A segunda coisa que Xiao notou ao entrar no apartamento antigo de Aether foi a enorme bagunça que existia na sala. Nela existia diversas tintas espalhadas, alguns quadros jogados ao redor da mesa do centro e vários jornais pelo chão. Vários mesmos.
Mas o que realmente lhe chamou atenção no momento em que entrou naquele ambiente foi a quantidade excessiva de portas retratos que apreciam esquecidas na estante da TV.
Elas não eram de Aether. Quer dizer, somente em uma das fotografias o garoto loiro aparecia e era do lado de sua funcionária, Amber - a única que estava em todas as fotos. Isso o incomodou um pouco.
Por que raios Aether tinha várias fotos de sua funcionária no seu apartamento?
Xiao segurou a fotógrafa de ambos com as mãos suando. Nem sabia o certo que pensar.
Já Aether, por outro lado, parou de procurar o que estava procurando e encarou Xiao em silêncio. Sabia que o rapaz iria notar os portas retratos. Era óbvio. Eles estavam em um lugar visível e por um momento temeu que o seu parceiro relacionasse aquilo como outra coisa.
"Ela está morando aqui. Temporariamente." apressou em dizer.
Xiao tomou um susto. Não sabia que aquele o observava.
"Ok."
"É sério." Aether se levantou, caminhando em sua direção. Cuidadosamente tomou o porta-retrato das mãos alheias, colocando novamente no lugar de antes. Suspirou. "Ela precisava de um lugar para ficar depois que assumiu seu namoro com Eula."
"Eu acredito em você."
Então, seus passos se direcionaram para a mesa do centro, se afastando do garoto loiro. Xiao começou a analisar as pinturas inacabadas dos quadros.
Apesar de serem obras não finalizadas, seus traços eram perfeitos. Algo surreal e bem bonito de ver.
"A Amber pinta também?"
"Não. Sou eu quem as faço." Aether se aproximou. Xiao ergueu uma sobrancelha. "O que foi?"
"Você pinta?"
Aether sorriu, se ajoelhando à mesa.
"É tão difícil de acreditar?"
"Em que hora você tem tempo para isso? Passa o dia trabalho ou fica na minha casa, comigo." cruzou os braços.
Aether tampou uma risadinha abafada. Era um amante do jeito honesto e duvidoso do Xiao.
"Bem, às vezes eu minto." confessou. "Porém é apenas um hobby. De vez enquanto vou para o meu apartamento e fico por aqui, desenhando e pintando o que sinto."
Isso nocauteou Xiao que se viu obrigado a se ajoelhar diante a mesa, fazendo companhia para o outro rapaz.
"Você pinta os seus sentimentos?" questionou eufórico.
Isso era interessante. Muito interessante. E legal de saber, Xiao deveria dizer.
Descobrir esse hobby peculiar do garoto da áurea das estrelas foi algo surpreendente. Caso um outro alguém chegasse até ele e o contasse, iria desconfiar ser uma brincadeira de mal gosto e responderia com a famosa frase; só acredito vendo.
E mesmo vendo, Xiao não conseguia acreditar.
"Você gostou?" Aether perguntou, sorridente.
"É claro!"
"Então quer pintar uma? Tenho alguns quadros em brancos aqui."
Oh.
O coração de Xiao se encheu de alegria e ansiedade. Mas é claro que gostaria de pintar um quadro! Entretanto, como era sua primeira vez fazendo aquilo, sentiu medo do que Aether poderia pensar. E se ele fosse julgado por Aether? E se ele ficasse nervoso a ponto de pintar algo tão feio e desprezível? Xiao não queria passar vergonha, sua única vontade era impressionar e não decepcionar.
"Vamos! Animação!" Aether berrou, animado. Colocou na mesa algumas tintas que estavam no chão e entregou um pincel para Xiao.
Seu peito batia forte.
De repente, a sua mente navegou para horas mais cedo naquele dia, inicialmente adotaram a ideia de saírem juntos e assistir um filme no cinema — visto que o Yaksha não ia a um à anos. Porém, quando estavam prestes a entrar no carro, Aether gritou e implorou por mais tempo, pois havia esquecido algo importante no seu apartamento abandonado, o que resultou no momento presente.
"Aether."
"Hm?"
"Você já achou o que veio procurar no seu apartamento?"
Imediatamente, o loiro parou de pintar e ergueu a cabeça assustada. Até ele tinha se esquecido.
"O cinema."
Seu rosto passou da expressão de assustado para alguém incomodado, segundos depois, Aether parecia chateado e triste. Havia se empolgado com a ideia de desenhar com Xiao. Aquele momento parecia único e acreditava que o rapaz que conheceu que estava prestes a se suicidar agora tinha acesso ao seu paraíso astral e tinha disposição de apresentá-lo a ele. Entretanto, seu cérebro venceu a batalha contra seu coração e o que era certo a se fazer foi decidido; Aether, o mesmo que prometeu a Xiao levá-lo ao cinema para assistir o novo filme da Marvel, teria que ir. Gostando disso ou não.
Percebendo a situação, Xiao rapidamente se deu ao trabalho de agarrar ambas mãos de Aether, sorrindo de uma maneira calma para o garoto loiro.
"Mas, se você quiser ficar aqui pintando, não tem problema."
"Oh…"
Aquilo parecia errado. Seus planos seriam arruinados. A programação de hoje e o motivo de viver que Aether entregaria para Xiao seria relacionado ao cinema, e não às pinturas e desenhos.
Só que Aether sorriu e concordou.
"Obrigado, Xiao."
"Não tem de quê. Podemos ir amanhã ao cinema sem se preocupar. Teremos muito tempo ainda juntos, não é?"
Aether não quis concordar com sua última frase, entretanto, também escolheu sorrir e concordar novamente.
"Com certeza."
Então o fim de tarde seguiu daquela maneira. Dois jovens que sem perceber, começaram a sentir necessidade de ter a presença um do outro, que o sentimento de demonstrar o seu mundo interior era maior do que qualquer outra coisa. Realmente não se importavam com as diferenças que encontraram no meio do caminho dessa aposta estranha.
Aether sabia que Xiao o fazia se sentir bem.
Xiao sabia que Aether provavelmente ganharia aquela aposta estúpida.
"Hm. Xiao." Aether tossiu um pouco, chamando atenção do outro rapaz. "Acha que sou capaz de viver da arte invés de ser um empresário?"
Um grande ponto de interrogação surgiu na cabeça do Yaksha.
"Porquê?"
"Responde!"
"Uhm… sim." Xiao voltou a desenhar. "Você tem ótimo traços. Eu facilmente iria numa exposição de artes sua."
"Isso aqui nem é nada." Aether resmungou, ganhando novamente atenção do garoto de cabelos coloridos. Se apoiou na mesinha do centro com o seu braço e uma feição emburrada tomou conta do seu rosto. "O Sr.Albedo é muito superior a mim."
"Quem é esse?"
"Um amigo antigo. Sabe, no começo, antes de eu adquirir o gosto pela arte e me aperfeiçoar nisso, os meus desenhos eram um fracasso." sua voz fraquejou por um momento. "Eu não tenho talento nenh-..."
"Se joga." interrompeu Xiao.
Agora quem tinha um enorme ponto de interrogação era Aether. Se jogar da onde? Da janela?
"Pois não?"
"Você deveria se jogar no mundo e tentar. Como acha que o Romelio Britto ficou famoso com aqueles quadros estranhos? Se bobear, acho que você fica até mais famoso do que ele!"
"É Romero Britto!"
"Que seja!". Xiao bateu na mesa com seu quadro. Algumas tintas que estavam sobre a mesa voaram e atingiram sem querer a pintura de Aether que também estava no mesmo local. "Merda…"
Em questão de segundos Xiao em pé tomou a pintura de Aether e com um pedaço de papel esfregou a tinta azul que caiu sobre a tela na tentativa de limpá-la.
"Me desculpa! Me desculpa!" disse repetitivamente.
"Hey! Calma!" o garoto loiro se levantou, sacudindo aquele que estava aos prantos. "Xiao! Volta pra terra!"
Xiao se desesperou por completo. Não queria estragar o desenho de Aether, apenas ajudá-lo quando viu seus papéis se inverterem.
Poxa vida! Aether parecia deprimido para si. A sua tentativa inútil de deixá-lo com autoestima alta com certeza faria o contrário, pois, ao invés de ajudá-lo, arruinou uma das suas obras.
"Me desculpa! É sério! Por favor!"
"Xiao!" as mãos de Aether seguraram seu rosto com força dessa vez, mantendo o contato visual com o garoto de mechas coloridas. Aos poucos, Xiao ia se acalmando. Os seus batimentos cardíacos estavam rápidos demais. "Está tudo bem, ok?" sorriu. "Se você perceber, eu nem tinha começado direito."
Aquilo era verdade. O quadro de Aether apenas tinha uns rabiscos sem sentido amarelo e agora tinha a cor azul implantada por Xiao também.
"Que tal isso ser nosso quadro invés de ser apenas meu, hm?" Aether deixou um beijo na testa de Xiao, apanhando a tela danificada para si. Com uma caneta que mágicamente retirou do bolso, escreveu o nome do seu companheiro. "Viu só? E ainda vou nomear esse quadro com o seu nome!"
Aether sabia o que Xiao precisava.
Xiao também. E aquilo parecia ser um problema futuro no qual os dois gostariam muito de ignorar.
"Xiao, eu quero agradecer de coração pelo seu conselho. E também espero que isso sirva para si." em nenhum momento Aether deixou de sorrir.
Aether felizmente fazia muito bem ao Xiao.
Motivo 05;
Se joga pelo mundo! Não tenha medo de viver o que você é!
Aether.