Capítulo 9

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Quando acordo, meu corpo está rígido. Dolorido. Estou num quarto branco. A mobília é glamorosa. Gostaria que Katniss estivesse aqui, para ver como o presidente Snow é generoso. Hoje irei falar para ela. E quando essa revolução acabar poderei viver feliz com a garota que amo. Uma imagem de Katniss e Gale combatendo lado a lado fica pairando num lugar obscuro em minha mente. Eles se beijaram a algum tempo atrás. Mas Katniss disse que foi apenas um beijo. Talvez seja como eu me senti em relação a Delly. Mas eu não a beijei. Afasto estes pensamentos e tento me levantar. Um grito de dor sai por minha garganta, e eu caio da cama direto ao chão. Devo estar com algo quebrado. Não é possível. Fico no chão, imóvel com medo de com que qualquer movimento a dor volte. De repente me lembro de Johanna. Ela está aqui. Estão a maltratando. Por que estão fazendo isso com ela? Com muito custo, consigo me sentar, escorado na cama. Minha cabeça dói. Os olhos de Katniss são cinzentos. Ela me ama. Tenho que focar nisso. Vou falar com ela. A revolução vai ter fim, e tudo vai ficar bem. Sinto uma pontada terrível em minhas têmporas e então me lembro. Oh Deus... Cinna está morto. Eles o mataram. Os pacificadores. Por ordem de Snow. Eu odeio Snow, é por culpa dele que tudo isso esta acontecendo. Lágrimas e mais lágrimas escorrem por meu rosto, e eu vejo minhas mãos. Estão emplastadas de uma substância pegajosa e âmbar. É possível ver pequenas cicatrizes. Onde estavam os ganchos usados para me dar choques. Passo a mão em meu rosto, e sinto a substancia se derretendo ao contato com minhas lágrimas. Aperto com força minha cabeça. O que está acontecendo comigo? Hoje vou falar para Katniss. Ela vai me escutar. Ela tem que lutar. Outra pontada... E dessa vez eu me retorço no chão, sentindo a dor em minha costela. Estou tão confuso.... Mas aí, minha mente parece clarear, e eu me lembro do que realmente está acontecendo. Eu estou aqui, nessa condição, por culpa de Katniss. Johanna está sofrendo por culpa de Katniss. Cinna se foi... por culpa de Katniss. Ela precisa parar.

Nesse momento, quando finalmente entendo tudo com clareza, uma mulher, aparentando ser bem jovem, entra no quarto, com uma maleta preta nas mãos.

- Você está aqui para me arrumar? – sussurro, e minha voz parece não ser a minha.

Ela assente, e me ajuda a levantar. Caminhamos, eu, completamente trôpego até o banheiro. Eu tiro minhas roupas e entro numa banheira enorme, com agua morna e cheiro de rosas. A garota, com uma espécie de esponja, vai retirando toda a gosma de mim. E arde. Dói. Eu poderia dormir aqui, se não fosse pelos espasmos descontrolados da minha perna, ora do meu braço. Algo ruim está acontecendo comigo. Eu só não sei ao certo o que.

- Você... acha... – sinto dificuldade para falar, mas prossigo, afinal logo mais falarei para Katniss. Esse pensamento que me faz permanecer firme. – Você acha que Katniss... está fazendo tudo isso... consciente? – pergunto a garota que agora me entrega uma toalha, e se vira enquanto eu tento sair da banheira.

Ela dá de ombros.

Quase caio novamente. Minha visão escurece. Em intervalos.

- Eu acho que não estou bem – murmuro. Mas a garota apenas me fita. Vou me sentindo tonto. Queria que essa garota falasse comigo. Seguro com força a toalha enrolada em minha cintura, mas já não há o que eu possa fazer, sinto minhas pernas falharem, e quando a garota solta um grunhido agudo, consigo entender que ela é uma avox. A última coisa que escuto, é Katniss sussurrando o nome de Gale, sem parar.

Sinto frio. Muito frio. Meus olhos se abrem, revelando a luz do sol sumindo no horizonte. Nunca senti tanto frio em toda a minha vida. Olho para baixo e vejo que estou vestido. Não me lembro de ter vestido algo. Tento me levantar e desta vez consigo. Toco minha costela, e há algo duro a revestindo. Isso faz com que eu aguente ficar um pouco mais firme. De pé, caminho lentamente, escorado na parede. A cada passo, paro ofegante. Tremo de frio, e a dor ainda é muita para se aguentar.

A Esperança - Peeta MellarkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora