinha que não saía da igreja acabaria se envolvendo com um bad boy e ficando grávida dele... — Graziella se inclinou perto do ouvido de Melissa e cochichou. — ...e grávida sem nem ter casado com ele. Minha nossa, isso é uma grande heresia.

— Sua boba. Foi um acidente.

— O quê? Cair pelada na cama dele e ele de repente estar em cima de você e...

— Quer parar, sua pervertida?! — Melissa falou rindo e deu um beliscão no braço de Graziella. — Na verdade nós estamos tentando consertar essa parte agora.

— Como assim?

— Nós só vamos dormir juntos de novo quando nos casarmos.

— Mas vocês já estão dormindo juntos de novo.

— Literalmente... dormindo.

Graziella olhou espantada para Melissa.

— Você está mesmo fazendo isso com o coitado?

— Vamos dizer que ele merece um pouco de castigo depois de ter me abandonado.

Graziella riu.

— Entendi. Você é meio maquiavélica, sabia? Mas aposto que você também está se castigando já que não pode tocar o gostoso do seu futuro marido.

— Pode apostar que sim. — Ela suspirou frustrada. — E ele não facilita em nada quando começa a andar de um lado pro outro sem camisa, às vezes sem roupa. Pelo menos agora que os nossos pais estão sempre por perto eu não estou mais prestes a desistir e atacar meu noivo. Mas quer saber? Acho que vale a pena fazer a coisa do jeito certo.

— Vocês religiosos gostam é de se torturar, isso sim.

Melissa riu.

— Não é uma tortura fazer as coisas do jeito certo, Grazi.

— Se você está dizendo.

Melissa olhou com um sorriso pensativo para a amiga.

— E quanto ao que você disse, também acho que muita coisa aconteceu. — Melissa baixou a cabeça um instante, inspirou fundo e olhou para o mar quando se aproximaram da mureta da calçada.

— Muitas dessas coisas eu só quero esquecer, mas as coisas boas que eu ganhei aqui são tão maravilhosas que superam as piores coisas que aconteceram nesse tempo, Grazi.

— Eu nunca vou me perdoar por ter colocado Vincenzo em sua vida.

— Nem começa, amiga. Você sabe que eu nunca te culparia por isso. Quem é que poderia imaginar que aquele homem que parecia sério e que até tinha certo charme na verdade era um bandido?

— Um assassino.

— Eu acho que todos nós temos que esquecer Vincenzo, Grazi. Ele, a irmã dele e tudo o que eles fizeram de ruim.

Graziella ficou olhando para Melissa apertando os lábios

— Você tem razão, Mel. É melhor deixar essa gente pra lá. Eles já tiveram o que mereciam mesmo.

Melissa franziu as sobrancelhas e olhou confusa para ela, Graziella se tocou do que tinha dito e arregalou os olhos.

— Você... você sabe o que eu quis dizer e... vamos deixar pra lá, como você disse.

— Isso mesmo. — Melissa suspirou animada. — Podemos falar sobre meu casamento.

— Que acontece em três dias.

— Só três dias, mas sábado parece tão longe.

— É porque você está ansiosa.

— Estou mesmo. Eu vou me casar. Me casar de verdade.

Melissa ficou em silêncio um instante ao pensar em Rafael.

As duas pararam de andar e se sentaram na mureta, mas continuaram de braços dados.

— Tudo bem? — Graziella perguntou.

— Ãhã.

— Posso dizer uma coisa? Você parece feliz, Mel. — Graziella disse olhando admirada para a amiga. — Dá pra ver como você está feliz. Você nem de longe lembra aquela garota que chegou sem rumo em meu apartamento ano passado. Que vivia fazendo umas loucuras só pra se sentir viva e que era um verdadeiro desastre.

— É... eu até caí num poço, dá pra acreditar?

As duas riram de novo.

— Você passou por poucas e boas, mas está aqui. — Graziella passou o braço por cima do ombro de Melissa e encostou a cabeça na dela. — Eu ainda não superei o fato de quase ter perdido você, sua idiota.

— Mas não me perdeu, sua boba. — Melissa deu um beijo na têmpora da amiga. — Eu estou aqui e não vou a lugar nenhum. — Ela deu outro beijo no rosto da amiga. — E você vai ser titia. — Outro beijo. — E também a minha madrinha.

Graziella deu um grito se chacoalhando eufórica.

— Eu adoro ser madrinha e adoro ainda mais ser a sua madrinha e você vai adorar o meu presente.

— Vou?

— Aaah, vai sim. Não é nenhuma surpresa, então eu posso falar. — Graziella suspirou animada. — Eu comprei uma estadia de uma semana pra vocês dois no paraíso.

— Você o quê?

— Não achou que eu ia deixar você passar a primeira noite de casada em sua casa com seus pais e os pais de Lucca se entupindo a noite inteira com os docinhos que vão sobrar da festa, achou?

— Você está mesmo falando sério?

— Estou. Vou mandar você e seu marido pra uma lua de mel em um lugar surreal. Bom, não é exatamente um paraíso, é uma casa em um lugar bem legal, mas eu tenho certeza de que vocês vão gostar.

Melissa não sabia se ficava feliz ou preocupada.

— Grazi, essas coisas costumam ser caras, eu não sei...

— Pode ir parando aí. Nem começa porque não vai adiantar tentar recusar porque já está tudo pago.

— Você é maluca!

— Eu sei.

— É por isso que eu te amo.

— Eu sei disso também.

Mesmo sentadas as duas ficaram abraçadas e quietinhas por uns segundos.

— Você vai me contar agora pra onde vai me mandar junto com meu marido e os meus filhinhos?

— Por acaso você está tentando fazer drama pra me comover e contar pra onde vocês vão?

— Só um pouquinho. Está funcionando?

— Nem um pouquinho.

Melissa riu e empurrou Graziella.

— Bom, tudo bem, eu agradeço, mas só tem uma coisa. Não sei se você notou, mas olha só pro meu tamanho. Não dá pra simplesmente sair viajando sei lá por quantas horas... além do mais, eu ainda estou me recuperando da viagem de avião que fizemos pro Brasil, não estou a fim de entrar em outro tão cedo.

— Che cazzo! Você está reclamando do meu presente.

— Não estou reclamando eu só...

— Vocês não vão de avião. É claro que eu pensei em você, nos meus sobrinhos e também sei que não é fácil nem pra você nem pro Lucca entrarem em um avião, eu não sou uma desmiolada.

Melissa levantou uma sobrancelha.

— Ok, tudo bem, eu posso ser um pouco desmiolada às vezes, mas não dessa vez e como eu estava dizendo... você vai adorar o lugar.

— Só isso? Sem mais informações?

— Eu me reservo o direito de manter o resto como uma surpresa. E não se preocupe, você vai gostar e só pra você ficar mais tranquila, vocês vão com o barco do Lucca.

— De barco?

— Sim, é aqui pertinho.

— Onde?

— Bom, eu já disse que essa parte é surpresa.

— Mas se vamos de barco significa que você contou pro Lucca e se ele sabe eu só tenho que perguntar.

— Na verdade ele também não sabe, é que eu já planejei tudo e isso inclui vocês irem com o barco dele.

— Você é mesmo maluca.

— Isso não é nenhuma novidade. Oh! Olha só, Paolo chegou. — Ela disse quando o carro dele parou na rua bem na frente delas. — Tudo bem mesmo se eu for embora antes de você? — Graziella perguntou segurando a mão de Melissa. — Não quero te deixar aqui sozinha.

— Eu não estou sozinha. — Ela respondeu acariciando a barriga.

— O Lucca vem mesmo te buscar? Nem pense em subir a escadaria com esse barrigão.

— Bem que eu queria, mas nada de escadaria por enquanto e sim, ele vem me buscar mais tarde. Vou ficar mais um pouco e dar uma volta por aí, faz tempo que não faço isso.

— Tudo bem então.

Graziella se aproximou para dar uma abraço em Melissa, mas Melissa empinou a barriga pra frente e a empurrou de volta.

— Você vai se casar e vai ser mãe de duas crianças ao mesmo tempo e fica aí agindo como uma palhaça de quinze anos?

Melissa riu.

— O que eu posso fazer? É divertido fazer isso.

— Acho que você nunca vai deixar de ser uma boba.

Ainda rindo Melissa se inclinou pra frente e abraçou Graziella.

— Eu te amo, sua bravinha. Vai logo ou Paolo vai acabar te deixando aqui.

Melissa acenou para Paolo, Graziella entrou e os dois se foram.

Ela então desceu até a praia. Estava lotada de turistas tão maravilhados com a vista que nem percebiam que deixavam a paisagem menos atraente.

Melissa tirou as sandálias pra caminhar pela areia. Não estava perto do quiosque de Giancarlo aquele dia, nem de onde os barcos de Lucca ficavam, estava bem mais à frente e seguiu até um trecho onde não tinha muito movimento, encontrou um ponto mais tranquilo, colocou a sacola com seu vestido no chão, se sentou e ficou apenas observando o mar.

Ela pensou um instante no que Graziella disse. Também achava que tinha mudado muito. Era inevitável afinal depois de tudo o que havia acontecido em sua vida.

Se perguntou se teria coragem de viver tudo novamente se fosse pra terminar da mesma forma.

Não encontrou uma resposta coerente porque não trocaria o que estava sentindo nem vivendo nos últimos meses, não se imaginava mais sem Lucca ou sem seus bebês.

Mas sim, se pudesse voltar ao passado, teria feito muitas coisas diferentes, como não se envolver com Vincenzo, mas se isso não tivesse acontecido ela nunca teria comprado aquela casinha da montanha e se nunca tivesse comprado aquela casa jamais teria se envolvido com Lucca.

Melissa inspirou fundo e preferiu não fazer mais aquela pergunta e também não pensar mais naquilo.

Sua cabeça e seu coração estavam cheios demais de coisas boas pra dar lugar a coisas que não podiam mais ser mudadas.

Ela apoiou uma as mãos na areia, com a outra ficou acariciando a barriga. Sentiu seus filhos se mexendo e sorriu.

— Acho que a resposta é sim. — Ela sussurrou. — Eu teria coragem de viver tudo de novo só pra ter vocês comigo hoje.

Ela suspirou olhando novamente para o mar.

Fechou os olhos respirando aquele cheiro salgado agora tão familiar e quando estava prestes a se deitar na areia e relaxar um pouco seu telefone tocou.

Melissa Viana?

Ela estranhou ao ouvir a voz de uma mulher falando em inglês.

— Sim, sou eu.

Eu sou Martina Conti, diretora da galeria de arte no museu Palazzo Di Roma. Talvez não se lembre de mim, mas eu estive na inauguração de sua marca há alguns meses e nós conversamos sobre você expor algumas de suas fotografias em minha galeria.

— Oh... — Melissa paralisou. — Sim, é claro que me lembro, como eu poderia me esquecer? Mas achei que tivesse perdido a chance. Aconteceram... bom, aconteceram muitas coisas e eu não pude entrar em contato nos últimos meses, mas... nossa, nem sei dizer o quanto estou feliz por você ter ligado e mal posso acreditar que ainda está interessada.

É claro que estou. Seu trabalho é extraordinário. Você tem um olhar peculiar e vivo sobre as coisas simples que muitas vezes deixamos passar. Bom, mas podemos conversar sobre isso mais detalhadamente em uma reunião. Quando podemos nos encontrar?

Melissa olhou para a barriga, depois para o anel na mão direita.

— Será que ainda vai estar interessada se eu disser que agora também não é um bom momento?

Estou acostumada a lidar com os imprevistos na vida dos artistas. Mas posso ver que você tem muito interesse, posso ao menos ter um prazo como garantia?

— Bom... eu acabei de fazer sete meses de uma gravidez de gêmeos e vou me casar no próximo final de semana. — Melissa ficou em silêncio e fez uma careta esperando ouvir o barulho do telefone desligando do outro lado. — Ainda está aí?

Martina deu uma gargalhada.

É claro que estou. Eu não esperava um imprevisto tão surpreendente, mas tudo é negociável. Podemos manter contato e nos falamos em alguns meses, o que me diz?

Melissa mordeu o lábio mal contendo a euforia que começava a tomar o lugar do pessimismo que sentia antes.

— Eu digo que sim, é claro! Muito obrigada. Obrigada mesmo.

Sem problemas. Entre em contato comigo quando as coisas estiverem... menos agitadas.

Elas então desligaram e por instinto, Melissa tentou ficar em pé de uma vez e pular e gritar de alegria como sempre fazia quando algo assim acontecia, mas nem conseguiu sair do lugar, demorou uns minutos pra conseguir se levantar sozinha e pular estava fora de cogitação... mas ela fechou os punhos e se chacoalhou toda gritando sem fazer som algum e mal podia esperar para contar a Lucca o que tinha acabado de acontecer.

Se abaixou, pegou a sacola e começou a voltar para esperar por ele em frente a uma loja de artesanato que ficava na rua de baixo da loja onde haviam combinado de se encontrar.

L U C C A

— Retirem esses barcos, não estão em bom estado. Não quero nenhum acidente em nossas costas. — Lucca e alguns de seus funcionários estavam na praia terminando de fazer uma revisão completa nos barcos, nos jet skis e nos caiaques. Ele não estava bravo, mas falava com firmeza com os rapazes que cuidavam daquele setor. — Vocês deviam ter retirado antes. Só porque eu não estava aqui não significa que podem deixar esses barcos velhos circulando. Levem esses pro desmonte, já não servem pra mais nada.

Ele continuou vistoriando por um tempo, mas estava ansioso para terminar logo e subir para se encontrar com Melissa.

Antes de ir até ela, Lucca parou um instante no quiosque de Giancarlo e mal encostou na bancada e já havia uma xícara de café esperando por ele.

— Você é mesmo um carcamano. Vai se casar no sábado e está aqui em plena quinta feira trabalhando ao invés de estar lá com a sua noiva.

— Só deixando tudo certo na loja e se isso te deixa mais feliz, hoje é o meu último dia no trabalho antes do casamento. Além do mais, a Mel está por aqui, está me esperando na rua de cima, ela não está em casa pirando com os preparativos porque não vamos fazer nada grande. Vou me encontrar com ela em alguns minutos.

— Hunf! Ainda é um carcamano que deixa a esposa grávida por aí sozinha.

Lucca riu e tomou um gole do café.

— Nem parece aquele velho teimoso que detestava a minha mulher e que a mandou pro asfalto quente atrás de um ponto de ônibus que não existe quando ela veio a primeira vez até seu quiosque.

— Ela era uma turista imbecille.

Lucca riu e Giancarlo arrancou a xícara de café da mão dele.

— O que foi que eu fiz agora?

— Isso é por ficar aí me lembrando que eu também fui um imbecille.

Lucca riu ainda mais.

Giancarlo olhou para ele, meneou a cabeça e devolveu o café.

— Está ficando de coração mole? — Lucca provocou.

— Às vezes acontece. — Giancarlo se inclinou e apoiou os cotovelos no balcão e soltou um longo suspiro olhando para Lucca. — Você vai ter due bambini. — Ele falou com um sorriso paterno por baixo do bigode. — Due bambini.

Lucca olhou para ele como se olhasse para um pai.

— É. Às vezes eu ainda não acredito que vou ter dois filhos... e de uma só vez.

— Dio é buono com homens bons como você.

— Eu não sou tão bom assim. Ainda não sei porque Ele achou que eu merecia outra chance, outra família.

— Quer devolver o presente que o próprio Dio te deu?

— Nunca.

— É bom mesmo. E é melhor você me dar muitos netos, seu imbecille.

Melissa sentou ofegante no banco na calçada em frente à loja onde Lucca apareceria para buscá-la.

A barriga estava cada vez mais pesada. Ela tinha a impressão de que ficava maior toda vez que levantava pela manhã e se perguntava se estava fabricando dois pequenos clones de Lucca.

Colocou a sacola do vestido ao lado dela no banco, abriu a bolsa e pegou sua garrafa d'água. Tomou alguns goles e ficou observando a movimentação na rua, notou uma mulher passando do outro lado com um carrinho de bebê e sorriu pensando que logo ela estaria fazendo a mesma coisa, mas com um daqueles carrinhos duplos.

Ela franziu as sobrancelhas ao olhar para a mulher e a reconheceu.

Era a camareira que trabalhou com ela no hotel de Vincenzo, a mãe do filho dele.

— Domenica? — Sem muita certeza Melissa chamou e a mulher olhou em volta procurando quem havia dito seu nome.

Melissa levantou a mão e acenou uma vez, só então Domenica a viu. Ela não reconheceu logo de cara, mas atravessou a rua e se aproximou.

Quando Domenica parou com o carrinho Melissa se levantou.

— Oi. Sou eu, Melissa.

Domenica piscou e abriu a boca ao reconhecer.

— Oi... uau... você está...

— Enorme?

— Com certeza, mas eu ia dizer só... diferente. Você está mais bonita, eu diria que parece mais leve, eu acho.

— Talvez a palavra certa seja feliz.

Domenica sorriu.

— Você também está muito bem. Também parece feliz.

— E eu estou. — Domenica respondeu e olhou para o carrinho onde seu filho dormia.

Melissa se aproximou, se abaixou e deu uma olhada no garotinho agora bem maior do que da última vez em que o viu. Deduziu que devia estar com quase dois anos.

— Ele está tão lindo. — Melissa falou.

— Ele está mesmo. Você e o Lucca ainda estão juntos?

Melissa riu e mostrou o anel.

— Nós vamos nos casar no sábado.

— Uau! É claro, nada mais natural do que vocês ficarem juntos. E o bebê de vocês, pra quando é?

— Bom, são dois bebês e eles vão chegar logo.

Domenica arregalou os olhos e ficou de queixo caído.

— Dois? Você está esperando gêmeos? Mama mia!

Melissa riu.

— Pois é, surpresas da vida.

As duas ficaram em silêncio um momento como se os assuntos tivessem acabado.

— Eu achei que você tivesse saído de Positano. — Melissa disse.

Antes de responder Domenica puxou o carrinho e apontou o banco, então as duas se sentaram.

— Você está certa, eu não moro mais em Positano.

— Não?

— Eu me mudei pra Milão. Só vim passar a semana pra resolver umas coisas.

— Milão?

— É, eu sei, uma mudança e tanto.

— E você está bem? Quer dizer, está trabalhando? Você sabe que se precisar eu e Lucca estamos aqui, é só dizer.

— Obrigada. Você é muito generosa. — Ela respondeu com um sorriso agradecido. — Mas nós estamos muito bem. — Domenica inspirou fundo antes de continuar. — Na verdade, nós estamos melhor do que bem. Meu filho recebeu parte da herança de Vincenzo.

Melissa ficou de boca aberta.

— Mas... o dinheiro dele...

— Não, não a parte suja. O Vince tinha negócios lícitos também, muitos. E praticamente tudo o que ele tinha em conta era dinheiro limpo. O que foi considerado produto do tráfico e das extorsões foi pros cofres do estado. Mas o dinheiro limpo, os negócios, as propriedades, obras de arte, carros, todas essas coisas foram divididas entre a família dele. Entre os pais dele e o filho dele. Só que meu filho acabou ficando com a maior parte porque os pais dele não quiseram praticamente nada.

— Então estou falando com uma milionária e um pequeno milionário? — Melissa falou sorrindo e Domenica apenas riu.

— Eu ainda não me acostumei com isso na verdade.

— Espera. Você disse que a herança do Vince foi dividida entre os pais dele e seu filho, mas... e quanto à Donatella? Ela ficou sem nada? Os dois eram tão ligados e ela não me parece o tipo que recusaria dinheiro.

Domenica ficou olhando estarrecida para Melissa.

— Você não sabe sobre Donatella?

Melissa franziu as sobrancelhas.

— O que tem ela?

— A Donatella... ela morreu. Como você pode não saber disso? Todo mundo soube, foi notícia na cidade inteira. Eu tinha certeza de que você sabia já o Lucca... — Domenica parou de falar e ficou olhando indecisa para Melissa.

— O Lucca? — Melissa levantou as mãos e fechou os olhos um instante tentando entender. — Espera, é muita informação cruzada. Meu Deus, a Donatella... morta! Isso é horrível. Como foi isso?

— Por isso eu imaginei que você sabia, porque Lucca estava lá.

— O Lucca? Como assim? E como assim ela estava lá? Lá onde?

— Uau. Você realmente não sabe de nada.

— Me explica porque eu não estou entendendo nada. Não faz sentido o Lucca ter algo a ver com isso e se tivesse ele teria me contado.

— Ele tem tudo a ver com isso. A polícia disse que a Donatella foi armada até a casa do Lucca, parece que eles brigaram, ela tentou atirar nele, mas acabou acertando a si mesma. Pelo menos foi o que a polícia contou.

— Meu Deus, como eu não soube...

Melissa olhava ofegante e atônita para Domenica enquanto começava a entender e Domenica já não tinha mais certeza se devia continuar contando.

— Você não prefere conversar com Lucca sobre isso?

— Eu prefiro que você termine de me contar. — Melissa teve medo de fazer a próxima pergunta, mas tinha de saber. — Quando foi isso? Quando aconteceu?

Domenica deu um suspiro longo antes de responder.

— Foi em dezembro.

Melissa sentiu o ar faltar. Exatamente como antes. Exatamente como quando ainda era doente. Ela puxava do fundo dos pulmões com força como se o oxigênio fosse uma raridade e colocou a mão sobre a cicatriz.

— Não pode ser. — Ela sussurrou pra si mesma. — Não pode ser.

— Melissa? Você está bem? Che cazzo, eu não devia ter contado.

— Eu estou bem... está tudo bem.

Melissa se levantou.

— Obrigada, Domenica. — Melissa falava olhando para ela enquanto andava meio de costas e ia se afastando. — Obrigada por me contar e... boa sorte. Eu espero que você e seu filho sejam muito felizes. Ããn... eu já vou, Eu preciso ir...

Melissa virou e saiu andando, mas nem sabia pra onde estava indo.

Ela parou um instante. Ainda sentia uma forte falta de ar.

Sentiu medo, muito medo. Não queria ficar doente de novo, não podia ficar doente de novo, não agora que tinha os bebês, não agora que as coisas estavam mais calmas.

Ela deu mais alguns passos, mas se sentiu fraca e zonza, segurou em uma luminária da rua ainda com a mão no peito.

— Melissa... — Domenica chamou de longe e andou na direção dela empurrando o carrinho e segurando a sacola e a bolsa que Melissa tinha esquecido.

Melissa tentou continuar andando, mas se apoiou na mureta, tentou se sentar e ao invés disso, se endireitou, viu a praia à sua frente se mover, se inclinar e ficar em um ângulo nada natural enquanto seu corpo ficava leve e pendia para o lado.

Melissa nem sentiu quando atingiu o chão.

Também não viu quando Domenica se aproximou desesperada com o carrinho e seu filho, a sacola e a bolsa nas mãos e sem saber o que fazer ao parar ao lado de Melissa desmaiada no chão.

Melissa também não ouviu o barulho alto e estridente de uma ambulância chegando, não sentiu seu corpo sendo movido pra uma maca e só acordou quando estava em cima de uma maca e sendo levada para um quarto de hospital.

Lucca deixou o carro em uma vaga que encontrou por acaso na rua estreita e cheia de veículos estacionados, por sorte ficava apenas a alguns passos de onde estava indo.

Ele viu uma agitação estranha perto de onde Melissa estaria esperando, mas não deu muita atenção. Estranhou que ela ainda não estivesse lá já que tinha algum tempo que ela tinha avisado que estava a caminho do lugar que haviam combinado.

Ele enviou uma mensagem e esperou.

Melissa não visualizou, então ele enviou mais algumas e quando começou a se preocupar porque ela não estava respondendo ele ligou, mas Melissa também não atendeu.

— Cazzo! — Ele xingou olhando em volta pra ver se Melissa estava chegando, mas nem sinal dela.

Ele então ligou para Graziella que não tinha nenhuma informação útil para dar e disse apenas que as duas estavam andando juntas por ali há algumas horas.

Lucca estava prestes a ligar novamente para Melissa ou derrubar a cidade inteira até encontrá-la quando seu telefone tocou.

Seu coração disparou no peito quando viu que era um número desconhecido e atendeu no mesmo instante.

— Pode falar! —Ele disse aflito ao ouvir a voz de uma rapaz que não conhecia.

Senhor Lucca Giordano?

— Eu mesmo... fala de uma vez, cazzo! É sobre a minha mulher?

Ããn, sim, senhor. Ela está em nosso hospital e...

— Hospital? — Ele sentiu uma pontada aguda na cabeça e no peito quando seu sangue ferveu. — Por que ela está aí? Ela está bem? E os nossos filhos? — Lucca falava andando agitado de um lado pro outro na calçada. — Ela... minha mulher vai ter nossos filhos agora? Ela...

Não, não, senhor. Ela só não se sentiu bem e foi trazida pra cá. Uma amiga dela deu seu número encontrado no celular da senhora Melissa, por isso estou ligando.

Lucca parou e respirou aliviado com os olhos fechados.

— Que hospital?

Ele nem esperou que o rapaz terminasse de falar, desligou, voltou voando até o carro e dirigiu feito louco pelas ruazinhas estreitas até chegar ao hospital.

Lucca chegou afoito perguntando por Melissa na recepção e um recepcionista indicou o caminho de um quarto a ele e então passou como um raio pelos corredores até chegar ao lugar certo, uma mulher com um carrinho de bebê sentada em uma cadeira do lado de fora do quarto chamou sua atenção. Ele estava prestes a entrar, mas diminuiu o passo quando ela também ficou encarando parecendo assustada, ela abriu a boca como se fosse dizer algo, mas ele não tinha tempo pra jogar conversa fora, a porta do quarto estava aberta e Lucca entrou atordoado, mas se conteve pra não assustá-la e parou antes que ela o visse.

Ele respirou aliviado ao ver Melissa sentada sobre a cama parecendo calma e olhando distraída para a janela do outro lado do quarto. Ela estava com uma das mãos na barriga e a outra sobre a cicatriz e Lucca se preocupou um pouco. A conhecia bem o suficiente pra saber que ela sempre ficava com a mão sobre o peito quando estava aflita com alguma coisa.

— Mel?

Ela não olhou imediatamente para ele.

Baixou a cabeça, respirou fundo antes de levantar o olhar bem quando ele se aproximou e a abraçou angustiado.

Melissa se encolheu um pouco e não devolveu o abraço, Lucca se afastou e ficou olhando para ela um instante procurando por ferimentos e se preocupou ao ver uma marca vermelha na têmpora dela.

— O que foi isso, Mel? Por favor, minha linda, me diz que está tudo bem com vocês? — Ele acariciou o rosto dela, depois os cabelos e a barriga. — O que aconteceu, Mel?

Ela ficou olhando fria e incisiva para ele.

— Ninguém aqui quis me dizer se é verdade ou se eu estou imaginando coisas.

Melissa disse agora olhando para baixo parecendo distante e Lucca ficou olhando confuso para ela.

— Do que está falando, minha linda?

— Eles disseram que não podem me dar esse tipo de informação. Na verdade acho que as enfermeiras que me atenderam nem sabiam do que eu estava falando, elas nem sabiam da cirurgia, é claro que não devem saber de quem era.

— Mel... você está me assustando. O que foi?

Melissa levantou o olhar devagar e o encarou.

— É verdade, Lucca?

— O quê, amor?

Tentando não chorar, Melissa abaixou a gola do vestido até que a cicatriz aparecesse.

Lucca sentiu ossos congelarem e um buraco se formar em seu estômago.

— Mel, como você...

— É mesmo o coração daquela mulher? Me fala, Lucca! Foi o coração da Donatella que colocaram em mim?

Ele ficou mudo.

Estava tentado pensar em uma mentira só pra evitar que ela tivesse que passar por aquilo, mas não fez isso. Por um momento ele simplesmente não soube o que dizer.

Melissa entendeu o silêncio dele como um sim.

— Meu Deus! ................meu Deus! — Ela se afastou de Lucca, desceu da cama, foi até o canto do quarto onde estava suas sandálias, calçou e saiu andando.

— Mel? — Ele chamou indo atrás dela, mas ela não parou e saiu do quarto. — Mel, aonde você vai? Você não pode ir assim, você não está bem...

Ela parou do lado de fora do quarto e virou enfurecida para ele.

— Eu estou ótima......... não, eu não estou ótima, eu estou péssima! O coração de uma das pessoas mais horríveis está aqui dentro de mim, então eu não estou nada bem. Eu preferia ter morrido!

— Não diz isso! — Ele segurou o braço de Melissa fazendo-a parar. — Não diz uma merda dessas porque eu teria perdido você e os meus filhos.

Melissa se sentiu culpada. Não tinha pensado nos bebês ao dizer aquilo.

— Vamos conversar com calma, Mel.

— Você escondeu isso de mim esse tempo todo... você estava lá, Lucca, eu... eu não sei se eu quero saber o resto dessa história.

— Ããn... com licença.

Os dois olharam para o lado e viram Domenica ainda sentada na cadeira do corredor.

— Você esqueceu suas coisas, Mel. — Domenica estendeu a bolsa e a sacola com o vestido de Melissa e Lucca pegou. Melissa tentou pegar da mão dele, mas ele não deixou.

— Obrigada, Domenica. — Melissa disse com ironia. — Obrigada por me contar a verdade. Parece que você é a única pessoa aqui em quem eu posso confiar.

— Mel...

— Me desculpem. — Domenica disse constrangida. — Eu não queria causar nenhum problema, eu tinha certeza de que você sabia. — Ela olhou para Lucca. — Eu achei que ela soubesse. Me perdoa.

— Não é você quem tem que se desculpar, Domenica. — Melissa disse e saiu marchando até sair do hospital com Lucca atrás dela.

— Dá pra esperar, Melissa? — Ele pediu quando ela seguiu acelerada pela calçada. Lucca se distraiu um instante e tentou não sorrir quando achou que ela ficava linda brava daquele jeito e andando feito uma pata gordinha. — Che cazzo! — Ele berrou voltando a ficar bravo. — MELISSA! Se você não parar agora eu vou te jogar em meu ombro e te levar daqui.

Melissa parou de repente e virou pra ele com as mãos na cintura e o nariz empinado.

— Eu quero ver você conseguir fazer isso. — Ela disse apontando para a barriga e voltou a seguir andando desengonçada pela calçada.

— Mel, por favor, me deixa explicar tudo.

Ela parou novamente e olhou pra ele.

— Todo mundo sabia, não é? Todos eles sabem e ninguém me disse nada.

Lucca apertou os lábios meneando a cabeça e implorando silenciosamente pra que ela se acalmasse e o deixasse se explicar.

— É claro que todo mundo sabia. — Ela falou sem olhar para ele. — Esse tempo todo... eles também sabiam.

— Minha linda... por favor espera, por favor, Mel, vem conversar comigo.

— Eu não quero ouvir mais nada agora, eu não consigo, eu não quero. Eu não quero nem olhar pra você agora, Lucca. — Melissa parou de repente de novo e olhou para ele apontando o dedo. — É o coração da Donatella! É a porcaria do coração da irmã do Vincenzo dentro de mim! Eu não consigo pensar em mais nada agora então não fica aí querendo que eu fique e te escute porque eu não consigo... eu não consigo...

Melissa estava ofegante e agitada e tinha certeza de estar sentindo uma dor no peito.

Ela virou para a rua olhando pra todo lado perdida e confusa, olhou rua acima, viu um ponto de táxi, deu uns passos até Lucca, arrancou sua bolsa e a sacola com seu vestido da mão dele e voltou a andar até um dos carros.

— Melissa! Eu sei que isso tudo é uma loucura, eu sei que é demais pra você, mas vamos resolver as coisas como a gente sempre faz.

— Como a gente sempre faz? — Ela berrou com a voz estridente em meio ao choro e a raiva, deu uma risada sarcástica e ao parar ao lado de um dos táxis olhou bem fundo nos olhos de Lucca e repetiu. — Como a gente sempre faz. Quem é que foi embora e me abandonou quando podia ter ficado e resolvido as coisas "como a gente sempre faz?" — Melissa segurou a maçaneta da porta do táxi, enxugou o rosto e olhou pra ele de novo. — Eu quero ficar sozinha, Lucca. Você não é o único que tem o direito de fugir quando não sabe como lidar com alguma merda!

Lucca ficou estático e sentiu como se um dardo envenenado tivesse acertado seu peito em cheio.

Melissa olhou para ele arrependida do que disse, moveu a boca para se desculpar, mas ao invés disso, tentou abrir a porta do táxi, mas estava trancada, então viu o motorista que estava sentado na mureta da calçada correr em sua direção.

Lucca percebeu o olhar arrependido dela. Foi muito rápido, durou uma fração de segundo, mas era o olhar de quem não tinha intenção alguma de machucá-lo.

Mas ela desviou os olhos quando o motorista do táxi entrou no carro e destrancou a porta. Melissa abriu e se ajeitou para entrar meio desengonçada por causa da barriga, da sacola e a bolsa.

Lucca fechou a cara.

Apertou os lábios com raiva.

Sentiu uma urgência e uma fúria que esteve adormecida por um bom tempo fazer seu peito arder.

Sem pensar muito ele foi até ela, antes que ela entrasse agarrou Melissa por trás com cuidado, mas com firmeza e a puxou pra longe do carro.

— O que... Lucca! Lucca, o que você está fazendo?

— Você não duvidou que eu conseguiria te levar daqui?

— O quê...

Lucca tirou a chave do carro do bolso, se abaixou, pegou Melissa no colo e começou a levá-la para o carro.

Ela olhava estarrecida para Lucca sem acreditar que ele tinha coragem de fazer aquilo e logo a surpresa se transformou em raiva de novo e ela agarrou a gola da camiseta dele com força.

— Me põe no chão agora, Lucca.

Ele não disse nada e continuou inabalável enquanto atravessava a rua e seguia para o carro ignorando o olhar curioso das pessoas em volta.

— Me solta, Lucca. Você não pode fazer isso! — Ela rosnou bem perto do rosto dele.

— Eu não vou deixar a minha mulher e os meus filhos por aí. Você enlouqueceu se achou que eu ia deixar você ir embora. — Ele falou calmo e andando com Melissa nos braços como se ela ainda fosse tão leve quanto antes.

— Ah, é? Eu não posso, mas você pode ir embora quando bem entende?

— Eu não sou nenhum exemplo a ser seguido, muito menos por você.

Ela rosnou frustrada e cada vez mais irritada.

— Me põe logo no chão, Lucca!

Ele parou já na frente do carro, bufou irritado e olhou para ela.

— Se eu te colocar no chão promete que não vai a lugar nenhum e que vai voltar pra casa comigo?

Melissa não respondeu, estreitou os olhos para ele e apertou os lábios furiosa.

— Como eu pensei. Eu sabia que não.

Ela começou a se debater, a beliscar o peito dele e a gritar pra que ele a soltasse, mas Lucca ignorou, abriu a porta do carro e a colocou lá dentro com cuidado, ela tentou inutilmente empurrá-lo pra sair e se encolheu quando ele passou por cima dela para prender o cinto de segurança, parou um instante bem perto do rosto dela e os dois se encararam furiosos, ele então se afastou e fechou, trancou o carro antes que Melissa escapasse, ela agarrou o trinco e ficou se chacoalhando tentando abrir e xingando Lucca. Ele deu a volta, entrou e deu partida.

— Eu não acredito que você está fazendo isso.

— E eu não acredito que você quer agir como uma idiota e sumir por aí ao invés de ouvir o que realmente aconteceu. Pelo amor de Deus, Melissa, pra onde você estava indo, afinal? O que você ia fazer?

— Eu não sei, tá bom? Eu... eu só queria ficar sozinha, só queria ficar longe de você. Será que é tão difícil assim entender que eu estou furiosa porque você escondeu que agora eu tenho o coração de uma canalha miserável dentro de mim?

— Pois é, aquela cretina serviu pra pelo menos uma coisa boa na vida.

— O quê? O que foi que disse? Isso é uma coisa horrível de se dizer, Lucca!

— Eu não dou a mínima. — Ele falou furioso. — Eu não fiquei feliz por ela ter morrido, mas se isso serviu pra te manter viva, então pensa o que quiser de mim, mas é isso o que eu acho, aquela mulher não serviu pra nada quando estava viva, pelo menos pra uma coisa boa serviu depois de morrer.

Melissa ficou olhando estarrecida para ele.

Não sabia o que pensar.

Ao mesmo tempo em que sabia que aquela era uma das maneiras de Lucca dizer que a amava, também era conflitante saber que só estava viva porque outra pessoa, mesmo que tenha sido Donatella, tinha perdido a vida.

Melissa o encarou furiosa por um segundo, depois se endireitou no banco, cruzou os braços por cima da barriga, fechou a cara e ficou olhando pra frente emburrada.

Lucca deu uma olhada rápida de canto para ela com uma sobrancelha erguida.

— Por que você estava no hospital? O que aconteceu?

— Minha pressão caiu quando eu fiquei sabendo que tem o coração de uma bruxa dentro de mim.

— Mel. — Ele falou tentando se acalmar. — Aquela noite...

— Não! Cala a boca, Lucca. — Melissa falava gesticulando agitada. — Eu não quero ouvir sua voz agora e estou com raiva demais pra ouvir o que quer que tenha acontecido porque eu não estou conseguindo ser racional agora, então... fica quieto e me deixa quieta!

Lucca deu um suspiro frustrado. Nunca viu Melissa tão brava assim e só se calou porque não queria que ela ficasse ainda mais estressada.

Quando estacionou na rua ao lado da casa dela Lucca desceu do carro para ajudar Melissa a descer, mas ela abriu a porta antes que ele chegasse, colocou as pernas pra fora e tentou se levantar, mas não conseguiu de primeira por causa do peso da barriga e tudo o que estava carregando, Lucca ofereceu a mão, ela deu um tapa e ficou olhando brava para ele.

Tentou se levantar de novo, segurou nas laterais do carro e ficou gemendo enquanto impulsionava com força. Lucca odiava ver como ela parecia estar sofrendo carregando os dois chumbinhos de uma só vez, então se abaixou, passou a mão pela cintura dela e ajudou Melissa a ficar em pé.

Quando se endireitaram ele continuou a segurá-la bem perto e ficaram se olhando.

— Você está bem? — Ele perguntou com a voz agora mansa.

Melissa deu um suspiro raivoso e sem responder ela se afastou, entrou em casa e trancou a porta.

༻ ༺༻ ༺༻༺


Vocês pensaram que não teríamos mais tretas só porque está acabando? 😈

Mel está certa de ter ficado brava, ou está exagerando? (Qualquer que seja sua resposta..... culpe os hormônios rsrs) 😁🤭

Mas falando sério agora... estão preparados para o final? No próximo capítulo nos despedimos oficialmente desse elenco que conquistou nossos coraçõezinhos. 🥺🥰

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