Capítulo 4

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De alguma maneira, consigo abandonar o corpo de Cinna. Minhas pernas doem de ter ficado tanto tempo ajoelhado. Mas eu não conseguia soltar a mão dele. Volto para meu quarto, totalmente desnorteado. Não me importo por eu estar com a roupa coberta de sangue, apenas me deito, encolhido na cama. Fito o chão. Já não tenho lágrimas. Nem esperanças. Lentamente adormeço. Sem sonhos.

- Peeta! Você está bem? Por favor, acorde!

Nem preciso abrir os olhos para saber quem é. Moira.

- Porque você não desiste de mim? – pergunto de olhos ainda fechados.

- Eu não posso. Esse é o meu trabalho. Ande, está na hora do seu remédio – ela diz, num tom levemente brusco.

Abro os olhos. E fico espantado. Seu rosto exibe hematomas roxos. Seus pulsos também. Ela evita me olhar nos olhos.

- O que aconteceu com você? – pergunto, assustado.

- Toda a ação, tem uma consequência – ela se limita a dizer.

Ficamos em silencio. Eu tomo o remédio que eu tanto repudio sem protestar. Ela lança um leve sorriso em minha direção. Mas quando as imagens do que presenciei invadem minha mente, não consigo retribuir seu sorriso.

- Cinna está morto – digo abruptamente.

Moira não esboça nenhuma reação.

- Eu sei – ela diz, fitando o chão.

- Eu o vi morrer - digo, num sussurro.

- Eu sei – ela diz mais uma vez.

De repente, uma preocupação me acomete.

- Portia está aqui, também? – pergunto, alarmado.

Moira suspira.

- Não. Ela fugiu. Junto com alguns membros de sua equipe.

Pondero por um momento. Não é como se Portia tivesse envolvida na revolução. Cinna fez o vestido se transformar num tordo. Imagens de Katniss rodando no palco enquanto seu vestido se queima, surgem em minha cabeça. Eu quase consigo sentir o momento. Meus olhos marejam. Eu só não consigo me lembrar do que aconteceu depois.

- Moira. Eu acho que estou perdendo a memória – digo.

- Não seja bobo – ela retruca. – Tenho uma coisa importante para lhe falar.

Me incomoda o fato de ela ter mudado de assunto. Mas apenas assinto.

- O presidente Snow, quer vê-lo.

Um calafrio sobe por minha espinha. Não estou preparado para ficar em frente ao homem que indiretamente destruiu minha vida. Abro a boca para falar, mas Moira me interrompe.

- E você não tem outra escolha.

Algumas horas depois, estou no centro de treinamento. Moira tratou dos meus ferimentos, e me deu mais um comprimido daqueles que eu não gosto. Me sinto aliviado por poder sair daquela prisão, mas este lugar não me traz boas recordações também. Sou levado para um quarto, onde uma nova equipe de preparação me arruma. Sinto o mesmo nervosismo que senti quando estava prestes a ir para os jogos. Ninguém diz uma palavra. Eles apenas tiram meus pelos, cortam meu cabelo, esfoliam minha pele, numa agilidade impressionante. Mas, ficar sem falar nada? Isso é atípico para essas pessoas da capital. Quando eles terminam, apenas saem da sala, em silencio. Me olho no espelho, e fico impressionado com a minha imagem. Eu pareço tão... bem. Tão diferente do real estado no qual me encontro. Me visto com as roupas que estão em cima de uma cômoda. Um elegante terno branco. Há uma batida na porta.

A Esperança - Peeta MellarkOnde as histórias ganham vida. Descobre agora