Quando Eu Ainda Amava Você

By ClaraCasteloQEAAV

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[CONCLUÍDA] Quando as duas ex-melhores amigas e atuais rivais Carla e Adele se reencontram na faculdade anos... More

Quando você ainda me ignorava
Quando eu e você passamos uma tarde constrangedora juntas
#1
Quando você se escondeu no armário
Quando vi você naquela festa
Quando eu conheci você
Quando seu "com quem será?" não foi comigo
Quando eu me senti a pior pessoa do mundo
Quando eu conheci outra pessoa num café
#2
Quando saberemos se foi a escolha certa?
Quando tentei seguir em frente
Quando você a beijou na minha frente
Quando eu aprendi a abrir mão
Comunicado
Quando trocamos lições sobre o amor
Quando encurtamos a distância
Quando meu pedido começou a se realizar
Quando você devolveu minhas asas
Enquanto eu ainda amar você
Epílogo
Atualizações
(eBook + novo livro + mais novidades)
#3
#4

Quando colocamos um ponto final

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By ClaraCasteloQEAAV

Carla acordou no dia seguinte determinada. Na verdade, Carla acordou com uma enxaqueca debilitante, e quando lembrou da conversa com Sayuri quase vomitou no travesseiro. Depois de um Tylenol e duas horas refletindo sobre o tópico, Carla estava realmente determinada a terminar com Luana.

Acontece que Carla nunca havia terminado com alguém antes, e ela gostava muito de Luana. Terminar com alguém que te fez algo terrível no calor do momento parecia mais fácil. Agora ela precisava desvendar como fazer doer o mínimo possível, ciente de que estaria partindo o coração da única pessoa que se importou de ensinar ela a amar. Não que Adele não tivesse ajudado a seu modo em algum passado distante, mas eram situações diferentes.

Quando elas começaram a namorar, Carla estava apavorada. Relacionamentos não são simples, nem vêm com manual de instruções, e a maioria das pessoas oferecendo conselhos não têm a menor ideia do que estão falando. Os pais dela eram divorciados e o mais próximo que ela tinha chegado do amor havia sido aquele desastre indefinido com sua "melhor amiga". Então, Carla fez o que qualquer pessoa sensível faria e comunicou tudo isso à Luana. Talvez a confissão fosse o bastante para afugentar a garota e deixar Carla na sua zona de conforto, solitária para sempre. Ela quase se convenceu de que era a intenção dela, mas seria mentira. Carla queria ser amada de volta.

— Talvez eu esteja me metendo em uma fria, é isso? — Luana riu franzindo o nariz quando escutou. — Ah, Carla, todo mundo tem a sua primeira vez. Você também merece a sua, ok? É só irmos com calma.

E com calma elas foram. Quando Carla estava confortável com beijos e andar de mãos dadas, elas começaram a experimentar a palavra "namorada". Parecia um termo alienígena no começo e Carla travava quase toda vez que falava ou ouvia, mas ela se acostumou. Sexo também era cheio de gatilhos por um tempo, associado a algumas memórias ruins e salpicado de culpa quando Carla lembrava algum comentário da mãe. Luana obviamente nunca a forçou a nada. Muitas noites elas estavam contentes em apenas ficarem de conchinha, fazendo cafuné e aproveitando o silêncio antes de caírem no sono.

Eventualmente, Carla sentiu que havia dominado esse lance de namorar. Ela conseguiu o que parecia impossível ao se tornar uma boa namorada. Carla não era sonsa, sabia que se não tomasse cuidado poderia ser tóxica. Às vezes sua mente passava um replay das vezes que ela havia sido babaca, mas era como um interruptor que Carla não conseguia controlar e que a fazia ceder aos seus impulsos sem filtro. Ela imediatamente se arrependia enquanto as palavras saíam da boca, mas sempre era tarde demais. Luana atenuou esse lado dela, de alguma forma mágica. Carla se sentia menos zangada no geral.

Carla era tão, tão grata à Luana. Mas e agora?

As duas dançaram ao redor dessa questão por tempo demais. Houve tentativas de reparar a relação por parte de ambas. Acontece que o problema estava um pouco fora do controle delas. Às vezes, você pode fazer tudo certo e ainda assim o relacionamento acabar. Carla não acreditava que tinha feito tudo certo, mas sabia que não haveria tanta diferença se fosse o caso.

— Pai, como se termina com uma pessoa? — Ela mal notou que havia pegado o celular e ligado para o pai até ele atender com a voz rouca.

— Você perguntou pra pessoa errada. Eu nunca soube fazer isso sem levar um tapa na cara. — Ele riu e ela pressionou um sorriso contra o celular. — Vai terminar com a menina?

— É. — O coração de Carla acelerou, porque quanto mais ela falava sobre isso, mais real ficava.

— Ela te fez algo?

Carla quis rir. Talvez seu pai quebrasse a perna de quem partisse seu coração. Ela sempre quis ver seu pai ficando super protetor com os sentimentos dela, como num clichê adolescente. Infelizmente, era mais provável Carla ser quem precisasse de uma surra.

— Não, nada.

O pai ficou em silêncio por um momento, como se avaliasse os possíveis cenários.

— Você... Você não fez algo que seu velho faria, né? — Talvez fosse a imaginação dela ou talvez o tom dele fosse um pouco suplicante.

— Eu... Hã, não?

Ela não sabia exatamente o que isso queria dizer, mas assumiu que seu pai se referisse a bebidas, gritos ou um par de chifres.

— Ah, então não vai ser um fiasco. — Ele suspirou aliviado. — Desculpe por não ser útil, mas acho que você vai se sair bem.

— Obrigada.

— Posso ao menos saber seu motivo? Não precisa me contar.

Carla deitou na cama e pensou. Seria fácil responder "Adele", mas ela achava que isso era apenas uma fração. As duas estavam caminhando para um término bem antes. Também seria fácil culpar a mãe de Carla...

— É uma combinação de coisas. — Ela concluiu antes que ficasse tempo demais calada. — Mas acho que vai ser um alívio pra nós duas. Embora... Eu acho que é bem mais minha culpa que dela.

— Ok. Só não diga isso a ela.

— Isso o quê?

— "Não é você, sou eu". — Os dois riram. — Juro que se você disser algo assim, tem grandes chances de receber um tapa na cara como eu.

— Bom ponto. Não vou dizer nada assim. — Ela considerou o que dizer em seguida. — Posso morar com o senhor?

Quando o pai dela ficou em silêncio por mais tempo do que o intervalo antes de se tornar constrangedor, Carla quase desligou. Contudo, ele respirou fundo e ela segurou o celular com mais força.

— Ok. Eu já tava prevendo isso mesmo.

— O término ou eu pedir pra morar aí?

— A segunda opção, claro. Eu jurava que vocês iam casar. — Ele riu e transformou num pigarro quando Carla continuou calada. - Eu sei que sua mãe tem sido ainda mais difícil ultimamente.

— Você não precisa me acolher por causa disso.

— Eu sei. Eu sou seu pai. — Ele parecia nervoso. — Não tenho cumprido esse papel muito bem, mas eu te amo. É sério.

Carla nunca iria se acostumar a ouvir isso de ninguém.

— Também te amo, pai.

— Ah. Boa sorte com a moça. — Ele estava chorando? Carla achou a voz do pai um pouco trêmula. — Me avise quando for se mudar e eu te ajudo. Até mais.

— Até.

A ficha dela só caiu horas depois. Carla iria terminar com Luana e sair da casa da mãe. Eram muitas decisões grandes em um dia só.

*

Foram três dias de muita reflexão, pesquisas na internet sobre términos e consulta com amigos antes de Carla se sentir preparada para a temida conversa. Ela nem conseguiu comer direito antes de sair de casa devido ao nervosismo, mas logo arrancaria o band-aid e voltaria a respirar.

— Carla. Por que você não olha pra minha cara? — Luana perguntou daquele jeito que alguém que sabe perguntaria.

— Nervosismo.

— Ocasião especial?

Carla respirou fundo e olhou nos olhos dela. Luana a encarava de volta com uma expressão estranha, talvez de confusão. Ela não conseguia interpretar com todo o ruído dentro da própria cabeça a distraindo.

— É sobre... Talvez você concorde comigo. A gente tentou muito, mas eu não acho que tá funcionando.

Luana balançou a cabeça lentamente enquanto considerava as palavras dela.

— Você tá terminando comigo. — Ela apontou o fato. O céu é azul e você tá terminando comigo.

— Sim.

Foi anticlimático. Carla praticou vários discursos durante aqueles três dias. Até aquele momento ela tinha certeza que diria algo mais inspirador e emocional antes de soltar o veredito mas, assim que abriu a boca, pareceu cruel prolongar.

Luana olhou pro lado por um bom tempo, engrenagens rodando dentro da própria mente. Ela parecia impassível, mas quando tornou a falar, a voz falhava.

— Só me diz... Você chegou a me tr--?

— Te trair? — Carla terminou a frase por ela, mas não se atreveu a ficar ofendida com a suposição. — Eu não fiz isso. Eu disse que não faria.

— Mas você quis?

— Oi?

Luana revirou os olhos, que talvez estivessem um pouco marejados.

— Eu não quis dizer assim. Eu quero saber se você tá terminando comigo porque concluiu que tá apaixonada por ela?

Por ela. O nome nem precisava ser mencionado. Se Carla questionasse de quem ela tava falando, seria cinismo.

— Não é por causa disso. — Percebendo que não negou a segunda parte, Carla continuou, — Eu te disse que existe algo, nunca quis fingir que não, mas eu não tô terminando pra ficar com ela. Eu não quero reacender nada, eu só... Se a gente continuasse, seria pra se machucar. Eu sei que a minha mãe te trata de forma horrível e eu sei que você disse estar disposta a aturar enquanto remendo meu relacionamento com a Adele, mas eu não tô disposta a continuar te submetendo a isso.

— Então você decidiu por mim? — Luana arregalou os olhos. Seus braços se cruzaram e abraçaram o corpo dela a partir da segunda frase que saiu de Carla. A verdade dói.

— Não, não. A gente ficaria nessa discussão por horas, cada uma se submetendo a sofrer pela outra, e pra quê? Você não quer me ver sofrendo, então não percebe que eu não quero te causar mais sofrimento?

Luana riu tirando os óculos para secar o rosto.

— Seu conceito de proteger meus sentimentos é terminando comigo?

— Quer saber? Sim. — Carla falou com firmeza. — E você tem todo o direito de me odiar ou ficar zangada ou esfregar na minha cara que eu te magoei. Sério, eu sei. Mas eu ainda acho que tô tomando a decisão certa e que você vai concordar comigo.

Por um minuto, elas apenas se encararam. Eventualmente, Luana descruzou os braços e respirou fundo.

— Não quis ser amarga. Eu sabia que isso era inevitável, eu só achei que doeria menos. — Luana riu sem humor enquanto encarava o chão. — Na verdade, ensaiei terminar contigo na minha cabeça vez ou outra. Eu achava que você ia negar essa paixonite pela Adele e ela ia crescer ao ponto de nos engolir e eu diria algo muito filosófico sobre te amar, mas abrir mão de você. Eu iria tomar um pote de sorvete inteiro sozinha, ouvir músicas tristes e excluir seu número do meu celular.

— Parece que você se planejou melhor do que eu. — Carla torceu para que o comentário aliviasse a tensão com uma pitada de humor. — Eu só pesquisei a WikiHow de como terminar com uma pessoa incrível que você gosta muito sem se sentir a pior pessoa do universo.

Luana sorriu de leve e desviou o rosto.

— Não me bajule enquanto me dá um pé na bunda. Eu deveria te dar um chute.

— Meu pai me avisou que eu poderia levar um tapa na cara. Ele não falou nada sobre um chute. — Carla cutucou a barriga da ex. Luana afastou a mão dela abafando um riso de cócegas.

— Não diga que você quer ser minha amiga.

Era uma das questões que Carla foi forçada a ponderar por dias. Pelo menos ela tinha experiência quando se tratava de coração partido e conseguia imaginar melhor o que fazer.

— Eu sei que não é uma boa ideia agora. - As palavras eram cautelosas. — Porém, se um dia você achar que seria capaz de ser minha amiga, eu adoraria te ter na minha vida de novo.

— Que nem a Adele? — Luana mordeu o lábio e Carla podia notar pelo tom da questão que ela não quis ser venenosa. Era uma curiosidade genuína.

— Nós duas precisávamos de um tempo, mas eu gosto que ela esteja na minha vida de novo. Talvez um dia você se sinta assim sobre mim. Ou não. Sem pressão, de qualquer forma. — A resposta não foi a mais elegante, nem foi comunicada da forma que ela queria. As palavras se atropelaram por causa do nervosismo, e Carla se perguntava o quanto ela estava ofendendo Luana sem querer.

— Eu vou ser sincera, eu não sei se vamos ser amigas um dia. — Luana finalmente segurou a mão dela e disse com a voz suave de sempre, após tomar controle das próprias emoções. — Não porque eu te odeio ou porque vou te odiar. É impossível prever como vou me sentir amanhã ou daqui a um ano, mas nesse segundo eu te imagino com outra pessoa e dói. Se um dia esse pensamento não doer, talvez eu te avise.

Carla apertou a mão dela de volta e engoliu a seco. Ela não parou para imaginar como reagiria quando Luana encontrasse alguém. Talvez ela ficasse feliz, talvez ela se comparasse com a nova garota sem nem perceber. Não adiantava criar hipóteses.

— O que você vai fazer agora?

— Agora? — Luana recolocou os óculos. — Minha ideia do pote do sorvete ainda parece ótima. Provavelmente não vou te bloquear, mas... Ao menos um unfollow no Instagram parece sensato. Você?

Carla riu, embora soubesse que a resposta de Luana também era genuína.

— Eu? Preciso ficar sozinha por um tempo. Resolver minhas questões. — Luana balançou a cabeça em concordância. — E talvez eu copie a sua ideia do pote de sorvete.

As duas se despediram de forma constrangedora menos de cinco minutos depois. Teriam caminhado pra lados opostos, se o ponto de ônibus não fosse um só. Carla escolheu ficar por mais uns minutos. Era uma sensação esquisita. Não dava para voltar atrás na decisão, e Carla iria sentir muita falta de Luana, como já estava sentindo, mas o ar estava mais leve.

*

— E aí? Como foi? — Adele perguntou no dia seguinte. Não havia porque esconder dela nem de ninguém o que havia acontecido. Carla nem se sentia culpada por estar conversando sobre isso com ela.

— Esquisito e quase desastroso, mas acho que ela ainda não me odeia. — Ela se sentou do outro lado da mesa da sorveteria. Hoje eram só as duas.

— O que você disse? — Adele havia chegado antes e já bebia seu milkshake de morango e baunilha.

— Eu disse tudo que ela já sabia, sobre não estar dando certo. — Carla pausou, refletindo sobre quão transparente ser. — Ela quis saber se tinha algo a ver com você.

Adele não respondeu. Arregalou os olhos e continuou sugando o milkshake, enquanto as bochechas coravam. Ela não estava totalmente surpresa que o tópico tivesse vindo à tona.

— Eu disse que nunca neguei que há alguma tensão não resolvida no ar, mas eu não terminei com ela pra começar um novo romance. — Carla batucou na mesa com as unhas. — Eu tenho umas questões que precisam ser trabalhadas.

— Ei, Carla... — A loira apoiou o rosto em uma mão enquanto olhava para o lado.

— E você tem seu lance com a Sayuri o que é... Ótimo. Ela é ótima. — E Carla realmente achava Sayuri ótima. — Por hora, eu estou feliz de sermos amigas novamente.

Aquelas palavras mágicas fizeram Adele encará-la e abrir o maior sorriso que Carla julgava humanamente possível. Ela ponderou se Adele tinha uns cinquenta dentes enquanto eles a cegavam com afeição.

— Somos amigas?

— Não, não. Eu concordei em vir aqui contigo por uma brecha para envenenar sua comida. — Carla revirou os olhos, mas sorriu um pouco de volta.

— Por que só agora? — Adele a ignorou totalmente em favor de uma resposta. Ok, Carla estava no clima para honestidade.

— Antes eu me sentia culpada. Não só pelo nosso histórico, mas com a Luana.

— Ah. Acho que entendo. É justo.

Carla abriu o menu enquanto se reclinava no assento.

— Considerando que rolou há menos de vinte e quatro horas, até parece que terminei com a minha namorada pra ter minha amiga de volta. Na verdade, você é só um bônus. — Ela apontou para uma imagem do curto cardápio. — Eu vim pelo sorvete.

*

Notas da autora: Perdão pela demora...? Eu não escrevo essa história há TANTO tempo que estou torcendo pra não ter acidentalmente criado algum furo de roteiro ou perdido o jeito da escrita. Vocês me dizem.

Não sei o que vocês esperavam do término, nem se fiz direito, mas melhor acabar logo com isso do que continuar enrolando porque quero fazer o término perfeito. Isso nem existe.

E vamos de friends to lovers to enemies to friends... me perdi. Enfim. Próximo capítulo é muito especial porque é do ponto de vista de uma personagem muito querida que eu quero aprofundar.

Prometo que não vai ser filler! Vocês podem chutar quem é, se quiserem, e talvez eu confirme.

Oficialmente já passamos da metade da história :)

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