𝗧𝗲𝗿𝗺𝗶𝗻𝗮 𝗻𝗼 "𝗲𝘂 𝘁�...

By i4mbrave

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Em milésimos de segundos é possível mudar toda a trajetória da sua vida... para melhor ou para pior. Mas não... More

➪𝗔𝗻𝘁𝗲𝘀 𝗱𝗲 𝗰𝗼𝗺𝗲𝗰̧𝗮𝗿 𝗮 𝗹𝗲𝗶𝘁𝘂𝗿𝗮...
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capítulo 10: traição

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Me surpreendo ao encontrar Louis parado em frente à minha casa segurando sacolas em suas mãos. Ele está com um bico nos lábios e batendo suas pernas em gesto de ansiedade. Analiso pela câmera de segurança me perguntando o que ele faz aqui em um sábado à noite sem que tenhamos treino ou combinado algo.

Paro de tentar supor o que ele está fazendo e abro a porta pelo interfone mandando-o entrar. Nessa altura, acho que já temos intimidade suficiente para tal coisa. Ele já me viu matar, me ajudou a esconder um corpo, já enterrei um corpo de cachorro para ele, ele já quase morreu e eu salvei sua vida, realmente bastante intimidade.

Assim que ele surge pela porta principal da sala que vai do chão até o teto com o pé direito bem alto, levanta as sacolas com um sorriso enquanto eu o olho confuso tentando decifrá-lo

— O que está fazendo aqui?

— Noite dos garotos! — Balança as sacolas que ergueu no ar. — Somos amigos, Harry, não somos? — pergunta meio incerto com a minha reação e eu aceno com a cabeça, mesmo não considerando-o apenas meu amigo, mas sim o amor da minha vida e pai dos meus futuros filhos. — Então, teremos uma noite de garotos! — Sorri animado e eu me pergunto em que merda eu me meti.

......

Jamais teria me imaginado nessa situação meses atrás. Estou com meus cachos presos em uma touca enquanto Louis os hidrata com uma mistura que fez. Meu rosto está impossibilitado de fazer expressões grandes devido a uma máscara preta que Louis justificou que tira cravos. Enquanto isso, ele está pintando as minhas unhas e tagarelando sobre seu trabalho da faculdade sobre Agatha Christie, sua autora favorita.

Talvez eu esteja reclamando, mas eu preferia que ele estivesse falando menos e me beijando mais. Porém, como não estou podendo ter isso, vou me contentar com o que tenho.

— Isso está me incomodando — murmuro  mal-humorado.  — Quero tirar!

— Você vai ficar aí quietinho porque a máscara já está quase terminando de secar, aí pode tirar.

— Por que estamos fazendo isso mesmo? — pergunto enquanto ele limpa os cantinhos da minha unha pintada de preto.

— As garotas na faculdade estavam me contando que tiveram um dia assim eu fiquei muito chateado por não terem me chamado. Quando perguntei o porquê, elas disseram que eu sou homem e isso é uma noite de "garotas", olha que absurdo! — diz indignado. — Então, eu decidi fazer uma com o meu amigo para esfregar na cara delas que não precisa ser mulher para ter uma noite assim.

— A gente devia deixar só para as mulheres, porque esse negócio incomoda — digo cutucando com a minha mão livre a máscara e recebo um tapa de Louis.

— Pare de cutucar, assim vai estragar. — Bate na minha mão, jogando-a para longe e eu faço um biquinho frustrado.

— Tá bom, parei.

— Enfim — diz bravo e eu deixo ele finalizar a esmaltação da minha mão. —, depois de muito tempo eu estou animado com um aniversário, não é todo dia que se faz 28 anos, né? — Concordo com a cabeça. — Estava pensando em fazer uma festa, mas eu queria algo mais elaborado. O que você acha?

— Acho uma ótima ideia, se quiser eu posso te ajudar a organizar.

— Com certeza vou querer, principalmente na parte da lista de convidados. Eeu não tenho muitos amigos, só algumas pessoas da faculdade, mas que mesmo assim eu não considero muito,  Liam e agora você.

— Bom, se você quiser manter a polícia longe da sua festa é melhor não convidar ninguém que eu conheço.

— É você tem razão

— Por que você não faz uma comemoração menorzinha?

— Porque eu queria uma festa grande, eu nunca tive uma festa. Mas para falar a verdade, nem sei como conseguiria pagar, mas eu ia dar um jeito. Só que se não tem nem convidados, não adianta nem tentar. — Sorri tristemente.

— É melhor estar cercado de poucas pessoas verdadeiras do que muitas falsas, eu também não tenho muitos amigos, mas sei que os poucos que eu tenho são confiáveis e que posso confiar neles, isso não tem preço.

— É que tem sido difícil sabe, me reerguer depois de tudo, eu sinto muita falta del- — Se cala e olha para o chão. — Quer saber, vamos deixar essa festa para lá. — Sorri falsamente e eu fico angustiado, com um aperto no peito por ele não está me contando as coisas.

— Louis, não é você que diz que somos amigos? — pergunto e ele confirma com a cabeça. — Amigos contam as coisas um para o outro e podem confiar. Se estiver precisando conversar eu vou estar aqui sempre, saiba disso. — Tento parecer gentil e não forçá-lo a nada, mesmo que por dentro eu esteja gritando "pelo amor, me fala o que está acontecendo, eu quero te proteger de todo o mal do mundo".

— Está tudo bem. — Sorri sem dentes. — Não tem nada que eu precise conversar.

Suspiro derrotado e tento deixá-lo falar em seu tempo, eu nunca deveria ter achado que ele era um garoto sem graça. Louis é mais complexo do que eu imaginei e a cada dia que passa reparo mais isso.

Solto ou um grito de dor quando ele puxa um pedaço da máscara preta em meu rosto.

— Puta que pariu! Isso dói!

— Pare de drama, foi só uma puxadinha de leve. — Ri da minha cara.

— Puxadinha de leve que arrancou junto com ela metade da minha cara.

— Não arrancou não, olha.  — Me mostrou o pedaço que tem vários pontinhos brancos. — Saiu apenas alguns cravinhos, vem tem que tirar o resto.

— O quê? Tem mais? Não saiu tudo ainda?

— Não — diz com um sorrisinho fofo segundos antes de dar um puxão forte retirando o resto da máscara e junto dela, a minha alma.

Minha pele está ardendo e queimando. Faço uma nota mental de nunca mais deixá-lo colocar uma dessas coisas do diabo na minha cara de novo.

— Por que só eu usei uma dessa e você não?

— Porque meu rosto já está perfeito. — Passa seus dígitos na pele que realmente é muito macia.

— Está dizendo que a minha pele é ruim?

— Se a carapuça serviu. — Dá de ombros e me olha de canto de olho com um sorrisinho nos lábios.

Indignado com sua cara de pau de falar que minha pele é ruim, pulo em cima dele e começo a fazer cosquinhas por todo o seu corpo. Ele tenta bloquear meu acesso com suas mãos, falhando miseravelmente enquanto não consegue parar de rir.

— Quem que tem a pele ruim agora, hein?

— Para, por favor — diz entre as risadas. — Harry!

Cesso as cosquinhas e ele para de rir, mas seu corpo ainda treme um pouco e eu começo a gargalhar quando ele soluça. Louis está deitado no chão do meu quarto comigo, estou entre as suas pernas, nossos rostos estão tão próximos que sinto seu hálito quente batendo contra meu rosto. Está tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. É doloroso ter esses lábios rosados tão perto de mim e não poder fazer nada.

Louis está tão lindo e eu me sinto tão bem assim próximo dele, só que essa sensação parece evaporar com um calafrio e uma náusea invade meu corpo. Saio de cima dele e me jogo para o lado fechando os olhos tentando fazer essa sensação passar.

— Harry, você está bem? — Sua voz soa preocupada e eu faço que sim com a cabeça, mesmo não estando.

......

Me despeço de Louis com um beijo na bochecha na minha sala. Já que ele veio tantas vezes aqui em, já conhece o caminho da saída. Apesar da pequena tortura com a máscara, a noite não poderia ter sido melhor, passar um tempo com Louis se tornou minha coisa favorita. Não sei explicar, apenas ficar perto dele me fez bem. Estou tão imerso nos meus pensamentos que levo um susto ao escutar uma voz atrás de mim.

— Eu não gosto dele.

Me viro já sacando a arma destravada e relaxe o meu corpo ao ver que apenas Zayn.

— Que susto, filho da puta. — Guardo a arma e vou para perto dele. — Como você entrou aqui?

Zayn vira para trás começando a andar pela minha casa e dá de ombros.

— Essa casa está precisando de uma refoma — diz analisando minhas paredes com sua feição esnobe.

— Zayn! — digo bravo, chamando sua atenção, sei que ele está desviando do assunto. — O que você está fazendo aqui?

Ele vira novamente para mim com uma feição falsamente triste e se aproxima desamassando minha camisa, tocando assim, nos músculos do meu peitoral por cima do pano.

— Eu sou seu amigo, não posso mais fazer uma visita? Ou agora é uma exclusividade do louis? — Solta o nome do garoto com uma voz enojada.

— Vai começar mais uma crise de ciúmes. Você que é o meu mehor amigo, não ele.

— E o que te faz acreditar que eu estou com ciúmes?

— Tudo?

— Então "tudo" está enganado, já que eu não estou! — diz convicto.

— Sei... — falo sorrindo achando uma certa graça desse ciúme bobo de Zayn.

Não vejo motivos para ele se sentir inseguro em relação a Louis, eu os vejo diferente não é como se Louis fosse roubar o lugar dele. Zayn é o meu melhor amigo, aquele que esteve sempre comigo nos últimos anos e nunca precisei fingir ser quem eu não sou em sua frente. Louis é o amor da minha vida, com quem eu quero ter uma família e compartilhar todos os meus dias. Não há o porquê Zayn achar que Louis está tomando o lugar dele.

Escuto Zaynb bufar e reparo que ele carrega uma bolsa a qual abre e retira uma cabeça humana de dentro.

— Você está ficando frouxo, Harry — diz negando e joga a cabeça morta em minha direção que fico completamente assustado. — Você não reconhece?

Cruze os braços e analiso o homem em minha frente.  Ele tem cabelo loiro e os olhos castanhos claros abertos, completamente sem vida. Suas feições não são estranhas, mas eu não consigo me recordar.

— Eu não sei quem é. — Confesso e Zayn parece furioso com a minha resposta.

— É por isso que eu digo que você está ficando fraco com ele em sua vida. Louis está te fazendo ficar desatento a cada detalhe. — Pisco ainda confuso tentando entender do que Zayn está falando e de quem é aquela cabeça aos meus pés. — Casa vermelha, 3 andares, família com 4 filhos...

Ai meu Deus, eu me lembro!

— Mas isso tem muitos anos, como você o achou? — pergunto confuso e Zayn ri indignado.

— Eu não achei ele, ele te achou. Estava aí perambulando as redondezas da sua casa, olhando você pela janela e você nem reparou porque estava distraído demais com Louis.

— Isso é impossível, eu teria reparado!

— Ficaria de olhos abertos porque se ele conseguiu te achar, a irmã dele também conseguirá e agora tem mais uma pessoa para vingar a morte.

— Isso não faz sentido! Faz tanto tempo, achei que eles tinham me esquecido.

— Harry, ás vezes você tão ingênuo... Em alguns momentos penso que falhei um pouco com você, mas você vai aprender, sei disso. As pessoas não esquecem quando um assassino mata toda a sua família na sua frente. Eles literalmente juraram vingança, achou que ia ficar só por isso mesmo?

— Eles eram duas crianças, eu não ia matá-los e também não achei que iam lembrar de mim para sempre.

— Você tem merda na cabeça? — Zayn se altera. — Eles com certeza possuíram uma infância problemática por ter visto você esquartejar os pais e os irmãos na frente deles e exatamente por serem "só crianças", devem ter crescido todos esses anos com um único objetivo: vingança. De verdade, não entendo você continuar tentando ser uma boa pessoa e poupar as crianças, sempre mate se for necessário. Está tão inerte com a vida que quer com Louis que se esqueceu que tem mais muitas pessoas que querem sua morte. Então começa a ficar atento que eu não vou estar aqui para limpar sua barra para sempre. 

Sai furioso da minha casa sem nem deixar responder.

......

Assim como Louis disse, eu preciso reagir e é isso que estou tentando fazer. Em mais um cômodo sem utilidade da minha casa, peguei uma parede em branco e estou montando um quadro criminal tentando juntar as peças e os bilhetes dela, para ver se tem alguma dica que me leve a Amy e sua identidade verdadeira, até que finalmente, a sua morte.

Há tantas lacunas, tantas coisas que não fazem sentido. Não faz sentido ela saber tanta coisa da minha vida e ter conseguido se aproximar de mim de maneira tão fácil que eu nem reparo em sua presença. É como se ela fosse um fantasma. Será que estou enlouquecendo e ela é apenas um fruto da minha cabeça? Não, não pode ser. Não é possível que minha cabeça criaria esses bilhetes e mataria minha própria gatinha, caso realmente aconteça isso, Zayn pode me internar porque estou no ápice da loucura.

Minha vista é tomada por diversas fotos, bilhetes e anotações ligadas a fios vermelhos e de outras cores. Tento criar uma linha do tempo desde o primeiro bilhete até o último, tentando assim achar um possível padrão, alguma justificativa para como tudo isso começou, ou qual o objetivo dela com isso tudo.

Quem é ela?

Ela está sozinha?

Por que ela faz tudo isso?

Qual é o seu objetivo?

Uma angústia e uma sensação de desespero retornam ao meu corpo ao olhar para o primeiro bilhete da stalker e me lembrar da sensação de quando achei ele.

A noite gélida de Londres faz os pelos do meu corpo se arrepiarem e meu queixo tremer levemente. Harriet está em meu colo ronronando enquanto faço o carinho atrás da sua orelha que ela tanto ama. Na TV está passando uma maratona de Toy Story, filme o qual eu particularmente não gosto, mas Harriet ama, e a vontade dela sempre vai ser superior a minha. A gatinha parece sempre se acalmar e ficar vidrada na televisão quando os brinquedos estão em cena, então se tornou uma tradição esse tempo que passamos juntos assistindo Toy Story enquanto eu a massageio. A amo tanto que não consigo imaginar minha vida sem ela.

─ Tá bom, meu amorzinho, papai está amando ficar com você, mas quero muito um chocolate quente ─ digo tirando-a do meu colo e ela chia descontente enquanto eu me levanto colocando o roupão de microfibra quentinho. ─ Que ir comigo? ─ Abro a porta do quarto e ela já vai andando em minha frente.

Cantarolo no caminho fantomas do Mike Patton e minha voz junto dos meus passos ecoam pela casa grande ocupada por poucos móveis. Harriet praticamente desfila em minha frente colocando delicadamente as suas patas no chão e balançando seu rabinho enquanto também parece cantarolar a música ao que alguns ruídos saem de si. Algumas pessoas têm conexões com cachorros, com plantas, eu já acredito que minha conexão seja com essa gata, parecemos estar sempre na mesma frequência vibrando juntos. Ela foi a única coisa boa que Amber me deixou.

Acendo a luz da cozinha e abro a geladeira pegando uma garrafa de leite e a barra de chocolate para derreter. Pico em cubinhos o chocolate ao leite para facilitar o derretimento e coloco dentro de um pote de vidro para levar ao micro-ondas. Enquanto isso, pego a caneca que vou tomar. Ela é a coisa mais linda desse mundo por ter estampada uma foto minha e de Harriet dentro de um coração onde ela está com o rosto todo enrugadinho enquanto eu dou um beijo em sua bochecha macia. Abro a garrafa de leite e derramo na caneca me assustando quando o líquido respinga ao que algo sólido cai dentro do frasco.

Olho para Harriet e ela está sentada no chão me encarando e mexendo a cabeça de um lado para o outro. Enfio os dígitos dentro do líquido e puxo de dentro dele uma cápsula oval transparente, dentro dela consigo ver um papel pequeno dobrado.

Ao abrir o bilhete me deparo com a seguinte mensagem:

"Sabia que é feio esconder segredos de seu melhor amigo? Ainda mais um tão grande desse. Oh meu amor, você vai se arrepender tanto de ter feito isso."

Automaticamente meu coração gela e o ar parece ter evaporado da Terra. Minha garganta se fecha e eu começo a olhar desesperadamente para os lados sentindo alguém me observar.

Zayn não poderia descobrir o segredo que eu guardo dele. Guardei isso a sete chaves por anos, como alguém descobriu?

Isso não faz sentido, como alguém sabia do segredo que eu escondi de Zayn? E o mais estranho é que essa foi sua primeira ameaça e depois nunca mais tocou no assunto. E Zayn nunca ficou sabendo de nada, eu saberia se ele tivesse descoberto porque ele me torturaria certamente.

Repasso na minha cabeça os acontecimentos daquela noite tentando lembrar de cada detalhe e pensando em quem mais poderia saber, achei que tinha matado todas as testemunhas.

Zayn nunca me perdoaria por essa traição, ainda mais depois de eu afirmar sempre que não o traíra nunca, mesmo já tendo feito. Com certeza seu par de chifres terá doído bem menos do que quando ele descobrir a verdade.

Volto a ficar ansioso, afinal, sinceramente, ocorreram tantas ameaças após essa que eu acabei me esquecendo que ela sabia um dos meus maiores segredos que me assombrou por anos. Se eu tiver Zayn contra mim, eu não tenho chances. Ele sabe tudo sobre mim, ele quem me treinou e por isso é mais forte, mesmo que eu tente superá-lo, é impossível. Já estou com inimigos demais para perder a única pessoa que tenho ao meu lado desde o início. Eu não sei do que ele seria capaz caso descobrisse o que eu fiz, certamente, ele consideraria que a morte é pouco para mim.

Olho agora para uma captura de tela que eu fiz das milhares de vezes que Amy esteve em minha casa. Com o passar do tempo parei de checar, porque assim como o ditado diz: o feliz é o ignorante. Ao reparar que ela consegue facilmente entrar e sair por um ponto cego onde eu não tenho câmeras, eu fico paranoico e saber que isso acontece quase que diariamente, me assombra. Só que isso não é o pior, as imagens somem, ela apenas deixa as que eu posso ver. Diversas noites dos últimos meses não tem a gravação do meu quarto, apenas dela entrando em minha casa, mas eu não consigo saber o que aconteceu comigo nesse período. Com isso, milhares de hipóteses começam a surgir na minha mente que me deixam louco se eu paro para pensar. Por isso eu tento ignorar, dormindo por cima dos meus problemas como se eles fossem sumir magicamente quando acordasse.

Minha concentração evapora totalmente ao que as luzes da minha casa se apagam bruscamente e eu não sei o que aconteceu, porque ao olhar pela janela, as luzes da rua ainda estão acesas. Saco a arma em minha cintura e começo a andar sorrateiramente pelo cômodo tentando me proteger, sei que isso não foi acidental e temo o que possa acontecer nos próximos segundos.

Escuto um barulho de passos, mais especificamente de saltos femininos, vindo do corredor e eu vou em sua direção, mesmo assustado. Os passos parecem aumentar o volume a cada segundo, mas eu não enxergo nada em minha frente, é apenas uma escuridão que parece não ter fim.

Até que surge uma luz.

Um pontinho amarelado se movendo em um dos cômodos. É tão fraquinha a luminosidade que chega a ser a quase imperceptível, mas nessa escuridão se torna o farol que me guia.

Meu corpo está no automático, apenas indo para a luz, assim como o inseto pronto para sua morte em uma armadilha. Estico a mão para tocá-la, mas ela se apaga no exato momento, e eu retorno para a escuridão. Meus olhos se enchem de lágrimas, me sinto uma criança assustada que perdeu a mãe no shopping sem enxergar nada e sem saber o que está acontecendo. Minha situação se agrava quando escuto um barulho de porta batendo e pela proximidade sei que é do cômodo que estou.

Me sinto derrotado, me entregando para ela. Eu simplesmente não aguento mais. Ando para trás até bater em uma parede e com as pernas fracas escorrego até o chão, me sentando e abraçando meus joelhos. Junto das lágrimas, solto pequenos sussurros implorando "por favor", sendo que nem sei o que estou pedindo, acho que, na verdade, é um "por favor me matar e acabe com isso tudo de uma vez".

O tempo aparenta estar passando lentamente, cada segundo parecendo horas, mas pode ser apenas minha cabeça me pregando peças.

Meus olhos voltam a ser abençoados pela luz que ilumina o cômodo que percebo estar vazio. Muitos dos cômodos são assim: brancos, vazios e sem vida. É uma casa grande demais para uma pessoa solitária.

Coloco minha mão na parede para sustentar o corpo e me ajudar a levantar quando minhas pernas ainda estão fracas e podem me trair a qualquer momento. A arma está jogada no chão eu nem me importo em pegá-la, já desisti da vida faz tempo, cansei de lutar.

Novamente, retorno para o cômodo onde eu estava fazendo a investigação e acabo encontrando tudo, aparentemente, normal. Pelo menos foi o que eu achei até o olhar para o centro do quadro onde tem uma folha grande escrito:

"Se você continuar pensando assim, Harryzinho, nunca vai me encontrar"

Meu cérebro parece ter soltado de minha cabeça devido à tontura o que sinto nesse momento, o mundo parece desabar e não consigo ter pensamentos lúcidos. Mesmo com a luz, sinto que não enxergo, porque está tudo esbranquiçado e turvo, como se estivesse dentro d'água olhando para cima e vendo o sol junto das pessoas na borda. Quero gritar, então o faço.

Minha garganta dói conforme os gritos saem dela com força enquanto eu tento tirar tudo isso de dentro de mim. As lágrimas escorrem e eu nem sei mais o porquê. De repente, as coisas a minha volta se tornam tão atrativas e eu sinto uma vontade súbita de quebrar tudo.

— Por que ela está fazendo isso comigo? — Puxo do quadro a imagem da gravação de segurança amassando com ódio. — Por que não me mata logo de uma vez? — Empurro o quadro no chão fazendo um estrondo e todas as peças que demorei para organizar se perdem no chão. — O que ela quer com tudo isso? — Me pergunto colocando a mão na cabeça tentando fazer o mundo parar de girar, mas me sinto em um carrossel que não para de girar, mas a diferença é que em seu sobe e desce, fiquei estacionado na descida.

Meu corpo vai de encontro ao chão e suspiro tentando me acalmar que nem sinto a dor das tachinhas me perfurando. Suspiro, inspiro e parece que está tudo voltando ao seu lugar, mas aqueles tintilar dos saltos volta para o meu ouvido e eu fecho os olhos com força gritando:

─ Vai embora, por favor. Eu não aguento mais ─ sussurro derrotado.

─ Harry... ─ Escuto uma voz melodiosa feminina me chamando e que ecoa pelas paredes vazias parecendo tão perto, mas ao mesmo tempo, tão longe.

Abro os olhos e levanto a cabeça abruptamente em uma coragem repetida. Corro em direção à voz. "Harry" o tom melodioso, com um certo tom de deboche no fundo, continua a ecoar pela minha casa. O som vai aumentando minimamente e sinto que estou me aproximando. Suspiro fundo antes de abrir a porta do meu quarto, onde suponho que seja sua localização, já que é daqui que escuto mais fortemente a voz. Eu estou desarmado, isso com certeza é uma morte súbita, mas vou tentar nem que eu morra no processo.

Minha mão está na maçaneta fria, tensionada e tremendo, mas abro mesmo assim e me deparo com a TV ligada rodando repetidas vezes a cena de um filme onde uma mulher fica chamando por um Harry.

A calma que eu consegui conquistar com os exercícios de respiração parece evaporar do meu corpo tomado pela ira e vou em direção à TV puxando com força o cabo que a mantém ligada para parar com aquele chamado pelo meu nome. Mas isso não é o suficiente. Pego a televisão pelas laterais e a puxo jogando para o outro lado do quarto vendo vidro voar para todas as direções.

Com os punhos cerrados, soco a parede, meus móveis, tudo que esteja a minha frente, apenas tentando dissipar o meu ódio. Eu só quero que tudo pare e que eu possa voltar a minha vida normal. A cômoda, até então branca, começas a se tornar vermelha conforme meu sangue escorre de meus dedos e cria cortes que ardem, mas que me fazem sentir que estou vivo ainda e não que estou apenas existindo.

Com o corpo todo perfurado por tachinhas de escritório, a mão em carne viva e diversos cacos de vidro pelo meu corpo, apareço na casa de Zayn.

— Por favor me ajuda. — digo com lágrimas nos olhos não conseguindo conter o choro, estou tão sensível.

Zayn ainda está parado na porta com os lábios em uma linha fina e os olhos percorrem todo meu corpo me analisando. Agora, sem a adrenalina, sinto dor. 

— Zayn... —choramingo.

— Entra. — Diz seco, mas é o suficiente para me fazer sorrir e me sentir agradecido.





Estou bastante insegura com esse capítulo, achei ele meio chato, mas espero que vocês tenham gostado, até semana que vem.

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