- Isso não é da sua conta. - Tinha um olhar triste ao dizer.
- Na verdade é. - Deu de ombros. - Preciso saber o que esperar quando for falar com ele.
- Você vai realmente falar com ele? - Cruzou os braços. - Estava com ódio, agora quer retomar amizade do nada?
- Quero retomar a minha vida. - Avisou e ela negou com a cabeça sem dizer nada, apenas abraçou a amiga e saiu.
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Sophia tomou coragem pra entrar em casa vinte minutos depois que tinha saído da casa de Arthur. Vasculhou a bolsa á procura da chave e respirou fundo ao enfiar na fechadura e girar. Entrou e não viu o marido nos cômodos aparentes, pensou em gritar, mas sabia que ele devia estar no escritório.
Ao passar pela sala, viu cinco pequenas câmeras em cima da mesa de centro e rolou os olhos, um pouco da raiva de volta a ela.
Deixou a bolsa na sala, jogou o chaveiro no balcão e caminhou pra dentro da casa, rumo ao escritório, deixou a pequena raiva sair de si antes de dar batidinhas na porta e não ouvir resposta.
Insistiu mais um pouco e não teve resposta novamente, entrou e viu o que imaginava, a sala vazia e o notebook fechado. Encostou a porta novamente e voltou a caminhar pelo grande apartamento. Cozinha vazia, escritório vazio, quarto deles vazio.
- Onde diabos você se enfiou? - Falou sozinha no corredor, com as mãos na cintura. Se preparou pra voltar a sala e pegar o celular. Ligar resolveria aquele problema.
E quando chegou, viu o esposo passar pela porta, com uma sacola de pães. O sorriso no rosto dele se abriu ao ver Sophia de volta.
- Amor! - Disse alto, empurrou a porta com força, que bateu, e então chegou perto da loira. - Que bom que já voltou! Como pode ver, eu mandei tirar tudo! - Apressou-se a explicar. - Juro que agora não tem mais, tive tanto medo de perder você e não poder conviver sempre com o nosso filho!
- Precisamos conversar. - A loira caminhou até a cozinha e puxou uma cadeira pra sentar. - Muito sério!
- Você não vai pedir o divórcio, vai? - Ele a tinha seguido, mas estava de pé, perto da pia, sem coragem para olhar em seus olhos. - Foi uma briga tão idiota!
- Eu vou falar sem rodeios, sabe que eu não gosto de enrolação. - Observou o marido assentir. - Ontem a noite, mais precisamente, hoje pela madrugada, eu passei a noite com o Micael.
A sacola que ele ainda segurava, caiu no chão. Sophia observou o olhar de Augusto ficar triste e parecia que o homem choraria em qualquer momento. A boca semiaberta indicava surpresa, por mais que houvesse aquela possibilidade, não esperava que Sophia chegaria e contaria assim, na cara dele.
- O que você quer de mim, Sophia? - Disse sério, abaixando e pegando a sacola de pães do chão. Felizmente estava amarrada e nenhum se perdeu. - O divórcio?
- Não, eu quero o seu perdão. - Ele balançou a cabeça incrédulo. - Foi um erro.
- O que, ele te deu outro fora? - Abriu a sacola e colocou os pães na cesta, em seguida tirou o suco da geladeira e pôs os dois sobre a mesa também. - Por isso que está aqui novamente, querendo que o corno te perdoe?
- Não fala assim!
- E não foi isso que você jogou na minha cara ontem? Que só casou comigo porque ele não te quis? - Pegou manteiga e requeijão. Em seguida um iogurte natural, que somente ele tomava, Sophia odiava aquele troço.
- Eu só estava com raiva por conta das câmeras. - Falou baixinho.
- Você sabe que as câmeras são algo bem menos grave do que você transando com seu ex. E pior - complementou - com o meu filho na barriga.
- Eu sei, me perdoa, não vai mais acontecer. Sinceramente, até brigamos hoje pela manhã. Eu escolhi dar a nós dois mais uma chance de sermos uma família, com o nosso filho.
- Desculpa mas é bem difícil de acreditar. - Resmungou chateado. - Bom, fica aí, toma seu café e descansa, imagino que sua noite tenha sido puxada. - Ironizou. - Eu vou trabalhar da empresa hoje. Tenha um bom dia. - Passou por ela, pegou a mochila que já estava pronta antes de ir comprar o pão e saiu, sem ao menos dar um beijo em Sophia.
- É, eu consegui estragar tudo com os dois. - Disse isso pra barriga, enquanto a alisava. - Quer um pãozinho, meu amor? - Abriu um ao meio e passou requeijão. Duas mordidas depois estava no banheiro vomitando até o que não tinha, mas isso não a parou, voltou lá e terminou o pão, com fome não podia ficar.
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Quando foi a noitinha, um Micael arrumado apareceu na sala de Arthur e Laura. Os dois estavam ali, assistindo um filme. Aquele sábado era folga de Micael.
- Uau! - Laura elogiou. - Está um gato!
- Por favor, minha deusa, menos! - Arthur fingiu estar enciumado. - Sabe que ele é um comedor de casadas.
- Então você está seguro, não sou sua esposa. - Laura rebateu em tom de crítica e fez Micael dar risada.
- Toma distraído! - Implicou. - Vou sair com a Raquel.
- Engraçado que você parece animado. - Laura o viu fazer uma dancinha. - Pra quem nem queria sair com a garota.
- Já disse, agora que eu desencanei, as coisas vão mudar. - Avisou. - Arthur, vai lá e me empresta um perfume!
- Você está me parecendo um filho adolescente, Micael. - Reclamou, mas levantou e foi buscar. - Toma, filho.
- Muito gentil! - Tomou um banho com o perfume e fez com que os dois reclamassem de cara feia. - Que isso gente, eu tenho que sair cheiroso.
- Porra, toma banho de sabonete, não de perfume. - Laura tapou o nariz. - Se a Raquel for alérgica você vai mata-la.
- Como são dramáticos. - Pegou a carteira, a chave e começou a caminhar pra saída. - Vou indo, até mais.
- Antes das dez em casa, não se esqueça. Use camisinha! - Deu as ordens e riu, realmente parecendo um pai.
- Tchau, papai, tchau mamãe. - Debochou e então seguiu seu caminho.
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Micael e Raquel foram ao cinema e em seguida caminharam pela praça enquanto tomavam sorvete, pelo menos era o que o dinheiro dele podia pagar.
Os dois conversaram sobre hobbies, famílias, gostos musicais e filmes preferidos. Descobriram que eram bem parecidos e isso os surpreendeu.
Tinha sido uma noite agradável, que poderia ter acabado de uma forma maravilhosa, quando a morena o chamou pra conhecer seu apartamento. O "sim" estava na ponta da língua, mas quando viu a hora, teve que declinar do convite.
- Rápido demais? - A morena perguntou confusa. - Achei que a gente estava se dando bem.
- Não se trata disso, prometi ao Arthur que estaria em casa antes das dez. - Estava sem graça, pensando em alguma desculpa pra dar. - Já são nove e quarenta, eu preciso ir.
- Arthur é seu pai? - A mulher debochou. - Ele deve estar bem ocupado com a Laurinha, tenho certeza.
- Eu realmente preciso ir. - Disse sem nem olhar nos olhos dela, chamava um carro pelo aplicativo. - Fica pra minha próxima folga.
- E você vai fugir quando der nove e quarenta de novo? - Tinha as mãos na cintura. - Olha, se eu disse algo errado, pode falar. Me achou muito oferecida por te chamar pra minha casa?
- Não se trata disso! - Se apressou a dizer. - Eu gosto de mulheres diretas!
- Não está parecendo. - Fez um bico. - Vai virar abóbora às dez?
Após confirmar a rota e fazer o pedido, Micael puxou a mulher ainda de bico pela cintura e lhe deu um beijo quente. Ela ficou sem reação por alguns instantes, mas logo cedeu ao beijo.
- Eu juro que amei nosso encontro. - Disse quando a afastou. - Mas realmente preciso estar em casa às dez. - Parou e pensou um pouco. - Você quer ir comigo?
- Pro apartamento do Arthur?
- Bom, podemos ficar no quarto. - Colou os corpos novamente e deu um beijo na bochecha da mulher, que parecia que ia se desmontar inteira ali, em pé. - Eu posso mostrar pra você o tanto que amei esse encontro.
- Golpe baixo! -Resmungou ainda recebendo beijinhos no pescoço. Micael deu uma mordiscada em seu lóbulo e a mulher soltou um gemido. - Eu topo. - Disse manhosa e então ele se afastou. - Parou por quê?
- Porque estamos numa praça em público. - Deu risada. - Não quero ser acusado de atentado ao pudor. Logo menos eu continuo até você gritar e implorar pra que eu pare.
- Estou ansiosa! - Sorriu com malícia e recebeu outro beijo nos lábios, dessa vez, bem mais calmo. O carro chegou e logo estavam ambos na casa de Arthur, que ainda estava na sala com Laura. - Oi, gente! - Raquel disse envergonhada. Não ouviu resposta, Micael saiu puxando a mulher pro quarto.
- Por essa eu não esperava. - Arthur cometou. - Agora realmente acho que ele decidiu superar.
- Quero só que os dois sejam felizes! - Laura deu de ombros e se aconchegou no namorado.