A Esperança - Peeta Mellark

By NicolyFaustino

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Esta é uma fanfiction do livro "A esperança", pela perspectiva do personagem Peeta Mellark. More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Epílogo

Capítulo 19

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By NicolyFaustino

Acordo inexplicavelmente com um nó na garganta. O tubo não está mais inserido em minha boca, mas as gélidas algemas me fazem lembrar logo onde estou, por tudo o que passei, e o que eu sou. Um prisioneiro. Olho para os lados, esperançoso por encontrar alguém. Johanna, Haymitch, até mesmo Ellean. Mas não há ninguém. O peso da solidão se afunda em meu peito. Até mesmo ter Katniss aqui, poderia me fazer sentir melhor. Ao menos não estaria tão sozinho.

Quando estou quase sucumbindo as lágrimas, a porta se abre. Um guarda, obviamente armado, calvo, e com uma expressão de solidariedade me encara.

- A presidente Coin deseja vê-lo, Peeta Mellark — ele diz e oferece a sua mão para me ajudar a levantar. Este simples gesto, me deixa ao mesmo tempo emocionado e com receio. Faz tanto tempo que alguém não faz algo gentil para mim, que não sei mais como reagir. Decido aceitar sua ajuda, e ele me guia por corredores, e elevadores. Passo de cabeça baixa entre as pessoas, que sussurram coisas, como traidor, louco, maldito, e até assassino. Mas, o que eu fiz, além de ser torturado, para todos me odiarem assim? É Katniss que deveria despertar esse ódio neles, no entanto ela é tratada como uma heroína. Eles não conseguem simplesmente ver o que está bem abaixo do nariz deles? Quando estamos passando por um refeitório, Alguém cospe em mim. Levanto a cabeça, e limpo minha bochecha com as costas das mãos. Um tremor familiar de ódio percorre meu corpo. Deveriam todos morrer mesmo, penso. Estou fazendo papel de louco, tentando alertá-los do real perigo enquanto cospem em mim. Não sei se sou capaz de aguentar tanto. Dou um passo na direção do homem, pouco mais alto que eu. Ele me encara num misto de desafio, e nojo. O guarda que me acompanha segura meu braço, mas não forte.

- Peça desculpas — o guarda diz ao homem.

- Prefiro morrer. Vai defender este verme, Boggs? Logo você? —  o homem retruca e se aproxima ainda mais.

O guarda, Boggs, me arrasta calmamente pelo resto do refeitório, em silencio. Sinto todos os olhares sobre mim. Vislumbro Delly sentada ao fundo, com os olhos marejados. Ao menos há compaixão em alguém, neste lugar.

Finalmente saímos de perto das pessoas e paramos em frente a grandes portas. Olho para meus pés, calçados com botas desgastadas. Minha cabeça começa a doer. Escuto a porta ranger ao se abrir para os lados, e me deparo com uma enorme sala, cheia de telas, fios, microfones. Alta tecnologia para quem está no subsolo. As feridas em meus pulsos coçam, e eu nem ao menos posso coçá-las. Soaria estranho pedir a Boggs para fazer isso por mim. Mas a coceira é quase insuportável. Há uma espécie de pódio no centro da sala, tento me concentrar nos detalhes para esquecer a coceira, e as pontadas em minha costela. Até que meus olhos encontram os olhos atentos de uma mulher. Que sem nenhuma apresentação, é possível saber se tratar da presidente Alma Coin.

- Deixe-nos a sós, por favor — ela diz, áspera.

- Mas... presidente — Boggs começa.

- Não vou machuca-la - me ouço dizer. Pois eu sei que seu protesto é por medo de que eu faça algo.

Boggs olha de mim para Coin, mas vencido, sai da sala.

- Estarei do lado fora, se precisar — ele diz.

Alma anda em minha frente, e sem outra opção eu a sigo. Me pego surpreso, por ela andar de costas para mim. Essa mulher não tem medo de que eu a ataque pelas costas? Seu cabelo, mal se move enquanto ela anda ereta. Ela usa um macacão comum. Nada como na capital. Ela para abruptamente e se vira para me olhar. Faz sinal para que eu me sente, e se senta de frente para mim. Há uma fileira de cadeiras, isso parece uma sala de reuniões ou algo do tipo.

- Espero que esteja sendo tratado adequadamente Peeta Mellark — ela diz, suavemente.

- Para um louco, estou sendo tratado da melhor maneira possível, presumo. Passo a maior parte do tempo dopado — jogo as palavras, com amargura.

Alma sorri. Não verdadeiramente.

- Eu não acho que você seja louco — ela dispara.

As palavras me pegam de surpresa.

- Então, acredita em mim? — pergunto, descrente e esperançoso.

- Não totalmente — ela diz, com seriedade.

Ela percebe a confusão em meu olhar.

- Eu não acho que Katniss Everdeen seja uma aberração — ela explica, e faz uma pausa, perante meu estremecimento ao ouvir o nome de Katniss. — Mas, devo concordar, que ela não é o doce de menina que todos acham. Ela não é.... alguém com virtudes. Pode sim, ser um perigo para todos nós.

- Eu não entendo... — começo, perplexo.

- Apenas acho que ela não se importa com ninguém realmente. Nem com você, ou com a própria família. Apenas com ela — Alma completa.

Tento digerir as palavras desta mulher. Meus olhos estão fixos no repartido simétrico do seu cabelo. Ouvir alguém que teoricamente é aliada de Katniss, compartilhar da mesma ideia que eu, é estranho.

Pigarreio.

- Me chamou aqui para isso? — desconverso.

Ela pisca, aturdida pela minha reação, mas logo se recompõe.

- Não. Gostaria de saber, se está em condições de contribuir para o bolo de casamento de Finnick Odair e Annie Cresta.

- Está me vendo. O que acha?

- Acho que pode exercer suas funções perfeitamente.

Minutos depois, estou numa parte da grande cozinha do distrito. Estou isolado, no que penso ser a dispensa. Improvisaram uma área de trabalho para mim. A porta está trancada. E há dois guardas me observando. Nenhum que eu reconheça.

- Poderiam ao menos tirar as algemas? — pergunto num tom suplicante.

Os guardas se olham. Um deles dá de ombros, e sai do local. Em seguida, Boggs adentra, com um molho de chaves. Me lança mais uma vez um olhar solidário que me faz beirar as lágrimas, e solta minhas algemas.

A sensação é indescritível. Roço os dedos pelos pulsos marcados, coço um pouco, mas a dor me faz parar. Estico os braços, ouvindo os estalos. Um dos guardas segura uma arma com o dedo no gatilho. Preparado para um ataque, penso. Mas quase dou risada. A última coisa que quero, é ataca-lo como um animal, sem motivo aparente. Quero apenas, continuar com essa sensação de liberdade, mesmo neste cômodo pequeno e abafado.

A felicidade inicial diminui, e então eu me posiciono em frente a bancada, me sentindo completamente perdido.

A minha frente, há pós, corantes, açúcares... Percebo que minhas mãos tremem. Acho que não serei capaz de mexer com essas coisas. Fito minhas mãos cheias de cicatrizes. Cerro os punhos. Estou prestes a desistir quando escuto berros, e alguém socando a porta. Alarmado Boggs que só agora percebo ainda estar aqui, destranca a porta, revelando Johanna.

- Que desgraçados, tentando me impedir — ela berra. — Vocês não têm amigos? Não sabem que tem que estar ao lado deles em momentos difíceis?

Os guardas olham para ela perplexos. Ao menos tem alguém que as pessoas pensam ser mais louca que eu.

- E posso tentar beliscar alguma coisa doce, também — ela sussurra, me fazendo surpreendentemente rir.

- Eu acho que não consigo Johanna — digo, e para minha surpresa, apesar do sorriso ainda em meu rosto, minha voz falha.

- Ah, dá um tempo. Passou a vida inteira fazendo isto! Vamos lá! Mostre que você é digno da sua fama — ela retruca, e se joga numa cadeira.

- Ultimamente minha fama não é exatamente de confeiteiro — digo, relembrando a cena do refeitório. Automaticamente levo a mão a bochecha.

Johanna suspira.

- Você não deveria saber — ela lança um olhar ameaçador para Boggs — Mas ela está bem. Está aqui.

Um espasmo agita meu corpo. Seguro firme na beira da bancada afim de permanecer em pé.

- Como... como você sabe? — indago.

- Ela é minha coleguinha de quarto — ela diz, com divertimento. — Tenho pegado emprestado um pouco da medicação dela, já que a minha está regada. E você não irá contar nadinha para aqueles médicos de merda, não é? — ela diz, se dirigindo a Boggs.

Estou prestes a repreender Johanna, pois os médicos dão a ela, o que é preciso. E a Katniss, o que ela precisa. Mas não o faço. Sentir dor, é mais que merecido para ela.

Boggs olha algo em seu braço, cochicha algo com o outro guarda e sai do cômodo.

- Bem, então somos só nós. Vamos logo Peeta, estou com fome — Johanna diz e toca de leve meu pulso. A manga do seu macacão se eleva revelando marcas tão profundas quanto as minhas.

Eu apenas fecho os olhos, e deixo as lembranças virem. Misturo os pós, mexendo devagar com a colher. Acrescento leite. Logo se torna uma delicada massa. Me lembro do olhar de Katniss na vitrine da padaria, desejando bolos como este que será feito, sem nunca poder comprar. Ela enfim poderá comer...

Pego alguns corantes, e vou misturando. Formando cores. Volta e meia Johanna pega uma colher e enfia na massa, levando a boca em seguida. E solta murmúrios de apreciação.

Faço uma massa em tons de verde e azul. Verde. É uma cor que eu gosto. Dizem que verde é a cor da esperança. E que esperança eu tenho neste momento? Com a massa, vou moldando pequenas folhas. Folhas idênticas a que Katniss usou como remédio em minhas picadas de teleguiadas na arena. Afasto estes pensamentos da minha cabeça, e faço outra massa, com uma coloração rosada, desta vez. Moldo então, pequenas pétalas, minhas mãos, tremendo, faz com que seja difícil deixa-las no formato perfeito. A sensação da massa em minhas mãos é como um calmante. A mesma sensação que eu sentia quando afagava os cabelos macios de Katniss. Sinto o nó em minha garganta aumentar. Johanna come ruidosamente ao meu lado. Por fim, pego o ultimo pote de massa que fiz. Está com uma cor acinzentada. Quando se mistura muitas cores de corante, o resultado pode ser cinza. Em quase todos os casos. Você tem que ter cuidado, meu pai dizia. Olho para a massa acinzentada, e levo as mãos à cabeça. Me deixo levar então, por um mar de lembranças envolvendo a profundidade dos olhos cinzas de Katniss. A voz de Caesar ecoa em minha mente enquanto me lembro da minha imagem e dela numa enorme tela. Nós estamos pegando fogo, enquanto Caesar grita "A garota em chamas". As chamas parecem sair da minha mente e consumir meu corpo. A urgência de fitar Katniss nos olhos me esmaga. Olho para a massa, cinzenta a minha frente, e arremesso o pote contra a parede, fazendo-o quebrar em mil pedaços, deixando massa caída pelo chão.

- Peeta? O que está... — A frase morre nos lábios de Johanna, enquanto ela leva os dedos finos até meu rosto, e enxuga lágrimas que eu nem sabia estarem ali.

Porque Katniss não sai do meu pensamento? Porque tudo o que eu faço, me lembra ela, de um jeito bom, ou ruim? E porque eu não sei o que é ou não real?

- Vamos embora — Johanna murmura, parecendo realmente abalada. — Foi uma ideia estupida a minha....

Como se estivesse envolto em uma névoa, sinto as algemas sendo colocadas novamente. Guardas me guiando de volta para meu quarto, se é que posso chamar aquele cômodo de meu, ou de quarto. Johanna fala comigo a todo o momento, mas eu não sou capaz de prestar atenção. Sequer lhe responder. Tudo o que vejo, são lindos olhos cinzentos e as palavras ecoando em minha mente.

"Eu preciso. Eu preciso de você".

Sacudindo levemente meu ombro, vejo Haymitch, ainda com algumas manchas roxas no rosto, me olhando com preocupação.

Sinto meu rosto ainda molhado por lágrimas. Me forço a voltar para a realidade. Uma realidade na qual Katniss nunca precisou de mim.

- Peeta... Vai ficar tudo bem ok? — Haymitch diz, soando quase desesperado.

Olho para ele, esperando que minha incredulidade se reflita em meu olhar.

 A sombra de Ellean se projeta detrás de mim.

- Ellean, você pode me dopar, agora? — pergunto, exaurido.

- Peeta, você não comeu nada o dia todo... — ela começa.

- Só me dope, é pedir demais? Isso é tudo o que você sabe fazer mesmo — grito, deixando Haymitch e Ellean, agora na minha frente, com expressões chocadas.

Enquanto ela silenciosamente insere agulhas em minhas quase inexistentes veias, e libera os remédios, sinto o estupor familiar me acometer, e isso é um alívio. Eu só quero esquecer. Tudo.

- Eu prometo — Haymitch sussurra. — Que tudo vai ficar bem.

Solto uma risada amarga.

 - Eu nunca ficarei bem novamente — fungo.

- Nunca, é uma palavra muito forte. Você jurava que nunca venceria os jogos. E sobreviveu a dois deles.

- Haymitch — digo, lentamente. Meus olhos querendo se fechar. — Eu sobrevivi. Mas não me sinto vivo. E se quer saber, sobreviver, para se sentir assim, é preferível estar morto.

E com estas últimas palavras, a escuridão me envolve, fazendo com que meu último pensamento seja o canto dos olhos de Katniss se enrugando, enquanto ela sorri para mim. 

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