•Victoria•
Assim que eu abri a porta do apartamento da Bru, o Théo pulou do sofá e veio correndo me abraçar.
-Oi bebê!- Pego ele no colo e beijo seu rosto.
-Vic?- Bruna apareceu na sala com uma expressão preocupada.- O que aconteceu?
-Foi o que eu falei por telefone, porém eu não consegui ficar, comecei a sentir uma angústia, um sentimento muito ruim!- Digo sentando no sofá. Olho para o Théo e é como se eu estivesse vendo o Miguel em minha frente.
Ela veio por trás do sofá e beijou meu rosto abraçando meu pescoço.- Vai descansar, você fez muita coisa hoje e esse encontro não ajudou em nada!
-Mamãe, você tá mal?- Théo perguntou brincando com meus cabelos.
-A mamãe está cansada!- Beijo sua testa e o coloco no sofá.- Vou tomar banho!
Levanto e caminho até o meu antigo quarto deixando eles para trás. Entro dentro do banheiro, tiro minhas roupas e vou para de baixo do chuveiro.
A água bate na minha cabeça e escorre pelo meu corpo, aquela angústia voltou e um aperto no meu peito se fez presente. Lentamente me abaixo sentando no chão, minha respiração se acelerou juntamente com as batidas do meu coração.
Eu estava tão bem, ver ele me fez sentir um gostinho do que eu senti anos atrás... Não quero, não quero sentir tudo de novo.
Nem percebi, mas já tinham lágrimas rolando pelo meu rosto. Passo os braços envolta da minha barriga e apoio a cabeça nos meus joelhos dobrados.
Ali eu choro baixinho para a Bruna e nem o Théo ouvirem, ali eu me permito sentir toda a dor de novo...
•Miguel•
Fecho meus olhos e me concentro em respirar fundo para não desabar aqui. Quando as freiras voltaram eu informei que a bebê estava com cólica e voltei para a Talia.
Coloquei meu melhor sorriso no rosto e me aproximei dela. A mesma está com câncer, eu estou fazendo de tudo pra ela sair dessa, eu não posso perder a Talia, não posso.
-Ela foi embola?- A pequena perguntou mexendo nos cabelos cacheados da sua boneca nova. Seus cabelos estão em queda constante por conta da doença, porém recentemente tem voltado a crescer.
-Foi! A tia Vic é dançarina, então ela é muuuito ocupada!- Digo sentando no canto da cama.
-Quelia dançar!
-É? Quem sabe qualquer dia desses a Vic vem aqui e te ensina?
-Ebaaaa!- Levantou os bracinhos deixando seu sorriso amostra. Essa menina não sabe, mas tem me dado tantas forças.
Ela é órfã, desde que chegou eu peguei um carinho gigantesco por ela, depois de um tempo descobrimos que ela tinha câncer e começamos o tratamento o mais depressa possível.
-Qual história você quer?- Pergunto já pegando um dos seus livrinhos.
-Quelo de pincesa, igual a tia Vic!
Meu coração está doendo, não faz isso, Talia...
-Tem certeza, olha essa... A princesa e o sapo!
-Guel, eu quelo a histolinha igual a tia Vic...- Ela diz baixinho.
Ai meu Deus...
Olho pra baixo e mordo meus lábios com força impedindo que qualquer lágrima saia.
-Ok... Vamos lá... Era uma vez uma princesa, ela tinha o cabelo bem ruivinho da cor de uma... Cenourinha.- Faço uma pausa.- A Princesa era um doce de pessoa, seu sonho era ser dançarina... Um certo dia, ela conheceu um príncipe...
-Igual você!!
-É... Igual a mim...
[...]
Quando eu saí do doce lar, fui para o meu apartamento. Quando coloquei o carro na garagem, vi a Willy.
A Vic havia deixado ela antes de ir embora pra sempre, a Willy estava ali há cinco anos.
Entrei no elevador e subi para o meu andar, assim que passei pela porta, um aperto se fez presente no meu peito.
Fui diretamente para o meu quarto, aquele quarto que eu passei a odiar. A única coisa que eu havia tirado daqui foi minha coleção de carrinhos, pois os levei para a minha outra casa. Em cima da mesa de cabeceira estava a caixinha de música que a Vic havia me dado no meu aniversário.
Pego a mesma, conecto no meu celular e caminho até a sala.
♪Deixa eu mudar essa nossa história hoje, vamos ser mais que amor de fim de noite, eu posso fazer tudo ser melhor do que da última vez e fazer bem melhor do que seu ex um dia te fez, basta você dormir comigo hoje♪
A sua bonequinha rodava ao som da música, me deito no sofá e então a tristeza me atingiu e logo as lágrimas tomaram conta do meu rosto.
Estamos tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. A única coisa que eu queria, era a Vic, nada além dela... Só ela pra me tirar de todo esse sofrimento, mas do jeito que ela está chateada comigo, é capaz dela passar com o relâmpago marquinhos por cima de mim.
Soluços começaram a escapar dos meus lábios, começo a lembrar daqueles dois desgraçados... Será que os advogados já conseguiram algo para me livrar dessa?
Logo esse pensamento martelou na minha cabeça, desligo a caixinha de som e saio do meu apartamento, pego meu carro e vou até a casa da minha mãe. Demorei exatos 10 minutos para chegar na casa dela, a Marina estava na escola e o Matheus na MD3. Então aproveitei e fui buscar o colo da minha mãe.
Ela estava lendo na sua cama, me joguei no seu colo abraçando a sua cintura. A mesma colocou o livro de lado e começou a acariciar meus cabelos.
-Fico tão mal em ver você assim...- Ela falou.
-Eu vi a Vic mãe, ela está aqui!- Achei que minhas palavras iriam sair fortes, mas não saiu nada mais que um sussurro embargado.
-Ela voltou?
-Sim... Ela está tão diferente... O corte de cabelo, o estilo dela mudou... Mas ela continua linda...
-Ela cresceu, filho. A Vic sofreu e isso causou uma reação nela, é normal sentir vontade de mudar e acredito que foi exatamente isso que ela fez!
-Eu mudei, mãe?
-Claro que você mudou, antes você era feliz...- Agora eu já não sou mais.- Você tem quase 30 anos, Miguel, 5 anos se passaram, você precisa seguir em frente!
-Eu não consigo, mãe, não dá!!
-Miguel, com a Vic de volta você espera o quê? Que tudo vai voltar a ser como antes? Você sabe que não é assim que as coisas funcionam!
-Eu sei que não...
-Você ainda anda fugindo da Ayla? Já foi na sua casa?
-Aquela não é a minha casa, e sim eu ando fugindo da Ayla! Não aguento mais, mãe, eu quero me separar daquela mulher, mas eles dizem que não posso ou eles vão fazer o que prometeram!- Digo sentindo um nó na minha garganta.
-Nós vamos acabar com isso e vamos tirar você dessa, confia em mim!
-O que aqueles advogados falaram, o que o Farias falou?
-Que não temos provas, pelo menos não o suficiente para colocar eles na berlinda!
-Não sei se suportarei por tanto tempo...
-Não fala assim, pelo amor de Deus!- Minha mãe falou e eu pude ouvir a sua voz embargada.
•Victoria•
Sábado, 14:30 PM
Hoje decidi trazer o Théo para brincar no parque da cidade e conhecer são paulo já que é a sua primeira vez aqui.
A Bruna veio comigo, eu fiquei sentada no banco respirando o ar livre, enquanto ela e o Théo foram comprar sorvete.
Tinha várias famílias com criança aqui, tenho certeza que quando o Théo voltar ele vai se misturar no meio das crianças.
Estou de olhos fechados deixando o clima tranquilo tomar conta de mim, mas todo o clima se esvaiu quando um gatinho rajado laranja passa correndo atrás de um pombo em minha frente, ele parece muito com...- Sr. Cenoura volta aqui!!!- Uma menina grita correndo atrás dele.
Olho para ela e meu coração erra uma batida. Marina...
Ela está tão grande, uma pré adolescente linda...
Pisco algumas vezes saindo do meu transe e corro atrás do bichano, alcanço o mesmo e pego ele no colo, o mesmo é bonzinho e em nenhum momento ofereceu risco para mim.
-Obrigada, moç...- A Marina para de falar ao me reconhecer.
-Mari...- Digo quando ela para em minha frente ofegante.
-Vic!!- Ela arregala os olhos.- VIC!!!- Ela se joga nos meus braços me abraçando muito apertado, meus olhos se enchem de lágrimas de emoção ao reencontrá-la.
O gato ronronava parecendo lembrar de mim. A Marina se afasta um pouco e pega o sr.cenoura dos meus braços.- Como você está, linda?
-Estou bem, Vic. Como você está linda... Seu cabelo...
-Você está crescida, uma verdadeira princesa!
-Vic, eu passei numa audição de dança!!!
Meu sorriso se alarga.- Meu Deus!!!! Sério???
-Siim!!
-Não achei que você fosse mesmo se amarrar na dança!
-Você me inspirou, Vic. Por sua causa eu desenvolvi também uma paixão pela dança!- Falou sorrindo.
-Maninha, eu falei pra você não deixar o gato fora da coleir...- Uma voz se aproximava, e logo o dono da voz apareceu atrás da Marina. E lá estava ele novamente...-Ruivinha...
S.S