P O S I T A N O

Par ReSouzah

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ROMANCE - DRAMA ⸻⸻ E se um trágico acidente tirasse a vida das pessoas que você mais ama? E se depois disso v... Plus

SINOPSE ⚘
CONHEÇA POSITANO ⚘
P R Ó L O G O
𝟙
𝟚
𝟛
𝟜
𝟝
𝟟
𝟠
𝟡
𝟙𝟘
𝟙𝟙
𝟙𝟚
𝟙𝟛
𝟙𝟜
𝟙𝟝
𝟙𝟞
𝟙𝟟
𝟙𝟠
𝟙𝟡
𝟚𝟘
𝟚𝟙
𝟚𝟚
𝟚𝟛
𝟚𝟜
𝟚𝟝
𝟚𝟞
𝟚𝟟
𝟚𝟠
𝟚𝟡
𝟛𝟘
𝟛𝟙
𝟛𝟚
𝟛𝟛
𝟛𝟜
𝟛𝟝
𝟛𝟞
𝟛𝟟
𝟛𝟠
𝟛𝟡
𝟜𝟘
𝟜𝟙
𝟜𝟚
𝟜𝟛
𝟜𝟜
𝟜𝟝 - 𝔽 𝕀 ℕ 𝔸 𝕃 - 𝕡𝕒𝕣𝕥𝕖 𝟙
𝟜𝟞 ♡ 𝔽 𝕀 ℕ 𝔸 𝕃

𝟞

283 37 50
Par ReSouzah



M E L


Melissa abriu os olhos. As pernas estavam doloridas depois de cair em pé naquele poço.

Gemendo de sono e sentindo a energia drenada do corpo, ela virou para o outro lado e imediatamente uma enorme língua passeou por seu rosto e sabia ela exatamente de quem era.

— Aargh. Você de novo?

Ela segurou o cachorro e o afastou um pouco.

Limpou o rosto e deu umas piscadas longas se acostumando com a claridade olhando em volta e tentando se situar.

É claro que não estava na casa de pedra já que a última coisa que haveria lá seria uma cama confortável.

Em primeiro lugar, sabia que estava em uma cama de verdade.

Em segundo, também não era o apartamento de Graziella e nem um quarto de hospital.

Aquele era um arrumado, arrumado demais.

Ela se sentou na cama. Olhou para o cachorrinho deitado ao seu lado e sorriu hesitante.

— Eu sei o que você fez. Obrigada. — Disse ela bem baixinho acariciando a cabeça dele.

Ao olhar para baixo viu que estava de roupão.

A cicatriz estava à mostra e num movimento rápido ela agarrou o tecido e fechou apertando até o pescoço com a mão. Não havia ninguém por ali, mas olhou em volta como se houvesse com medo de que alguém visse.

Ela tateou e sentiu que pelo menos ainda estava com as lingeries.

Melissa se lembrava um pouco do que tinha acontecido. Da queda no poço, Lucca aparecendo para ajudar, mas não se lembra de como ele a tirou de lá e nem fazia ideia de pra onde ele a tinha levado.

Imaginou que podia estar na casa dele, mas aquela não parecia a casa dele. Arrumada demais pra que um cara bronco como ele fosse o dono.

Olhou em volta procurando alguma pista.

Não havia retratos, nada que tornasse o lugar mais pessoal, mas era um quarto muito aconchegante apesar de pequeno, havia apenas a cama e uma prateleira feita à mão. Tudo era bem claro e até cheirava bem. Era quase como se uma mulher tivesse decorado o lugar. As cortinas da janela eram brancas e com babados delicados de renda.

Melissa se levantou. As batatas da perna doíam e ela mancava sem conseguir esticar direito os músculos. Saiu com cautela do quarto ainda apertando o roupão até o pescoço. Estava descalça e andava nas pontas dos pés se esgueirando com os olhos arregalados.

O cachorro desceu da cama e andou atrás de Melissa, tão devagar quanto ela.

— Oi? — Chamou ela.

A casa não era grande. Assim que saiu do quarto à sua direita ficava uma sala e à esquerda a cozinha. Ela foi até a cozinha atraída pela claridade, mas ainda mais pela decoração.

Assim como o quarto, parecia que uma mulher havia escolhido tudo, as cores, os utensílios, as plantas.

— Tem alguém aí? — Disse novamente.

Ninguém respondeu e tudo estava muito silencioso, estava claro que não havia mais ninguém na casa.

Ela andou mais um pouco muito intrigada com os detalhes e com toda aquela organização e limpeza.

Era impossível que fosse a casa de Lucca.

Parou diante da janela fascinada pela paisagem. A vista para o horizonte e para o mar eram impressionantes. Que tipo de gente tinha uma sorte como essa na vida? Ela parou de boca aberta ao notar o quintal e os cacos brancos na grama.

— Que ótimo. É mesmo a casa dele. Maravilha.

Ela girou olhando os detalhes. Tudo era muito claro e parecia tão alegre com aqueles pontos coloridos. Teve certeza de que uma mulher também morava ali. A esposa, talvez.

Ela se preparava para voltar ao quarto, mas parou quando um item chamou sua atenção.

Melissa se aproximou de um dos armários e se inclinou verificando um conjunto de pratos expostos em uma prateleira.

— Mas... é igualzinho.

Ela pegou o prato com desenhos azuis na mão franzindo as sobrancelhas.

— Há... foi ele! Não acredito que...

— O que pensa que está fazendo? Larga isso!

Lucca trovejou cozinha adentro.

Ela estremeceu e o prato escapou, pulou algumas vezes nas palmas das mãos dela e Melissa conseguiu segurar antes que espatifasse no chão.

— Uuuh, quase. — Disse ela com um assovio de alívio. — Teria sido culpa sua, você me assustou.

— Eu já falei pra largar isso.

— Está bem, está bem, já estou largando, está vendo? — Ela colocou o prato no lugar e voltou a apertar o roupão até o pescoço.

Lucca olhou para ela um instante. Melissa teve a impressão de que ele analisava se ela estava mesmo bem, mas pela maneira como ele agia ela duvidava muito que ele estivesse preocupado.

— Eu trouxe suas roupas. — Ele jogou um par de calças jeans e uma camiseta em cima do balcão. — Vista e dê o fora da minha casa.

Melissa cruzou os braços e ficou encarando Lucca.

— Você está surda?

— Então foi você. — Ela exibia um sorriso provocador.

Ele estreitou os olhos confuso.

— Você foi até o apartamento e deixou comida quando eu estava com os pés machucados, você até cuidou deles com aquela pomada milagrosa. Eu estava dormindo e não vi você, mas... você entrou lá, não sei como já que provavelmente Grazi deixou a porta trancada, mas foi você. — Ela olhava para ele com um sorriso surpreso.

— Você é louca. Deve ter batido com a cabeça quando caiu naquele poço. — Ele escancarou a porta e se posicionou indicando que ela saísse.

— Foi você sim, há. Você ficou com pena de mim, sabia que eu estava sozinha e não podia me virar, foi até lá, cuidou do meu pé e deixou comida. Foi você.

— Já chega. É melhor você sair agora.

— Aquilo foi fofo, sabia e muito atencioso da sua parte. Por que é tão difícil assim pra você admitir que fez uma coisa boa por alguém?

— Porque eu não fiz! — Esbravejou.

— Você pode negar o quanto quiser, mas é o mesmo prato e além disso, ninguém mais além de Grazi e você sabiam o que tinha acontecido com meus pés, então... foi você.

— Sai da minha casa. — Ele piscava descontroladamente apertando os lábios com força.

— Acho que eu devia agradecer por aquilo. Você realmente salvou o dia, eu estava mesmo morrendo de fome e a propósito, foi você quem fez aquele espaguete? Estava perfeito. Valeu, Lucca. — Ela sabia que estava provocando e não se importou nem um pouco.

— Quer calar a boca e sair?

— Você é bem estranho, sabia? Olha só pra essa casa. — Ela olhou intrigada para ele inclinando a cabeça. — É tudo tão... certinho e perfeito por aqui, não parece a casa de um cara que não corta o cabelo e nem faz a barba. Você é casado? Que pergunta idiota, é claro que você é casado, só uma mulher teria esse capricho todo com esse lugar.

Ela não notou quando Lucca ficou ainda mais tenso.

— Estou surpresa, como é que uma mulher pode suportar você? — Melissa riu olhando ao redor. — Sua esposa decorou muito bem esse lugar. É simples e aconchegante. Ela está por aqui? Eu preciso parabenizar essa mulher pelo bom gosto e prestar meus sentimentos por ela te aturar todos os dias.

Lucca nem piscava olhando com raiva para Melissa. Cada palavra dela era uma apunhalada em seu coração. Um de seus olhos tremia e seu pulso fechou com força ao lado do corpo. Ele franziu os lábios enquanto seu sangue começava a explodir nas veias.

Ele não ia escutar mais nada. Avançou sobre ela, agarrou o braço de Melissa ignorando o grito que ela deu, pegou as roupas sobre o balcão, jogou contra o peito dela e a puxou para fora de sua casa.

— Calma aí... não precisa surtar... eu estava brincando...

— Então vai brincar de pular naquele poço de novo e me deixa em paz. Se manda!

Do lado de fora ele a empurrou para o corredor que levava ao portão.

Melissa parou e ficou olhando ofegante e assustada para ele.

Os dois se encararam em silêncio.

Lucca deu um passo ameaçador na direção dela, Melissa estremeceu e deu um passo para trás.

Agarrada às roupas contra o peito ela baixou o olhar prestes a começar a chorar, mas olhou para ele novamente agora sentindo repulsa e raiva, girou nos calcanhares e saiu mancando, mas ainda assim marchando enfurecida, ao sair bateu com força o portão olhando para ele furiosa através da grade, deu as costas e seguiu para a trilha se dando conta de que ainda estava com o roupão, de que estava descalça, de que suas roupas e sandálias haviam ficado na casa dele, mas ela não tinha intenção alguma de voltar para buscar.

— Ele é louco. FIQUE LONGE DE MIM, ENTENDEU?! — Ela berrou ao chegar na parte de cima da trilha e sabia que ele tinha escutado. Voltou para casa pisando em galhos e folhas secas praguejando e xingando pelo caminho. — O que foi que eu fiz de errado? Eu não disse nada de mais. Qual é o problema daquele cretino?


⚘ ⚘ ⚘

L U C C A


Assim que teve certeza de que Melissa não estava mais em sua propriedade e que a ouviu gritar de longe mandando que ele ficasse longe dela, Lucca entrou e bateu a porta.

Andou agitado feito uma onça pela cozinha, uma das mãos na cintura, a outra esfregava com raiva os cabelos, a barba. Os olhos agitados acompanhavam a rapidez com que seus pensamentos giravam mergulhados em uma irracionalidade descontrolada, animalesca. Ele queria bater em alguém, queria quebrar alguma coisa, queria gritar, mas tudo aquilo ficou preso dentro de seu peito, ele tinha a sensação de que seus pulmões explodiriam.

As palavras dela ficaram ecoando e se repetindo sem parar dentro de sua cabeça.

"Sua esposa está por aqui?... Eu preciso parabenizar essa mulher..."

— Como ela se atreve? Como ela se atreve falar de você?

Lucca bateu os punhos fechados com força na bancada em frente à prateleira com pratos e outros utensílios e ficou parado assim, prendeu o ar no peito um instante olhando para as xícaras iguais que ele e a família teriam usado juntos em cafés da manhã, pensou em como Laura teria adorado cada item naquela casa, naquela cozinha, se lembrou de como ela adorava passar horas testando receitas, mas a alegria das plantas e das cores e em tudo ali seriam sua parte preferida. Ele sabia disso.

Ele sentiu os olhos arderem.

— Eu sei que você teria gostado. — Seus dedos trêmulos acariciaram a borda do prato azul. — Você teria gostado muito, meu doce, eu sei que teria.

Ele sobressaltou ao ouvir um latido e olhou para baixo. O cãozinho estava sentado ao seu lado.

— Seu traidor. — Lucca foi até a porta da cozinha, abriu e ficou olhando para o cachorro. — É melhor você se mandar também agora que debandou para o lado dela.

O cãozinho esticou as orelhas e inclinou a cabeça para o lado.

— Não adianta fingir que não é com você. Isso tudo é culpa sua.

O bicho deu uma rosnada como se estivesse entendendo, se levantou, andou calmamente, parou aos pés de Lucca olhando para cima e ficou em pé apoiando as patas da frente na perna dele.

Lucca suspirou e agachou. O cãozinho se apoiou no joelho dele e continuou olhando atento.

— Eu sei. Eu sei que ela não tem culpa, mas aquela imbecille me tira do sério. — Ele falava e acariciava o cachorro. — Você é mais esperto do que eu imaginava, garoto. Fez um bom trabalho hoje.

Mais calmo Lucca foi até o armário, pegou um pouco de ração e deu ao cachorro. Em seguida o bicho deu um latido e correu porta afora desaparecendo no quintal.

— Ééé, volta pra ela. Você é mesmo um traidor, cachorro idiota.

Quando o cachorro se foi Lucca ficou encarando o nada do outro lado da porta.

Sabia que tinha exagerado com Melissa. Como podia culpá-la se ela não sabia nada sobre Laura? Ainda assim, mesmo que ela não soubesse ele sentia raiva e Lucca sabia muito bem a razão de sentir tanta raiva de Melissa. Tudo nela era detestável. Seu atrevimento, sua beleza, seu comportamento irritante, a maneira como o fazia perder a cabeça sempre que abria a boca, mas acima de tudo, odiava o fato de que de alguma forma ela trazia de volta a dor que ele tinha aprendido a ignorar nos últimos anos. Por alguma razão Melissa havia despertado o pior momento de sua vida.

Detestava admitir, mas ela estava certa. Sua casa inteira lembrava uma mulher, uma única mulher. Laura.

Enquanto ainda estavam no Brasil os dois passaram meses fazendo planos pra quando se mudassem para a Itália. Laura havia planejado cada detalhe e tinha colocado tudo em papel. Quando Lucca comprou aquela casa em Positano ela o obrigou a conseguir a planta da propriedade e ela se apaixonou pelo lugar. Laura sabia exatamente como queria que fosse a decoração, de que cores queria cada parede, como seriam os móveis e todos os utensílios da casa e Lucca sabia de cada detalhe porque antes de saírem de São Paulo ela só falava sobre a casa nova, em como queria um quintal tipicamente italiano cheio de plantas, horta, um pomar e bastante espaço para as crianças brincarem. Ela olhava para a planta e dizia ao marido exatamente como imaginava que tudo seria. Ele tinha perdido as contas de quantas vezes tirou o papel debaixo do travesseiro de Laura pela manhã e fazia isso sempre com um sorriso seguido de um beijo na testa dela enquanto fazia uma promessa silenciosa de que ela teria tudo aquilo, que teria tudo o que quisesse.

Lucca fechou os olhos e conseguia ouvir perfeitamente a voz dela.

E o que você acha de uma piscina bem aqui, Luc? Eu estava pensando, também podemos construir um gazebo aberto com um balanço em forma de cama. O que acha, amor? — Falava ela quase todas as noites encostada na cabeceira da cama apoiando a planta da casa sobre o barrigão desenhando com o dedo sobre a planta da casa e Lucca sempre concordava com todas as sugestões da esposa.

Ele se sentou no chão da cozinha segurando o prato azul sentindo o rosto úmido pelas lágrimas que não conseguiu conter.

— É a sua casa, meu doce. Eu vou deixar do jeito que você queria.

Lucca já tinha conseguido deixar a casa como ela queria, só não conseguia mais ser o homem que Laura ia querer que ele continuasse a ser mesmo depois que ela já não existisse mais.

Nem de longe sua personalidade lembrava o homem gentil e carinhoso que cuidava de todos à sua volta.

Ele esfregou a testa imaginando o que Laura pensaria se o visse agora. Se o visse espantando as pessoas, se o visse tratar Melissa daquele jeito.

Ele fechou os olhos e apertou os lábios. Pensou em Melissa, no olhar dela antes de sair mancando de sua casa quando a expulsou. Ela estava com medo, depois com raiva. Parecia que agora era só isso o que ele provocava nas pessoas.

Lucca se sentiu culpado. Melissa era petulante e irritante, no entanto, sabia que ela estava apenas agindo como uma garota de apenas vinte e cinco anos quando disse aquelas coisas, estava apenas provocando o cara que a destratava desde o primeiro instante em que se conheceram, ela não tinha ideia do que estava dizendo, não podia culpá-la por se comportar daquela maneira. Não era justo.

Sua consciência apertou um pouco mais quando ele pensou na cicatriz no peito dela e se lembrar daquilo o fez chegar à conclusão de que talvez tenha pegado pesado demais com ela.

E se o que ela tinha fosse realmente grave?

Você não estaria nem um pouco orgulhosa do seu marido agora, não é? Pensou passando o dedo no centro do prato.

Lucca sentiu vontade de se desculpar, mas ele não era do tipo que diria um me desculpe em voz alta.

Girando o prato nas mãos ele começou a pensar em uma maneira de se retratar por seu comportamento sem que Melissa achasse que eles podiam conviver cordialmente ou se tornarem amigos porque isso jamais aconteceria. Melissa não precisava de um velho perigoso como ele por perto, e Lucca? Ele não achava que merecia ninguém em sua vida, muito menos uma pessoa frágil como ela.

Ele olhou para o prato em sua mão se achando um imbecil por Melissa descobrir que foi ele quem levou a comida e cuidou de seu pé aquele dia. Mas nunca em um bilhão de anos teria imaginado que ela pisaria em sua casa e que acabaria encontrando a prova do crime.

Lucca deu uma risada sarcástica e amarga pelo nariz meneando a cabeça para si mesmo.

Estava hipnotizado pelo desenho azul do prato italiano que Laura jamais veria, mas que teria amado, também o teria feito engolir aquele prato inteiro se soubesse como ele havia perdido a cabeça com alguém por causa de um objeto idiota.

Sua mente se acalmou e o levou de volta àquele poço. Não devia pensar no momento em que teve de tocar os lábios de Melissa, mas sua cabeça o traía fazendo-o pensar na maciez da pele dela fazendo-o imaginar qual a sensação se tivesse sido um beijo de verdade.

Lucca passou os dentes pelos lábios. Fechou os olhos encostando a cabeça na porta do armário.

Tinha consciência de que aquilo havia sido só uma manobra de ressuscitação, mas há tanto tempo não tocava os lábios de outra pessoa que se perdeu um instante recordando aquela sensação.

— Chega dessa besteira. Isso é doentio. — Disse se levantando de repente.

Ele colocou o prato no lugar, saiu da casa e foi até o depósito.

Juntou algumas coisas que precisaria e saiu.


⚘ ⚘ ⚘

M E L


Não havia um sofá ou uma cama onde Melissa pudesse se jogar ao voltar à casa de pedra.

Ainda estava se sentindo estranha depois de cair no poço e só precisava sentar um pouco. Não sabia se estava mais assustada por quase ter morrido afogada em um poço ou pelo comportamento bizarro de Lucca ao agir como um verdadeiro monstro descontrolado.

Ela foi até o carro, que ainda estava todo aberto e se deitou no banco de trás.

Cruzou as mãos sobre a barriga, fechou os olhos e estremeceu ao ouvir um miado bem próximo.

Olhou para o lado e a gata estava com a cabeça entre os bancos da frente olhando para ela.

Melissa riu.

— Você e aquele cachorro vão acabar me matando de susto, sabia? E não estou me referindo ao cachorro de duas pernas. — Ela acariciou as orelhas da gata e saiu do carro. — Acho melhor nós começarmos de uma vez porque essa casa não vai se arrumar sozinha.

A gata miou e se deitou no banco do motorista.

— Eu poderia ficar aí deitada também já que quase morri de susto duas vezes hoje, três se contar com você, mas vou ter algum tempo pra descansar quando morrer de verdade, então... vamos ao trabalho, sua preguiçosa.

Ainda era de tarde, mas Melissa não fazia ideia de quanto tempo havia ficado apagada.

Pegou o celular de dentro da bolsa no bando da frente e viu que eram duas da tarde.

— Impossível... não posso ter ficado off por tanto tempo assim.

Automaticamente sua mão pousou sobre a cicatriz.

Ela se preocupou um pouco. Há muito tempo não pensava naquilo. Depois da operação cardíaca há alguns anos um médico lhe disse que ficaria bem por certo período, mas que em poucos anos teria de começar a usar remédios. Só não esperava que fosse em tão pouco tempo assim.

Estava certa de que havia desmaiado dentro daquele poço e se sentido tão fraca por causa de seu coração. Os remédios para controlar o problema haviam sido encomendados pelo médico que a atendeu quando esteve no hospital há alguns dias e ela esperava que chegassem logo. Odiava a ideia de que sua vida seria controlada por pílulas. Odiava se sentir tão frágil daquele jeito.

— Parece que vou ter que pegar mais leve, pelo menos por um tempo. — Disse encarando a gata esparramada dentro do carro.

Melissa apoiou as costas na lataria e ficou olhando para a casa do outro lado da mureta.

O carro ainda estava cheio de coisas.

A casa era um depósito de poeira e lixo.

Agora tinha um buraco aberto no quintal.

O gerador não estava funcionando.

A coisa certa a fazer naquele momento era correr de volta para Graziella com o rabo entre as pernas.

Só que Melissa não pretendia dar o braço a torcer e voltar para o apartamento da amiga não era uma opção, pelo menos por enquanto.

Ela suspirou bem fundo, se endireitou, pegou alguns produtos de limpeza e a vassoura no porta malas. Deixou tudo encostado na parede ao lado da porta da casa, tomou um fôlego encorajador e...

— Que ótimo, ainda estou de roupão. — Melissa olhou para baixo só então percebendo que o roupão era cor de rosa e pequeno demais para um homem do tamanho de Lucca. Ela franziu as sobrancelhas sem entender, mas logo se lembrou de que ele provavelmente tinha uma esposa e o roupão rosa era a prova concreta disso. Deu de ombros e ali mesmo fora da casa vestiu o jeans e a camiseta que ele tinha pegado. Abriu uma das malas, tirou um par de tênis velhos, prendeu os cabelos num cabo de cavalo e colocou as mãos na cintura decidindo por onde começar.

Como estava no meio da tarde, achou melhor começar limpando a casa, ou pelo menos um ou dois cômodos pra que pudesse passar a noite e antes do sol se pôr iria até a cidade comprar algumas luminárias que não precisassem de eletricidade.

Melissa foi com a vassoura em punho até o quarto e parou desanimada.

Era impossível ver o chão debaixo de toda aquela poeira.

Havia alguns restos de papelão e sujeira, umas tábuas quebradas, um esqueleto de cama sem colchão e até ficou feliz por não haver um, nem queria pensar no cheiro ou na quantidade de bichos que morariam ali se houvesse um. Adicionou o item à lista de compras.

Ela começou tirando as teias de aranha de todos os cantos. Deixaria para varrer quando o cômodo estivesse sem toda aquela tralha. Caixas de papelão velhas e amassadas, algumas cadeiras sem pernas, então começou a levar tudo para fora e amontoando num canto do lado de fora. Pegou as tabuas quebradas que devem ter sido algum tipo de prateleira e que haviam sido deixaras por cima do estrado da cama, não conseguiu carregar todas de uma vez, eram consideravelmente pesadas e levou três na primeira viagem, jogou sobre a grama ao lado de um entulho e se abaixou apoiando as mãos nos joelhos. Estava ofegante, olhou para os pés e estavam um pouco inchados. Odiava se sentir cansada daquele jeito porque sabia que eram os sintomas de seu coração fraco.

Melissa voltou para dentro, pegou mais duas tabuas pesadas, foi para fora e sobressaltou ao ver um vulto saindo do meio do mato do outro lado da cerca. Ela deixou uma das tábuas caírem no chão e segurou a outra como se fosse uma arma caso fosse algum animal selvagem invadindo a casa.

Não foi um animal selvagem quem surgiu, mas sim Lucca, o que para ela dava na mesma.

Melissa não baixou a tábua caso precisasse se defender dele.

Ele estava carregando no ombro tábuas ainda maiores do que as que ela tinha acabado de tirar do quarto, tinha uma bolsa bem grande pendurada no outro ombro e uma caixa de ferramentas na outra mão. A cerca não estava completamente fechada então ele empurrou com o pé e entrou.

Melissa pensou em entrar e trancar a porta, mas estava perplexa demais. Primeiro, estava chocada com a audácia dele. Segundo, ficou olhando de boca aberta para aquele homem másculo, os músculos do baço evidentes enquanto ele segurava bem firme as madeiras sobre os ombros, ele era forte como um búfalo e com aquela cara fechada que era um charme...

— Charme? Não, eu não pensei isso. — Sussurrou enquanto Lucca andava com convicção em sua direção.

Ele parou diante dela ignorando a expressão confusa no rosto de Melissa. Colocou a caixa de ferramentas no chão, tirou a bolsa grande do ombro e colocou no chão na frente dela.

— Use isso para tirar o pó lá de dentro. — Melissa franziu as sobrancelhas ao notar que aquilo era uma ordem.

— O que... o que você está...

Lucca deixou Melissa falando sozinha, pegou a caixa de ferramentas, saiu andando e foi para os fundos da casa.

Ela acompanhou atônita com os olhos, quando ele sumiu de vista ela ficou parada perplexa sem entender nada.

— O que foi isso?

Melissa abriu a bolsa e se surpreendeu.

Havia um aspirador de pó lá dentro.

— Mas como... como ele sabia que era exatamente o que eu precisava?

Melissa foi com cautela para o quintal dos fundos. Espiou de longe e o viu jogar as tábuas no chão, em seguida ele foi até o poço, deu uma analisada e começou a arrancar as tábuas do deque com as mãos. As tábuas estavam presas a uma base de concreto.

— Caramba! — Sussurrou ela surpresa com a força de Lucca.

Mas deduziu que nem devia se espantar tanto assim, alguém com os braços daquele tamanho com certeza também conseguiria arrancar uns troncos de árvores com as próprias mãos.

Lucca usava uma calça preta bem larga e uma regata azul. Ela notou que ele não tinha vaidade nenhuma e isso já havia ficado bem claro quando o viu pela primeira vez, aquela barba e cabelos enormes e desgrenhados deixavam isso bem evidente, mas ainda assim algo nele a intrigava. Mesmo que ele parecesse um mendigo tudo o que estava à mostra parecia ser apenas uma casca.

Quando mais seus caminhos se cruzavam, mais curiosa ficava.

Meio escondida atrás da casinha do gerador, Melissa olhava para ele tentando entender como aquele homem debruçado em seu quintal que agora parecia se preocupar, que cuidou de seu pé, que tinha levado comida pra que ela não morresse de fome e a salvou de morrer esquecida dentro de um poço, também era o mesmo homem que explodia do nada e gritava se transformando em um monstro enfurecido capaz de botá-la pra correr como se fosse um animal que invadiu sua propriedade.

Se perguntou por que ele estava sempre tão zangado.

Melissa tentou imaginar quem era o Lucca de verdade. Porque ela não comprava a ideia de que ele sempre teve aquela vida de solitário zangado das montanhas.

— Por que acha que pode entrar quando bem entender em minha casa depois do que fez? — Perguntou ela ao parar a uma distância segura atrás dele.

Lucca não respondeu e continuou martelando e arrancando madeira.

Melissa bufou cruzando os braços.

— O que você está fazendo? — Insistiu ela.

— Não quero um cadáver perto da minha casa.

— Como é?

— O que parece que estou fazendo? Estou consertando a porcaria desse poço.

— Você não precisa...

— Você devia fazer o que mandei e usar aquele aspirador se pretende morar nessa casa algum dia.

— Algum dia? Eu já estou morando aqui.

Lucca estava apoiado sobre um dos joelhos, virou-se olhando por cima do ombro e franzindo a testa para ela.

— Está dizendo que vai dormir essa noite nessa casa? — Disse ele perplexo.

— É a minha casa, onde mais eu dormiria?

— Hunf! — Lucca apenas bufou meneando a cabeça sem acreditar que escutou aquilo e voltou a arrancar as tábuas da borda do poço.

— Por que está fazendo isso?

— Não dá pra consertar se não arrancar as tábuas velhas, achei que estivesse bem óbvio.

— Não estou falando disso. Eu quis dizer... você acabou de gritar comigo e me botou pra correr da sua casa. Por que agora está me ajudando?

— Não estou ajudando você.

— É mesmo? Então o que está fazendo?

— Consertando um deque velho.

Pelas costas dele, Melissa riu baixinho meneando a cabeça admirada com aquele cabeça dura que relutava em admitir que estava ajudando sim e Lucca virou de repente olhando desconfiado para ela.

— O que foi? — Perguntou ele e sua voz pareceu mais irritada fazendo Melissa engolir a risadinha.

— Nada.

Ele a encarou estreitando os olhos.

— Por que não vai limpar a sua casa e me deixa trabalhar em paz?

Ele deu as costas novamente voltando a arrancar tábuas, porém dessa vez com um pouco mais de energia.

Melissa abriu a boca para responder, mas desistiu.

A voz dele estava calma, apesar de toda a grosseria, então ela achou essa versão de Lucca melhor do que a versão que a afugentou minutos atrás.

Não queria dar o braço a torcer, mas ele tinha razão, se quisesse uma casa minimamente habitável devia continuar o que estava fazendo, então voltou para a casa. Parou diante do aspirador, meneou a cabeça com as mãos na cintura e voltou até ele.

— Não dá pra usar o aspirador porque não tem eletricidade na casa, mas obrigada pela tentativa.

— Não precisa de energia. O aspirador é à bateria. — Disse ele sem virar-se enquanto usava um martelo para puxar um prego bem grande que prendia uma das tábuas ao concreto no chão.

— Oh... ok. Moderno, entendi.

Melissa virou-se voltando para a casa.

— Por que não tem eletricidade?

Ela parou voltou-se para ele novamente, mas Lucca continuou de costas.

— Porque o gerador não funciona. Está velho demais. Tentei ligar o motor puxando aquela cordinha que pesa uma tonelada, mas ele nem cuspiu. Eu vou até a cidade mais tarde comprar outro e espero que...

— Eu não pedi um relatório.

Ela piscou chocada. Afinal foi ele quem perguntou.

— Ok. Me desculpa por responder. — Ela saiu andando antes que também acabasse perdendo a paciência. Aquela ajuda não era algo que ela pudesse desperdiçar.

— Você está mancando. — Disse ele e Melissa parou de novo.

— Não é nada.

— Deve ter machucado quando caiu no poço. Vou te levar a um médico quando terminar aqui.

Ela inclinou a cabeça e ficou olhando confusa para a nuca dele.

— Eu disse que não é nada. Só está dolorido.

Ele parou o que estava fazendo, ficou em pé, mas não olhou para ela, ficou passando os dedos pelo martelo em sua mão.

— Você caiu de jeito, desmaiou lá dentro, quase morreu afogada e está aí mancando. — A cabeça dele ainda estava baixa, porém Lucca levantou apenas os olhos encarando Melissa de um jeito que a fazia se sentir avaliada. — Não acho que esteja em condições de decidir se tem que ver um médico ou não.

Ela notou quando os olhos dele baixaram um pouco até a região onde ficava a cicatriz.

Melissa se remexeu desconcertada, coçou os cabelos sem conseguir olhar diretamente para ele e virou-se de lado.

— Obrigada pela preocupação, mas eu já disse que estou bem.

Os dois se encararam por um segundo e sem convicção nenhuma, Melissa voltou para dentro da casa.

— Qual o problema desse cara? O que ele quer?

⚘ ⚘ ⚘

Ao som das marteladas e pancadas produzidas por Lucca no quintal, Melissa conseguiu tirar todo o entulho do quarto e com a ajuda do aspirador e toda aquela poeira simplesmente evaporou. Só não estava mais satisfeita porque não tinha mais energia para limpar o resto da casa. Pelo menos seu quarto agora estava habitável.

Melissa parou na porta com as mãos na cintura admirando sua obra. Olhou para a janela e sorriu ao ver a gata sentada do lado de fora olhando para ela.

Ela foi até o rio, encheu um balde com água e deu uma limpada mais real no chão. Ficou surpresa ao descobrir que a madeira de demolição do piso estava em bom estado e seria uma despesa a menos.

Passou um pano úmido pela janela, na estrutura da cama e no armário.

Melissa ia buscar mais água, mas parou o que estava fazendo.

Havia algo estranho no ar.

O silêncio.

Imaginou que Lucca havia terminado e finalmente voltado para casa.

— Ótimo, agora vou ter que levar esse aspirador até a toca do dragão.

Ela colocou o aspirador de volta na sacola e saiu da casa, foi até os fundos e Lucca realmente não estava lá.

— Cara esquisito.

Ela foi até o quintal dos fundos, ficou com medo de chegar mais perto, mas viu que o deque novo estava pronto e tapando perfeitamente o poço lá embaixo.

O cachorro estava deitado ali olhando atento para ela com as orelhas em pé.

— Você também é um carinha bem estranho.

Melissa voltou para dentro a fim de pegar sua bolsa e descer até o centro da cidade. Enquanto fazia isso um estrondo de motor a fez estremecer.

Ela correu para fora da casa. Olhou na direção de seu carro, mas o barulho não vinha de lá.

Seguiu agitada para a lateral da casa e viu Lucca abaixado diante da casinha do gerador de energia.

— O que está fazendo agora? — Gritou ela por cima do barulho.

O motor parou, mas Lucca não respondeu.

— Isso está funcionando? Não acredito que está funcionando. O que você fez?

Lucca se levantou. Estava de costas para Melissa. Limpou a testa e ficou olhando para o gerador.

— Só precisava de combustível. Gasolina comum.

— Está de brincadeira. Eu estava prestes a comprar outro gerador.

— Eu trouxe metade de um galão pra quando precisar de mais, geralmente dura um bom tempo, mas acho que vai precisar de manutenção em algumas semanas porque essa coisa estava parada há um bom tempo, depois disso acho que só vai precisar trocar a cada dois ou quatro meses e esse barulho não melhora, eu compraria um abafador se fosse você.

Bem atrás dele Melissa olhava estarrecida para Lucca. Ela tentava, mas não conseguia entender aquele homem. Não compreendia porque ele estava fazendo tudo aquilo por ela. Era quase como se um outro Lucca mais gentil estivesse tentando sair de dentro daquela casca de ogro raivoso.

Lucca estranhou o silêncio. Achou que ela voltado para a casa e deixado ele ali falando sozinho, virou-se e a viu perto demais olhando com uma expressão de surpresa um tanto exagerada.

— Qual o seu problema agora, turista imbecille? — Disse ele meio desconcertado, coçando a nuca e tentando não olhar para ela.

Melissa deixou os ombros caírem. Tinha sido precipitada demais ao acreditar que havia um cara gentil debaixo daquela casca.

— Eu só... nunca te vi falar tanto. Estou chocada. — Ela não admitiria que estava surpresa com o cara quase gentil que dava as caras de vez em quando para praticar umas bondades aleatórias, não quando ele não parava de xingá-la o tempo todo. De qualquer forma, estava mesmo surpresa por ouvi-lo falar tanto.

Ele revirou os olhos e Melissa riu.

Lucca fez menção de sair dali, mas ela se moveu depressa e ficou ao lado dele provocando um esbarrão ombro a ombro e Lucca parou se sentindo desafiado.

Ela cruzou os braços, olhou para cima e ele a encarava com os olhos semicerrados e desconfiados de sempre.

— Eu só estava brincando, grandão. Você não tem nem um tiquinho de senso de humor?

— Uumm. — Lucca rosnou desviando dela e seguindo para os fundos para juntar suas coisas, mas Melissa se moveu rápido novamente, parou do outro lado esbarrando no ombro dele de novo impedindo que se afastasse.

— O que acha que está fazendo?

— Eu só quero agradecer. Obrigada.

— Não sei pelo quê está agradecendo. — Ele parou de frente para ela com o peito estufado e preparado para tirá-la do caminho se fosse preciso.

— Você sabe sim, por ficar me ajudando o tempo todo.

— Eu já disse que não estou te ajudando.

— Sei, sei, consertou o deque e o meu gerador só por precaução porque não quer um cadáver na vizinhança.

Melissa não ficou nem um pouco surpresa quando ele apenas estreitou os olhos.

Ela se distraiu quando algo chamou sua atenção no rosto dele, ela levou a mão à testa de Lucca, mas ele segurou seu pulso bruscamente fazendo-a estremecer de susto e impedindo que ela o tacasse. Melissa ficou olhando horrorizada para ele e logo arrancou a mão da dele enquanto Lucca a encarava como se ela tivesse cometido uma heresia.

Melissa se afastou sem graça.

— Era só um... quer dizer... você tem um pouco de graxa na testa.

— Que se dane. — Lucca saiu andando e Melissa fez uma careta para si mesma soltando o ar que nem sabia que estava segurando.

— Ok. Não vou te incomodar mais. Estou indo até a cidade. Tenho que comprar algumas coisas básicas como um colchão, uma geladeira, um fogão, quer dizer, na verdade ainda não vou comprar essas coisas, mas...

— Você está fazendo isso de novo.

— Fazendo... o quê?

— Me passando um relatório do que quer que tenha na sua lista de afazeres como se eu estivesse interessado em saber o que você faz da sua vida além de andar descalça no asfalto e cair em poços. — Disse ele se dirigindo ao quintal dos fundos.

— Bom... talvez eu nem estivesse falando com você. Já pensou nisso? — Ela elevou a voz começando a andar na direção oposta à dele.

— Você estava falando comigo. — Ele falou um pouco mais alto porque já estavam um tanto distantes.

— Mas às vezes eu falo sozinha, na verdade eu tenho falado muuuito sozinha ultimamente. — Gritou ela.

Melissa foi direto para o carro bufando de raiva. Parou com as mãos espalmadas na lataria, respirando fundo e dizendo a si mesma que só precisava ficar longe dele se quisesse manter a sanidade.

O carro ainda estava todo aberto e a chave ainda estava na ignição. Ela tirou a gata folgada que ainda estava lá dentro e a colocou ao lado do cachorro que estava deitado por ali sobre uma moita fresca, fechou todas as portas, entrou e dirigiu descendo a montanha e praguejando sobre a esquisitice de Lucca.

Não conseguia entendê-lo. Num momento ele era alguém detestável, talvez até perigoso. No outro, agia como um verdadeiro herói como quando a carregou nos braços quando ela machucou o pé, e Melissa ainda nem tinha digerido a história de que foi ele quem levou a comida até o apartamento. E agora, ele simplesmente a salvou de dentro de um poço onde provavelmente ela ainda estaria se ele não a tirasse de lá.

— Ele é bipolar. É a única explicação.

Com o cotovelo apoiado na janela do carro e deixando que a brisa do final de tarde refrescasse a pele e as ideias, Melissa coçou os cabelos intrigada.

Seus neurônios não conseguiam computar o comportamento de Lucca. A maneira como ele ficou furioso depois de levá-la para sua casa, cuidar dela, surtar como um louco e logo em seguida aparecer para consertar coisas a deixou muito confusa.

Isso tudo tinha que significar que ele se importava, não tinha?

— Eu vou descobrir o que tem de errado com você, senhor misterioso, ou eu não...

Ela parou de divagar a respeito do vizinho maluco quando seu telefone tocou.

— Vince? Algo errado?

Ela ouviu uma gargalhada do outro lado.

Comigo? Absolutamente nada, fiore. Estou ligando para saber se está se sentindo melhor depois da gripe. Grazi me disse que você ficou muito mal.

— Ah... claro... a gripe. Sim, sim, estou bem melhor, obrigada.

Bene, bene. Como estão as coisas com a casa?

— Ãããn digamos que um pouco... desastrosas.

Tão ruim assim?

— Bom, vejamos. Muita sujeira, gerador que não funcionava, uma cama sem colchão, poltronas empoeiradas, um poço que quase me engoliu inteira.

Como disse?

— Eu caí dentro do poço hoje quando o deque se quebrou.

Isto é uma brincadeira?

— Não é não. Bizarro, não é?

Melissa. Você realmente caiu dentro daquele buraco?

— É, mas não se preocupe, eu estou viva, não sou um espírito perdido falando com você. Estou em meu carro agora dirigindo até a cidade pra comprar algumas coisas já que vou dormir pela primeira vez no meio de uma floresta que deve ser bem sombria durante a noite.

Não mude de assunto, fiore. Como saiu daquele poço? Você está bem?

— Eu estou bem. Alguém apareceu e me ajudou a sair de lá.

Ela ouviu quando Vincenzo suspirou aliviado.

Eu me sinto responsável por isso. Eu não devia ter deixado que cuidasse de tudo isso sozinha.

— Obrigada, não precisa se sentir culpado. No fundo eu é que sempre acabo atraindo desastres. Mas... por acaso está dizendo que vai subir a montanha pra me ajudar?

É claro que não.

Melissa riu do tom enojado dele.

Mas vou mandar alguma ajuda. Acho que te devo essa depois de você aceitar trabalhar pra mim.

— Se pretende mesmo fazer isso não espere que eu seja orgulhosa e diga que não precisa porque eu não vou dizer.

Ela o ouviu rir de novo.

Esteja preparada, fiore. Vou mandar uma equipe de emergência amanhã bem cedo até sua casa não tão nova assim. Não é justo deixar uma dama fazer todo o trabalho pesado sozinha.

— Aaah, como eu senti falta dos cavalheiros.

Já que está vindo para a cidade, será que aceita um jantar com este cavalheiro aqui?

— Não.

Uau. Direta.

— Apenas ocupada, muito ocupada, afinal meu chefe me deu apenas uma semana pra deixar minha casa habitável.

Giusto.

— E além do mais, você vai se cansar de mim já que o chefe a quem me refiro é você.

Não sei se a possibilidade de me cansar de você existe.

Melissa riu.

— Sua irmã está certa, você é um galanteador. Mas não quero ser injusta com você, por isso tenho que ser sincera e te avisar o quanto antes que tudo o que me interessa agora é cuidar da minha vida, talvez arranjar alguns amigos e isso é tudo.

Tuto bene. Eu sou paciente, se não está interessada agora, posso esperar até que esteja.

Melissa riu novamente.

— Eu preciso desligar. — E também precisava mudar de assunto. — Estou chegando ao centro.

Ligo amanhã pra saber sobre a casa. Ciao fiore.

— Ah, Vince... espera...

Pode falar, minha Mel.

— Você tem certeza de que sua irmã morou naquela casa? Donatella é tão sofisticada, eu não consigo imaginá-la vivendo lá.

Sim, Dona morou naquela casa. Mas teve motivos pessoais para deixar o lugar. Bom, agora eu é que preciso ir, fiore. Te vejo em breve.

⚘ ⚘ ⚘

Passava um pouco das seis da tarde quando Melissa voltou para casa e estacionou ao lado da mureta.

O porta malas, os bancos de trás e da frente e o teto do lado de fora do carro estavam abarrotados de coisas que ela não tinha muita certeza se precisaria, mas era sempre bom prevenir.

Ela desceu do carro, pegou enormes sacolas cheias de bugigangas e alguns mantimentos, colocou tudo sobre a mureta e levaria para dentro em várias viagens. Desamarrou a corda que prendia o colchão em cima do carro e ele rolou pra cima de Melissa, apesar de pesado ela esticou os braços para cima antes de ser atingida e apoiou fazendo parar. Ela ficou naquela posição como se fosse alçar vôo, depois de alguns segundos, revirou os olhos para si mesma, não precisava segurar porque o colchão estava dobrado como um rocambole e envolto em plástico, não corria o risco de sujar então deixou que caísse no chão.

As primeiras sacolas que pegou foram as que tinham as luminárias. Comprou sete delas, todas com formatos e tamanhos diferentes, mas Melissa não estava nem um pouco preocupada com a decoração, só não queria ficar no escuro naquele lugar assustador, mas ficou agradecida por ainda ser verão, então escureceria mais tarde. Seguiu para a casa e parou assustada diante da porta.

Estava aberta, mas até aí tudo bem porque ela não havia fechado mesmo antes de sair, mas ao olhar para dentro viu que uma luz extremamente forte vinha lá de dentro.

— Eu não acredito em extra terrestres, mas... uma luz forte assim não é coisa aqui da Terra.

Movendo-se devagar, Melissa deixou as sacolas no chão, encontrou um pedaço de pau sobre um entulho e...

— RÁÁÁÁÁ! — Berrou ela saltando para dentro da casa em posição de ataque segurando o pedaço de pau acima da cabeça e Lucca, que estava em cima de uma escada, estremeceu fazendo com que a escada cambaleasse e se estabacou no chão. — Ooh! Ai, meu Deus! Lucca?

Melissa soltou a arma, levou as mãos à cabeça e correu até ele.

— Me desculpa. Eu não sabia que era você... está machucado? — Ela falava e tentava tatear pra saber se ele estava bem.

— Você é louca? O que deu em você pra entrar gritando desse jeito? — Ele falava empurrando a mão dela impedindo que Melissa o tocasse.

— Como é que eu ia saber que era você? Eu vi essa luz forte e aqui dentro e achei que fosse um... bandido, sei lá.

— Não tem bandidos nessa cidade, sua louca.

Ele se levantou segurando as costas.

— Ai, caramba, você se machucou mesmo.

— Foi só um tombo idiota, não é nada de mais. — Ele levantou a escada e pegou uma chave de fenda e uma tesoura que haviam caído.

Melissa olhou para ele curiosa com a mão tapando a luz forte.

— Eu acho que você devia começar a pensar em me avisar quando resolver vir até minha casa para consertar coisas.

— Você não estava aqui pra eu avisar.

Ela deu uma risada incrédula.

— Então devia ter esperado até que eu voltasse. É assim que as pessoas normais fazem.

— Esperar? Não sei não, e se você tivesse caído em outro poço e nunca mais voltasse.

Ela quis rir, mas apertou os lábios e cruzou os braços observando enquanto ele posicionava a escada e subia de novo.

— O que é que você está fazendo, afinal?

Melissa esperou enquanto ele decidia se respondia ou não então pigarreou.

— Os fios que vêm do gerador estavam velhos demais, do jeito que você é distraída era bem capaz de acabar provocando um curto circuito ao ligar algum interruptor, então eu troquei. São apenas dois, um que alimenta o banheiro e o quarto e este da sala que também alimenta a cozinha.

— Eu não ia usar a eletricidade ainda, seu besta, não tinha lâmpadas, por isso comprei luminárias pra casa inteira.

Ele olhou por cima do ombro para Melissa quando ela o xingou.

— O que foi? — Disse ela levantando as sobrancelhas. — Você me chama de idiota e imbecil o tempo todo, achei que deveria retribuir a gentileza.

Lucca meneou a cabeça e apontou para o teto.

Melissa levantou o olhar e viu que além de um fio novinho pendurado no telhado sem forro, também havia uma lâmpada nova.

— Uumm. Está... está muito bom, mas eu não pedi que fizesse isso.

— Agora já está feito. Por acaso você está com fome?

— Por quê? Vai me preparar outro jantar?

— Voltou de mau humor de onde quer que tenha ido. Só pode ser fome.

— E por que você se importa?

— Eu não me importo, mas ficaria grato se fechasse a matraca e me deixasse terminar em paz.

— Você é inacreditável. Invade a minha casa pra fazer reparos e me insulta dizendo que eu deveria comer e me calar?

Como Lucca não respondeu, subiu na escada e voltou a mexer no fio, Melissa resmungou e saiu da casa.

Entrou e saiu dezenas de vezes buscando sacolas que pareciam não ter fim.

Quando finalmente buscou o colchão, demorou alguns minutos pra conseguir arrastá-lo até a porta da casa. Ao chegar lá, já estava ofegante. Entrou para puxar pelo lado de dentro, mas era largo demais para passar pela porta estreita.

Lucca parou de retorcer os fios e ficou de cima da escada só observando.

Melissa agarrou o plástico e ficou puxando com as duas mãos.

O colchão ficou entalado e não havia passado nem a metade.

Ela tomou fôlego e puxou com mais força soltando um gemido raivoso.

Lá em cima, Lucca cruzou os braços e inclinou a cabeça.

Ela engatinhou por cima do colchão e foi para o lado de fora, empurrou com força e o colchão se moveu um pouco para dentro. Ela o colocou em pé achando que seria mais fácil, mas a porta além de estreita era baixa demais. Com raiva ela começou a dar chutes e socos como se o colchão fosse parar de ser teimoso e entrar para não apanhar mais.

Depois de tomar distância e pegar impulso Melissa correu para esbarrar no colchão e fazê-lo entrar de qualquer jeito, mas acabou passando direto pela porta porque Lucca, com apenas um puxão, fez o colchão entrar, ela passou correndo ao lado dele e Lucca a segurou pela cintura fazendo-a rodopiar, Melissa agarrou com as mãos uma na parte da frente da camiseta dele, a outra na parte de trás da roupa dele e conseguiu frear.

Lucca nem saiu do lugar enquanto ela sentiu que tinha dado a volta na Terra.

Melissa ficou um segundo abaixada com o ombro grudado na cintura de Lucca e as mãos segurando as roupas dele. Percebeu que ele estava parado feito uma estátua segurando o colchão de um lado e ela do outro.

Certa de que havia corado, ela o soltou toda sem graça e saiu de perto se endireitando sem olhar Lucca nos olhos. Não precisava que ele a visse com vergonha.

Melissa pigarreou, ajeitou as roupas, foi para a cozinha, abriu uma garrafinha d'água de dentro de uma das sacolas e bebeu por longos segundos.

— Valeu. — Disse ela ofegante encostada na bancada da pia. — Pode deixar aí mesmo que depois levo pro quarto.

Lucca soltou uma risada sarcástica pelo nariz, ergueu o colchão colocando atrás da cabeça, levou para o quarto e jogou sobre a cama.

Voltou, apagou o refletor e juntou suas coisas em silêncio.

Melissa ficou encostada na pia olhando quieta e intrigada.

— Como eu disse, os fios foram trocados, você pode usar as luzes normalmente.

— Você não precisava ter feito nada disso, mas obrigada.

Ele ficou quieto.

Melissa ponderou a possibilidade de ter pegado Lucca no flagra. Seria a cara dele fazer tudo aquilo sem que ela visse e então desapareceria sem dar explicações.

Ele colocou a chave de fenda e a tesoura no bolso de trás incomodado por Melissa ficar ali parada só analisando seus movimentos, pegou o refletor e já estava indo embora.

— Espera.

Ele parou e Melissa jogou uma garrafa d'água para ele.

Ela foi bem rápida, mas num reflexo ligeiro Lucca segurou. Olhou para a garrafa, olhou para Melissa, abaixou, colocou a garrafa no chão e foi embora.

— Hunf! Eu desisto. Nunca vou conseguir entender — Disse ela virando-se para começar a guardar as coisas, mas notou algo.

Melissa olhou por cima do ombro e viu que Lucca havia deixado a escada. Ela sorriu e meneou a cabeça.

— É claro que ele vai voltar.

⚘ ⚘ ⚘

Assim que a noite caiu Melissa acendeu as luzes que Lucca havia consertado e também todas as luminárias e se trancou dentro da casa.

Achou melhor deixar que o cachorro e a gata ficassem lá dentro também e não tinha vergonha alguma de admitir que era porque estava com medo.

Ela não tinha ideia exatamente de quê estava com medo. Era velha demais para acreditar em monstros surgindo do meio da floresta, no entanto, pessoas estranhas podiam surgir do meio da floresta, não é?

As únicas coisas velhas que não havia tirado da casa eram os panos que cobriam as janelas da sala.

O único quarto da casa era minúsculo, mas tinha uma janela enorme e nada para cobrir.

Ela se achou uma idiota por ter ido ao centro da cidade e não ter se lembrado de comprar lençol, cobertores ou ao menos um travesseiro. Agora, para dormir, tinha apenas o colchão e somente o colchão.

Depois de comer alguma porcaria no jantar, ela checou novamente se havia trancado a casa inteira e se trancou no quarto junto com a gata e o cachorro e esperava que eles não inventassem de dar uma volta do lado de fora pra se aliviarem porque ela não tinha intenção alguma de mergulhar naquela escuridão sozinha.

Apesar de ser verão em Positano, a noite estava bem fria. Na falta de cobertores, Melissa vestiu duas meias em cada pé, duas calças e duas blusas de moletom, improvisou um travesseiro feito com roupas e se encolheu no colchão de costas para a janela se recusando a olhar para o breu do outro lado.

Por sorte, estava exausta demais pra que os terrores noturnos a assombrassem por muito tempo e não demorou a cair no sono.

⚘ ⚘ ⚘

Melissa estremeceu na cama ao ouvir umas pancadas no vidro do quarto seguidas dos latidos do cachorro que pulou no chão e correu para a janela enfurecido.

— O quê... o que é isso? — Ela sentou rapidamente sobre o colchão atordoada com toda aquela claridade provocada por todas as cinco luminárias ainda acesas.

Ela esfregou os olhos e viu que havia dois homens do outro lado da janela apontando, rindo e falando alguma coisa um com o outro.

Melissa abriu a boca para gritar mandando que eles saíssem de sua propriedade, mas logo se lembrou de que Vincenzo disse que mandaria alguém para ajudar com a casa.

Olhou no celular. Cinco da manhã. Mas do lado de fora já não estava mais tão escuro.

Ela se levantou, pegou uma garrafa d'água, foi ao banheiro, lavou no rosto, havia deixado no banheiro um balde também cheio com água do riacho e usou no vaso sanitário.

Depois de vestir camiseta e shorts, Melissa se arrastou para a sala, abriu a porta e tomou um belo susto.

Não eram apenas dois, mas uns dez homens ou mais espalhados em seu quintal.

Ela abriu a boca, mas o que poderia dizer?

Se aquela era a equipe que Vincenzo havia mandado para ajudar ela não sabia nem mesmo como eles caberiam na casa minúscula pra começar a consertar as coisas.

— Vocês tinham mesmo que ter vindo tão cedo?

— Buongiorno signorina. Vincenzo ci ha mandato qui per prenderci cura della tua casa.

— Aaah... ok, é claro que você não fala português, eu... eu non falo, non parlo italiano, mas acho que entendi a parte da cura.

— Non è un problema. Non siamo venuti a parlare, siamo venuti a lavorare.

— Ãããim... eu não, não entendi nada.

O rapaz sorriu para ela, virou-se para os outros, disse algumas coisas e eles começaram a se espalhar, cada um para um canto da propriedade.

Todos eles carregavam grandes bolsas provavelmente cheias de ferramentas e também pás, inchadas.

Alguns foram direto para os fundos, outros permaneceram na parte da frente e Melissa viu um deles com um pequeno cortador de grama.

— Uau! Parece que Vince não estava brincando.

Sem entender uma palavra do que Melissa disse, o rapaz ao seu lado sorriu. Ela sorriu de volta e ele sorriu inclinando a cabeça para o lado. Ela deu um sorriso estranho e desviou o olhar.

— Io devo entrare.

— Oh, eu entendi isso... você quer entrar e eu estou no caminho, entendi. — Ela saiu da entrada dando passagem para ele e os outros colegas se sentindo uma boba.

Melissa ficou parada do lado de fora, perdida e sem saber se devia sair do caminho e deixar que fizessem o que tinham de fazer ou se também colocava a mão na massa, mas havia acabado de acordar, como é que poderia decidir qualquer coisa? No momento, tudo o que precisava era de um café forte e ainda não tinha como fazer isso em casa. Entrou, pegou a chave do carro e antes de sair lá de dentro, pela janela da sala viu Lucca parado perto da cerca olhando para os rapazes.

Ele não a viu. Olhou na direção do telhado onde alguns dos homens estavam mexendo na palha, olhou para os que cortavam a grama e para os que arrancavam as cercas velhas.

Lucca estava carregando outra escada, essa bem maior do que a que ele deixou na casa e na mão a mesma caixa de ferramentas e uma sacola.

Melissa estreitou os olhos achando ter entendido errado, mas podia jurar ter visto um ar de decepção no rosto dele.

Ela foi até o quintal e ele estava olhando para os caras no telhado quando baixou os olhos e a viu. Lucca se remexeu inquieto e parecendo desconcertado quando Melissa ficou encarando. Ele não desviou o olhar. Ficou encarando Melissa com dureza. Pela expressão dele ela tinha certeza de que ele estava bravo de novo.

Lucca apoiou a escada na cerca, caminhou até ela, parou na frente de Melissa e estendeu a sacola. Ela pegou e logo viu que eram suas roupas que haviam ficado na casa dele.

Lucca deu as costas, baixou a cabeça e andou com pressa de sair de lá.

Ela viu quando ele deu uma olhada para o lado encarando o rapaz que usava o cortador de grama.

— Espera! — Pediu ela e ele diminuiu o passo sem se virar. — Eles... eu não pedi que viessem, um amigo...

— Não me interessa.

Ele foi embora deixando Melissa para trás com a sensação de que tinha apunhalado Lucca pelas costas.


༻ ༺༻ ༺


E agora? Mel vai atrás dele ou se livra de uma vez?

Você decide rsrs  😉😎

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