Theo
Estava sentado olhando para o corredor onde eles tinham passado faziam alguns minutos.
Eu sabia que não era uma boa ideia ter aceitado vir aqui com ela...não...não, ter deixado ela vir aqui para início de conversa. Se eu era realmente a única ajuda como o Shay disse, eu provavelmente tinha estragado todas as minhas últimas chances com a Scarlett.
Droga... pensar naquilo estava me deixando bem irritado. Eu devia ter agido mais rápido, devia ter espancado o irmão mais velho dela assim que ele começou a falar, aquilo claramente não melhoraria a situação em que nos encontrávamos, mas pelo menos eu não estaria sentindo tanto arrependimento. Enquanto eu continuava com o meu monólogo ouvi passos se aproximando de onde eu estava e fiquei logo em alerta. Se fosse ele, o tal Ovie, eu aproveitaria para o espancar agora que não tinha ninguém para nos separar.
Feliz ou infelizmente para mim, era o Micah que estava se aproximando, ele parecia realmente muito calmo do que há alguns minutos atrás, mas para minha surpresa, o se irmão não desceu com ele.
— Onde eles estão? - Perguntou sério.
— Conversando, no escritório do seu pai, saíram daqui fazem já alguns longos minutos. - Ele suspirou revirando os olhos e se sentou na cadeira perto de mim.
— Agora ele decidiu conversar? - Bufou. — A Cada dia que passa eu desconfio mais que a Scarlett e eu somos as únicas pessoas sãs nessa família.
Eu nem os conhecia de verdade ou a tanto tempo assim, mas não me via no direto de negar daquela afirmação, parecia a coisa mais verdadeira que eu tinha ouvido naquele dia. Me limitei a permanecer calado.
Ele se inclinou para frente apoiando os cotovelos nas pernas e entrelaçou os dedos.
— Eu estou tentando, mas não consigo deixar de me sentir mal por isso. - Falou. Eu não sabia se ele estava falando om ele mesmo, ou comigo, então mais uma vez, permaneci em silêncio. — Eu notei...notei claramente que ela não queria vir aqui, nesse jantar estupido de reconciliação...- Ele riu depois de ter dito a última palavra. — Reconciliação o caralho, isso tudo não passou de um pretexto para eles verem como ela estava e tentar jogar ela no fundo de novo.
Novamente, ele não estava errado.
— Eu insisti, eu insisti que ela viesse, e ela até me avisou sabe, ela disse que não podia ser verdade.... Droga...- Xingou... — Que merda de irmão eu sou, joguei ela na própria cova do leão.
— A culpa não é sua. - Falei chamando a atenção dele para mim. — Você pode até ser o filho caçula, mas você claramente tem mais miolos na cabeça do que metade se não toda as pessoas que moram nessa casa. - Ele não falou nada, eu dei dois passos em direção a ele e toquei o seu ombro. — Você é cem vezes melhor do que essas pessoas, e tomou uma certa decisão em dizer a ela para vir até aqui, era realmente necessário, para saber em que ponto as coisas estavam, agora o facto de a sua família não saber lidar com isso...isso não tem como ser problema seu.
Ele se limitou a sorrir e a tocar a minha mão por cima do ombro dele, novamente, ouvimos passos e agora vinham do corredor aonde a Scarlett passara, levantado o meu olhar, eu a vi vindo nas nossas direções não parecendo nenhum pouco abalada.
— Irmã, eu peço desculpas! - O Micah se apressou a levantar e a abraçar a Scarlett antes mesmo de ela poder falar alguma coisa. — Eu sei que você não queria fazer parte disso, e eu praticamente obriguei você, só que eu realmente achei que eles e principalmente o Ovie já tinha superado essa história, quando estavam falando do jantar ele até pareceu excitado com a ideia, por favor me desculpe por ser tão ingênuo e negligente... - Ele falava rapidamente.
— Você não foi negligente Micah. - Ela falou calmamente. — Não é culpa sua a nossa família ser uma merda...- Ela o abraçou de volta enquanto lágrimas solitárias rolavam do rosto dele. — Não é culpa de ninguém na verdade. - Falou.
Eu não podia negar, eu estava realmente surpreso, estava olhando o corredor aonde ela passara com pai esperando que sei lá, ele viesse atrás, ou que ela passasse gritando por alguma coisa, a Scarlett podia realmente ser uma mulher muito forte, mas ouvir todas as aquelas coisas do irmão...ter uma conversa provavelmente intensa com o pai, eu não tinha tanta certeza, mas talvez aquilo estivesse machucado a Scarlett mas do que ele realmente estava deixando transparecer para nós.
Quando finalmente saímos daquele inferno, e me permitam mesmo dizer inferno porque eu não estava vendo outra palavra mais adequada para aquele local. A Scarlett não falou absolutamente nada, o Micah estava conosco no carro, ela não queria que ele passasse a noite naquela casa com o os irmãos dela lá, ao que parecia, eles já não estavam vivendo lá, mas por viverem meio longe de casa, eles passariam a noite lá. Então ela não achou uma boa ideia deixar o Michaelis lá, disse também que o Ovie, o irmão mais velho, nunca realmente se empenhou nas aulas de artes marciais e até mesmo autodefesa que o seu pai obrigou todos a fazerem, e ela notara que o Micah se encontrava em um nível muito avançado, se ele ficasse, um desastre aconteceria.
Não sabia dizer se era pelo alarido e todo esforço psicológico pela qual ele passou, mas ele estava dormindo descansadamente no banco de trás, enquanto a Scarlett estava para além de silenciosa e pensativa, olhando para o nada.
— Tem a certeza que está tudo bem? - Perguntei chamando a atenção dela para mim que me eu um sorriso de canto tímido e terno.
— É a terceira vez que você pergunta desde que saímos...- Lembrou. — Sinceramente já não sei mais o que responder a você.
— A verdade, talvez. - Falei olhando para ela pelo canto do olho que hesitou um pouquinho.
— Eu preciso estar.
— Precisar e estar são coisas muito diferentes Scarlett.
— Isso não é realmente algo sobre o qual eu não tenha noção Theo. - Falou. — Você só...- hesitou olhando rapidamente para a estrada do vidro do carro. — Você não precisa se preocupar comigo, talvez eu só esteja cansada por essa noite agitada. Posso não estar bem agora, mas acredito que depois de um bom descanso eu vou estar.
Eu realmente queria acreditar naquilo..., mas infelizmente...eu sabia que ela estava mentindo.
Sem querer insistir no assunto, me limitei a colocar a minha mão por cima do colo dela, ela entrelaçou os nossos dedos e eu os apertei ainda mais.
— Tudo bem então.
E ela não ficou.
Era mais do que evidente para todos que ela não estava bem, no decorrer da semana, a Scarlett estava simplesmente irreconhecível, não fisicamente, mas ela não estava transparecendo as boas energias de sempre, ver aquela situação só estava fazendo eu me sentir ainda pior por não ter arrebentado a cara do irmão mais velho dela mais cedo. Bem como me deixava muito curioso sobre a conversa que ela teve com o pai.
Durante a nossa última semana aqui eu estava fazendo de tudo para dar conforto a ela. O Michaelis também estava aparecendo bastante, quase todos os dias na verdade, ele também não deixava de se sentir culpado, mas como sempre, a Scarlett estava fingindo que estava tudo bem. Só queria realmente saber até quando.
Eu acordava quase todos os dias mais cedo e preparava algo para ela comer, embora, por vezes ela só comia por consideração, pois era bem notória a falta de apetite. Estava constantemente tentando criar algum tipo de assunto que a fizesse falar mais e esquecer um pouco aquele Episódio. Eu sabia perfeitamente...sabia perfeitamente que tinha prometido a mim mesmo, tinha até prometido ao Shay que eu já não estava me envolvendo sentimentalmente com a Scarlett, mas eu já não podia fugir de algo que era mais do que sufocante para mim.
Não estava nem me importando se ela ia notar a maneira excessivamente carinhosa, terna e cuidadosa com o qual eu a estava tratando, eu só queria...ficar sempre com ela, até ela ficar bem, mas infelizmente ela, consciente ou inconscientemente estava me afastando, e eu não podia fazer nada além de entender, mas ficava triste por ela, ninguém merece fazer parte de uma família assim.
Era sexta feira, faltavam apenas dois dias para a gente voltar para casa e as nossas férias finalmente terminarem.
Estavam todos na sala, até mesmo o Michaelis, a gente tinha terminado de jantar e a Scarlett estava retirando a louça da mesa, a Ava normalmente retira com ela, mas ela saiu apressada porque estava recebendo uma ligação importante, a Ozy estava no banheiro e a Benny estava submersa numa conversa qualquer. Não era realmente muita louça, mas senti a necessidade de ajudar.
Sem nem dizer nada a ela, eu comecei por retirar os poucos pratos sujos que estavam na mesa, felizmente no lava loiça já tinha agua com detergente suficiente para a lavagem, enrolei as mangas da minha camisa até aos cotovelos, coloquei o primeiro avental que vi e comecei por colocar os pratos no fundo, depois os talheres, os copos e sem dizer nada comecei a lavar.
Depois de alguns segundos ela se aproximou de mim e parou do meu lado.
— O que você acha que está fazendo? - Dei de ombros sem e me virei para ela.
— O que você acha que eu estou fazendo? Lavando a louça. - Respondi o obvio.
— Porque diabos você está lavando a louça? - Perguntou com uma expressão meio sorridente.
Oba, fiz ela sorrir.
— Estou sendo prestativo. - Falei. — Eu vi você retirando a louça da mesa sozinha e o meu espirito de cavalheirismo não aceitou ver uma donzela enfrentando uma batalha completamente sozinha. - Ele riu e cruzou os braços. — Mas você não precisa se preocupar, se tiver alguma outra coisa em que eu possa ajudar... e sabe, nem estou falando só de trabalhos domésticos. - Ela riu da minha insinuação.
Segundos depois, sem dizer nada, ele se limitou a me virar para ela e olhou de maneira vidrada para mim. Colocou as suas mãos por cima das minhas que estavam molhadas e entrelaçou os nossos dedos.
— Eu sei o que você está fazendo. - Falou séria.
— Lavando a louça? - Me fiz de desentendido.
— Você não precisa se sentir na obrigação de agir comigo sabe.
— Não é uma obrigação. - Falei.
— Mas você não preci...
— É claro que eu preciso Scarlett. - A interrompi em um tom meio alto demais e alguns dos nossos amigos se viraram para nós, nós olhamos para eles, mas eu decidi simplesmente ignorar. — Você pode não querer admitir, mas é mais do que notório que você não está bem, aquele episódio na sua casa não passou de raspão na sua vida.
— Aquela não é a minha casa. - Corrigiu.
— Tudo bem...tudo bem, na casa da sua família, mas você não está bem Scarlett.
— Eu estou dizendo que vou ficar.
— Não, você está dizendo que você está! - Falei alto demais, novamente e eles voltaram a olhar para onde a agente estava.
— Essa conversa não está nos levando a lado nenhum Theo.
— Porque você não quer admitir uma simples verdade, o que custa se abrir para quem se importa com você?
— Theo...
— Você não pode usar uma máscara para sempre Scarlett, eu me importo com você, ok? O seu irmão se importa com você? De verdade...
— Theo...
— Você não precisa até conosco que realmente nos importamos com você, usar uma máscara Scarlett.
— Theo...
— Nós não somos como eles.
Ela não respondeu, mas eu podia notar claramente que eu tinha provavelmente passado dos limites por conta da expressão que o rosto dela adotou.
— Scarlett me descu... - Tentei começar.
— Eu não quero falar agora, ok. - Sem esperar uma resposta, ela saiu da cozinha e me deixou com uma boa plateia olhando para mim.
Droga...
O Michaelis foi o primeiro a levantar a vir ter comigo.
— Ela não vai fazer isso com tanta facilidade. - Falou depois de eu tirar o avental e o jogar em alguma cadeira vaga.
— Mas ela devia.
— Dever e poder são coisas bem diferentes sabe.
— Hã? - Perguntei confuso.
— Ela deve largar essa máscara, mas você já se perguntou se ela realmente pode, ou consegue? - Perguntou quando o Shay se aproximou e puxou também uma cadeira para se sentar.
— Como assim poder?
— A minha irmã desde bem nova que se sentia incompreendida, porque na realidade era mesmo, tinha um monte de expectativas que precisava alcançar, e quando finalmente saiu daquela casa, eu posso provavelmente acreditar que ela precisou fingir, afinal, ninguém conhecia a história dela, e ela até foi sensata em não contar a ninguém... - Falou. — A Scarlett sempre precisou ser forte por ela mesma, nunca realmente teve ninguém para a defender. - Notei uma meia tristeza no seu tom quando falou. — Então, não leve a mal, mas não espere que ela se abra só porque você está dizendo que você é diferente, ou pelo menos espere que ela faça isso de livre e espontânea vontade. - Suspirou. — Eu sei que as suas intenções são as mais genuínas de todas, e eu até acho que q irmã sabe perfeitamente disso também, ela também se importa com você e com o que você acha, mas só ela sabe pelo que ela está passando agora Theodore, a gente não pode fazer nada além de esperar.
Eu entendia claramente o raciocínio dele, ele não estava errado. Mas esperar? Esperar até quando? Quem garante que a Scarlett algum dia vá se abrir com os outros? Ninguém garante. Então...Eu não posso simplesmente ficar parado esperando enquanto ela luta sozinha por algo que ela pode enfrentar com outras pessoas se ela deixar.