Capítulo 31

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Pollux é quem me acorda. Abro os olhos, e olho ao redor, mas dessa vez, não há confusão, pois eu me recordo onde estou. Me recordo de tudo, inclusive do que aconteceu antes que eu adormecesse. Percebo que estou sorrindo. Mas o sorriso logo desaparece quando vejo Katniss acordando Gale. Não quero me sentir com raiva, mas é quase inevitável, vendo as mãos dela tocando o ombro dele... Sacudo a cabeça, e me levanto, disposto a não me importar com isso. Minhas mãos tremem levemente, enquanto eu tento me afastar desse sentimento de raiva. O que parece impossível. Katniss faz sinal para que fiquemos em silencio, apesar de ninguém estar de fato conversando. Eu respiro com dificuldades. Algo me diz que o que estou sentindo não tem a ver apenas com o fato de Katniss tocar Gale, daquela maneira... O sangue em minhas veias parece queimar, me consumir como lavas. Então eu escuto. Um sussurro. Um chamado. E com assombro, e descontrole percebo que é a voz de Moira ecoando pelos tubos, chamando por Katniss. Olho para a frente, e vejo Katniss, de costas, tão próxima de mim. Minhas mãos tremem violentamente, enquanto eu sinto o fogo dentro de mim me consumir, atingindo meu coração, meu cérebro, me fazendo querer gritar de dor. Tento segurar um pouco da razão que ainda me resta, me apego as lembranças de poucas horas atrás... As mãos de Katniss em mim... Nós protegemos um ao outro.... A voz de Moira ainda ecoa num sussurro pelos tubos, e sem conseguir resistir, eu me junto a ela, e chamo por Katniss. Eu tenho que vingar todas as mortes que Katniss causou. Quando dou um passo à frente pronto para atacar, Katniss se vira para mim. Encontro seus olhos cinzentos, alarmados. Katniss tem que morrer... Mas, nós protegemos um ao outro. Com um resquício de força, avanço para fora do fogo que toma conta de mim. E isso parece exaurir todas as minhas forças, quando me dou conta, estou caído no chão, ofegante. Mas ao menos estou lúcido. Porém sei, que isso que está chamando Katniss, quer matá-la. E também sei, que Snow fez com que tivesse a voz de Moira, para me atingir.

— Katniss! Katniss! Saia daqui! – digo, sentindo um medo infindável do que se aproxima de nós.

— Por quê? O que está fazendo esse som?

— Eu não sei. Somente sei que quer matar você. Corra! Saia! Vá!

Ela me olha por um momento, franze o cenho, e baixa seu arco, que só agora percebo estar apontado para mim. Será que Katniss teria mesmo coragem de me matar, se fosse preciso?

— O que quer que isso seja, está atrás de mim. Pode ser uma boa hora para nos separarmos – ela decide. Estou prestes a protestar, mas vejo que todos já farão isso. Me concentro em apenas ficar no controle da minha situação, e não deixar que os sussurros com a voz de Moira, faça com que eu entre naquele estado terrível, onde tudo o que eu quero, é matar a garota que amo.

— Mas nós somos seus guardas — diz Jackson.

— E sua equipe — adiciona Cressida.

— Eu não vou deixar você — Gale responde.

Suspiro. É claro que Gale nunca a deixaria. Eu tenho que aprender a conviver com isso. É óbvio que eu nunca poderei ter Katniss da maneira que desejo, não enquanto eu não acabar com esse monstro que há dentro de mim. E mesmo que eu consiga isso, não tenho garantias de que ela ainda me ame. Ou de que ela já me amou. Enquanto isso, tenho que assistir impotente essa proximidade entre ela e Gale.

Minhas mãos estremecem novamente.  Katniss começa então a distribuir armas para todos, e no fim eu sou o único desarmado. A equipe de filmagem e os membros restantes da esquadra tem pistolas, Gale e Katniss tem arcos, Finnick tem um tridente. Seguimos em frente em meio a canos transbordando com aguas esverdeadas, trilhos de trens abandonados, e presumo que pegamos uma boa distância das criaturas. Porém volta e meia eu escuto um sussurro, o que faz meus pelos arrepiarem.

A Esperança - Peeta MellarkWhere stories live. Discover now