Quando Eu Ainda Amava Você

Від ClaraCasteloQEAAV

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[CONCLUÍDA] Quando as duas ex-melhores amigas e atuais rivais Carla e Adele se reencontram na faculdade anos... Більше

Quando você ainda me ignorava
Quando eu e você passamos uma tarde constrangedora juntas
#1
Quando você se escondeu no armário
Quando vi você naquela festa
Quando eu conheci você
Quando seu "com quem será?" não foi comigo
Quando eu me senti a pior pessoa do mundo
Quando eu conheci outra pessoa num café
#2
Quando saberemos se foi a escolha certa?
Quando tentei seguir em frente
Quando você a beijou na minha frente
Quando eu aprendi a abrir mão
Comunicado
Quando colocamos um ponto final
Quando trocamos lições sobre o amor
Quando meu pedido começou a se realizar
Quando você devolveu minhas asas
Enquanto eu ainda amar você
Epílogo
Atualizações
(eBook + novo livro + mais novidades)
#3
#4

Quando encurtamos a distância

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Від ClaraCasteloQEAAV

O fim de dezembro passou depressa. Adele comemorou o Natal com a família, que a via com cada vez menos frequência, e o Ano Novo com Julia e André. Ela e Carla ainda estavam mantendo uma certa distância física, porém a troca de mensagens se tornou frequente. Qualquer um podia notar o quanto Adele estava mais alegre, agora que se via livre de drama, pelo menos por enquanto.

Ela não perguntava como Carla estava lidando com o término, e Carla escolhia não abordar o tópico por vontade própria. Era melhor assim. Se conversassem sobre isso, talvez tivessem que conversar sobre outras coisas que nenhuma das duas estava pronta para encarar. Adele não tinha expectativa de ter algo a mais, porque sabia que poderia terminar em desastre, mas mentiria se negasse ter uma pontada de esperança. Felizmente, ninguém a forçava a mentir.

Foi numa tarde de janeiro, deitadas no chão de azulejos da sala de Adele em sentidos opostos, que elas se viram conversando sobre tudo que queriam falar há meses.

— Eu sempre quis saber quando você se assumiu. — Adele confessou enquanto as duas ainda riam de uma piada.

— Ah, bom. — Carla fez um esforço para puxar a memória. — Todo mundo já sabia antes de eu estar pronta para dizer, então eu nunca disse nada, apenas parei de negar.

Adele ainda não havia satisfeito a curiosidade.

— E garotos? — Ela olhou para Carla, que negou devagar com a cabeça. As duas riram. — Imaginei.

— Você?

Elas se olharam de novo.

— Eu sou lésbica, definitivamente.

Carla encarou o teto. Adele sentia que talvez ela ainda não estivesse confortável com a palavra, já que nunca a ouviu usando. Carla sempre teve mais dificuldade com essa questão, por causa da mãe. As duas não estavam se falando muito agora que Carla morava com o pai.

— Como foi a sua vida depois que você trocou de colégio? — Ela perguntou para Adele enquanto ainda encarava o teto e seus dedos se ocupavam com um cordão em sua blusa.

— Um pouco conturbada. — Adele confessou. — Eu estive miserável no começo.

Ela buscou a reação de Carla, que parecia um pouco surpresa, mas mantinha a expressão contida.

— Entrar pro time de vôlei me fez bem, mas não era a mesma coisa. Eu nunca tive a mesma conexão que eu tinha contigo em quadra. Você praticamente lia meus pensamentos.

Dessa vez, Carla não conteve um pequeno sorriso.

— Você não é a pessoa mais difícil do mundo de ler, sabia? — Ela perguntou para Adele em tom de implicância.

— Diferente de você, né? — Adele deu uma risada. — Mesmo quando eu conseguia te prever, você dava um jeito de ser imprevisível.

— Desculpa. — Carla deu de ombros.

— Eu gosto de surpresas.

Ela sorriu e cutucou o nariz de Carla antes de continuar falando.

— Queria fingir que não, mas eu nunca deixei de sentir a sua falta. Toda coisa nova que eu gostava, eu queria compartilhar com você. Eu queria minha melhor amiga de volta.

Carla virou o rosto na direção dela, com as sobrancelhas franzidas e o fantasma de um sorriso.

— Melhor amiga?

As orelhas de Adele ficaram rosa e o rosto quente. Ela estava entrando em um território perigoso.

— Eu... Eu não era sua melhor amiga?

— Não. — Carla respondeu casualmente. Ou Adele delirou ou ela estava sorrindo.

— Não?

— Não. Você era minha única amiga, é verdade, mas... Nós éramos mais um casal que melhores amigas.

Adele engasgou com o ar, agora o rosto completamente vermelho. Não só havia entrado no território perigoso, como ele estava repleto de minas terrestres e balas de canhão vindas de todos os lados.

— Adele? — Carla se ergueu um pouco com os cotovelos, agora preocupada. Adele balançou a cabeça e as mãos enquanto recuperava o ar para falar. — Eu não quis...

— Não, não. Você tá certa, eu só... Você me pegou desprevenida. — Ela tossiu.

— A gente não precisa falar desse assunto.

— A gente meio que precisa sim. — Adele confessou, também se apoiando nos cotovelos. — Né?

Carla a encarou com cautela e concordou com a cabeça, antes de desviar o olhar de novo.

— Agora nós estamos na mesma página. — Adele começou, porque sabia que seria mais fácil. — Eu não tinha certeza se era assim que você se sentia.

— Tá brincando? — Carla riu. — É assim que todo mundo se sentia sobre a gente.

— Eu sei. Só importa como a gente se sentia. — Ela manteve a firmeza. Essa era a sua certeza. — Eu fui covarde durante toda a nossa relação e nunca te perguntei o que a gente era.

— Essa culpa ou é das duas ou de ninguém. — Carla cortou. — Porque eu posso dizer o mesmo sobre mim. Qual é? Não era tão simples, eu sei disso. Na época eu posso não ter sido compreensiva, mas eu mudei.

Adele se ajeitou para sentar lado a lado com Carla.

— Eu sei que mudou. Eu tô muito orgulhosa de todo o seu progresso, mas não porque tinha algo de errado contigo, e sim porque você tá mais feliz... — Adele não tinha tanta certeza da última parte, apenas torcia para que fosse verdade. — Você e eu não estávamos prontas na época.

— Eu queria ter estado. Eu gostava muito de você. — Carla se inclinou para abraçar os joelhos. Adele resolveu ignorar a conjugação do verbo no pretérito imperfeito.

— Eu sei. Eu também. — Ela colocou o braço ao redor de Carla num semi-abraço, na esperança de reconfortá-la.

— Mas pra mim a pior parte não foi que não deu certo. Foi eu ter sido quem estragou tudo e ter certeza que você nunca iria me perdoar. — O nó na garganta de Carla era perceptível. As lágrimas que cobriam seus olhos fizeram Adele começar a lacrimejar também.

— Eu achei que você nunca mais iria me querer por perto. — Adele murmurou.

Carla inclinou a cabeça para trás, numa tentativa de impedir o choro. Depois, olhou para Adele com um sorriso.

— Eu fui injusta contigo. Eu escondi tanta coisa e esperava que você adivinhasse o que tava acontecendo comigo. Desculpa por ter descontado tanto em você. — Ela apertou a mão de Adele.

— O que você não me contava?

O coração de Adele apertou.

— Sobre como os outros me tratavam quando você não tava por perto. Eles gostavam de você, porque todo mundo gosta de você, mas apenas me toleravam. — Carla suspirou. — Quando você saiu do colégio, eu fiquei só. Eu andava com as meninas do vôlei porque eu virei a capitã, embora eu soubesse que foi só porque você não tava mais lá.

— Ei.

— Tá tudo bem, não precisa me consolar. Eu aceito isso agora. Só que na época eu me sentia uma perdedora. Fiquei em um estado de sonho por meses. Não sei explicar, mas era como se nada fosse real. — A vista dela desfocou enquanto relembrava. — Os sons eram abafados, as cores eram mais cinzas, sabe? Eu vivia no piloto automático, cansada demais de existir.

Adele derramou uma lágrima em silêncio e limpou antes que Carla pudesse notar. Se ela notou, não demonstrou, e continuou a história.

— Minha mãe sempre me comparou contigo também. Eu achava que ela iria preferir ter você como filha. Ela sempre desconfiou de mim, de quem eu era, e eu precisava esconder qualquer pista ou enfrentaria a raiva dela.

— O que ela te fez? — Adele se surpreendeu com a raiva no seu tom de voz. A mãe de Carla sempre a tratou excepcionalmente bem, mas mesmo que Carla escondesse a maioria dos fatos, Adele sempre soube como a mulher tornava a vida da filha difícil. Agora a antipatia por ela beirava ódio.

— Ela não me batia, se é o que quer saber. — Carla balançou a cabeça, como se achasse que o resto era menos grave por isso. — Mas ela ameaçava me isolar dentro de casa, tirar de mim as coisas que eu gosto. Era um inferno. Eu tive vários ataques de pânico.

— Eu... lembro. Não que eu soubesse o motivo. — Adele confessou e apertou Carla para mais perto de si. — Queria ter ajudado mais.

— Você sempre ajudou bastante. — Carla se permitiu encostar a cabeça no ombro de Adele. — Você não tinha culpa de nada de ruim que tava acontecendo na minha vida. Na verdade, você era a melhor coisa nela.

Dessa vez, Adele não reprimiu um soluço, que fez com que Carla levantasse a cabeça surpresa e olhasse para o seu rosto. Os olhos de Adele estavam inchados. Carla não pareceu irritada. Em seu rosto apareceu uma pontada de tristeza que foi substituída por um sorriso genuíno.

— Você está chorando... por mim?

— Eu... Desculpa. Desculpa, desculpa. — Ela tentou assoar o nariz na manga da blusa, mas Carla colocou as mãos nos ombros dela.

— Obrigada.

— Pelo quê? — Adele fungou confusa.

— Eu não tenho mais lágrimas pra chorar por mim.

Elas riram após uma pausa e Carla a puxou para pressionar a testa contra a dela.

— Eu sei que eu tive tanto medo de perder a melhor coisa na minha vida que terminei arrebentando a corda. Nada justifica a maneira que eu agi.

— Nada justifica como as pessoas te trataram. — Adele retrucou, o rosto ainda corado, não só por causa do choro, como também pela proximidade entre elas. — Ano retrasado eu ajudei um abrigo de animais. Sabe quais eram mais agressivos? Os abusados. Achavam que a gente iria machucar eles de novo.

Carla a encarou em silêncio.

— Eu acho que humanos também podem se comportar assim às vezes. Sei lá. Afastar quem quer ajudar porque já foi muito machucado. — As palavras iam morrendo na boca de Adele à medida que ela perdia a confiança.

— Talvez seja verdade. — Carla concordou e então levantou a cabeça para beijar a testa de Adele antes de se levantar do chão. — Ainda temos muita bagagem pra remexer, mas eu me sinto drenada por hora. Tudo bem pra você?

Cada átomo do corpo de Adele precisou lutar para descongelar daquela posição, mas ela conseguiu assentir enquanto voltava a funcionar.

— Eu tô muito feliz. — Adele confessou. — Parece irônico, porque eu acabei de chorar e tudo, mas é verdade.

Carla riu e estendeu a mão para ela levantar.

— Também me sinto melhor. — Confessou enquanto a loira se erguia do chão. — O que vamos fazer agora?

— Agora? — A mente de Adele ficou vazia e ela se sentiu ficando vermelha novamente por um instante.

— É, pra descontrair o clima. Tipo, assistir alguma coisa.

— Ah. — Adele riu coçando a cabeça, embora um pouco aliviada de escapar de um enfarte. Logo se lembrou de uma coisa. — Espera. Antes, eu queria te convidar pro meu aniversário.

Carla cruzou os braços e levou um dedo ao queixo, em pose de reflexão.

— Seu aniversário? Isso é quando mesmo?

— Ei! Sem graça! — Adele a censurou com um tapinha no braço. — Não brinca com isso!

— Ok! Já que você pediu com carinho. — Carla estendeu a língua. — Que brutamonte, hein?

Adele bufou e revirou os olhos enquanto Carla ria.

— Eu retiro o convite.

— Não! Prometo me comportar! — Carla puxou a manga da camisa dela insistentemente. — Por favor?

Quando Carla pedia qualquer coisa, como ela poderia negar? Mesmo algo tão bobo mexia com o coraçãozinho dela como cordas controlando uma marionete. Ela sorriu e apertou a bochecha de Carla.

— Já que você pediu com carinho.

Carla pareceu desnorteada por um segundo, mas Adele mal notou, já que se afastou para procurar um convite na mesa. Ela estendeu o papel azul para Carla.

— É meio exagerado, porque só convidei umas dez pessoas, mas não tinha motivo pra não usar a impressora do meu trabalho, então... Aí tem todas as informações. — Ela disse cruzando os braços em nervosismo, como se a opinião de Carla sobre a tipografia do convite fosse o suficiente para fazer Adele vomitar.

— Beleza, estarei lá. — Carla sorriu enquanto dava um peteleco no papel.

— É? — A voz de Adele não disfarçou seu entusiasmo. Carla riu.

— Claro, você foi no meu e a gente mal se dava bem.

Adele quase perdeu o ar novamente e caiu na risada com ela. Era verdade, não era?

— E eu gostei muito de ter ido, apesar de...

Talvez fosse mais inteligente não dizer ainda, palavra por palavra, o motivo que a compeliu a ir, então Adele ficou calada. Carla balançou a cabeça e seu olhar comunicava secretamente que ela sabia e que tava tudo bem.

Tava tudo bem. A cada dia, Adele tinha mais certeza. Tava tudo bem se apaixonar por Carla de novo.

*

Notas da Autora: Como presente, aqui vão algumas músicas da minha playlist Carla + Adele (que eu montei em 2020 hehe)

1. Loved You Once - Clara Mae (essa é muito o fim do segundo capítulo)

2. i wanna be your girlfriend - girl in red (meio óbvia)

3. Let My Baby Stay - Amandla Stenberg (é um cover, mas precisa ser essa versão)

4. Flaming Hot Cheetos - Clairo

5. Açúcar ou adoçante? - Cícero

6. De Passagem - Cícero

7. Só Sei Dançar Com Você - Tulipa Ruiz

8. Colégio - Rubel (essa é essencial para os tempos de escola das duas e pra mim descreve perfeitamente o que rolou)

9. Na Sua Estante - Pitty

E a que mais ressona comigo ultimamente, (vão ouvir e ler a letra)

10. Se Não Fosse Tão Tarde - Lou Garcia

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