•Victoria•
Terça-feira 20:00PM
Eu cheguei do trabalho, cuidei da minha humilde casa e agora estou atoa.
E o fato de não ter nada pra fazer só me faz escutar músicas tristes, ver filmes tristes e ficar tristes vendo coisas tristes.
A Bruna foi ver a mãe dela, ou seja, sem amiga para me animar. De repente fiquei com saudades dos meus pais também, mas não tem muita coisa a se fazer a não ser nos falarmos por ligação.
Decidi recorrer a uma pessoinha específica.
—Moreno—Falei assim que ele atendeu minha ligação.
—Oi ruivinha?
—O que você está fazendo?
—Estava resolvendo algumas coisas do trabalho, por quê?
—Ah... Deixa pra lá!
—Que foi? Que vozinha é essa?
—Estou bad, a Bru foi pra casa da mãe dela, estou sozinha, atoa, sem ninguém pra conversar, te liguei pra saber se você quer passar um tempinho comigo!
—Na minha casa ou na sua?— Ele diz e escuto um barulho como se ele tivesse largado o que estava fazendo.
—Não, deixa pra lá, não quero te atrapalhar!
—Chego em dez minutos!
—Miguel...
—Beijo, ruivinha!
—Beijo...— Desligo a chamada e percebo que estou sorrindo.—Que merda, por que ele tem que ser assim?
Enquanto ele não chegava, eu fiquei igual uma boba apaixonada, mas sem estar apaixonada.
As batidas na minha porta se fizeram presente, eu fui até ela tão rápido que eu me pergunto se eu tenho poderes de super velocidade, não sabia que eu era tão ágil assim.
Abro a porta e vejo o Miguel com uma camisa cinza e uma calça moletom preta. Ele tem duas sacolas de mercado em mãos, o mesmo passou por mim entrando na minha casa e indo em direção a cozinha.
Dei de ombros e tranquei a porta indo também para a cozinha.
—O que você tem aí?— Pergunto parando ao seu lado. antes dele responder o mesmo cheirou meus cabelos e depositou um beijo na minha cabeça.
—Você disse que estava triste, então comprei coisas que provavelmente vão te animar!— Ele segurou a primeira sacola e virou, despejando o conteúdo na mesa. Dela caiu vários salgadinhos, chocolates e doces. Na outra sacola, ele tirou devagar duas latas de refrigerante e uma caixa de pizza.
—Miguel...— Coloquei a mão na boca chocada com aquele tanto de coisa.— É muita coisa, não precisava trazer nada, só sua presença já estaria de bom tamanho!
Ele olhou pra mim com um sorriso nos lábios e seus olhos brilhantes.— Vamos comer pizza agora? Está quente, acabou de ficar pronta!
—Ali estão os talheres e ali os pratos, pega que eu vou colocar um filme para assistirmos!— Digo apontando para os locais no armário e saio da cozinha indo para a sala.
Ligo a tv e coloco um filme clássico que todo mundo gosta, as branquelas.
Miguel colocou a caixa da pizza na mesinha desgastada do centro junto com as latinhas de coca.
—Não quis pegar os pratos?— Pergunto.
—Podemos comer com a mão, não?
—Tudo bem, achei que por você ser um milionário você preferisse comer no prato com garfo e faca!— Sou sincera e vejo ele revirar os olhos.— Já assistiu esse filme?
—Não!
—O QUÊ????? EM QUE MUNDO você vive?— Começo em voz alta, mas lembro que qualquer “a” mais alto que eu falar, todo mundo vai ouvir e eu vou tomar multa.
—Te surpreende se eu falar que eu nunca fui muito de assistir tv?
—Me surpreende demais, ainda mais sendo podre de rico igual você!
—Caralho, olha só as impressões que você tem de mim, Victoria!!— Ele diz com indignação.
Dou uma risadinha e pego uma fatia de pizza de frango com catupiry.— Agora vamos assistir um clássico na vida dos brasileiros!
O filme se iniciou e as caras e bocas que o Miguel faz é mais engraçado que o próprio filme.
—Ah tá que ninguém vai desconfiar que são eles se passando por elas!— Ele diz negando com a cabeça e olha pra mim que coloquei o cabelo atrás da orelha disfarçando.— Não vão? Todo mundo vai sacar não é??
—Miguel, você tem que entender que os casos de pessoas com miopia vem aumentando a cada dia que passa...— Ele pisca sem entender.— As vezes eles são míopes e não enxergam muito bem ué!
—Vic, você é louca!— Ele diz e morde um pedaço da pizza.
Voltamos a prestar atenção no filme.
—A sua mãe é tão velha que sai leite em pó das tetas dela, você mamava assim...— imito a fala e o Miguel me olha como se eu realmente fosse louca.
Acabamos de comer, eu estou tão cheia que parece que vou explodir. Colocamos tudo na mesinha de centro e o Miguel passou o braço pelo meu pescoço me puxando para aconchegar nele, o sofá é pequeno, então ficamos coladinhos.
—Caralho, Latrel...— Miguel falou quando apareceu a cena da Tiffany tomando banho de sol e o Latrel aparece tapando o sol e mostrando o volume na sua sunga.
—É nessas horas que eu queria ser a Tiffany!— Digo e ele belisca meu braço.—Aí, otário!!
—Não é só o Latrel que coloca alguém numa cadeira de rodas não, tá? Se você quiser por exemplo... É só falar!
—Meu querido, não venha com essas ideias de me deixar de cadeiras de rodas não, porque eu sei que se você quiser... Você consegue!
—Ahhh eu consigo!— Ele diz afirmando malicioso e eu belisco seu mamilo.
O tempo foi passando e nós já estávamos deitados no sofá, ele por baixo e eu por cima do seu corpo. Suas mãos estavam uma em cada nádega minha.
—Como que eles não desconfiam? Olha só, o cara tem um pau no meio das pernas, marcando...—Comentou o Miguel indignado.
—E quem garante pra você que eu não sou igual a eles?— Brinco.
—Eu transei com você, eu sei o que você tem aí!
—Mas quem garante que AGORA nesse momento, não sou um sósia da Victoria?
Ele faz uma careta e então vira meu corpo pra cima, enfia a mão dentro da minha calça moletom tocando minha intimidade.— Não, nada de pau aqui!
Caio na gargalhada... Literalmente. cai do sofá, mas não senti nenhuma dor, só comecei a rir igual uma louca.
[...]
—O CARA TÁ CHEIRANDO A CALCINHA DO OUTRO!!!- Miguel berrou e eu dou um tapinha no seu peito.
—Fala baixo, eu vou receber multa!!— Digo quase sussurrando.
—Eu pago, tudo bem!—Ele dá de ombros e volta a focar no filme.
—Se você gritar, eu vou matar você!—Digo voltando a deitar minha cabeça no seu peito.
Na hora do desfile o Miguel voltou a berrar, principalmente na hora do sequestro. Eu coloquei a mão na boca dele para diminuir o som da sua euforia, mas esse maluco parecia que estava assistindo um jogo de futebol quando a esposa do Marcos descobriu que ele estava vestido de mulher ao invés de estar traindo ela.
Após o filme, eu fui até o meu quarto e peguei uma caixa cheia de produtos de beleza, irei fazer o nossa noite de princesas.
—O que é isso?— Ele perguntou jogando dois mentos na boca.
—Nossa noite de princesas!
—Você por acaso quer que eu seja uma das irmãs Wilson?
—Quero, deixa eu fazer suas unhas, fazer um skin care...
—Por que nós não assistimos outro filme?
Olho para ele com os olhos do gatinho de botas, implementando um biquinho.
—Não, não me olha assim, RUIVINHA!!!— Ele começa a beijar todo o meu rosto e finaliza com um longo beijo na minha boca.— Tudo bem, tudo bem, eu aceito ser sua cobaia!
Bato palminhas e sento no colo dele jogando cada perna para o lado do seu corpo. Coloco a caixa no sofá e primeiramente pego uma tiara de ursinho para o cabelo dele não cair no rosto.
—Me conta, aquela mulher que estava na festa de vestido roxo, com certeza trai o marido, né?— Pergunto enquanto passo a máscara de argila verde em seu rosto.
—Ruiva, eu não gosto de fofoca!— Ele diz com os olhos fechados enquanto meleco seu rosto.
—Moreno, isso não é fofoca, estou apenas tentando analisar os fatos!
—Negativo!
—Ok, então não vou contar o que eu descobri...
Ele abre os olhos e ergue uma sobrancelha esperando eu falar.—O que você descobriu?
—Me conte todas as fofocas que você sabe e aí sim eu te conto!
Ele estreita os olhos.— Ok, a Evelyn trai o marido dela com o zelador do prédio!
Abro a boca chocada.— Ele sabe ou ele é corno manso?
—Olha, eu acho que talvez ele desconfie, mas é só isso!
—Conta mais, eu quero saber agora daquela jararaca da Elizângela!— Quase sujei a camisa dele.— Acho melhor tirarmos a sua camisa, vou acabar sujando ela!—Ele levanta os braços e eu puxo a sua camisa pra cima tirando-a do seu corpo.—Ulalau, bem melhor!
Ele dá um sorrisinho sexy e eu beijo seus lábios.
—A Elizângela deu em cima do Matheus para conseguir ser promovida!
—Eu sabia, ela não me engana!!—Digo tocando sua mão para começar a cuidar das suas unhas, mas para a minha surpresa, as unhas dele estavam mais bem feitas que as minhas.— Porra, ai você humilha a minha pessoa... Posso pintar pelo menos?
—De base pode!— Ele diz e beija ponta do meu nariz.— Quero passar esse negócio na sua cara também.
—Tá bom, mas pode continuar a contar as fofocas! A Elizângela não levou nenhum esporro?
—Levou, meu irmão deu sermão nela, eu sugeri demiti-la, mas meu irmão o bondoso e sem graça da relação disse que não precisava!
—Droga, perdeu a oportunidade de se livrar de uma pé no saco!— Digo passando a base nas suas unhas.
—Já falei e vou repetir, se ela ou qualquer outro falar alguma merda pra você ou a seu respeito pode me falar que eu resolvo isso com apenas uma palavra!
—Para a sua infelicidade, eu também sou a bondosa e sem graça da nossa relação!— Digo rindo.
Ele revira os olhos.—Estou rodeado de pessoas boazinhas...—Ele choraminga. Eu quase falo sobre o pai dele, mas não quero estragar o clima divertido.— O que você descobriu?
—Nada, era só pra você me contar as fofocas mesmo!
Ele abre a boca chocado e então faz menção em dar um tapa na minha bunda mas seguro firme sua mão.— Você não é tão boazinha quanto parece, ruiva!!
[...]
Nesse momento, eu estou jogando pipocas na boca do Miguel enquanto as suas unhas não secam.
—Que mira horrível!—Ele diz me zoando, então jogo três pipocas de uma vez na sua boca sem dar tempo dele pegar todas.—Você é uma pessoa muito tóxica, Victoria!
Gargalho e dou uma mordida na barra de chocolate que eu estou comendo.— Vamos por música?—Ele perguntou.
—Não dá, vou tomar multa!
—Porra, você não pode fazer nada aqui que saco. Tem que se mudar, ruiva, eu já falei que eu posso ajudar!
—E eu já falei que não preciso da sua ajuda!— enfio um pedaço do meu chocolate na boca dele.
O mesmo revira os olhos e pega o seu celular dando play em uma música.
—DEIXA EU MUDAR ESSA NOSSA HISTÓRIA HOJE, VAMOS SER MAIS DO QUE UM AMOR DE FIM DE NOITE...—Ele me puxou enlaçando a minha cintura e me dando um beijão de tirar o fôlego.— E fazer bem melhor do que seu ex um dia te fez...
—Basta você dormir comigo hoje, me dá sua mão e me beija essa noite...
—Nossos corpos sempre na conexão, nossos corpos sabem da nossa intenção...—Ele canta novamente com a boca roçando na minha.—Você chegou bagunçando a mente toda, eu não consigo mais pensar em outra...
Fomos interrompidos com alguém batendo na minha porta. Já até imagino quem seja...
Miguel dá pausa na música e vai pegar um pouco mais de chocolate, eu vou até a porta e abro a mesma me deparando com a síndica do prédio.
—Não tem como, não é, Victoria? Eu já falei milhões de vezes pra não fazer barulho, mas você continua fazendo, ai quando recebe multa acha ruim, toma aí!— Ela diz rudemente e me joga uma multa de 200 reais.
Atrás de mim, aparece o Miguel. Ele é quase do tamanho da porta, se pra mim ele já é alto, imagina para a síndica que deve ter por volta dos seus 1.47...
Ela arregala os olhos e olha pra ele amedrontada... Talvez seja porque tem um homem de mais de um metro e noventa com uma tiara felpuda, ainda com a máscara de argila verde no rosto, sem camisa, separador de dedos nos pés, e as mãos estiradas com base.
Ela abre e fecha a boca várias vezes sem saber o que falar, até que o Miguel diz:— Está tudo bem? Aconteceu algo?
—Ela disse que estamos fazendo muito barulho...— Digo.
—Miguel...— A síndica começou, mas não terminou. Me pergunto como ela sabe o nome dele, mas aí eu lembro que ele é famoso.
Miguel revirou os olhos e caminhou até a mesa onde havia deixado suas coisas, pegou sua carteira, antes de eu conseguir falar algo, Miguel tirou algumas notas e entregou para a síndica. Eu só consegui ver várias notas de cem ali.— Tenho certeza que essa quantia irá ser o suficiente para não vermos o seu rosto nos próximos meses, tenha uma boa noite!— Miguel segurou minha cintura me puxando para dentro e bateu a porta na cara da síndica.
Meu queixo estava caído, olhei para o Miguel e ele me olhou tranquilo.— Miguel... Por que fez isso???
—Era isso que ela queria não? Pois pronto, vamos ver se ela sossega—- Ele diz voltando para o sofá.
Dou risada ainda chocada com o que ele fez, ele deu para ela quase a mesma quantidade do meu salário...
—Você tem que se mudar daqui, Vic, sem condições continuar vivendo assim!
—Eu sei, mas...
—Agora que você está construindo sua carreira, ingressando na dança, logo logo você vai conseguir se manter bem financeiramente e sair desse lugar!
—Tá bom, tá bom riquinho!
Só queria estar assim com o Miguel:
S.S