O dia foi longo e intenso, Liam me levou a lugares que vi serem íntimos para ele. Particularmente, estava difícil associar esse Liam do meu chefe arrogante de terno, que estava sempre sério, sempre fechado para o mundo. Acho que ele só queria representar o ressentimento de trabalhar com algo que não gostava. Meu coração se apertou por ele. Nós caminhamos pelas ruas de Nova York presos em conversas aleatórias e algumas extremamente engraçadas.
Quando nos aproximamos da Times Square e lembrei daquela noite maluca com Dante e do momento que encontrei meu chefe sentado na minha porta em uma situação constrangedora. Comecei a rir comigo mesma, e vi Liam me olhando com curiosidade.
— Do que você está rindo? — perguntou com a sobrancelha arqueada.
Dei de ombros.
— De ontem à noite, exatamente — replico.
— O que tem sobre ontem à noite? — perguntou animadamente.
Comecei a sorrir ao mesmo tempo que corava perto daquele homem. Seria uma boa ideia contar sobre tudo a Liam? Tinha medo de estragar esse momento juntos com o que passei com Dante, mas embora fôssemos só amigos e meu chefe alguém que acabei me apaixonando. Eu pela primeira vez, não sabia o que fazer com relação a isso.
— Vamos Morgan, conte-me. — pediu carinhosamente.
— Ontem ao sair da empresa fui ao NYbar, encontrei com minha amiga para a celebração de um noivado e...— agora comecei a rir de nervosismo. — Lembra daquele garçom do Plaza?
Ele franziu as sobrancelhas, mas pela expressão que fizera tive a mera impressão de que ele sabia de algo, ignorei essa sensação voltando para a realidade.
— Então, acabamos conversando por um longo tempo e viemos aqui, fazer coisas como...— disse e olhei para o grande telão central, vi vários vídeos passando na timeline, principalmente a cena onde estava eu e Dante rodopiando como dois loucos e o momento que ele me carregou em seu ombro e corria fazendo um enorme esforço.
Olhei alarmada, eu odiava essa minha pequena vida, não havia a menor chance disso acontecer, mas estava ali na minha frente a prova da minha estúpida loucura da noite anterior. Alguns rostos viraram para nós e riam alto de mim, não sabia onde esconder minha cara. Liam soltou da minha mão e me olhou com uma sobrancelha arqueada e aquilo estava começando a me irritar, mas agora ele sabia o que exatamente havia feito ontem e logo me ocorreu o pensamento que Dante estava por aí, ele disse que sempre vinha ver o telão para rir de si mesmo.
Lembrei-me de todas sensações e das conversas que tive com ele e comecei a rir com vontade. Mas preocupei-me se Alex e Zara tivessem visto, acho que não. Liam apenas deu dois passos para trás, cruzou os braços diante do peito com um sorriso petulante no rosto.
— Era isso que pretendia me contar alguns minutos atrás? — perguntou com soberba e certa diversão brilhando em seus olhos.
Bati de leve em seu braço e ri.
— Sim, era o que eu ia dizer a você antes de parecer uma idiota na tela. — replico.
— Ah não está tão ruim, Morgan, mas um pouco ridículo sim. — ele riu.
— Alguém já disse que você é um idiota? — brinquei.
Ele assentiu.
— Acabou de dizer! — exclamou entre o riso.
Perdi as contas de quantas vezes o vi ri hoje assim, de uma forma libertadora. Continuamos conversando enquanto assistíamos um filme de baixa qualidade de terror sobre minha performance. Depois de um bom tempo, senti minhas entranhas se remexeram de uma forma desagradável dentro de mim e olhei para o lado, não vi nada além de Flashmob's, quando Liam deu um passo para virarmos na direção da minha rua quando fomos abordados por uma mão caliente e bronzeada, olhei para minha direção contrária e vi Dante com um sorriso doce em minha direção, mas ao olhar para a mão possessiva em meu cotovelo e pude sentir a tensão que pairava no ar.
Quando tudo parecia estar calmo a vida vinha e fazia questão de aplicar seus velhos truques em um passe de mágica. Tudo parecia imperfeito e fora do lugar agora, me sentia como uma presa encurralada por dois predadores e no caso eu era um prêmio a ser disputado. Olhei para os dois, as expressões e faces fechadas encarando-se de uma forma mortal, parecia que eles iam se atracar no meio da rua, mesmo eu podia sentir essa tensão hostil. Dante parecia sério demais e havia uma certa atenção em Liam, ele fazia o mesmo e não recuava, eu queria intervir mas entrar no meio acho que só os faria apressar a disputa acirrada declarada ali.
Quer dizer, eles nem se conheciam direito e depois da conversa sobre Alex Hundger sobre o incidente daquele dia, não poderia deixar Liam se arriscar mais dessa forma, seria desastroso para ele e para empresa, de qualquer forma. Teria de mudar isso.
— Liam, esse é o Dante — digo calmamente e me viro para Dante. — Dante, esse é o Liam.
— Bom, de qualquer forma, já estamos indo. — afirmou Liam sem tirar seu olhar penetrante e imponente do rapaz que seguia o mesmo.
— Entendo, só quero cumprimentá-la — replicou Dante. — Tenha um bom fim de tarde, Morgan. — disse ele pegando minha mão esquerda e depositou um beijo cálido em suas costas e pude sentir Liam ecoar um barulho parecido com um rosnado.
Dante sorriu e piscou para mim e tomou direção contrária a multidão. Por mais que os dois não se batem desde o casamento, era impossível não sentir aquela sensação horrível de ter perdido um bom amigo, era estranho estar sendo disputada por dois homens incríveis. Mas eu não sou com um troféu a ser disputado, era só uma garota americana livre com poder de escolhas e teria de ensinar isso aos dois homens primitivos aqui.
Liam caminhou apressadamente pela rua e, consecutivamente me puxava com ele. Ele parecia o meu antigo chefe agora, eu começava a suar e arfar pedia constantemente para ele parar, mas ele parecia não querer me escutar.
— O que ele quer com você? — perguntou asperadamente a mim.
Franzi as sobrancelhas.
— O que? Liam, pare de correr, suas pernas são muito mais longas que a minha! — pedi exaltada.
— O que ele quer, Morgan? — gritou de uma forma furiosa e acabou me assustando, seus olhos expressavam algo sombrio, difícil de decifrar, cadê o Liam de alguns minutos atrás? Simplesmente se fora? Ele não podia gritar comigo como se eu fosse propriedade dele!
— Somos apenas amigos, Liam! — grito de volta e uso toda a minha força para soltar minha mão da sua, senti lágrimas se formarem em meus olhos, mas mantive o controle de segura-las.
Ele viu meu gesto e fechou a cara mais ainda.
— Eu vi tudo o que vocês fizeram ontem! — disse furioso, suas mãos fecharam ao lado de seu corpo, ele estava irado.
— Como você viu tudo? — perguntei, confusa com esse Liam.
— Eu...segui você até o NYBar, eu vi vocês saindo até eu conseguir perder o rastro de vocês, mas pelo visto vocês estavam se divertindo! — esbravejou na minha cara.
Aquilo foi de partir o coração, me seguir? Saber que cada passo hoje com ele foi intencionado, me machucava. Foi tudo uma farsa? Foi tudo real? Havia uma confusão estranha que trazia inseguranças, tristezas e mágoas, como ele pôde fazer isso comigo?
— Foi por isso que foi ao meu apartamento, não foi? — perguntei sentindo a voz embargada, algumas lágrimas rolaram.
Ele ficou calado sua expressão dura e indecifrável permanecia em seu rosto.
— Você me usou? — perguntei entristecida.
Vi ele suspirar e abaixar a cabeça, ele esfregou as mãos no rosto e depois de rodar umas quatro vezes na minha frente e parar com as mãos nos quadros e me olhou e disse:
— Desculpe, mas desde o dia do estacionamento tudo que conseguia pensar era...em você. Eu não quis parecer um maníaco, um perseguidor e nem queria ver você assim.
— Precisou fazer tudo isso para me magoar? — perguntei, indignada pela sua atitude covarde de se garantir como homem.
Será possível que eu podia me decepcionar cada vez mais com uma pessoa só que acabei me apaixonando sem ter cuidado com o depois? Era possível sentir-se destruída a ponto de pensar que tudo em sua vida, desde o começo poderia ser uma ilusão? Arrepender-se de entrar em um lugar, sabendo que nada daria certo ali dentro. Se eu tivesse tido mas coragem, poderia ter evitado muita coisa.
Tudo que havia sentido ontem e hoje pela manhã, não passava de um desejo egoísta de um homem imparcial, arrogante, ranzinza e sem pretensão de vida. E agora, o que poderia acontecer? O que poderia vir a seguir? Me entregar de novo? Não, estava disposta a quebrar esse padrão de feminismo, isso acaba agora.
Ouvi ele dá um profundo suspiro antes de começar a dizer:
— Morgan, eu não quero magoar ninguém, eu de uma certa forma, preciso de você. Preciso da sua ajuda e estamos enroscados nessa armadilha, se me ajudar será bem recompensada e quando tudo isso terminar eu lhe garanto que sumo da sua vida.
— Liam Madison, você acaba de destruir tudo em que acredito, me usou para seu próprio propósito egoísta e espera que eu ainda o acompanhe nessa loucura com sua ex? — começo a rir de desdém.
— Eu a imploro, depois a deixo livre para viver seu romance com o garçom. — implorou ele, e vi ele retesar seu maxilar ao franzir as sobrancelhas.
— É muita coisa para engolir, preciso de tempo e peço que não me procure por enquanto. — peço e me viro de costas para ele. — E, eu não faço mais parte da Madison & Huntersberg.
— Morgan...— começou ele.
— Pode começar a fazer minha carta de aforria.
Comecei a andar em qualquer direção que não seria a que ele queria tomar, as lágrimas já escorriam livremente pelo meu rosto e pedi aos céus que me dessem um discernimento, pois minha mente turva e embaralhada impedia que eu pudesse pensar em qualquer coisa, no momento eu só queria ficar só e pensar nos possíveis desastres que me vem acontecendo ultimamente.