P O S I T A N O

By ReSouzah

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ROMANCE - DRAMA ⸻⸻ E se um trágico acidente tirasse a vida das pessoas que você mais ama? E se depois disso v... More

SINOPSE ⚘
CONHEÇA POSITANO ⚘
P R Ó L O G O
𝟙
𝟚
𝟜
𝟝
𝟞
𝟟
𝟠
𝟡
𝟙𝟘
𝟙𝟙
𝟙𝟚
𝟙𝟛
𝟙𝟜
𝟙𝟝
𝟙𝟞
𝟙𝟟
𝟙𝟠
𝟙𝟡
𝟚𝟘
𝟚𝟙
𝟚𝟚
𝟚𝟛
𝟚𝟜
𝟚𝟝
𝟚𝟞
𝟚𝟟
𝟚𝟠
𝟚𝟡
𝟛𝟘
𝟛𝟙
𝟛𝟚
𝟛𝟛
𝟛𝟜
𝟛𝟝
𝟛𝟞
𝟛𝟟
𝟛𝟠
𝟛𝟡
𝟜𝟘
𝟜𝟙
𝟜𝟚
𝟜𝟛
𝟜𝟜
𝟜𝟝 - 𝔽 𝕀 ℕ 𝔸 𝕃 - 𝕡𝕒𝕣𝕥𝕖 𝟙
𝟜𝟞 ♡ 𝔽 𝕀 ℕ 𝔸 𝕃

𝟛

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By ReSouzah




M E L


— Ela foi mesmo embora. Ela me deixou mesmo sem emprego e sem uma casa. E foi mesmo embora.

Melissa encarava a porta do quarto há uns quinze minutos depois que Graziella partiu ao lado de Paolo.

Antes de irem, os dois haviam entrado no quarto de Melissa, Graziella deu um abraço demorado de despedida na amiga, Paolo se atreveu a se aproximar e dar um beijo estalado em seu rosto ignorando a cara fechada dela.

— Eu sei que parece que eu estou fazendo uma grande loucura e que estou sendo uma péssima amiga. — Disse Graziella com um sorriso atrevido no rosto. — Mas eu conheço você, Mel, se eu não fizer isso, você vai ficar acomodada aqui pra sempre.

Depois disso ela e Paolo saíram do quarto sem nem olhar para trás.

Melissa queria gritar, queria xingar e dizer que Graziella não passava de uma traidora.

Mas não fez isso.

Ela não disse nada.

Às vezes odiava o fato de ser tão condescendente quando na verdade devia brigar.

Por mais idiota que fosse, Melissa esperou que Graziella voltasse.

Custou a acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo, que a única amiga que tinha na Itália, a única pessoa com quem achava que podia contar simplesmente a deixou para trás.

Aquele dia só piorava.

Sua cabeça estava a milhão.

Tinha sido abandonada pela amiga e não sabia o que ia fazer sozinha e incapacitada.

E aquele dia havia começado da pior maneira.

Não conseguia parar de pensar na estupidez daquele grosseirão, e ele pode até ter ajudado, mas conseguia ser tão irritante e tão rude que tudo o que Melissa pensava era no momento em que ele a jogou na areia e todas as coisas grosseiras que ele havia dito.

Também não conseguia parar de pensar na sensação que quase a dragou quando ele acelerou a moto. Sentiu a morte agarrando seus calcanhares exatamente como no dia do acidente dentro daquele avião.

O pânico que sentiu a pegou de surpresa.

Quando topava situações perigosas como fotografar paraquedistas saltando de um avião, ou surfistas enquanto dirigia um jet sky já estava preparada para sentir aquele medo de novo e enfrentar aquela fraqueza como na primeira vez em que decidiu entrar em um avião meses depois do acidente, era assim que tinha decidido desafiar e afrontar a morte, mas não imaginou que uma simples carona em uma motocicleta também provocaria aquela sensação e a fizesse paralisar de medo e isso realmente a pegou de surpresa.

Ela suspirou tentando não pensar naquilo.

Apesar do banho com vinagre e azeite que Lucca havia dado em seus pés mais cedo, agora eles ardiam e queimavam de dentro para fora como se estivessem fervendo.

Melissa havia dado uma olhada, as solas estavam bem vermelhas e umas bolhas haviam se formado mesmo que ele tivesse dito que isso não aconteceria.

Não havia o que fazer a não ser curtir a dor. Aquilo não era nada perto do que havia passado na época do acidente. Ossos quebrados não se comparam a umas bolhas idiotas.

Melissa se ajeitou na cama, deitou-se como um defunta com as mãos sobre a barriga e ficou encarando o teto.

Fechou os olhos um instante e tentou visualizar como estaria sua vida em quinze dias.

Nada lhe ocorreu.

Visualizava seu futuro em quinze dias como uma tela em branco em sua mente.

Não conseguia se imaginar em uma casa nova.

E onde arranjaria um emprego que gostasse tanto quanto fazer fotografias?

Mal sabia dizer em italiano que não sabia falar italiano. Não fazia ideia de onde começar a procurar emprego em algum lugar onde falassem ao menos inglês, que era o único idioma que ela dominava além do português.

Impossível.

Rafael era quem falava italiano e muito bem. Quando decidiram morar na Itália ela nem pensou que podia ter problemas com a língua porque estaria sempre com ele.

É claro que não morreria de fome, nem acabaria morando na rua.

Tinha um bom dinheiro guardado. Era o dinheiro que ela e Rafael usariam para comprar uma casa e ainda tinha a renda do apartamento alugado no Brasil e o dinheiro que recebia trabalhando para Graziella, mas a questão não era o dinheiro.

Talvez Graziella tivesse razão.

Melissa também achava que tinha se acomodado e que estava bom dessa maneira.

Ela havia decidido sair do Brasil pra se reconectar com o que um dia teve com Rafael. Mas a verdade era que estava fugindo disso quando estava lá e vinha fugindo disso agora que estava na Itália.

Nunca imaginou que a verdade era que seria doloroso demais tentar reviver em seu coração todas as lembranças boas, os momentos de felicidade que teve com ele. Era doloroso porque queria de volta tudo o que viveu com ele, era doloroso pensar em morar em Positano como havia planejado porque queria ainda queria ter vivido aquilo com ele e agora, fazer qualquer coisa sem Rafael parecia errado.

Melissa sabia exatamente o que Graziella estava fazendo e isso a deixou com mais raiva ainda.

Ela não tinha o direito de obrigá-la a fazer aquilo.

Seguir em frente era uma decisão que ela tinha o direito de adiar o quanto quisesse.

Mas... se não ocupasse a cabeça acabaria definhando.

Precisava arranjar outro emprego e já que não gostava tanto assim daquele apartamento, até que não era uma ideia ruim alugar outro lugar.


⚘ ⚘ ⚘


Melissa acordou por volta das cinco da tarde.

Não pretendia ter caído no sono e muito menos ter dormido por tanto tempo, mas talvez seu sistema estivesse sobrecarregado demais e simplesmente apagou.

Ela remexeu os dedos dos pés e sentiu algo estranho.

Apoiou as mãos no colchão e se sentou na cama. Deu uma olhada nas solas dos pés, estavam cobertas por uma pomada e, por mais impossível que parecesse, estavam bem melhores. Não estavam mais tão vermelhos e as bolhas haviam secado.

Imediatamente o coração de Melissa disparou e ela olhou alarmada na direção da porta, estranhou ao sentir um cheiro muito bom e inspirou bem fundo.

— Comida?

Nem se lembrava quando havia comido qualquer coisa pela última vez.

Olhou para o lado e havia um prato envolto em um guardanapo com um garfo enfiado no meio do nó em cima do criado mudo.

— Ai meu Deus. Alguém entrou aqui. Droga, droga. Quem entrou aqui?

Ela se remexeu agitando os braços e se os pés estivessem bons teria se levantado e saído correndo pela casa, mas tudo o que podia fazer era se chacoalhar sem sair do lugar.

Melissa procurou por seu telefone pela cama, mas parou desanimada. Estava dentro de sua bolsa que estava em cima da cômoda em frente à cama e se quisesse ligar pra alguém e pedir socorro, teria de se levantar e ir até lá para pegar.

Seus ombros caíram desistindo e ela revirou os olhos.

De qualquer forma, a fome falou mais alto.

Melissa pegou o prato e decidiu que chamaria a polícia depois, desamarrou o guardanapo e jogou longe, observou os desenhos azuis do prato tipicamente italiano, achou bem bonito, no entanto, notou que não se parecia com nenhum que pertencesse à cozinha de Graziella, mas a comida era ainda mais bonita, soltou um gemido aliviado e sofrido ao ver uma porção generosa de espaguete com molho cheio de pedaços de tomate e com bastante queijo ralado por cima.

Ela cheirou com gosto.

O macarrão já estava frio, isso a fez pensar que quem quer que tenha deixado aquele prato ali, tinha feito isso há algumas horas.

— Como foi que eu não acordei?

Sem se importar nem um pouco com o fato da comida não estar aquecida, Melissa devorou tudo em poucos minutos.

Agora de barriga cheia, conseguiria pensar com mais clareza.

Tentou imaginar quem poderia ter ido até a casa, cuidado de seu pé e deixado comida. Não surgiu nenhum nome em sua mente.

Obviamente não adiantaria nada chamar a polícia. Quem quer que tenha feito aquilo, era apenas um invasor, não um ladrão ou um tarado, um ladrão ou um tarado não teriam cuidado de seus pés nem levado comida.

— Lucca? — Ela descartou a ideia imediatamente. — Nããão. Ele nunca voltaria aqui.

Passou por sua cabeça que talvez a consciência de Graziella tenha pesado e ela tenha mandado alguém para ver se estava tudo bem ou até ela mesma tenha voltado para pegar algo e cuidar da amiga.

De qualquer forma, se não foi Graziella, alguém havia entrado o que significava que a casa estava aberta e ela sabia que precisava dar um jeito nisso.

Melissa suspirou sabendo que não dava para ficar na cama para sempre.

Pisar no chão não era uma opção, então deslizou para o chão primeiro com as mãos, depois apoiou os joelhos e ficou de quatro com os pés virados para cima.

Engatinhou até a sala e a porta realmente estava aberta. Não duvidava nada de que com a pressa que saiu Graziella havia esquecido. Resmungando sem parar, Melissa trancou a porta e voltou engatinhando para o quarto, aproveitou que já estava no chão e foi até a cômoda, ficou de joelhos, pegou a bolsa e jogou em cima da cama, abriu uma gaveta e pegou uma camiseta e um shorts. Ainda no chão, fazendo um contorcionismo seguido de um pouco de malabarismo, tirou o vestido, foi até o banheiro e deixou a banheira enchendo.

Depois do banho mais trabalhoso de toda sua vida, Melissa voltou para a cama. Pensou em se arrastar até a cozinha e preparar algo, mas descartou a ideia, não conseguiria cozinhar nada e decidiu que aguentaria algumas horas de jejum. Estava cansada, ainda atordoada depois de passar uma noite em um barco e completamente aérea depois de levar uma rasteira sem precedentes da única amiga que havia sobrado em sua vida, logo pegou no sono de novo.


⚘ ⚘ ⚘


Melissa acordou pela manhã com uma mensagem barulhenta em seu celular. Viu que era de Graziella e revirou os olhos irritada.


Buongiorno, Mel.

Ainda está brava comigo?

Você não disse nada, então significa

que está muito brava comigo.

Não me mate, mas você tem um trabalho marcado

para amanhã de manhã

em Positano, um casamento em um hotel.

Eu sei, eu sei, não brigue comigo,

eu sei o quanto você odeia fotografar casamentos, mas

é um trabalho e você está precisando de um trabalho, não está?

E não se preocupe, não precisa dividir os lucros comigo, encare como o início da sua independência.

Demais, não acha?

Agora não pode dizer que eu te abandonei completamente,

estou cuidando de você.

Eu sei que não vai perguntar, mas estou muito feliz e quero muito que você volte a ser feliz.

Aproveite o dia e não faça nenhuma loucura.

Oh, quase me esqueço, este é o endereço do lugar

onde o casamento vai acontecer

Villa Oliviero, é tudo o que você precisa saber,

não tem como se perder.

Ps: que história é essa de andar por aí com o ogro de Positano?

Me conta isso direito, sua louca.


— Ela está maluca se acha que vou fotografar casamentos. — Resmungou Melissa desligando sem responder, jogando o telefone no colchão e virando-se para o outro lado.

Era cedo, mas ela não conseguiu dormir novamente.

— Hunf! Como ela pode me mandar não fazer nenhuma loucura quando foi ela quem mudou até a empresa de cidade por causa de um cara? Grrrrr... eu sou uma idiota. Eu não devia estar aqui. Eu não devia ter vindo pra essa cidade.

Melissa bufou frustrada pensando que não conseguiria fazer muita coisa por causa dos pés, no entanto, quando se sentou na cama e checou em que estado estavam teve uma surpresa. Não estavam mais vermelhos, não havia mais bolha alguma e não estavam queimando de dentro pra fora como antes. O que quer que a visita invasora tenha colocado, agora seus pés estavam praticamente curados.

Surpresa e desconfiada, Melissa os colocou devagar no chão.

Ainda não estavam cem por cento, mas conseguiu ficar em pé.

— Eu não acredito, não acredito. Rá! Isso é um milagre.

Os pés dela ainda estavam doloridos e formigavam a cada passo, mas não era nada insuportável como antes e conforme o dia foi passando, melhorou ainda mais. Melissa não abusou da sorte, fez tudo o que tinha de fazer pela casa, mas assim que uma dorzinha apontava, logo ela se sentava e os colocava para cima.

Pouco antes do almoço ela pegou o computador e sentou-se na sala. Se Graziella estava mesmo levando aquela história a sério, então não podia perder tempo. Tinha poucos dias para arranjar outro lugar para morar, então entrou em inúmeros sites, visitou dezenas de casas e apartamentos e até encontrou alguns lugares interessantes. Anotou alguns endereços e pretendia fazer algumas visitas nos próximos dias.

Quando se preparava para entrar em outro sites, algumas batidas na porta a interromperam.

Melissa se levantou com cuidado, andou devagar até a entrada do apartamento e abriu a porta.

— Signorina Melissa? — Disse um entregador segurando uma caixa de pizza.

— Aah sim... esse é meu, mio... mio nome.

O entregador sorriu e estendeu a caixa de pizza para ela.

— É que... no, no pizza. Eu no pedito, não pedi pizza... no pizza.

— È già pagato. — Ele insistia pra que ela pegasse a caixa.

— No... eu não pedi isso, você está no apartamento errado. — Ela apontou para o número na porta fazendo não com o dedo.

— È già pagato. Pagato... è la tua pizza, TUA pizza.

Ele praticamente a obrigou a pegar a caixa, sorriu novamente, acenou, deu as costas e foi embora.

— Ai, que droga. Eu preciso começar a fazer italiano urgentemente.

Assim que entrou, colocou a pizza sobre um aparador na sala e a primeira coisa que fez foi digitar as palavras do entregador no tradutor de seu celular.

È già pagato. Já está pago.

— Está pago? Quem pagou? Grazi? É, é bem possível que aquela doida tenha feito isso... hunf, e não faz mais do que obrigação. Vai ter que me mandar pizza todos os dias até limpar sua barra comigo, entendeu, sua traidora? — Berrou Melissa mesmo que ninguém estivesse escutando, pegou a caixa, abriu, era uma pizza média cheia de gorgonzola e tomates. Melissa cheirou e gemeu ao sentir uma fome repentina. Se jogou no sofá e devorou a pizza inteira com as mãos.


⚘ ⚘ ⚘


Assim que acordou na manhã seguinte, Melissa se contorceu na cama se recusando a fazer o que não queria.

— Eu não vou. Não adianta, eu não vou.

Estava com raiva porque Graziella parecia não entender o que tinha feito. Estava com raiva porque a única pessoa em quem confiava e com quem achava que podia contar deu uma bela facada em suas costas. E também estava com raiva porque a amiga havia arranjado aquele casamento para ela fotografar mesmo sabendo que ela odiava fotografar casamentos.

Tinha apenas um porém. Melissa precisava se manter no mercado se quisesse que as pessoas a conhecessem e começassem a contratá-la o que significava que não estava em posição de escolher onde trabalhar.

— Eu não quero ir. — Choramingou ela tapando a cabeça com o travesseiro. — Meeeerda. Eu tenho que ir.

Melissa jogou o travesseiro com raiva para o lado, saiu da cama, testou os pés, estavam muito bem e até desejou que estivessem péssimos, mas se levantou e se arrumou se arrastando irritada pelo quarto.

Apesar do calor, escolheu tênis bem confortáveis por precaução, colocou uma camiseta branca e um macacão jeans bem largo, fez uma maquiagem leve e prendeu os cabelos num rabo de cavalo. Comeu algo rapidamente, pegou seus equipamentos, colocou tudo em uma mochila e saiu.

Uma das poucas coisas que sabia no bairro em que morava era onde alugar um carro. Graziella não tinha carro e Melissa a viu fazer isso algumas vezes, como na noite em que foram para a festa na praia. Andou até a praça da catedral amarela e entrou em uma concessionária, ficou agradecida porque o atendente ao menos falava inglês e alugou um carro, um daqueles bem pequenos e minutos depois estava a caminho de Positano.

Melissa só conseguiu encontrar o hotel depois de perguntar para umas dez pessoas que apontavam a direção em meio a mãos agitadas e palavras que ela não fazia ideia do que significavam. Ela seguiu muito mais seu instinto do que as orientações conturbadas dos italianos.

O hotel Villa Oliviero ficava em um penhasco com vista para o mar de Positano. Era impossível simplesmente estacionar lá porque havia uma única rua de acesso e a rua era tão estreita que quase dava para tocar os dois lados. A entrada era bem discreta, quase não dava para saber que ali era um hotel e ela só soube que era o lugar certo por causa de um placa pequena no portão com Villa Oliviero escrito nela.

Não havia campainha ou interfone, então ela abriu o portão e entrou.

Melissa ficou parada um instante absorvendo o impacto da vista que a atingiu em cheio.

— Caramba! Esse lugar não cansa de ser lindo?

A entrada do hotel ficava no alto, praticamente no telhado do terceiro piso e a estrutura do hotel se estendia para baixo. Assim que o portão se abriu uma vista deslumbrante do mar e da montanha surgiu surpreendendo Melissa.

Depois de se recompor do choque com a beleza do lugar ela desceu umas escadinhas que levavam ao interior do hotel, chegou ao primeiro terraço e parou encantada novamente. Era tudo tão italiano que ela até sorriu. O lugar parecia um dia ter sido uma mansão, era todo branco e muito espaçoso.

Ela estranhou que não tivesse ninguém por ali, afinal um casamento aconteceria em menos de duas horas. Desceu outra escada estreita e então congelou.

Seu coração deu um salto dentro do peito. Não como uma daquelas sensações boas como quando se depara com uma vista deslumbrante. Mas uma daquelas sensações que fazem o peito doer. Doer pra valer.

Aquele terraço estava lindo. A decoração do casamento estava perfeita.

Melissa sentiu o ar rarefeito e parecia arranhar enquanto entrava e saía de seus pulmões.

Ela terminou de descer os degraus bem devagar enquanto seus olhos ficavam perdidos em todas aquelas flores maravilhosas. Os candelabros e luzes pendurados no pergolado e que davam um ar mágico ao ambiente. O terraço e a enorme mesa estavam preparados para um almoço digno de contos de fadas com flores brancas e cadeiras douradas.

Melissa fechou os olhos e se lembrou do dia em que Rafael a pediu em casamento. Se lembrou do dia em que decidiram que se casariam na Itália e em todas as vezes em que entraram em sites de casamentos em lugares diferentes onde fariam a cerimônia.

Sua garganta se fechou. Seus olhos estavam prestes a traí-la enquanto lágrimas ameaçavam surgir lembrando ao seu coração de que ele não passava de um monte de cacos estraçalhados e que não importava o quanto ela tentasse viver ignorando isso, aquela dor nunca a deixaria.

Ela estava ofegante.

Ao invés de continuar descendo, deu um passo para trás, subiu um degrau e parou.

— Não dá... — Disse ela tentando respirar. — ...eu não consigo.

Ela deixou escapar um soluço que traria junto um choro cheio de memórias de coisas que nunca aconteceriam e começou a subir para escapar dali.

— Melissa?

Ela parou ainda de costas. Inspirou fundo com os olhos bem apertados e virou-se para o homem.

— Eu sabia que a veria novamente, fiore. — Disse ele.

— Vincenzo? O que faz aqui?

Ele usava um terno preto extremamente alinhado, corte italiano perfeito e que ressaltava seu físico atlético, mas Melissa nem notou isso. Ele exibia aquele sorriso italiano e abriu os braços como se a presença dele ali fosse a coisa mais obvia do mundo.

— Eu sou o gerente do Villa Oliviero.

— Oh... interessante. — Ela ainda estava em uma posição de fuga com os dedos cravados no corrimão da escada.

— Graziella me garantiu que você viria e nenhuma das duas me decepcionou. Você está linda, fiore. — Disse ele analisando o macacão de Melissa.

Ela deu um sorriso sem graça e deu uma olhada para trás tentando descobrir em quantos segundos conseguiria chegar à saída.

— Você está bem?

— Eu... eu estou bem. — Ela forçou um sorriso. — Está tudo bem.

Ela desceu um degrau ficando um pouco mais perto de Vincenzo.

Ele não disse nada por um instante. Ficou encarando Melissa com um sorriso que ela não sabia muito bem como decifrar.

— Acho melhor eu começar, não é? — Disse ela quebrando o clima que talvez existisse apenas na cabeça dele.

— È vero, vero. Aqui, me deixa ajudar com suas coisas. — Ele pegou a mochila do ombro dela, carregou o equipamento guiando-a para dentro do hotel e pararam em uma grande sala cheia de poltronas e mesinhas. — Eu te garanto que tudo o que eu mais queria agora era te fazer companhia, fiore, mas tenho que dar atenção aos convidados.

— Sem problema. Acho que eu também vou ter que dar alguma atenção aos convidados. — Ela tentou não soar irônica.

Ele sorriu e piscou para ela. Melissa desviou o olhar sentindo vontade de rir.

— Bom, acho que você sabe o que fazer, não é? Você é a profissional aqui. Mas só pra te situar um pouco, nós costumamos tirar muitas fotos enquanto os noivos estão se arrumando, dos preparativos, da decoração enquanto os convidados não chegam. Então acho que você pode começar fazendo isso.

— É, é claro. É exatamente o que eu pretendia fazer.

— Ótimo. Aqui estamos na sala principal. Siga por aquele corredor e vai encontrar o quarto onde a noiva está, no quarto de frente para o da noiva estão as madrinhas. No corredor à direita estão o noivo, os parentes e padrinhos. Não precisa dizer nada, eles já estão esperando por você, então é só chegar, apontar a câmera e fazer o que você sabe.

— Ok.

Vincenzo piscou novamente, deu alguns passos se afastando, mas voltou até ela.

— Espero que você tenha algum tempo pra mim depois da cerimônia. Adoraria conhecer melhor a garota que me jogou nos braços de outra naquela festa e desapareceu.

Ele saiu e Melissa ficou parada no meio da sala piscando confusa. Achava engraçada a ousadia dos italianos.

Ela tirou o equipamento de dentro da mochila, montou a câmera, deixou a mochila num canto e seguiu pelo corredor que levava ao quarto da noiva. Ao chegar lá viu que o lugar estava abarrotado de gente e quando a viram todos deram um grito como uma grande torcida levantando os braços e correndo na direção de Melissa. Ela se encolheu surpresa, mas sorriu quando viu que eles não a esmagariam, estavam apenas muito agitados e felizes, felizes até demais e queria ser fotografados. Uns puxaram Melissa para perto da noiva e a apresentaram, outros a puxavam perguntando coisas, falando sem parar deixando-a tonta porque não compreendia nada. Mas logo ela descobriu que Vincenzo tinha razão, não precisava dizer nada. As pessoas estavam tão eufóricas que nem esperavam que ela respondesse, então, apenas apontava a câmera e fazia fotos. Seguiu o protocolo e fez imagens do trabalho do maquiador enquanto preparava a noiva e as outras mulheres, conseguiu captar momentos mais espontâneos como abraços emocionados entre a noiva e dos pais, o pai chorando escondido ao lado do vestido branco pendurado na janela sem que ninguém mais notasse, o noivo tomando vinho com os padrinhos em seu quarto e todos cantando e gritando muito.

Vez ou outra Melissa parava para respirar.

Vez ou outra podia se ver no lugar da noiva e podia jurar que também via Rafael passar sorrindo ao seu lado vestindo um terno com uma florzinha no bolso.

Ela piscava e logo percebia que era apenas o noivo ou algum padrinho entusiasmado andando agitado ao seu redor.

A cerimônia foi ainda mais difícil.

Toda aquela emoção nos olhos de todo mundo, aquele ambiente perfeitamente preparado para o dia mais lindo da vida daquelas duas pessoas.

Melissa quase não percebia quando seu braço se levantava e tirava as fotos. Estava fazendo aquilo no automático e quase não conseguia controlar as emoções que surgiam como mísseis dentro do peito.

Quando a cerimônia terminou ela correu para dentro com a mão no peito e sentindo uma falta de ar que a deixou com medo de nunca mais conseguir respirar normalmente de novo. Encostou-se em uma parede da sala, fechou os olhos, se inclinou pra frente e apoiou as mãos nos joelhos.

— Você devia ter ido embora, sua idiota, por que ficou aqui, por quê?

— Melissa?

Ela se endireitou de repente e abriu um sorriso piscando rápido para espantar as lágrimas.

— Vincenzo.

— Eu faço questão de que você me chame de Vince. Você está bem?

— Está tudo bem. Eu só... acho que é o calor.

— Você se acostuma. — Ele se aproximou e parou diante dela e Melissa continuou encostada à parede. — Eu tenho uma proposta pra você.

— Proposta?

— Sim. Irrecusável.

— E qual seria?

— Quero contratar você como a fotógrafa oficial do Villa Oliviero.

— Como é? — Disse ela com uma risada incrédula.

— Nós ficamos sem nosso fotógrafo há algumas semanas quando ele pediu demissão porque resolveu viajar pelo mundo. Nós temos uma vaga e você é fotógrafa. O que me diz?

Ela abriu a boca, mas ficou em silêncio sem saber o que dizer.

— Antes de você responder, deixe-me dizer que esta é uma vaga muito concorrida e o dinheiro é realmente bom. Nós temos festas de todo tipo todos os dias por aqui e você não faz ideia do quanto as pessoas são capazes de pagar pra celebrar qualquer coisa aqui no Oliviero. Nós somos privilegiados, temos a melhor vista da cidade e as melhores acomodações e isso atrai um número muito grande de pessoas, na verdade temos uma fila interminável de espera. Você não pode dizer não.

— Eu... eu não fotografo casamentos. Só estou aqui hoje porque caí em uma armadilha, mas eu não sou esse tipo de fotógrafa.

— Não? — Ele olhou confuso para ela. — Que tipo de fotógrafa você é?

— Bom, eu... eu só...

— Você trabalha em um lugar melhor? Eu posso cobrir seu salário.

— Não é isso, na verdade eu fui demitida, é só que...

— Então, você não está empregada, mas não quer trabalhar aqui?

— É que eu não... eu... eu não sei.

— Me desculpe, fiore. Eu não queria te pressionar. Mas você pode ao menos pensar e me dar a resposta em outro momento. O que me diz?

Ela suspirou devagar tentando se acalmar.

— Não acho que eu vá mudar de ideia, Vince. Sinto muito.

— Ainda vou esperar que mude de ideia, e quando isso acontecer, estarei aqui esperando pra te contratar. Agora, gostaria de sair e tomar alguma coisa comigo?

Ela deu uma risada nervosa enquanto desmontava a câmera.

— Na verdade eu tenho que voltar para Sorrento. Preciso visitar algumas imobiliárias e encontrar um lugar pra morar. Não sei se sua amiga te contou, mas ela praticamente me expulsou de casa quando foi morar com Paolo.

— Estou sabendo da loucura daqueles dois. O amor avassalador passa por cima de tudo quando chega, só não se dá conta de quem ele esmaga no meio do caminho.

— Meu Deus. — Ela parou o que estava fazendo e olhou para ele. — É exatamente isso. É assim mesmo que estou me sentindo. E eu queria me encontrar com Grazi só um pouquinho e jogar umas verdades na cara dela.

— Ela não te ouviria. Provavelmente o amor a deixou cega e surda.

Melissa riu.

— Uau. Você fica ainda mais linda quando sorri, minha fiore.

— Hunf. Vocês italianos são sempre galanteadores assim?

— Essa é a lenda. — Disse ele rindo. — E então, podemos ir?

— Ir? Ah, acho que não, eu realmente preciso encontrar um lugar pra morar o quanto antes.

— E se eu disser que posso resolver esse problema pra você agora mesmo?

— Impossível.

— Bambina de pouca fé. Vem comigo.

Ele pegou a mochila dela, colocou sobre o ombro, apoiou a mão no braço de Melissa e a conduziu para fora onde a festa do casamento ainda acontecia.

Os dois pararam diante da vista para do mar e Vincenzo se inclinou sobre a grade.

— Você está com sorte, Mel, Minha irmã está vendendo uma casa aqui na cidade.

— Comprar uma casa? Aqui na Itália? Eu só estou procurando um lugar pra alugar. Comprar uma casa aqui seria pretensão demais.

Vincenzo a encarou sem dizer nada enquanto Melissa deixava o olhar se perder no mar.

— Qualquer um pode comprar uma casa na Itália, especialmente aqui em Positano.

— Não eu. Minha vida é uma verdadeira bagunça, comprar uma casa aqui seria uma ideia terrível.

— E você não adora isso?

Ela olhou confusa para ele.

— Nunca se sabe o que uma ideia terrível nos reserva. — Disse ele sorrindo, enfiando a mão no bolso e pegando o celular. — Donatella? Buongiorno, mi amore. Vuoi ancora vendere quella casa?

— Oh... não, não espera. — Ela havia entendido parte do que ele disse.

Vincenzo olhou para Melissa levantando as sobrancelhas e sorriu.

— Penso di aver trovato la persona perfetta.

— Não... eu não sou perfeita, não.

— Si. Si, questa tarde. Bacio amore.

Vincenzo desligou o telefone e Melissa olhava com desespero para ele.

— O que você fez? — Perguntou ela com os olhos arregalados e ansiosos.

— Consegui uma casa pra você.

— Mas...

— Não se desespere, fiore. Apenas pense a respeito. Mas meu sexto sentido nunca falha. Algo me diz que você vai se apaixonar por aquela casa.

— Vincenzo? Abbiamo bisogno di te qui. — Disse uma mulher com uma prancheta na mão.

— Eu sinto muito, fiore, não vou poder te fazer companhia agora, estão precisando de mim. Minha irmã estará aqui esta tarde, se você decidir que quer ao menos conhecer a casa, nós dois estaremos aqui esperando por você.

Ele entregou a mochila dela, segurou os braços de Melissa suavemente, se inclinou, deu um beijo estalado no rosto dela e voltou para a festa.

Ela ficou ali, atordoada. Olhava de longe para as pessoas na festa, baixou o olhar e encarou a mochila com seus equipamentos, olhou para o mar, para a praia abaixo dela e para as montanhas.

— Os italianos são todos loucos.

Melissa passou rapidamente entre as pessoas, subiu as escadas, saiu do hotel e parou na rua. Encostou um instante no muro do Villa Oliviero e olhou de um lado pro outro. Inspirou fundo e começou a andar decidida a nunca mais voltar lá.

Ela caminhou pelas ruas e dessa vez ela não estava perdida, sabia exatamente onde havia deixado o carro alugado, e também sabia que todas as ruas levavam à praia, mas ao invés de ir para o carro, seguiu sem pensar na direção oposta de onde havia estacionado.

Quando deu por si, estava na praia de Positano. O mesmo trecho onde havia acontecido a festa no sábado à noite.

Ficou grata por não ter descido do lado onde ficava a barraca de Giancarlo e muito menos perto de onde Lucca deixava seus barcos.

Estava no outro extremo da orla da praia.

Ainda era cedo, não eram nem onze horas da manhã.

Melissa ficou parada na areia olhando em volta e observando tudo.

As pessoas passavam por ela. O lugar estava apinhado de turistas. Havia filas enormes nos quiosques onde pessoas compravam bilhetes para passeios no mar com barcos e lanchas de todos os tamanhos e todos os preços. Os restaurantes da orla e as lojas mais acima nas ruas estavam fervendo. Tudo estava muito mais agitado do que no domingo de manhã. Era uma terça feira, mas o clima era de final de semana. Melissa sorriu gostando dessa sensação. Talvez lugares turísticos tivessem essa característica, era um eterno clima de festa.

Ela olhou para trás. Acima de sua cabeça os estabelecimentos, casas, hotéis se misturavam montanha acima. Aquele era um dos lugares mais bonitos do mundo, com certeza as casas deviam custar uma fortuna.

— Morar aqui? — Ela deu uma risada incrédula meneando a cabeça. — Não vai rolar.

Ela tirou a máquina de dentro da mochila, começou a andar e a essência de fotógrafa mais selvagem dentro dela assumiu o controle. Melissa começou a fotografar tudo. Era como se seus olhos enxergassem através da câmera. Prendia uma cena em um frame exato, focava em um ponto específico e capturava aquele instante do tempo para sempre.

Melissa sempre perdia a noção das horas quando se concentrava em fotografar. Se perdia naqueles momentos e entrava em um transe que a transportava pra um universo onde tudo era perfeito. Principalmente quando estava em um lugar tão lindo e peculiar.

Depois de fazer algumas imagens do mar e da paisagem, ela se sentou na areia mais ao fundo da praia e encostou em uma rocha. Ligou o visor da câmera e ficou olhando para as imagens que tinha feito. Dificilmente gostava de todas, sempre apagava a maioria, mas as que sobravam eram as que considerava quase perfeitas.

Ela desligou a câmera, olhou em volta e franziu as sobrancelhas.

Se deu conta de que estava no trecho da praia perto de onde ficavam os barcos de Lucca e o quiosque de Giancarlo. Nem tinha notado que havia andado até ali enquanto fotografava.

Por um instante tentou ignorar a existência dele já que estava a certa distância de onde ficavam os barcos. Não queria pensar naquele grosseirão. Está certo que ele havia ajudado com a carona e até lavado seus pés, mas era bastante óbvio que ele só fez aquilo porque deve ter se sentido culpado por ter sido um estúpido.

Sem pensar, Melissa ligou a câmera e antes que seu cérebro agisse de forma racional, ela apontou a câmera para os barcos e começou a tirar algumas fotos.

Ela ficou em pé. Deu zoom e fez mais alguns cliques. Parou e olhou as imagens no visor da máquina. Gostou muito do contraste das cores do barco com o mar e o céu azul. Se aproximou um pouco mais e se abaixou sobre um joelho. Se levantou e andou até ficar em um ângulo em que as casas na montanha atrás do barco servissem como plano de fundo, ela embaçou os itens à distância e destacou ainda mais o trio de barcos perfeitamente alinhados sobre a areia.

Melissa pensou em chegar mais perto, no entanto, parou ao avistar Lucca andando distraído na direção dos barcos com uma caixa de ferramentas na mão.

Ele andou até o barco do meio e colocou a caixa lá dentro, em seguida também entrou.

Ela o observou de longe um instante. Lucca parecia muito concentrado, quase como se em volta dele não houvesse milhares de turistas agitados como abelhas no mel. Ela levantou a câmera, aumentou o zoom e apontou na direção dele. Ele estava com a cara fechada e aquele ar zangado de sempre, mas através da lente parecia até um cara comum, ficava até mais bonito, apesar da barba e do cabelo desgrenhado. Melissa ficou curiosa por ele parecer sempre tão bravo com tudo. Imaginou que a vida dele devia ser uma grande porcaria pra que ele vivesse sempre tão mal humorado.

— Bem vindo ao clube. — Sussurrou ela. — Duvido que sua vida seja mais porcaria do que a minha. — O dedo dela apertou o botão e fez uma única foto de Lucca.

Na imagem ele estava de perfil, com a cabeça baixa e mexendo em algo parecido com parafusos nas mãos.

Ela olhou para ele um instante por cima da câmera, depois posicionou o olho no visor, apontou a lente e esperou. Lucca olhou na direção da praia, apertou um dos olhos por causa da claridade e do sol forte e no momento em que ele levantou o braço para enxugar o suor da testa, outro clique.

Melissa checou as imagens. Não deletou nenhuma.

Quando encontrava o objeto perfeito pras suas fotos, ela nunca raciocinava direito apenas seguia seu instinto. Se aproximou um pouco mais sem baixar a câmera. Ele usava uma regata azul, a lente dela foi capturada pelas curvas dos músculos dos braços e fez outro clique registrando um movimento que os evidenciava ainda mais. Ele parou e enxugou a testa mais uma vez, Melissa fez um disparo contínuo prendendo aquele movimento em uma sequência perfeita. Baixou o olhar um instante, checou as imagens, quando olhou na direção dele, Lucca olhava em sua direção.

— Oh... merda, merda, merda! — Ela sentiu o estômago congelar e virou-se para o outro lado.

Por um segundo torceu pra que ele não a tivesse visto e deu uma olhada por cima do ombro na direção dele com o canto do olho.

Mas ele a viu.

Desconcertada por ser pega no flagra, ela disfarçou e saiu andando na direção da água apontando a câmera e fazendo fotos aleatórias.

— Êi!

Ela fechou os olhos e apertou os lábios ao escutar a voz de Lucca esbravejando atrás dela. Mesmo de longe a voz grave dele era assustadora.

— O que pensa que está fazendo? Êi! Estou falando com você e sei que está fingindo que não me viu, sua imbecille.

Melissa revirou os olhos, parou de andar e virou-se para ele.

— Oi pra você também.

— Você está me perseguindo? — Disse ele marchando furioso e parando diante dela.

— Eu? É claro que não. Você deve mesmo se achar muito importante.

— O que é isso aí? Que merda é essa que acha que está fazendo?

— Não está vendo? Estou fazendo o que a maioria das pessoas aqui está fazendo, tirando fotos.

— Só que ninguém mais está tirando fotos minhas. — Disse ele se inclinando de um jeito ameaçador pra cima dela.

— Hunf. E quem disse que estou tirando fotos de você? Eu nem te vi por aqui.

— Apaga.

— Você não me ouviu? Eu nem vi você aí.

— Sua mentirosa. Me escuta porque eu vou dizer isso só uma vez. — O olhar dele era sombrio e frio. — Só porque eu te dei a merda de uma carona não quer dizer que tem o direito de achar que pode vir aqui e invadir meu espaço. O que você quer, heim? Por acaso é uma dessas solteironas carentes? Se eu soubesse disso antes não teria te ajudado, você deve ser uma dessas que pensam que qualquer gentileza é um pedido de casamento.

— Meu Deus, como você é cretino. E qual foi a gentileza que você fez, heim? Você me ajudou com tanta falta de vontade que até isso se tornou uma grosseria. Eu não dou a mínima pra você, tá legal, eu nem me lembrava mais que você existe.

Lucca deu outro passo furioso até Melissa, parou diante dela e arrancou a câmera de sua mão.

— Você enlouqueceu? Você não pode fazer isso. Me dá minha câmera! — Ela gritava e pulava em volta dele esticando o braço tentando pegar a câmera de volta, mas ele era mais rápido, girava e levantava a câmera para o alto enquanto ligava o visor e passava as imagens.

Ele parou de repente apertando os lábios com raiva, olhando enfurecido para ela e apontou o visor pra que ela visse.

— Você é algum tipo de pervertida ou o quê?

Ele mostrou a imagem que ela tinha feito de seus braços e de quando ele limpava o suor da testa.

— Não tem nada de mais aí, são... são só fotos... e por um acaso... você está nelas.

— Isso é ilegal.

— Não é não.

Ele começou a mexer nos botões da câmera.

— Não se atreva a apagar nada, seu cretino.

Melissa voltou a tentar pegar a câmera da mão dele, mas Lucca seguiu desviando e apagando as imagens.

— Quer parar? Você não pode fazer isso! Essas imagens são minhas.

Quando Lucca terminou, ergueu a câmera prestes a atirar no chão.

— NÃO! — Gritou ela com os braços esticados e ele parou. — Por favor, por favor, não faz isso, essa câmera é a minha vida.

Lucca estava furioso e ofegante. Empurrou a câmera contra o peito dela, mas não soltou.

— Não chega mais perto de mim. Se você se aproximar ou se eu te pegar fazendo essas fotos às escondidas de novo eu não respondo por mim.

— Qual é o seu problema? — Ela arrancou a câmera da mão dele.

— VOCÊ! Gente como você vem até Positano e se acha dona do lugar, mas na verdade vocês são como uma infestação de insetos, como uma praga. Seu lugar não é aqui, você não devia estar aqui. Por que não volta pro buraco de onde saiu e me deixa em paz?

Ele deu as costas e saiu andando.

— Essa praia é pública e essa cidade não é sua! — Berrou ela e depois baixou a voz. — Eu posso tirar fotos o quanto eu quiser, seu... seu... grrrr. Eu odeio esse cara.

Melissa checou as imagens, ele havia apagado todas as que ela havia feito dele.

— Imbecil. — Resmungou ela virando-se para o mar com raiva.

Ela olhou por cima do ombro na direção dele e Lucca estava parado com os braços cruzados ao lado de seus barcos encarando-a como um animal prestes a atacar.

— Meu lugar não é aqui? Hunf. Quem ele pensa que é? Meu lugar não é... — Melissa fez uma fusquinha com o nariz e estreitou os olhos também encarando Lucca mesmo de longe. — Seu idiota. Você vai ver se meu lugar não é aqui.


⚘ ⚘ ⚘


— Vincenzo? — Ela entrou no Villa Oliviero acelerada e aos trancos, desceu as escadas correndo procurando afobada pelo italiano. — Vince?

Melissa passou entre as pessoas perguntando por ele.

A festa do casamento parecia estar no fim e as pessoas estavam ainda mais agitadas, mal notavam o quanto ela estava aflita querendo encontrar o gerente porque quando a viram os convidados começaram a arrastá-la de um lado pro outro exigindo que tirasse mais fotos, mas Melissa escapou e conseguiu chegar à sala. Colocou a mão na cintura, estava ofegante e cansada depois de subir tantas escadas até o hotel e depois de praticamente lutar contra os convidados do casamento.

Ela virou-se para continuar procurando e esbarrou em alguém.

— Fiore. — Disse Vincenzo com um sorriso largo e passando os braços em volta dela. — Procurando por mim?

— Vince... oi... — Ela se afastou se ajeitando e olhando séria para ele. — Eu aceito.

— Aceita?

— Sim, quer dizer, eu aceito a oferta de emprego aqui no hotel e também aceito comprar a casa da sua irmã, quer dizer, eu não sei se posso pagar e nem sei se quero mesmo comprar uma casa, mas eu posso ao menos dar uma olhada, não é? Então, eu aceito.

— Questo è magnífico, magnífico. — Ele a abraçou e se inclinou para beijar a boca de Melissa, mas ela desviou.

— Oooh ok, ok. Se vou ser sua funcionaria esse negócio de ficar beijando não é boa ideia.

— Você se acostuma.

— Acho que não com isso. Então... eu tenho que assinar alguma coisa?

— No, no. No se preocupe com burocracias agora. Mas posso saber o que te fez mudar de ideia?

Ela pensou por um instante.

— Alguém me disse que meu lugar não é aqui.


⚘ ⚘ ⚘


— Dio mio. Come sei bella questa ragazza. — A irmã de Vincenzo chegou eufórica no escritório dele, abraçava e apertava as bochechas de Melissa com as palmas das mãos sem parar. Ao contrário do irmão, ela era loira e tinha os cabelos bem longos e era bem óbvio que havia acabado de sair de um salão. Era alta como Vincenzo e muito elegante também.

— Io sei molto bene. E a bella ragazza ficaria agradecida se você falasse português, amore. Mel é brasileira.

— Oh, mi scusi. Io amo brasileiros. Nossa mãe é brasileira. Eu estava dizendo que você é linda, linda, Melissa. Tua namorada é belíssima, Vince.

Melissa olhou espantada para ele e Vincenzo riu.

— Aah, não, seu irmão e eu somos só amigos.

— Uumm. Eu te garanto que não vai demorar pra isso mudar. Ninguém resiste ao charme do meu irmão. Olha só como ele é lindo. — Disse ela apertando a bochecha de Vincenzo e Melissa sorriu sabendo que seu rosto ficando vermelho denunciava que estava ficando sem graça. — Mas vamos aos negócios. Então você pretende comprar minha casa, Melissa?

— Aaah é... parece que... sim? — Respondeu ela sem muita convicção. — Mas temos que falar sobre o valor e acho que eu teria que visitar a propriedade pra ter certeza, e tenho que fazer as contas e ver se realmente posso pagar.

Donatella riu.

— Vocês estrangeiros estão muito acostumados a fazer tudo com um pouco de confusão envolvida. Por aqui nós gostamos de resolver as coisas o mais rápido possível e basta.

— E basta. — Repetiu Vincenzo.

— E basta? — Perguntou Melissa se sentindo cada vez mais insegura sobre aquilo. — Eu nem sei ainda quanto você quer na casa e como eu disse, não sei se posso pagar.

— Giusto, giusto, mas não se preocupe com dinheiro. — Donatella cruzou um braço e apoiou um dedo no queixo, olhou Melissa lentamente, dos pés à cabeça. — Tenho certeza de que você pode pagar por minha casa.

— Mas você ainda nem me disse por quanto está vendendo.

Donatella deu um suspiro derrotado e se jogou no sofá da sala.

— A verdade é que vou aceitar qualquer valor, bella. Só quero me livrar daquela casa e não me importo com dinheiro. — Donatella falava e gesticulava agitando as mãos. — Já estou tentando vender há um bom tempo, mas a coisa toda está encalhada porque ninguém quer morar perto do...

— Dona, amore mio. — Interrompeu Vincenzo encarando a irmã com os olhos arregalados. — Você quer vencer tua casa ou não?

Donatella deu de ombros e voltou a olhar para Melissa.

— Mia bella. — Ela puxou Melissa pela mão fazendo-a se sentar ao seu lado. — Você me parece tão nova, e também me parece tão perdida. Quando eu tinha sua idade eu só queria viver. Queria mergulhar em muitas aventuras, cometer meus erros e fazer as maiores loucuras. E eu segui meu coração, fiz tudo isso e muito mais, cometi muitos erros e mergulhei em todas as aventuras e loucuras que apareceram na minha frente. Talvez você esteja precisando justamente disso.

— Estou?

— É claro. Todo mundo precisa mergulhar de cabeça de vez em quando. Então, por que não começar comprando uma casa?

— É...

— Isso foi um sim?

— É?

— Eu preciso de um pouco mais de convicção, Mel. Preciso ouvir você dizer um sim, que realmente quer comprar minha casa.

Ela olhava hesitante para Donatella.

— Um sim, Melissa. Preciso que me diga.

— Sim!

— Sim?

— É... sim. Eu vou comprar a sua casa.

— BRAVO! Bravo! — Gritou Donatella batendo palmas e se levantando do sofá num pulo.

— Bravíssimo! — Vincenzo também disse bem alto, foi até Melissa, a pegou pela mão e a fez se levantar. — Congratulazioni, Mel. Você tem uma casa nova!

— Tenho? — Perguntou ela enquanto era esmagada pelo abraço de Donatella e de Vincenzo.

— É claro que tem. — Donatella sentou-se novamente e tirou uma pasta de dentro da bolsa. — Vieni, vieni, senta aqui.

Donatella puxou Melissa pra que ela se sentasse também.

— Você é uma mulher segura e sabe o que quer. — Disse Donatella olhando firme nos olhos de Melissa e apertando a mão dela.

— Eu sou. — Disse ela meio sem fôlego.

— É, você é sim. Agora... você só precisa assinar esses papéis e a casa é sua.

— Você... já estava com os documentos aqui?

— Eu sou uma mulher prevenida, bella.

Melissa piscou confusa e mordendo o lábio voltando a ficar indecisa.

Seu lugar não é aqui.

Ela ouviu a voz dele ressoando em sua mente e a raiva arder dentro do peito.

— Me dá isso. — Disse Melissa agora com toda convicção pegando os papéis da mão de Donatella. — Onde é que eu assino?

Vincenzo e Donatella se olharam quase sem acreditar no que estava acontecendo.

— Pronto. Acho que está feito. — Disse Melissa devolvendo os papéis para Donatella.

— Bella mia. A casa é tua, agora a casa é tua.

— Ainda não. — Melissa pegou o celular de dentro da mochila e começou a digitar, virou e mostrou para Donatella. — Esse é o valor que eu posso oferecer. É quase tudo o que eu tenho.

Donatella olhou para a tela, depois para Melissa e sorriu.

— Vou aceitar metade do que está aí.

— Metade? — Perguntou Melissa sem acreditar. — Mas, eu tenho certeza de que a casa vale muito mais do que isso.

— Eu disse que não me importo. Será metade e isso não está em discussão.

Melissa não sabia dizer se isso era muita bondade de Donatella ou se era um mau sinal, mas antes que acabasse mudando de ideia, transferiu o dinheiro e só então se sentiu dona de uma casa.

— Bene, Benê, agora... — Donatella estava eufórica. Enfiou a mão na bolsa, tirou um molho de chaves e entregou para Melissa. — Acho que você vai querer conhecer sua casa nova. Você não faz ideia do quanto estou feliz por finalmente ter conseguido vender aquele lugar. Grazie, Grazie mille, bella Melissa. — Ela falava, beijava e abraçava Melissa que segurava a chave sem saber o que dizer. — Acho que preciso comemorar, por isso já vou indo. Vince vai te dar todas as instruções.

— Você não vai até a casa comigo? — Perguntou Melissa para Donatella.

— Eu? — Donatella deu uma gargalhada. — É claro que não. No dia em que saí de lá há um ano eu fiz a promessa de que nunca mais pisaria naquela propriedade novamente.

— E por quê?

— É pessoal. Não me leve a mal, não tem nada a ver com o lugar.

— E o que importa é que agora a casa é sua. — Interrompeu Vincenzo.

— Isso mesmo, bella. Isso é tudo o que importa agora. Bene, bene. Preciso de uma taça de champanhe. Espero encontrar você em breve pra um café, querida Mel. — Donatella suspirou com um sorriso satisfeito e colocou as mãos nos ombros de Melissa. — Você não faz mesmo ideia do peso que tirou das minhas costas. Vou venerar você pro resto da vida por isso.

Ela abraçou Melissa novamente e Melissa não sabia o que pensar nem o que fazer com as mãos. Quando ainda pensava em responder, Donatella rapidamente abraçou o irmão e deixou o escritório saltitante.

Melissa ficou olhando confusa para a porta e virou-se quando Vincenzo pigarreou chamando sua atenção. Ele estava com as mãos para trás e exibia aquele sorriso de sempre. Sem dizer nada, ele foi até a mesa, abriu uma gaveta, procurou algo por alguns segundos e voltou com um papel na mão. — Aqui está. — Disse ele entregando para Melissa.

— O que é?

— O mapa da sua casa.

Melissa franziu as sobrancelhas.

— Por que eu preciso de um mapa?

— Pra chegar até lá?

— Eu sei, mas, você não vai me levar?

— Eu não fiz nenhuma promessa, mas também não subo mais até a casa da montanha.

— Casa da montanha? Você disse montanha?

— Oh, é claro, acho que não mencionamos que a casa fica no alto da montanha.

— Você quer dizer... que é uma daquelas casas solitárias que parecem menores que uma unha quando olhamos aqui de baixo?

Ele apontou o dedo para cima.

— Sim, exatamente isso. Está vendo esta linha no mapa?

Melissa olhou para a imagem, era uma fotografia aérea de Positano e uma linha vermelha saía de um ponto mais perto da praia e subia cheia de curvas traçando um caminho longo, bem longo quase até o topo da montanha. Os olhos dela pararam onde terminava a linha e um pontinho marcava o fim da linha no que parecia ser uma floresta.

— Meu Deus. — Ela olhou de boca aberta para ele. — Por favor, me diga que dá pra chegar de carro?

— Fiore, não há como chegar de carro na maioria dos lugares em Positano, mas você vai se acostumar com isso.

— Ai, meu Deus.

— Não, não, fiore, nada de arrependimentos. — Disse Vincenzo passando o braço por cima do ombro de Melissa e conduzindo-a até a porta. — Agora, o que acha de ir conhecer sua casa nova?


⚘ ⚘ ⚘


Melissa havia parado de contar os degraus quando chegou a cento e cinquenta.

Ela se sentou em um degrau pela quinta vez. Seus pulmões ardiam e suas pernas estavam dormentes. A garganta estava seca e a língua estava grudada no céu da boca.

Antes de começar a subir, ela havia dirigido até um ponto onde não era mais possível seguir com o carro, deixou estacionado em frente a uma loja de porcelanas, o último trecho onde havia civilização, pegou o mapa e começou a andar.

No início da caminhada Melissa até conseguiu apreciar os arredores, as vielas, mais corredores estreitos, as escadas entre uma casa e outra e entendeu a razão do mapa quando andou pelos caminhos em ruazinhas que surgiam como labirintos e ela até admirava com certa curiosidade, afinal, nunca esteve num lugar tão diferente como aquele.

Depois de algum tempo já não havia mais casa alguma, apenas escadarias e trilhas sem fim. A subida ficava mais íngreme a cada degrau.

A vista era impressionante. Apesar de exausta, Melissa parou algumas vezes olhando tudo de cima, o mar, a vegetação ao redor. Positano era perfeita. Mas ela não entendia como foi que algum um dia um cara passou de barco na frente daquela montanha, olhou para a encosta e achou que seria legal construir uma cidade vertical ali.

Melissa parou de repente ao se dar conta de que se aproximava de uma propriedade. Havia duas trilhas à sua frente, a da direita levava a uma escadaria que terminava na frente de um portão de ferro e a da esquerda levava a outro caminho mata adentro.

Ela olhou afoita para o mapa. Vincenzo tinha dito que o principal ponto de referência era um riacho ao lado da casa, era assim que saberia que havia chegado. Ela decidiu subir um pouco pela trilha da esquerda, assim conseguiria ver a propriedade de cima e se localizasse o riacho saberia que tinha encontrado sua casa.

Ela subiu pelo outro caminho até consegui ver todo aquele terreno de cima. Viu um enorme quintal com uma plantação e algumas árvores que pareciam de frutas. A casa era um pouco velha, mas estava bem cuidada e havia até mesmo uma piscina.

— Até que não é nada mal. Será que...

Ela viu uma movimentação através das folhas de umas árvores. Parecia ser um homem e ele estava carregando uma caixa grande cheia de alguma coisa quebrada, mas não conseguia ver direito através dos galhos das árvores. Quando o homem apareceu por inteiro, Melissa arregalou os olhos, se jogou no chão e se encolheu atrás de uma moita.

— Só pode ser brincadeira. — Ela levantou apenas a cabeça e deu uma espiada através dos galhos do arbusto. — É aquele ogro. Ele mora aqui? Não, não, não, não pode ser.

Lucca estava de bermuda, descalço e sem camisa. Melissa nem notou quando os olhos dela desceram analisando o material.

— Grrrr! — Ela deu uns tapas na cabeça. — Ele é um ogro, não tem nada de bonito pra ser apreciado ali, sua idiota.

Ela o viu despejar o conteúdo da caixa na terra do quintal, parecia algum tipo de piso, mas todo quebrado. Ele começou a posicionar os pedaços no chão e martelar pra assentar.

Melissa decidiu que era melhor se mandar dali.

Lá embaixo, Lucca parou o que estava fazendo e pegou uma garrafa d'água que havia deixado no chão ao lado dele.

Melissa ficou em pé devagar, bem devagar.

Lucca virou a garrafa dando goles generosos com a cabeça inclinada para trás e parou de repente quando seus olhos capturaram um movimento.

Melissa deu uma última olhada na direção dele e também parou de repente.

Ele baixou a garrafa e estreitou os olhos.

— Oh, oh! — Ela estremeceu agitando os braços e disparou trilha acima.

— Êi!

Ela o ouviu gritar lá de baixo.

— Êi! Eu vi você, imbecille!

Melissa começou a correr.

Ela correu até ter certeza de que ele não a seguia, deu uma olhada para trás e ao virar-se, esbarrou em algo firme como um tronco de árvore, mas troncos de árvores não tinham mãos para agarrar e alguma coisa agarrou seus braços fazendo com que ela se debatesse assustada.

— O que está fazendo aqui? Está me perseguindo? O que você quer, turista imbecil?

— Me solta! Socorro! Tira a mão de mim.

Ele a chacoalhou e Melissa parou de se debater.

— Quer parar de gritar? Está me dando dor de cabeça, sua idiota.

Ela parou e o encarou. Lucca baixou o olhar, analisou os pés dela e estreitou os olhos.

— Você? Mas... — Ela se soltou das mãos dele assustada e olhou para o caminho atrás dela. — Como foi que chegou aqui tão rápido?

Lucca a encarava enfurecido. Espumava de raiva olhando para Melissa com ódio nos olhos.

— Fala de uma vez o que está fazendo aqui. Por que está me seguindo? Alguém mandou você?

— O quê? Por que eu te seguiria? Você é um paranoico. Quem disse que eu estou aqui por sua causa? — Ela parou e olhou para o lado confusa com as próprias palavras. De certa forma ela estava lá por causa dele. — Sai, sai do meu caminho.

Ela passou por ele para continuar seguindo pela trilha, mas Lucca segurou seu braço fazendo-a parar.

— Você não sai daqui sem me explicar o que está fazendo na minha propriedade.

— Sua propriedade? Não estou vendo seu nome nas folhas daquela árvore ali, nem naquele arbusto, muito menos nesse monte de terra onde estou pisando.

— Fala de uma vez. — Disse ele apertando o braço dela.

— Você está me machucando, seu ogro. — Ela se desvencilhou mais uma vez da mão dele. — Eu já disse que não estou aqui por sua causa. Você pode até se achar o centro do universo, mas o mundo não gira em torno de você, babaca. E quer saber? Adivinha só? Você não é mais o único dono dessas terras, parece que vamos ser vizinhos ráááá! — Disse ela chacoalhando a cabeça a centímetros do rosto de Lucca que olhava para ela confuso.

— Do que você está falando?

— Estou falando que comprei uma casa aqui e que vamos ser vizinhos há, há, há. — Ela deu uma risada sarcástica na cara dele e ele nem se moveu.

Lucca olhava para ela em choque apertando a mandíbula sem esconder a fúria que só aumentava.

— É isso mesmo. — Continuou ela. — Um babaca me disse hoje mais cedo que eu não deveria estar aqui porque aqui não é o meu lugar. Parece que o babaca estava bem errado. Acho que ele se lascou.

Melissa disse aquilo de nariz em pé e levantando uma sobrancelha, passou por ele mais uma vez, fez um hunf e saiu andando pela trilha deixando Lucca para trás.


༺❀༻   ༺༻   ༺❀༻


Dá pra imaginar esses dois pedindo açúcar emprestado

e fofocando na porta? kkkkkk 🤦🏽‍♀️😁


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