always you

By harryaspink

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Está tudo uma bagunça, a vida de Harry nunca esteve tão desastrosa. Sendo pai de três crianças incriveis e re... More

One.
Two.
Three.
Four.
Five.
Six.
Seven.
Eight.
Nine.
Ten.
Eleven.
Twelve.
Thirteen.
Epilogue.

CAPITULO EXTRA

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By harryaspink


Esse é o capítulo extra com o passado deles, como prometi! recomendo lerem o epílogo antes <3

Pode ser que encontrem alguns avisos ao decorrer do capítulo, lembrando que só nesse tem 30k de palavras!

E também está cheio de referências, espero que peguem todas kkkkk

Espero que gostem, quero o feedback de vocês nos comentários.

...

A primavera costuma ser pacata no interior, não é diferente em Doncaster. O vento forte balança os cabelos de Louis, a brisa é potente o suficiente para apagar seu cigarro. Ele franze o cenho, encara a ponta apagada, pedindo o esqueiro para um dos amigos logo em seguida. O dia letivo sempre termina assim, o grupo de adolescentes ficam sentados no gramado do campo, escondidos atrás da arquibanda. O lugar perfeito para acender um cigarro ou baseado, dessa forma evitam uma suspensão e conseguem desestressar antes de voltarem para suas respectivas casas. Não há conversas interessantes, só falam sobre os acontecimentos do dia e provocam um ao outro com suas brincadeiras estupidas. A presença de outra pessoa logo chama a atenção de Louis, ele assiste a figura do amigo sentar-se proximo.

— Maconha em plena segunda-feira, qual é a ocasião? — É o que Harry diz ao se juntar com os colegas.

Antes que fosse responder, o castanho prende os olhos na fisionomia do rapaz, reprimindo o riso para suas vestes. A camiseta de banda com as mangas cortadas e o jeans rasgados não combinam com sua personalidade, é como se Harry estivesse vestindo as peças para ficar parecido com os amigos, até mesmo seu cabelo está bagunçado, sendo coberto por um boné virado para atrás, tal como Liam.

— Alguém perdeu a virginidade. — Como alguém que não consegue conter a língua, Stanley diz em meio aos risos, acotovelando as costelas de Louis.

Ainda com o baseado preso entre os lábios, Louis tenta desviar dos golpes, retribuindo com empurrões nas mãos do amigo. Ele franze as sobrancelhas ao perceber a situação em que está, não gosta de revelar suas intimidades em voz alta, ainda mais em um grupos de rapazes na puberdade.

— Digno de comemoração. — Harry assente. Os lábios finos reprimem um riso insistente que custa a aparecer, o castanho apenas revira os olhos.

— Ele se tornou um homem ontem à noite. — Oliver reproduz um falso bico nos lábios.

— Eai, como foi? — Calvin retorna com o assunto, incomodando ainda mais o amigo.

Louis suspira, em segundos decide se deve ou não dizer a verdade.

— Estranho, não sabia o que fazer... Ela não deve ter gostado. — Não há porquê mentir... Afinal, são seus amigos de infância. A sequência de risadas traz à tona seu arrependimento, por um milésimo de segundo havia esquecido como seus amigos são traiçoeiros. — Bom, pelo menos eu transei.

— Você é o mais velho do grupo! — Liam retruca. — Não nos encha o saco, faz sentido sermos virgens.

— Vão a merda. — Louis declara antes de finalmente acender o baseado. Aproveitando que seus amigos estão com a atenção focada em outra coisa, ele continua a encarar a figura de Harry. Há uma marca no pescoço do rapaz que desperta sua curiosidade. — Ei, Harry... Não foi só eu que transei esse final de semana?

A fala de Louis arranca murmúrios dos demais colegas, todos começam a caçoar de Harry também.

— Aquele menina que você transou na semana passada ainda não enjoou de você? — Niall pergunta entretido no hematoma nos pescoço do colega. — A primeira vez em que eu fiz algo com uma garota, ela nunca mais olhou na minha cara! É sério, como você consegue?

— Não é a mesma. — Harry diz com os olhos arregalados, em tom óbvio. A resposta inusitada continua a despertar risadas entre os colegas. — Eu sai com outra nesse final de semana, aquela garota alta da aula de física.

— Como você consegue tratar sexo como algo tão irrelevante? — Em meio a tantos risos, uma frase é dita com seriedade por Louis. Ele não havia acordado com bom humor, apesar das circunstâncias a noite passada lhe rendeu um bocado de frustrações.

— É apenas sexo. — Harry balança os ombros.

— Inacreditável. — Louis sibila.

Calvin levanta, amarrotando a calça em batidas para livrar-se da grama grudada no tecido. Já é hora, o sol está ficando cada vez mais forte e como a grande maioria ainda não dirigem, eles voltam caminhando até suas respectivas casa.

— Amanhã estaremos aqui de novo. — Oli cantarola.

— Espero que tragam sua própria maconha! Não vou gastar meu salário com vocês. — Louis diz em meios aos gritos, sabendo que ainda sim será o patrocinador do cigarro dos amigos.

-x-

Tal como prometido, lá está o grupo de amigos novamente. O dia é mais preguiçoso do que o anterior, eles apenas conversam e apreciam a sombra fresca produzida pelas árvores ao redor, hoje o humor de Louis está consideravelmente melhor. Os passos apressados de Harry surpreende a todos, levando em consideração que estavam prestes a adormecer no gramado.

— Alguém ai terá aula de química no último período? — Ele diz exasperado, jogando-se de joelhos na grama. Louis é o único a levantar a mão, a pergunta repetina atrai a curiosidade dos rapazes. — O nosso professor de química não virá nos próximos meses.

— Mas já estamos no fim do ano letivo! —
A fala de Oliver soa confusa, ele franze as sobrancelhas enquanto traga o cigarro.

— E é exatamente por isso que a escola não irá atrás de um professor substituto. — A alegria transparece no tom de voz do cacheado. — Temos a aula livre até o final do semestre! Quero dizer, eles irão aplicar atividades complementares nesse período, ainda sim é melhor do que química.

— Sortudos de um figa! — Calvin condena os colegas. Por coincidência, Louis e Harry eram os únicos do grupo a terem aula de química no mesmo horário.

— O que aconteceu com o Carter? — Louis pergunta em meio a indignação dos colegas, há uma leve preocupação em seu tom de voz.

— O Sr. Carter? —Harry pigarreia antes de responder. — Ele vai ter um bebê...

— Ele é casado? — Liam franze o cenho, tentando-se recordar brevemente de alguma aliança no dedo do professor.

— Eu sei lá. — Harry balança os ombros. — Apenas ouvi o diretor comentando enquanto eu vinha para cá... Na verdade, ele está gravido.

— Uou. — A voz grave de Niall faz os ouvidos de Louis estremecerem, levando em consideração a proximaidade que ambos dividiam no momento, até então o loiro estava com a cabeça rescostada na de Louis. — Isso não é raro?

— Até que não, mas é muito difícil uma gravidez como essa. — Oliver diz de forma direta, apagando o cigarro na terra úmida. — Esse tipo de gravidez é muito delicada, um conhecido meu perdeu o bebê e fez uma cirurgia de emergência... Sabe, não vai para a frente.

— Que horror! — Stanley estapeia os ombros do colegas. — Não devemos pensar nesse tipo de coisa, ele foi nosso professor no último semestre.

— Stan está certo. — Enquanto abraça os joelhos, Harry diz com o queixo apoiado. — Além do mais, esses casos são bem comuns hoje em dia... Ou não. Na verdade, eu não sei. Na família do meu pai é comum os homens engravidarem, digamos que nós temos essa condição.

A fala casual de Harry choca os demais.

— Então, você pode engravidar? — Liam transparência curiosidade, atropela cada palavra que escapa de seus lábios com outra baboseira que se apressa em dizer.

— Todos os homens da minha família paterna conseguem... A maioria dos meus primos nasceram dos irmãos do meu pai. — Relembrando os rostos familiares, ele declara.

— Eu não acredito que ficaremos sem aula de química até o fim do ano! — Querendo mudar o rumo da conversa para um assunto mais fácil, Louis diz enquanto espreguiça o corpo, sua palavras de soam divertidas, ele assume uma careta espantada.

— "Ficaremos" uma ova! — Calvin arremessa uma pedra para longe, jogando-a para longe, esbajando assim, sua frustração. Após assistir a queda, ele levanta de forma atrapalhada, puxando os demais colegas. — Vamos rapazes, ainda teremos aula no próximo período.

— Exatamente daqui cinco minutos. — Liam comenta enquanto encara os ponteiros do relógio.

— Boa aula. — Harry comenta antes de jogar a mochila no chão, ele a usa para descansar a cabeça.

Assim que os colegas deixam o lugar, o silêncio toma conta. Como não havia mais ninguém, Harry checa o outro pelo cantos dos olhos, não conseguindo segurar o espanto ao se deparar com um baseado preso entre os lábios de Louis. Ao perceber os olhos curiosos sobre si, o moreno tenta afastar o assunto.

— Não queria dividir. — Ele balança os ombros.

Harry franze as sobrancelhas.
— Eu poderia querer.

Louis não contém o riso maldoso.
— Não iria, definitivamente. Você não gosta de cigarros.

A fala ácida do moreno faz Harry levantar do gramado para encarar o amigo, os olhos esverdeados estão desafiadores, ele espera poucos segundos antes de dar uma resposta adequada.

— Você nem fala comigo, quase... É como se não estivéssemos na mesma roda de amizade. Não pode dizer qualquer coisa como se me conhecesse.

— Bom. — Louis sopra fumaça em direção ao rosto de Harry. — Estamos conversando agora.

— Estamos. — Harry desliza a língua entre os lábios. — Se não importa, eu quero dar um trago.

— Eu me importo. — Louis nega.

Em um ato conformado, Harry assente com a cabeça.
— Por que você é tão implicante comigo, hein?

— Não seja tão carente pela minha amizade. — A fala de Louis mostra a Harry que a conversa não o levaria à lugar algum, ou pelo menos não tomaria o rumo que gostaria. Com este pensamento, ele levanta o dedo do meio para Louis. De forma atrapalhada, ele se põe de pé, batendo na calça jeans para afastar a terra. — Não como você é por todas as outras.

A última frase é o que impede o ondulado de sair andando e deixar Louis sozinho. A fala soou como um ataque a seus ouvidos, mais como uma ofensa.

— Como é?

— Você sabe. — Louis apaga o cigarro contra a grama úmida, ele continua a dizer enquanto evita contato visual. — Você insiste em andar por ai usando regatas, exibindo seus braços musculosos e tronco de academia... Cabelo bagunçado, roupas amassados, continua a fingir que gosta de bebidas fortes e cigarros, mesmo que faça careta quando leva aos lábios. O ponto é, você é tão carente pela amizade dos rapazes que moldou outra personalidade para obter esse elo. É patético.

— Qual é, você não me conhece... — Harry insiste outra vez, sendo cortado pelo tom ameaçador de Louis.

— Não precisa ser como eles para ser nosso amigo, idiota.

— Você não sabe como eu sou. — O tom de voz de Harry finalmente sobe, ele não pode conter a raiva após ouvir tudo aquilo.

— E nem você! Sinceramente, precisa de todo esse teatro? Essa personalidade insuportável, como se fosse uma sátira do Liam e o Calvin, não precisa fazer isso.

A voz de Louis permaneceu serena desde o início da conversa, mesmo que ele tenha dito verdades duras de ouvir. Não foram ditas como ameaça, apenas como uma resposta para as afirmações de Harry.

— A gente conheceu você quando ainda usava aquelas roupas cheirosas e bonitas, o seu cabelo tinha um bom corte... Você não era deseperado para se enturmar. Foi por isso que eu te chamei para a partida de futebol, você não era como os outros idiotas do ensino médio.

Harry ri descrente, ele corta as palavras de Louis o mais rápido que consegue.
— E está me dizendo isso com qual finalidade?

O moreno ri de forma inocente.
— Apenas respondendo. Quero dizer, eu até gosto de você mas não suporto essa carapuça de adolescente idiota.

— Vai pro inferno. — É o que Harry diz antes de abandonar o Louis.

-x-

O decorrer dos dias não permitiu que ambos se vissem fora dos horários de intervalo, Louis continua a passar o tempo livre escondido nas arquibancadas, onde há a possibilidade de acender um cigarro quando estiver entediado e fugir dos professores. Harry não apareceu lá novamente após a última conversa, o ego ferido o impediu de agir com maturidade. Eles apenas vêm um ao outro nos intervalos, em razão dele continuar a sentar no mesmo lugar que os rapazes. O almoço é calmo, não há desavenças. No entanto, Harry evita trocar qualquer palavra com Louis. Não é como se fossem melhores amigos antes, ambos trocavam poucas palavras e algumas brincadeiras. Após os ataques de Louis não houve nenhum contato.

E depois de toda uma discussão generalizada sem escopo algum, o que Louis pode fazer é castigar seu mau humor e língua grande, deveria ter ficado quieto e aceitado a companhia de Harry. É solitário ficar embaixo das arquibancadas, ainda mais nos últimos dias que esteve sem o celular, ele apenas fica encarando o céu, procurando por formatos nas nuvens. Por mais infantil que o cacheado seja em ignorar seu rosto ao longo da semana, Louis decide falar alguma coisa. Curiosamente, nesse dia em específico o rapaz usa uma camiseta consideravelmente grande para seu corpo, como fazia antes de entrar em seu grupo de amigos. A estampa é chamativa, é uma boa camiseta de banda.

— Eu gosto das músicas. — Louis joga uma das ervilhas de seu prato em Harry, ganhando a atenção do rapaz.

— Harry é um cara do rock. — Stanley brinca.

O cacheado apenas balança os ombros, ignorando qualquer interação com os amigos.

— Querem fumar nas arquibancadas hoje? — Louis convida os amigos, mesmo que saiba a resposta.

— Teremos aula o dia inteiro, cara... — Liam responde rapidamente, lamentando por não poder ir, ele realmente aprecia um bom cigarro.

— Harry? — Louis chama pelo garoto.

— Eu não fumo, achei que soubesse. — O tom de voz é fechado, evitando qualquer brincadeira que possa surgir de sua frase.

— E eu não quero ficar sozinho, é chato. — Louis deixa cair os talhares, frustrado por estar sendo ignorado.

O sinal da escola soa como uma turbina em seus ouvidos. As horas passam consideravelmente rápido desde que as aulas de química tornaram-se tempo livre, Louis só percebe estar nas arquibancadas mais uma vez quando avista o corpo esguio de Harry caminhando em sua direção.

— Olha quem voltou! — Ele exaspera assim que o rapaz está próximo o suficiente para escutar. No entanto, sua alegria passa despercebida... Harry senta ao seu lado e abre um caderno em mãos sem dizer uma palavra sequer.

Quando percebe o olhar confuso de Louis, um desconforto se alastra sobe pelo corpo de Harry.

— Dever de casa. — Ele diz casualmente enquanto inclina o caderno.

Louis assente, demora alguns segundos até que percebe que ambos possuem a mesma grade de aulas nesse semestre, sendo assim, ele também deveria estar ocupado com isso.

— Deixe me ver isso, idiota... — Louis se aproxima do outro, checando cada letra escrita nas folhas. — Eu não me lembro disso.

Sentindo a pele quente do braço de Louis contra o seu, Harry perde o foco com suas palavras.

— Você estava dormindo nesse aula... Eu não sei.

— Pode deixar o seu caderno comigo?

Harry nega rapidamente.
— E deixar você copiar todas as minhas matérias?

— É isso que os amigos fazem! — Louis guincha.

— Agora você é meu amigo? Que tal na semana passada, quando você discursou os motivos que fazem você não gostar de mim. — Harry não esconde o quão ofendido está no momento. — Você não é meu amigo, é folgado.

— Okay! — Louis desiste, ele arqueia as sobrancelhas pela atitude de defensiva do outro. Como a boa pessoa que costuma ser, ele não leva para o coração, puxando outro assunto assim que o silêncio se tornou sufocante. — Você realmente gosta dessa banda?

— Um pouco. — Harry balança os ombros. — O suficiente para ter uma camiseta.

Louis balança a cabeça casualmente.
— Eu tenho as músicas do último álbum no meu celular.

A frase atrai o interesse de Harry.
— Com certeza. — Mesmo que esteja ligeiramente curioso, ele ironiza.

— Me empresta o seu caderno e eu passo para você, é quase o album inteiro. — Louis reprime o riso para a sua própria genialidade.

— Louis, eu iria emprestar o caderno de qualquer forma... Mas as músicas serão úteis, tudo bem por mim. — Harry fecha o caderno.

O moreno pisca atônito, seu ego sofreu variações bruscas em pouco limite de tempo.
— Certo, tudo bem. — Ele gesticula tentando esconder o constrangimento.

— Quais outras bandas você gosta? — A pergunta de Harry é feita com contato visual, pela primeira vez Louis nota o quão brilhosas as orbes esverdeadas de Harry podem ser quando ele fala sobre o que genuinamente gosta.

-x-

— Qual foi a sua nota pelo dever de casa? — Louis diz enquanto cutuca as costelas de Harry, ele quer atrair a atenção do garoto para o assunto de extrema importância.

— Oito. — A careta espantada no rosto de Louis desperta ligeiramente o interesse de Harry no assunto.

— O desgraçado me deu um cinco! Metade da nota! E eu copiei de você, como isso é possível? — Ambos andam pelos corredores da escola na companhia de Niall, o loiro não consegue se expressar além das risadas. — Eu estou dizendo isso é perseguição.

— Bom, ele deve ter percebido que foi uma copia. — Harry retribui acotovelando as costelas de Louis.

— Isso é tão injusto, terei que fazer o meu próprio dever de casa?

O cacheado sorri de forma tímida, escondendo o mero sorriso com a mãos.
— Você é tão escândaloso.

— Foi metade da nota! — Louis exaspera novamente.

Niall interrompe os passos ao chegar perto da sala de aula, parando no batente da porta.
— Aposto que as líderes de torcida fariam seu dever de casa se você pedisse.

Louis revira os olhos.
— Entre na sua maldita aula, Niall. — Ele não está para brincadeira.

O loiro desaparece com um sorriso nos lábios, irritar Louis é uma de suas prioridades. Sem perceber, o castanho continua a arrastar Harry pelos corredores para o único local em que pode ficar tranquilo. O cacheado não reclama, mesmo que tenha outros compromissos em mente. Ainda sim, seus pés congelam quando percebe estar perto das arquibancadas. Louis continua a reclamar sem cessar as palavras, percebendo estar caminhando sozinhos após consideráveis passos?

— Você não vem?

Harry pisca atônito.
— Estava pensando em passar nas aulas de teatro.

— Foda-se o teatro! — Louis diz com uma careta estampada no rosto. — Qual é, prometo não fumar desse vez... Apenas quero alguém para ouvir minhas reclamações.

Harry cogita em dar meia volta, mas seus pés andam não obedecem sua parte racional.

— Por que você reclama tanto? — Ele pergunta enquanto alcança os passos de Louis

-x-

Não fora preciso mais de um mês na companhia de Louis para que Harry percebesse que o frio na barriga iria persistir, a estação nem ao menos teve tempo de mudar e ele já sorria ao lembrar que teria sua semana ao lado do rapaz, a segunda deixou de ser odiosa quando ele aderiu o pensamento de que veria Louis no dia seguinte. As terças e quintas antes eram difíceis de lidar, Harry nunca fora um amante das aulas de química, passava o tempo rabiscando o carderno e encarando a janela da sala de aula. Quando amanheceu outra terça-feira, seu sorriso já acorda estampado no rosto antes mesmo do café da manhã, as mudanças já foram notadas pela sua mãe. Embora, ele quisesse que as tais mudanças fossem notadas por Louis, apenas. Afinal, Harry quer ser notado, suas vestes voltaram a ser como antes, tal como trouxa à tona sua antiga forma de agir, ele não só quer que Louis fale sobre isso mas como também deseja que ele note a mudança positiva. Não é uma paixão repentina, é necessidade.

Enquanto caminha para o típico local de encontro, os pés desengonçados de Harry tropeça na estrutura da arquibancada, sua mente está longe, só percebeu que chegou no onde queria quando foi preciso evitar o chão.

— Eu jurei que você iria beijar a grama. — A voz de calvin sobressai, a risada escandalosa de Louis também não passa despercebida.

Harry franze ao cenho para as demais companhias, uma careta de desgosto toma conta de seu rosto ao perceber que a maioria dos amigos também estão ali.

— Vou denunciá-los para o diretor. — Ele disfarça na medida que consegue, sentando no gramado.

— Queremos um tempo livre também! — Niall cutuca as costelas do colega. — Adolescentes matam aula desde que a escola foi inventada.

— Relaxa. — Uma mão forte aperta o ombro de Harry, ele não precisou mover um músculo para saber que é Liam quem aperta sua pela de forma invasiva.

Harry rola os olhos, ele desvencilha do toque com um solavanco.
— Sobre o que estão conversando?

Calvim traga o cigarro, soltando a fumaça em seguida para responder o amigo.
— O novo passatempo de Louis.

O cacheado pisca confuso.
— Assistir filmes de corrida? — Ele tenta, afinal havia descoberto muito sobre as preferências de Louis.

Stanley ri de forma suspeita, lançando um olhar malicioso.

— O Thomas, ele está na nossa classe de geografia.

Não que Harry estivesse sorrindo, mas seu rosto assume uma carranca assim o colega finaliza a frase. Foi automático, logo uma expressão rígida ganhou forma em seus traços delicados.

— Você está realmente saindo com outro cara? Quero dizer, hum. — A pergunta desajeitada de Oliver é para Louis, obviamente.

O castanho responde com um balancar de ombros, ele traga o cigarro antes de responder.
— Rolou algo entre a gente.

A forma casual em que a frase foi dita causa uma ardência feroz em todo interior de Harry, as brincadeiras dos amigos contribuem para o sua irritação.

— Eu sei bem o que rolou entre vocês. — A fala de Niall é seguida por uma gargalhada estridente.

— Uma mão amiga sempre é bem vinda. — Em meio aos risos, Stanley diz enquanro gesticula de forma obscena.

— Quem diria, não era ele quem estava falando sobre a importância do sexo semanas atrás?— Incapaz de conter a frustração para si, Harry ironiza com umas das indagações anteriores de Louis. Ele já havia escutado o castanho dizer algo semelhante uma ou duas vezes.

— Não foi sexo. — Louis responde rapidamente, um sorriso travesso toma forma em seus lábios antes de repetir os gestos feitos por Stanley. O efeito da maconha agiu rápido em sua mente cansada.

Harry conteve toda a inquietude que sentia, foi preciso. Dessa forma, evitou fazer perguntas e escancarar para todos sua atração por Louis. Ainda sim, em sua mente não pairou nada além da cena de Louis beijando outro rapaz. Quente, porém frustrante.

-x-

O clima de Doncaster beira o meio termo entre quente e frio, há dias em que o sol arde a pele de qualquer um que passe por suas ruas, outros em que a temperatura está tão congelante ao ponto de ouvir os dentes batendo. Uma repentina onda de frio passou pela cidade, rendendo dias nublados e gélidos. Harry cobre o corpo com um casaco pesado, os cabelos ficam presos em um gorro de tricó, sua aparência está arruinada mas seu corpo agradecido. Ele procura por Louis nos arredores da escola, outro dia de química. Como os ventos estão agressivos e o frio está cortante fora do prédio, o cacheado presume que o amigo não esteja nas arquibancadas. Ainda sim, ele arrisca checar. Afinal, a companhia de Louis valerá as orelhas e ponta do nariz gélida.

Não há surpresa quando encontra Louis escondido entre as arquibandas, pelo menos ele usa um cobertor para esquentar o corpo. Harry caminha curioso, esquentando as mãos nos bolsos laterais do casaco.

— Faça uma fogueira e ficará apropriado para pedir esmola. — A voz grave chama a atenção de Louis, o mesmo sorri ao ver a fisionomia de Harry.

— Vá para o inferno. — O castanho diz entre risos.

— Lá é mais quente. — Harry diz casualmente, um vento gelado causa arrepio por toda sua espinha. — Está realmente frio aqui fora, acho melhor entrar.

Louis guincha em resposta.
— O que a nossa sala está fazendo?

Harry pensa por alguns instantes, havia fugido para fora da sala antes de qualquer atividade ser designada a ele.

— Aprendendo xadrez, eu acho.

— Sem chances. — Louis ajeita o coberto sobre o corpo. — Prefiro congelar.

— Okay. — Harry balança os ombros, dando meio volta para retornar para o prédio, em seu inconsciente havia uma tímida voz implorando para que Louis chamasse por seu nome.

— Harry. — As vezes, essa voz parece vencer. — Você não quer aprender xadrez, quer? Garanto que não está tão frio em baixo desse cobertor.

O cacheado na reluta, porém escolhe caminhar em passos lentos para não parecer desesperado. Ele senta ao lado do rapaz, abusando da proximidade de ambos os corpos para ganhar um espaço em baixo do cobertor.

— Onde achou isso? — De fato, é mais quente e reconfortante. Harry pensa em como o cobertor grosso havia parado nas arquibancadas da escola, decidindo perguntar após criar muitos cenários em sua mente.

— Achados e perdidos. — Louis diz facilmente.

— Você diz como se isso não fosse extremamente nojento. — Harry pisca atônito, franzindo o cenho ao sentir a textura do tecido contra a sua pele. O que antes era reconfortante, agora é repulsivo. — Pessoas podem ter transado nele.

— Pense positivo, podem ter usado para esconder um cadáver. — Louis incentiva o raciocínio de Harry. — Faz tempo que não vejo o zelador.

— Eu prefiro a hipótese do cadáver, ficaremos com ela.

Após alguns segundos de silêncio confortável e o som dos grilos cantando, Louis deixa escapar um de seus pensamentos.
— Seu corpo é quente.

Harry ri descrente, as palavras do amigo realmente saíram fora de contexto.
— Não diga isso como se você não estivesse prestes a pegar uma hipotermia.

— Intérprete como quiser. — Louis usa muito bem seu charme, a frase quase soa como uma provocação. Se não fosse o riso travesso em seus lábios, o coração de Harry estaria permitido a errar uma batida.

Há muito dessas brincadeiras vindo de Louis, o rapazes sempre diz frases sinuosas e gosta de soar malicioso, está em constante brincadeiras com seus amigos. Fazer provocações como essa não é nada além de uma interação, sabe disso tão nitidamente faz as mãos de Harry pinicarem pelo incômodo.

— Você não deveria fazer essas brincadeiras quando se está saindo com alguém. — Uma súbita raiva tomou conta de Harry quando o rapaz soltou a frase, ele não conteve a frieza presente na voz.

— Desculpe. — Não houve tempo de compreender o que Harry havia dito de fato, Louis apenas chutou as palavras. — Eu não queria te deixar desconfortável... Sempre brinco assim com os garotos, eles nunca falaram nada.

Harry balança a cabeça em negação, descrente em como o outro não havia compreendido o que de fato quis dizer. Enquanto para Louis, o silêncio tortuoso e a mandíbula contraída lhe evidências que fez algo errado.

— Olha, essa história de que eu tinha uma queda por você, quando você chegou na escola... — Para surpresa de Harry, o castanho diz casualmente enquanto gesticula. — É verdade, mas isso foi no passado! Tipo antes de virarmos amigos. Então pode ficar tranquilo, todas essas brincadeiras são feitas com inocência. Eu juro que não tenho uma finalidade ou algo assim.

As engrenagens da mente de Harry por muito pouco não deram pane com o que havia escutado, foi uma grande surpresa saber disso.

— Cacete... — Louis continua. — Calvin disse que iria contar e assim o fez. Que filha da puta.

Antes que Harry pudesse explicar que nada foi dito por ninguém, houve mais desculpas vindas de Louis. Para não deixá-lo sem graça, o cacheado simplesmente aceitou calado.

-x-

Os dias correram normalmente, havia de diferencial apenas a euforia com a chegada dos jogos estaduais entre os colégios. Para a surpresa do time, Harry foi colocado no banco. O rapaz havia pedido no último verão para ficar de fora das partidas, o futebol estava atrapalhando consideravelmente seu rendimento escolar e com a chegada do vestibular, foi preciso estabelecer uma restrição. Ainda sim, ele gosta do time e quer ficar por perto, através de muita perseverança convenceu o treinador a deixá-lo como reserva, assim poderia ajudar como assistente. Após o primeiro jogo e consequentemente a primeira vitória, os jogares escolheram comemorar em um clube de boliche, nesse momento Harry arrependeu-se de sua escolhas, afinal alguém teria que organizar a bagunça do time. Por esse motivo, foi obrigado a dispensar a comemoração.

Mesmo que uma ajuda seja sempre bem-vinda, ele torceu os dedos quando Louis se ofereceu para ficar. Harry pode apreciar a boa companhia do rapaz e dar boas risadas com as piadas... Embota ainda esteja meio balançado com o sentimentos em seu peito que aflora cada vez que vê o rosto bonito de Louis. Sendo assim, evitou conversa durante o período em que ficaram sozinhos, tornando ainda mais triste o tempo gasto na organização do vestiário. Quando terminaram, Louis clamou para ficaremos mais alguns minutos, ele havia dito que não sairia sem tomar um bom banho, havia gasto muita energia no jogo e sentiu em si mesmo cheiro de suor e grama. Ele tagarela no banho, esperando estar sendo escutado por Harry, que preferiu aguardar no vestiário, longe dos chuveiros. Realmente, o rapaz escuta quando Louis chama por seu nome uma ou duas vezes, ainda sim prefere ignorar para ficar imerso nos próprios pensamentos.

— Obrigado pela toalha. — Já vestido com suas roupas casuais, Louis surge perto dos armários. Ele arremessa a tolha úmida no rosto de Harry, ironizando o fato do rapaz tê-lo ignorado. — Onde está com a cabeça?

— Pensando. — O de olhos verdes sibila em resposta, piscando atônito para a própria conclusão que tirou através de seus pensamentos. — Eu o vi com o Thomas, ele veio desejar boa sorte antes do jogo, não é?

O castanho apenas concorda, ajeitando a mochila nos ombros.
— Então, no que estava pensando?

Harry encara  a fisionomia de Louis. O castanho parece admirado com a própria figura no espelho em um dos armários, ele seca os fios de cabelo molhados friccionando a toalha, respingando água por todo o vestiário, uma das gotas até mesmo acerta seu rosto. Sobretudo, Louis está muito tranquilo e alegre, como sempre foi. O ponto é, não há nada que o incomode no momento. Diferente de Harry, que sente ter palavras intaladas na garganta, as quais agem como espinhos quando ele engole o que sente mais uma vez. Precisando extravasar tudo o que lhe ocorreu em mente nos últimos dias, Harry não pensa antes de responder.

— Estou pensando que você é um idiota do caralho.

A frase pega Louis de surpresa, o castanho questiona internamente o porquê de estar escutando isso. Ele deixa a mochila e a toalha cairem no chão, cruzando os braços enquanto encara o outro com um olhar preocupado.

— Você está transando com o garoto que anda por ai vestindo roupas grandes e suéteres, o cabelo dele é tão bagunçado e ele anda de forma recuada, como se fosse um animal encuralado. — Novamente, as palavras apenas escapam dos lábios de Harry. Não há contato visual enquanto ele fala, seus olhos não encaram nada além da parede à sua frente, que agora não passa de um borrão fora de foco. — Ele quase me lembra de como eu era. Daquele eu que você gostava. Sabe, quando me disse tudo aquilo sobre eu tentar me encaixar abandonando minha verdadeira essência... Eu achei que fosse verdadeiro. Como um daqueles conselhos que amigos trocam. No final, era apenas você preferindo minha versão mais frágil, porquê esse é o seu tipo.

— Foi verdadeiro. — Louis caminha em direção ao outro de forma cautelosa, os passos silenciosos por pouco não evidênciam sua aproximação. Ele ajoelha ao lado de Harry, usando da aproximação para olhá-lo nos olhos.— E foi um conselho, acredite... Você não precisa mudar quem é para fazer amizades e ser aceito, tudo o que eu disse foi sincero. E você sabe que é a verdade, não é? Mudou desde a nossa conversa, está voltando a ser como era, eu posso ver.

— E você está muito feliz, não é? Me convenceu a voltar a ser o que eu era... Quer saber? Eu não gostava dessa minha versão! Quando você disse aquilo, pensei que ao menos alguém gostasse. E eu achei que fosse verdadeiro, mas era apenas você tentando me transformar naquilo que te agrada.

— Você está confundindo tudo. — A frase de Louis sai em tom de alerta, ele passa a entrar na defensiva após ouvir as palavras magoadas do outro.

— Então por que ele? — Harry vira o rosto bruscamente, olhando justamente para onde imaginou que Louis estaria. — Por que ele e não eu?

— Sobre o que raios você está me perguntando? — Louis levanta abruptamente, fazendo os joelhos estalarem pela forma em que levantou o corpo. Ele cambaleia até a parede mais próximo, buscando em suas memórias a resposta que Harry quer ouvir. — Não me pergunte esse tipo de coisa, quando era você que sempre me contrariava, respondia tudo o que eu dizia.

— Você não gostava de mim, você mesmo disse!

— Eu sei o que disse. — O castanho se aproxima, repetindo os gestos anteriores, se ajoelha em frente ao amigo de forma cautelosa. Ele encara a feição fechada de Harry, torcendo os lábios para a expressão feia do rapaz. — Você só está confuso.

— Vai para o inferno. — Em resposta, Harry praticamente cospe as palavras em Louis.

O sorriso ladino de Louis não foi intencionado, mas não deuxou de ser provocativo, ele havia percebido que essa não era uma discussão a ser ganha.

— Pense o que quiser de mim, eu não ligo. — Ele impulsiona os joelhos para levantar, mas é impedido pela mão firme de Harry em seu pescoço.

O beijo repentino foi aceito por ambos, assim que sentiu os lábios quentes de Harry contra o seu, Louis o agarrou com tanta veracidade que sem perceber, ambos estão em pé novamente. O choque dos lábios foi um toque quente e necessitado, Harry depositou nele todo o sentimento que é incapaz de expressar com palavras. Enquanto Louis aproveita para se deliciar após tanto tempo apenas imaginando como a sensação seria, ele nunca confessaria seus pensamentos impuros e sentimentos adormecidos, mas tem certeza que seu beijo desesperado pôs tudo em evidência.

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De fato, após esse episódio houve muitas mudanças na relação de ambos. Após provar um fio da doçura dos lábios de Harry, Louis ansiou tê-lo por inteiro até que finalmente conseguiu. Poucas semanas depois, ele já podia ver o brilho especial nos olhos esverdeados toda as vezes em que trocavam olhares, fora a maneira em que Harry demonstrou estar mais aberto para afeto. Afinal, ele também almeja os toques de Louis e assim que percebeu a reciprocidade, não fez questão de esconder. E assim, iniciaram algo que possa ser chamado de namoro, é um romance, com toda certeza, mas não houve um pedido concreto. Não é como se eles se importassem, em razão de estarem juntos o tempo todo, não há quem não saiba do relacionamento. O ano seguinte chegou rápido, Louis esteve tão preocupado em agradar Harry que a mudança de estações passou despercebida. A mudança das aulas foi um grande motivo de desagrado.

— Como estão os nossos horários esse semestre? — Harry pergunta animado, segurando com força alças da mochila.

Louis franze o cenho enquanto encara o mural de horários.
— Não teremos praticamente nenhuma aula juntos.

A animação de Harry esvai rapidamente, ele não consegue esconder a frustração, não quando encara Louis com seus olhos brilhosos pela chateação.
— Ainda teremos o horário do intervalo.

Louis concorda, deslizando os braços pelos ombros de Harry, prendendo seu corpo em um abraço firme enquanto caminham pelos corredores.

— De qualquer forma, é o último semestre. Logo teremos todo o tempo livre juntos que quisermos.

Realmente, o fato de ser os últimos meses na escola fez os dias passarem de forma mais rápida. Antes que Louis se dê conta, a formatura já está próxima. Não é uma de suas preocupações, seu namorado será seu par de qualquer maneira. A forma que o tempo passou realmente o assustou, talvez a companhia de Harry tornou seus os dias mais agradáveis. A rotina anterior era odiosa, agora cada momento que passa ao lado do rapaz, é um motivo para sorrir. Ele pensa que por essa razão, os dias tornaram-se mais leves, consequentemente mais rápidos.

E essas foram as lembranças de semanas atrás, passaram pela mente de Louis enquanto ele tentava relembrar em qual momento Harry começou a ficar distante. Duas semanas passaram com tanta rapidez e apesar de estar muito animado no início do verão, a alegria de Harry murchou aos poucos e tudo o que Louis quer saber no momento, é o que lhe causa tanta chateação. Seus dias voltaram a serem tortuosamente longos e duradouros.

— Você viu? A formatura será em quarenta e cinco dias! Temos que escolher a nossa roupa o quanto antes. — Louis cutuca as costelas do namorado para atrair sua atenção, Harry não havia dado nem ao menos uma olhada no cartaz gigante exposto na parede.

O cacheado apenas balança os ombros, ele cutuca a comida do refeitório sem interesse algum. Ao ser ignorado novamente, como tem sido há dias sem nenhum motivo aparente, Louis assume uma expressão fechada, encarando o nada pressionando a mandíbula.

— Não vai comer de novo, Harry? — A voz se Niall se faz presente.

— Beleza, eu como! — Liam rouba o prato do colega. Louis apenas observa com o canto dos olhos, ele precisa conversar com Harry sobre sua mudança repetina de comportamento.

Ele consegue pegar o rapaz desprevinido quando o menino caminha de volta para as salas após o intervalo, não poupando esforços em o puxar o corpo magro pela alça da mochila para levá-lo até outro lugar mais quieto e reservado.

— O que há com você? — Harry desvencilha das mãos de Louis.

O castanho ri ironicamente, repetindo a pergunta.

— E o que há com você? — Ele dá ênfase na última palavra da frase. — Sequer fala comigo faz duas semanas, quero dizer... Nós nos vemos apenas durante os intervalos e você nem ao menos está olhando na minha cara. Foi algo que eu fiz?

— Não. — O cacheado nega instantemente. — Eu disse, não estava me sentindo bem.

— Durante a semana inteira? — A voz de Louis sobe mais do que deveria, fazendo Harry recuar assustado. Ele não sabe o porquê, mas o namorado tem estado mais frágil nos últimos dias. — Desculpe... Olha, eu sinto a sua falta, okay? Podemos ir assistir um filme hoje, o que acha?

Harry parecia estar prestes a concordar, mais após piscadas confusas, ele balança a cabeça em negativa.

— Não quero sair hoje.

— Tudo bem, então eu posso passar na sua casa mais tarde. — A rejeição nunca foi bem aceita por Louis, ele não sabe como agir quando entende que está sendo deixado de lado. — Eu não ligo, apenas quero ficar com você.

— Eu quero ficar sozinho. — Harry finalmente expressa o que sente através de um grito. — Que coisa, Louis!? Não entende, está me sufocando!

O castanho engole seco e recua, assentindo em silêncio antes de caminhar para longe e deixar Harry desfrutando da solidão que tanto almeja ter.

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A expressão quebrada de Louis foi o suficiente para instalar um onda de remorso em Harry, a culpa parece matar cada célula de seu corpo toda vez que ele relembra do belo rosto de Louis contorcido em uma feição triste. Harry é cruel consigo mesmo, em sua mente apenas ecoa o fato do namorado ser bom demais, quase bom demais para ele. Mesmo após ter sido ignorado e tratado com indiferença, ele foi até sua casa assim que lhe enviou um pedido de desculpas por mensagem. Não foi preciso bater mais de duas vezes na porta, como se estivesse plantado esperando, Harry abriu a porta bruscamente assim que ouviu os passos se aproximando.

— Eu não deveria vir depois do gelo que você me deu. — Louis é rígido, ele engole quando vê a fisionomia do outro.

Harry prende uma madeixa de cabelo atrás da orelha, havia um tom avermelhado atípico em seus olhos verdes. Sobretudo, parecia amedrontado.

— Obrigado por vir. — Ele cede espaço.

— O que está acontecendo com você? — Louis diz enquanto encara o interior da casa, ele não pretende caminhar até outro cômodo, está disposto a dar meia volta caso Harry insista em não lhe dizer a verdade. — Se você não falar dessa vez, eu vou embora. Eu juro.

O cacheado resguarda as mãos no bolso do moletom, ele toma fôlego para dizer algo importante mas parece perder a coragem. Novamente, há apenas um silêncio incômodo entre os dois. Apesar de não haver palavras, Louis sente como se tivesse obtido uma resposta. Sendo assim, ele faz o prometido e caminha em direção à porta novamente, parando ao tocar na maçaneta.

— Eu não quero jogar isso em cima de você. — A voz de Harry o impede de continuar. — Eu simplesmente não quero.

— Então por que você mandou uma mensagem pedindo para eu vir até aqui?! — Louis esbraveja.

Harry infla as narinas, afundando ainda mais as mãos nos bolsos do moletom ao ponto de fazer o tecido repuxar em seus ombros.

— Quando nós transamos... Usamos preservativo? — A pergunta de Harry causa estranheza. — Isso é uma pergunta séria.

— Eu não me lembro. — Levemente irritado, Louis não responde com delicadeza.

— Ah, qual é. — Harry revira os olhos. — Não foram muitas vezes, dá para contar em uma mão.

O castanho suspira, pisca confuso enquanto navega por seus pensamentos.

— Eu não sei... Eu acho que naquela vez na festa e no meu carro. — Ele desliza a palma da mão pela testa.

— Não em todas? — A voz de Harry sai em um fio.

Louis concorda.
— Por que está perguntando isso?

— Eu acho que estou grávido. — O cacheado evita contato visual enquanto fala, preferindo olhar para qualquer canto ao invés dos olhos expressivos de Louis. Ainda sim, ele sabe que no momento o castanho tem olhos arregalados e um olhar desespero. — Quero dizer, estou com todos os sintomas.

Louis tentou dizer algo mas toda sua face paralisou, os lábios entreabertos buscam por palavras, que no momento parecem ter evaporado de seu vocabulário. Ele desliza a língua entre os lábios para umedecer a pele seca, pigarreiando antes de finalmente dizer algo.

— Tudo bem, sem pânico. A minha mãe, quando estava grávida das gêmeas, ela tinha muitos sintomas... — Louis gesticula a cada palavra dita. — Como enjoo todas as manhãs, muito cansaço e sono... Ela sempre dormia em qualquer lugar, parecia acabada. Também engordou muito rápido, mas eram gêmeos então eu não sei como deve funcionar em uma gestação normal.

— Ela tinha dores no pé da barriga? É uma dor bem forte. — Harry aponta para o local onde dói constantemente.

— Isso são cólicas. — Louis espreme os lábios. — Sim, ela tinha muitas.

Harry rescosta contra a parede, deixando a cabeça tombar para atrás.

— Gabaritado. — Ele diz sem forças.

— Ainda pode ser qualquer outra coisa. — Em uma tentativa falha, o mais velho tenta dar esperanças ao parceiro.

Harry não gosta do que ouve, ele revira os olhos antes de tirar a mão dos bolsos, revelando um teste de gravidez.

— Foi por isso que eu te chamei... Não consegui fazer sozinho, é como se as minhas pernas ficassem dormentes toda vez que eu olho para isso.

— Acho que fazer o teste é melhor do que sofrer por antecipação. — O castanho balança os ombros, tomando a embalagem em mãos para analisá-la devidamente.

Louis conseguiu manter um semblante calmo mesmo quando o teste revelou o positivo, o ar faltou sair dos pulmões de Harry e ainda sim, o castanho não fez nada além de tentar acalmar o namorado. Após trinta minutos evitando uma crise severa de ansiedade, eles finalmente trocam mais do que duas palavras.

— Talvez esteja errado. — A voz de Louis soa tão calma ao ponto de acalentar levemnte o coração de Harry.

— Não podemos nos assegurar. — Harry bufa. — Vou ter que fazer um exame de sangue.

— Harry. — O cacheado está entretido em olhar para a linha dupla estampada no teste, o chamado quase passou despercebido. — Somos menores de idade... Vai precisar estar acompanhando de um responsável.

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— Inacreditável. — O berros de Anne ecoam pelos corredores da casa. A mulher está há pelo menos meia hora exasperada, dando uma longa bronca no casal de adolescentes sentados à sua frente. Ao lado, Johanna assistia as emoções da amiga serem transbordadas em gritos. No geral, Anne é uma mulher calma, sempre sorri pelos arredores e quase nunca é incomodada por algo. No entanto, essa situação é deveras delicada, seu nervosismo é compreensível para Johanna, ela entende o despero da amiga por também estar no meio da encruzilhada. Anne continua a exasperar enquanto caminha pela cozinha — Vocês dois são tão inteligentes! Como puderam cometer essa erro?!

— Harry, sua mãe está certa. — Jay acalenta a amiga com um aperto nos ombros, assumindo a bronca após ver Anna desolada. — Não há desculpa para isso além de pura irresponsabilidade, estou muito decepcionada.

— Desculpe. — Harry sibila em um tom quase inaudível, mantinha cabeça baixa, incapaz de encarar as mulheres nos olhos.

— Você já está caminhando para o terceiro mês... — Anna caminha no curto espaço da sala de jantar, ela prende o cabelo com os dedos, apertando as juntas para descontar a frustração. — Falta tão pouco para terminar o ensino médio... E a sua faculdade? Oh meu Deus.

Sentado a beira da mesa, Desmond observa em silêncio. Louis alcança seus olhares julgadores vez ou outra, pode ver nitidamente o mais velho analisando, é como ver as engrenagens de um relógio. O jovem sabe que logo ele irá dizer algo e romper o silêncio, também entende que parte de sua raiva será focada exclusivamente nele. Afinal, Louis é um alvo fácil para Desmond.

— O que faremos?!

— Nós? Nada! Já criamos nossos filhos, eles que lidarão com essa responsabilidade. — Apesar de manter o semblante calmo, Johanna poderia ser ainda mais severa do que Anna. Jay sempre fora justa e equilibrada, é o alicerce de muitas pessoas de seu convívio, inclusive seu filho mais velho. Há um grande peso nos ombros de Louis quando ele sente o olhar afiado da mãe, ele sabe que fez algo irreversível para a relação de ambos. No entanto, a questão não é mais sobre confiança.

— Não pretendemos criar... — A voz fraca de Harry sobressai entre as lamúrias das mulheres mais velhas, ele expõe o que havia conversado com Louis de antemão. — Como não há como interromper, pensamos em dar o bebê para a adoção.

AVISO:
Neste trecho em diante, quero esclarecer que não houve nenhuma intenção de minha parte em banalizar a adoção ou inferiorizar esse gesto lindo, espero que interpretem da maneira certa.

— Dar não é a palavra adequada. — Louis completa.

— Que ótima ideia! — Anne ironiza, a amiga lhe lança um olhar confuso após a alta exclamação. — Sabe, Harry... Quando você tinha doze anos, nós encontramos um cachorro perdido e eu deixei você trazê-lo para a casa, apenas até acharmos o dono. Ele ficou conosco durante duas semanas, até o devido dono vir buscar. Você não queria devolvê-lo de jeito nenhum! Lembro-me que você segurava ele contra o peito e não deixava ninguém chegar perto... Quando o cachorro foi embora, você ficou depressivo por dias, não comeu, não tomou banho e permaneceu chorando pelos cantos durante o resto do mês. Um cachorro, que ficou com você durante duas semanas. Agora, imagine um bebê? Um bebê que ficará com você pela metade do ano, no seu corpo!Que dependerá de você para viver.

— São situações diferentes! — Incapaz de controlar os emoções que foram atacadas pelas palavras frias da mãe, Harry expressa sua revolta em gritos. — Eu sei a responsabilidade e o risco que carrego e estou disposto a assumir isso. Eu não tenho mais doze anos!

— Vejo que sim! — Como outra criança, Anne rebate a fala do filho.

— Garotos, adoção é um processo muito delicado. — Johanna lamúria.

— Não vejo porquê não darmos continuidade na ideia de Harry. — Desmond finalmente manifesta algo além de seu rígido olhar sobre Louis. Com sua postura de advogado, ele folga a gravata de seu pescoço e passa a caminhar até onde as demais pessoas estão. Passos lentos, porém amedrontadores. — A idéia de criarem esse filho, é insustentável. Daremos início ao processo de adoção. Tenho alguns contatos, conheço alguém que realiza processos como esse de forma mais aberta e delicada. Como essa pessoa me deve alguns favores, pedirei para que ela nos traga perfis de famílias apropriado para o bebê, as quais vocês poderão escolher eventualmente... É claro, tudo tem seu preço. Me encarregarei com a metade dos custos, pagarei a parte de Harry. Vejamos... Louis, aonde está o seu pai?

O menino pigarreia antes de responder, assumindo um olhar determinado.

— Eu não tenho. — Desmond arqueia as sobrancelhas de forma zombateira assim que obtém sua resposta. — Quero dizer, há o meu padrasto e ele é um grande homem, mas não merece cuidar das merdas que eu faço.

— O meu filho realmente se esforçou em piorar a situação. — Des cantarola, obviamente ironizando. Há  muita raiva escondida por seu sarcasmo, Harry sabe disso. — Que seja, ao final da gestação você terá que me pagar a sua parte. Se prepare, é caro.

— Não vejo porquê esperar até final. — Louis balança os ombros, seu tom é desafiador. — Eu trabalho meio período e também tenho os fundos da faculdade, vou te pagar todo mês.

Desmond assente com seriedade.
— Olhe, rapaz... Se você sumir ou não cumprir com o combinado, vou dar um jeito de acabar com você. E lamento dizer isso com sua mãe presente, mas você me deixou em uma saia justa, hum?! Lembre-se que não volto atrás com a minha palavra.

— E o meu filho também não. — Johanna cruza os braços.

— Certo. Faremos dessa forma. — Desmond gesticula. — Fiquem tranquilas, eu cuidarei da papelada e burocracia, vocês podem acompanhar o processo de forma mais acomodada... Quanto aos dois amantes, sugiro que fiquem distante nesse período. Utilizem dos próximos meses para pensarem sobre o futuro e a relação de vocês, se realmente há algo fora os hormônios adolescentes. É melhor que façam isso separados, entendem?

— Eu quero participar. Digo, de todo o processo de adoção. — Louis interrompe o mais velho, seu quiexo permanece levantado para acentuar cada palavra com propósito.

— E você vai! Junto com sua mãe, é claro! Apenas estou dizendo para ficar longe de Harry. — O mais velho deposita a mão no ombro de Harry, apertando gentilmente, o afeto faz o cacheado sorri minimamente.

— Obrigada pela ajuda, Desmond. — Ao lado do filho, Jay agradece.

— Sim. — Anne completa. — Não saberia o que fazer sem você aqui.

— Tudo bem, senhoras. É esse o trabalho de um pai. — A fala carregada de egocentrismo serve como um ataque para Louis. Mesmo que queira reivindicar e impor respeito, o castanho entende sua posição e prefere ficar calado, descontando sua raiva ao apertar os dedos com o punho fechado. — Agora, irei para a minha reunião. Espero que os garotos tenham entendido o que foi conversado.

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Como já dito em um antigo ditado, manda quem pode. Dessa forma, Harry obedeceu o pai e ficou semanas afastado de Louis. Até mesmo na escola, o pouco tempo que tinham juntos tornou-se apenas uma resquício de interação, sem sequer haver uma mera troca olhares nos intervalos das aulas. Louis respeita a decisão de Harry, ele preferiu ficar afastado, que assim seja. Os moletons folgados do cacheado esconde qualquer protuberância em sua barriga, a gravidez está sendo passada despercebido, apenas os amigos mais próximos e professores estão cientes do que aconteceu. A chegada da formatura trouxe consigo muitas inseguranças, o smoking que Harry havia alugado já não lhe servia mais, seu corpo está inchado por completo e a elevação no pé de sua barriga é evidente em roupas apertadas.

Louis foi surpreendido pela ligação de Harry, tendo que lhe acalmar em meio a um crise de choro. No fim, ambos trocaram as roupas, o colete preto previamente escolhido para Louis, caiu como uma luva no corpo de Harry, disfarçando a pequena barriga de gravidez que insistia em aparecer. No final, ambos acabaram indo ao baile juntos como havia planejado meses atrás. A noite da formatura foi, de fato, repleta de surpresas. As bebidas servidas na festa foram batizadas com álcool por alunos, sendo assim todo ponche que Harry bebeu foi o suficiente para deixá-lo bebado. O resultado foi de se esperar, ele passou mal além do normal, a gravidez pode ter piorado sua reação ao álcool. Ainda sim, Louis gostou do momento em que foi abraçado pelo garoto e ouviu uma breve confissão de amor vindo do mesmo.

— Eu te amo... — O corpo de Harry tomba para frente. — Sinto a sua falta, todos os dias.

Louis apenas sorri, passando um braço de Harry por seus ombros.

— Eu também amo você, mas preste atenção no chão, okay? Você não pode cair.

— O meu pai disse... — Ele tropeça nos próprios pés, fazendo os cachos saltarem para a frente. — Ele está ajudando, então eu tenho que fazer o que ele pediu.

— Eu sei. — Louis diz em timbre fraco, sem forças para adentrar no assunto novamente e ter que lembrar da feição severa de Desmond. Ele franze o cenho, concluindo que Harry sequer lembraria da conversa no outro dia. — Foda-se o seu pai, ele é um cuzão.

A expressão de Anne ao deparar com o filho pendurado nos ombros de Louis é aflita, alguns minutos foram necessários até ele explicar que Harry não sabia do álcool das bebidas. Antes de que o rapaz fosse embora, a mulher o agradeceu por ter ajudado o filho tantas vezes em uma única noite. No dia seguinte, Louis mandou uma mensagem para Harry, apenas para checar como o garoto está após ter passado uma noite conturbada. O menino reclamou da ressaca e agradeceu por ter lhe deixado na porta de casa, nada foi dito sobre a declaração e o pedido de desculpas feitas por Harry.

Após a formatura e término das aulas, o contato entre ambos foi reduzido para zero. Louis nem ao menos teve tempo em se preocupar com as semanas passando, trabalhar em dois lugares diferentes tem exigido muito do rapaz. Ele honrou o compromisso com Desmond, todos os papéis que chegam em sua casa mostram um valor alto demais. Fora o gasto com o novo carro, afinal foi uma necessidade ter um meio de transporte. Sendo assim, não há tempo para lamentar, Louis aceitou a decisão de Harry. Como suas mães são próximas, vez ou outra Johanna repassa as informações que conseguiu sobre a gravidez de Harry. Não há muito o que dizer, mesmo que Anne não esconda nenhum detalhe da amiga.

Foi um surpresa entanto quando chegou uma mensagem de Harry perguntando se Louis poderia lhe acompanhar em um consulta, Anne era quem acompanhava o filho até então. Como se o destino conspirasse ao favor de Louis, é o seu dia de folga e ele não liga em desperdiçar seu tempo livre se estiver ao lado de Harry. Como prometido, o cacheado tocou a campainha de Louis assim que o relógio marcou as três da tarde.

— Olá. — Ele diz de forma desengonçada, ajustando a mochila pesada em seu ombro.

— Deixe-me ajudar. — Louis pega a bolsa com uma mão enquanto procura pelas chaves do carro com a outra.

— A minha mãe teve uma emergência no trabalho. — Harry explica enquanto encara o teto rústico da casa, ele permanece parado ao lado do batente da porta. — Eu não quis perder a consulta, então resolvi ligar para você.

— Boa escolha. — Assim que consegue localizar as chaves, ambos caminham até o carro estacionado em frente à casa de Louis.

— Desculpe por fazer você perder o seu dia de folga.

Louis repara em como o clima está chuvoso fora de casa, ele franze brevemente o cenho.

— Não havia muito para eu fazer, de qualquer forma.

Ele checa brevemente a fisionomia de Harry, mesmo que tenha passado semanas, seu corpo ainda parecia o mesmo. Isso é, vestindo o moletom amarelo que é grande demais para seu corpo esguio.

— Que tipo de consulta é? — Louis pergunta casualmente enquanto dá partido no carro.

— Rotina.

O cheiro do perfume de Harry exala pelo espaço fechado do carro, muitas lembranças são despertadas apenas ao sentir o aroma típico do rapaz. Louis morde o interior da bochecha, há muito o que conversar. Ainda sim, ele se contenta em permanecer calado... Afinal, Harry escolheu se afastar. Não há porquê invadir seu espaço com perguntas excessivas e conversa paralelas, no caminho até o consultório não houve nenhum outro barulho além dos ruídos da estação de rádio.

Enquanto Harry entrega a papelada no balcão, Louis rodopia nos próprios pés para observar a aparência sofisticada do lugar. Ao contrário do que pensou, não havia barrigas de grávidas na sala de espera e decoração infatil nas paredes. O lugar é silencioso e vazio, somente o barulho de seu tênis deslizando contra o piso laminado ecoa pelo prédio.

— Vocês podem aguardar na sala de ultrassom. — A recepcionista diz gentilmente.

Mesmo que a moça tenha um sorriso encantador e olhar fixo em Louis, não fora nenhum de seus atributos que fez os olhos do rapaz saltarem.

— Ultrassom?

Harry assente, apertando o braço de Louis para guia-lo pelos corredores.

— Você me disse que era apenas uma consulta de rotina. — O castanho exaspera, sussurrando para conter a voz supreendida.

— Sim, é uma ultrassom de rotina. — Os passos do cacheado são ágeis, quase fazem Louis tropeçar.

— E eu tenho que acompanhar você?

Harry para em frente à porta, ele não entende a pergunta de imediato.

— Bom... Se quiser, sim. Quero dizer, eu apenas pedi uma carona.

Louis franze as sobrancelhas, seu olhar checa o ambiente mais uma vez.
— Tudo bem.

Ambos adentram a sala vazia, Louis pega em mãos uma pequena réplica para ocupar os dedos, ele não sabe que ossos são na escultura, presume ser a estrutura pélvica ou algo assim. O aparelho de ultrassonografia o assusta, é grande e seu porte faz parecer que será barulhento, ele esparava por uma pequena televisão.

— Quantas dessas você já fez? — Entretido na escultura, ele pergunta.

— Hum. — O cacheado pondera. — Essa é segunda, na verdade... Deveria ter feito antes, mas fui adiando. Levei uma bronca de obstetra, por isso não poderia perder essa consulta.

— Eu nunca acompanhei minha mãe em uma ultrassom. — Louis torce os lábios, os olhos fixos na peça em suas mãos. — Como é?

— Nada. — A frase é seguida pela risada escandalosa de Harry. — Você não vê nada além de um borrão e os barulhos do coração.

— Vamos ver o bebê? — Os olhos de Louis voltam a encarar a figura de Harry, dessa vez não há o moletom grande. Ele é surpreendido pela barriga proeminente marcando contra a camisa do rapaz, uma devida barriga de gravidez. — Sua barriga está grande! Acho que veremos algo a mais do que um borrão.

Harry sorri, pulando na cadeira para esperar pela médica. Ele já levanta a camisa de antemão, revelando a pele alva e esticada da região. Louis engole seco, pensando em tudo que havia mudado nas últimas semanas. Ele também senta em uma das cadeiras, aproximando ainda mais do corpo de Harryz

— De quanto tempo você está mesmo?

Louis assiste as sobrancelhas do outro franzir de forma pensativa.
— Vinte e cinco semanas, eu acho.

O que já é muito tempo. Antes que Louis pudesse dizer algo, a porta é aberta bruscamente, revelando a figura jovial de médica de Harry. Ela sorri gentilmente para ambos, iniciando a consulta com uma série de perguntas.

— Achei que não fosse mais ver você. — Como esperado, Harry leva uma bronca pela ausência. — Onde está a sua mãe?

— Esse é o Louis, ele é quem veio hoje. — Ele não responde a pergunta devidamente. — É o pai do bebê.

— Então vamos ver como está o filhote de vocês.

O sobressalto do corpo de Harry mostra o quanto estava aguardando por esse momento, os olhos verdes brilham para a tela do aparelho. Louis observa calado, os braços estão apoiados nos joelhos que tremem em nervosismo.

— Essa será a primeira ultrassom do segundo trimeste e você já está caminhando para o terceiro. Não pode adiar tanto, Harry.

— Eu sei. — Ele sibila baixo.

A médica é cuidadosa além do esperado, o exame durou alguns minutos a mais em razão dela ter feito questão de explicar cada detalhe da ultrassom, o cuidado se deu por conta da jovialidade e inexperiência do casal. Os olhos brilhantes de Louis revelou muita curiosidade, ele não conteve as perguntas depois de ouvir o batimento do coração do bebê.

— É normal ser rápido assim?

Assim como Harry, que mantêm os olhos arregalados e atentos para não perder nenhuma informação.

— Vocês querem saber o sexo? Desculpem a empolgação, geralmente os pais já sabem o sexo do bebê antes de entrarem no vigésima semana... — A médica aponta para o monitor, contendo a animação assim que percebe ter esquecido de perguntar algo.

— Já da para ver? — Harry encara a tela pequena com os olhos semicerrado, esperançoso em ver algo além dos borrões.

A mulher sorri.
— É bem nítido.

Louis concorda, embora leve uma mão na sobrancelha.
— Na verdade, eu não vejo nada.

— É claro que não. — A profissional deixa escapar uma risada. — É um menino.

Harry sente a respiração congelar, como se o tempo tivesse parado em conjunto com o término da frase. Louis deixa sua empolgação transparecer, dando dois toques leves no antebraço de Harry, o mesmo ignorou o contato por ter ficado paralisado assim que ouviu a informação. Ele morde os lábios, há muita curiosadade instalada em seu interior, saber mais sobre o bebê agora é uma necessidade. Assim que a médica desligou o monitor houve uma série de perguntas feitas por Harry, infelizmente para a mulher não havia mais tempo para detalhar outras informações aos rapazes.

— Olhem. — Ela o interrompe, a grosseria em sua voz se dá por conta da pressa. — Não temos mais tempo, mas caso queiram... Podemos marcar outro ultrassom, um mais detalhado, onde poderão ver mais do bebê. É uma tecnologia avançada, mostrará até o rosto do bebê ou o que conseguirmos pegar dele. No entanto, o preço será aparte, o convênio não cobre o ultrassom em quatro dimensões.

Um suspiro frustrado escapa dos lábios de Harry, atento como esteve desde que entrou no consultório, Louis pegou isso. Assim como observou o interesse no semblante de Harry no decorrer da ultrassom, também prestou atenção nos mínimos sorrisos que o rapaz deu enquanto encarava o monitor.

— Eu posso pagar, sem problemas. — Ele balança os ombros de Harry. — Para quando poderemos marcar?

— Fico feliz que estejam interessados, irei preparar um encaminhamento e o valor virá acrescentado no plano. — A médica prepara um amontoado de papéis que são entregues nas mãos de Harry. — Entreguem na recepção e escolham uma data nas próximas duas semanas.

— Duas semanas? — O cacheado pergunta enquanto encara o verso do papel.

— É o tempo indicado para o procedimento. — Eles são acompanhados até a porta. — Cuidem bem do rapazinho, checarei isso na próxima ultrassom.

O clima quente e os raios de sol surpreendeu Louis assim que saiu da clínica, antes estava um clima apático de chuva. O calor fez Harry deixar o moletom jogado no banco traseiro do carro, ele comenta sobre a barriga ainda estar pegajosa do gel, fazendo o tecido da camiseta grudar em sua pele. Em razão de ter passado o caminha entretido no celular, ele não percebeu que Louis faz um caminho distinto do que seria o caminho do bairro onde ambos moram.

— Ei. — Assim que notou o ambiente diferente, Harry cutucou o braço do outro.

— Estou com fome, quero passar para pegar algumas rosquinhas. — O castanho desliza as mãos pelo volante, manobrando para adentrar no estreito espaço. — Você vai querer as tradicionais?

Harry revira os olhos.
— A minha barriga não é o suficiente para te lembrar que eu estou grávido? Não posso comer esse tipo de coisa.

— E Por que não? — Louis franze as sobrancelhas, essa foi a frase mais correta que Harry havia dito em anos.

— Eu tenho que seguir a dieta da nutricionista, Louis! — Harry arregala os olhos, suas palavras são ditas como se fosse o óbvio. — Estou gerando uma vida! Que tipo de criança o nosso filho vai ser se eu comer apenas alimentos que são banhados em óleo?!

— É uma vez ou outra, Harry! — O tom óbvio é imitado por Louis.

— Certo. — Para a surpresa do outro, o cacheado não insistiu novamente. Harry não costuma ceder fácil, sua vontade foi desperta pelo simples cheiro de açúcar que a loja exala.

O drive-thru é cheio, há uma fila de carros em frente a Louis, ele guincha ironizando sobre o lugar estar sempre cheio quando resolve pedir algo. O tempo é usado para escolher um sabor dentre os vários apresentados no cartaz ao lado da caixa de pedidos, ele está totalmente concentrado nas cobertas disponíveis quando sente um solavanco nos ombros.

— Pergunte sobre essa opção de dois sabores. — Harry ordena.

— Hum, aqui diz que você pode incluir dois sabores em uma única rosquinha. — Não é preciso perguntar.

— Entendi. — O cacheado morde os lábios pensativos.

— Está pensando em chocolate e baunilha?

— Sim. — Harry responde instantaneamente. — Só que ao invés do chocolate, quero algo mais parecido com queijo.

Louis volta sua total atenção para o rapaz, pensando se havia ouvido certo.

— Queijo e baunilha? — O menino concorda. — Você tem certeza? Isso parece horrível, quero dizer... Eu não sei se queijo é um sabor.

— Tem que ser! Eu quero muito uma rosquinha assim, tipo imediatamente. — Os olhos verdes assumem uma coloração mais densa conforme são arregalados. — Peça duas para mim.

Louis criou uma fila maior ainda com o tempo que gastou explicando para a atendente, após investir toda sua perseverança nisso, ele finalmente conseguiu deixar o lugar acompanhado de uma caixinha de rosquinhas. O carro é estacionado no primeiro terreno vazio encontrado por Louis, ele não perde tempo em abrir a caixa e começar a comer. Sendo mais delicado, Harry morde suas rosquinhas com muito apreço, sua satisfação faz parecer que a combinação atípica possui um sabor satisfatório, no entanto apenas o cheiro evidência o contrário.

— Então, por que demorou tanto para fazer a ultrassom? — Louis termina de comer, ele diz enquanto suga o refrigerante pelo canudo.

Harry mastiga lentamente, ele prende uma mecha do cabelo atrás da orelha para tornar o trabalho mais limpo.

— Eu não queria que a minha mãe fosse, então fui adiando até conseguir em um dia impossível para ela. — Demora alguns segundos até ele responder. — Isso parece horrível, eu sei... Mas você precisa ver, ela responde todas as perguntas por mim! A médica pergunta se eu tive enjoos recentes e ela nega, quando eu vomitei durante toda a semana! Na primeira ultrassom, era como se eu não estivesse ali. Todas as informações do bebê, pareciam ser ditas diretamente para a minha mãe, como seu o bebê estivesse dentro dela. Eu juro, é exatamente como se eu tivesse doze anos e fosse com ela no médico porquê prendi o pau no ziper ou algo assim.

Louis deixa escapar um riso verdadeiramente genuíno, o som faz Harry sorrir também.

— Eu achei que me quisesse na consulta. — O timbre da voz de Louis é ferido, quase inaudível.

— E eu quis. — Harry franze as sobrancelhas de forma empática. — Semana passada, eu liguei para a sua mãe e perguntei quando seria seu dia de descanso, para coincidir as datas. Quero dizer, eu poderia ter ido até lá de onibus, você sabe. Além do mais, você também merece fazer parte disso. Mesmo que seja apenas por um momento.

— Você fez o certo.

— Espero que sim, ela vai me matar quando chegar em casa. — Alguns segundos passaram desde a última mordida de Harry na rosquinha, ele encara enojado para o doce em sua mão. — Isso está começando a parecer nojento.

— Decidiu isso após comer duas dessas? — Louis dá partida no carro. — Sabe... Quando a minha mãe estava grávida, ela comia picles de café da manhã, era apenas um garfo e o pote de picles em conserva. Ela sempre tinha vontades assim, uma vez me fez ir buscar um sushi com caramelo, lembro-me que estava chovendo e o meu padrasto não estava por perto, então tive que ir de bicicleta até o único lugar que aceitou fazer o prato. Nunca tinha visto minha mãe tão contente com uma simples comida, ela chegou a comer mas logo vomitou tudo. Foi engraçado, foram instantes até ela correr em direção ao banheiro.

Ele divaga sobre a época em que Johanna estava grávida das gêmeas, relembrando de cada momento com carinho e apreço. Ao terminar a frase, um riso nostálgico escapou dos lábios de Louis, este caiu em um silêncio repentino. Assim que não notou nenhum comentário vindo de Harry, ele o checa com o cantos dos olhos, percebendo que o garoto está estático encarando o painel do carro.

— Está tudo bem? — O cacheado responde com um aceno silencioso, seu pomo de adão sobe e desce rapidamente. — Você quer vomitar, não é?

Harry concorda exasperado, fazendo o companheiro estacionar na primeira viela que encontraram. Assim que volta para o carro, ele rouba o refrigerante de Louis, tentando tirar o gosto amargo da boca.

— Isso já é normal para mim, é difícil quando para alguma coisa no meu estômago.

Louis volta a dirigir.
— Bom, faz tempo que não nos vemos. Eu não sabia disso.

— Pois é, eu estou grávido! Imaginei que já soubesse da minha gravidez precoce, desculpe. — O cacheado ironiza, já não há mais paciência para as alfinetadas de Louis.

— Eu só estou dizendo... Você ficou distante. Quero dizer, eu sei que se não fosse pelo o que seu pai disse...

— O meu pai está ajudando, nos ajudando. Obedecer ele, é o mínimo que poderia fazer.

— Quando você fica longe de mim, faz parecer que sou uma má influência! Deixando o seu pai ter uma falsa razão. — Para Louis, esse é o ponto. Desmond achar que ele não é uma boa companhia, nada além de apenas um garoto perdido sem perspectiva de futuro, é aceitável. Eles nunca tiveram uma conversa decente, o primeiro contato de fato, foi no momento em que anunciaram a gravidez, não há como passar uma boa primeira impressão dessa forma. No entanto, Harry o conhece. É capaz de negar todas as presunções que o pai tem de Louis, mas não o fez. Apenas aceitou calado todas as imposições feitas por Desmond, quando todas são baseadas em uma falsa concepção. — É o que mais me incomoda.

— Eu não preciso que me diga isso, eu sei da sua essência, amor. — O olhar de Harry é empático, ele diz suavamente enquanto acaricia levemente o braço de Louis. — O meu pai é muito egocêntrico para enxergar a verdade, já conversamos muito sobre você. Ele me pediu um favor, então estou cumprindo.

— Você não entende. — Louis nega descrente, a raiva o faz firmar o pé no acelerador, andando mais rápido do que o comum.

— Pense o que quiser, não vou discutir com você... Isso deixa o bebê agitado. — A forma causal em que Harry finaliza a frase, faz
Louis lhe dar um olhar espantado.

— Você já consegue sentir?!

— O quê? — Harry é desatento a esse ponto. — Oh, algumas vezes. Quero dizer, é difícil distinguir se é ele ou algo da minha barriga simplesmente. Nos últimos dias ficou mais forte, acho que é o nosso bebê. Como por exemplo agora, ele já mexeu duas vezes enquanto você estava reclamando.

Louis observa um sorriso abrir nos lábios do rapaz enquanto ele divaga sobre a sensação do bebê mexendo, Harry alisa a barriga enquanto tenta descrever o que sente e quais foram os momentos ao longo do dia.

— É como ter borboletas na barriga.

— Isso é paixão, é como você fica quando está comigo. — Louis não perde a brincadeira. No entanto, ao mesmo tempo em que ele quer deixar o assunto morrer por não ter nada a acrescentar, uma ligeira curiosidade o faz querer ouvir mais sobre os momentos de Harry com o bebê. — Como você se sente? Quero dizer, está gerando vida, há uma pessoa dentro da sua barriga.

— Eu não sei. — O cacheado deixa o olhar cair sobre o próprio ventre, acariciando o local com o deslizar das pontas de seus dedos. — Todo dia é algo novo, nunca sei o que sinto pois todos os dias eu mudo de opinião. Como, ontém tudo estava me incomodando, até a forma em que eu sentia o bebê dentro de mim... Hoje eu estou gostando, fiquei feliz em descobrir que é um menino. Você sabe, apenas os homens podem entender o que de fato sentem. Nós nos daríamos bem, nós três. A verdade é que eu não me permito pensar muito, apenas vou levando os dias e pretendo seguir assim até ele nascer.

— É difícil não pensar em nada...Você é focado, vai conseguir. — A fala de Harry passa a pesar gradativamente na mente de Louis durante o resto do tempo em que passam juntos, eles permanecem em silêncio até chegarem na vizinhança onde moram, o castanho sequer nota quando estão próximos de casa, em sua mente há somente o que lhe foi dito alguns minutos atrás.

— Que bom! Não vejo a hora de tomar banho e tirar todo esse gel da minha barriga. — A voz de Harry interrompe os devaneios de Louis.

Ele estaciona o carro em frente a casa do menor, demorando para destravar as portas. Louis não sabe ao certo o que dizer, mas entende que não pode terminar dessa forma o dia em que passaram ao lado um do outro.

— Você pode contar comigo, Harry. Deve me chamar ou pedir algo sem hesitar, mesmo que eu esteja trabalhando. — Ele desliza a língua entre os lábios. — Caso sirva de consolo, eu gostei de estar contigo, foi um bom dia... E realmente quero estar ao seu lado, principalmente nessa fase. Quero saber sobre seus enjoos e vontades, te ajudar caso precise e sentir o nosso bebê mexer quando for a hora, eu quero estar presente! O seu pai não sabe de nada, por favor... Não me deixe de fora por causa dele.

Harry pisca atônito para as palavras ditas com tanta solenidade, as orbes verdes foram tomadas por sua pupila dilatada, ele não soube organizar palavras para responder à altura. Sendo assim, apenas balança a cabeça positivamente de forma exasperada, buscando cegamente pela maçaneta da porta. Antes que o menor fosse embora, Louis consegue prender uma de suas madeixas onduladas atrás da orelha, lançando um piscadela logo em seguida.

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O dia em que foi marcado a ultrassom chegou mais rápido do que o esperado, por pura coincidência, a mãe de Harry está jantando na casa de Johanna quando os garotos chegam da clínica, não é uma surpresa quando eles se deparam com Anne dividindo uma garrafa de vinho com a amiga. Harry adentra acanhado na casa dos Tomlinson, segurando a alça da mochila com força para disfarçar o constrangimento, ele havia dito para a mãe que passaria a tarde com Louis, mas em nenhum momento mencionou a ultrassom que fizeram no dia. A mulher beija as bochechas do filho, perguntando onde passaram toda a tarde, nenhum dos garotos respondem devidamente, preferindo desvencilhar da pergunta do que mentir.

Uma tábua de queijos picadas está servida na mesa de jantar, ao sentir o cheiro típico de queijo, Harry imediatamente enruga o nariz, demonstrando o quão enojado está apenas com uma feição de repulsa. A careta do rapaz desperta o riso das mulheres mais velhas, Johanna afasta a tábua do rapaz.

— Desculpe, querido. Me esqueci que temos aqui alguém com olfato de gravidez.

— O que faremos com esses enjoos? — Anne beija as bochechas do filho novamente, com a proximidade dos lábios da mulher, Harry pode sentir o cheiro de vinho em seu hálito, presumindo que a mãe havia bebido além do tolerável.

— Eu passei mal durante toda a minha gravidez das gêmeas... Só parou quando elas nasceram. — Jay comenta enquanto beberica o vinho.

— Por isso odeio gravidez, você fica doente... Durante meses! É tão exuastivo. — Anne completa.

— Besteira. — Johanna diz enquanto entrelaça os braços com Louis, o rapaz está parado ao lado da mãe desde que chegou. — Essa é a fase mais tranquila! Quando nascem é o problema.

Anne arregala os olhos, parecia indignada como que havia escutado da amiga.
— Eu amo bebês! Poderia cuidar de muitos bebês, mas jamais engravidaria novamente.

— Recém-nascidos apenas choram e dormem, Anne! É um tormento — Elas iniciam uma conversa atípica, a qual se ambas estivessem sóbrias, não aconteceria se forma alguma. Ainda mais quando os filhos estão prestes a ter um bebê.

Harry decide ignorar o que é dito, sabendo que não passa de bobeira. No outro canto da cozinha, Louis observa a feição do rapaz. Apática, porém vazia. O cacheado perde segundos olhando fixamente para o nada, ignorando toda interação que acontece ao redor. Louis imagina o que passa em sua mente, relembrando sobre o que fizeram mais cedo. Ele demonstrou estar realmente feliz ao ver o bebê, mas seu olhar caiu em tristeza minutos depois. Deixando o companheiro confuso, sem saber o que fazer.

— Não me respondeu. — Anne prende uma madeixa do cabelo de Harry atrás da orelha do rapaz. — O que fizeram hoje.

Harry encara a feição da mãe por alguns segundos antes de responder.
— Uma ultrassom, fomos ver o bebê.

— Isso é ótimo. — Ele acompanha a mudança de expressa da mulher. — Por que não nos avisou?

— Era apenas eu e o Louis. — Harry balança os ombros, não havia mais paciência.

— Eai, como o bebê está? — Johanna aproxima do rapaz, acariciando seu ombro enquanto pergunta.

— Está bem, pesando quase um quilo. — Harry usa as mãos para mostra o tamanho do bebê, tal como a médica havia feito. — Ele já tem bochechas de bebê e nariz arrebitado, eu não esperava que ele estivesse tão... Desenvolvido? Bonito? Eu não sei, ainda não estou conseguindo assimilar.

— Vocês fizeram uma ultrassom em quatro dimensões? — Jay pergunta. —Nos mostre algum foto!

Harry retira um amontoado de fotos da mochila, deixando-as delicadamente em cima do balcão à sua frente.

— Oh meu Deus! — Anne diz admirada. — Bom, nem eu estava esperando por isso... Olhe como ele já está bonito!

Jay espreita entre o corpo do cacheado para ver as fotos que a amiga segura, sua empolgação é chega ao nível dela golpear com uma acotovelada a cabeça de Harry inúmeras vezes, sem ao menos perceber.

— O Louis também tinha esse nariz! — Ela desenha com a ponta do dedo na fotos, indicando o nariz arrebitado do bebê. — Eles são tão parecidos! Que graça.

— Harry também tinha bochecas como essas. Olhe só, Jay! O bebê já está tão grande... — A morena forma um bico nos lábios, olhando para as imagens com adoração. Ela prende as bochechas do filho entre os dedos, depositando um beijo logo em seguida. — Você tem um bebê muito lindo.

— Ele está chupando o dedo, consegue ver? —
Johanna mostra a foto para o filho. — O dedo está entre os lábios. O perfil dele é muito parecido com o seu, Louis.

Louis sorri, apontando para as imagens.
— Ele estava mexendo os lábios quando fizemos a ultrassom, você deveria ter visto!

— Pois é. — Johanna lança um olhar massacrante em direção ao genro. — Já que não fomos convidas, podemos ao menos ficar com as fotos?

— As fotos já são nossas. — Anne completa, ainda olhando para a duzia de imagens espalhadas no balcão.

Louis pigarreia, chamando a atenção das mulheres mais velhas.

— Não é legal guardar as fotos do filho de outra pessoa, nós decidimos isso.

A mulher encara o filho com uma feição confusa até entender o que de fato ele havia dito, entregando as fotos nas mãos do rapaz após se dar conta.

— Sobre isso. — Ela coça a garganta. — Teremos uma vista com o representante social amanhã, falaremos sobre o processo de adoção.

— Ótimo. — Harry coça o nariz.

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A voz de Anne anuncia a todos presentes que a campainha está tocando, Louis é quem caminha até a porta para atender. Fora marcado um jantar na casa de Anne para receberem o representante da agência de adoção, Johanna trouxe um assado e esperou pacientemente ao lado do filho. Um homem bem vestido segurando uma maleta adentra a sala de jantar, ele afrouxa o colarinho assim que se depara com as duas mulheres mais velhas. Não houve uma conversa extensa, até então conversaram sobre papelada e documentação, antes que fosse preciso assinar algo, sua atenção é voltada para os adolescentes na sala.

— Então, rapazes. — O homem coça garganta, abrindo a maleta que está em cima da mesa para a retirada de certo papéis, o cheiro de couro vindo da mala faz Harry franzir o nariz. — Há uma familia, a qual o perfil se encaixa perfeitamente com o caso em questão... Uma psicóloga afastada da profissão e um médico cirurgião, ambos estão na casa dos quarenta anos, dividem um casamento duradouro e uma vida financeira instável.

— Por qual motivo preferem a adoção? — A pergunta é feita por Louis, ele sente a mãe tensionar o aperto em seu braço.

— O homem é estéril... E cai entre nós, mulheres como essas não comprometem a boa forma, jamais.

— É isso? Essas são as informações que você pode nos dar? O meu pai disse que você lhe deve favores. — A voz de Harry é rígida, não houve nenhuma contestação vindo das mais velhas, ela estão igualmente inseguras. — É hora de pagar a dívida.

— Eu já estou lhe cedendo informações restritas! Não posso falar muito, há um processo de proteção de informações envolvidos. — O representante leva um lenço até a testa, enxugando o suor que acumula nas entradas de seu pouco cabelo. — Entretanto, está certo. Desmond pediu para ser mais aberto... Olhe, o que é o que posso dizer, fui na casa deles semana passado para termos a mesma conversa. É uma casa grande, no bairro classe alta da cidade, eles tem um quintal imenso com uma casa na árvore e um golden retriever como cão. É um bom casal, acredite.

— Você disse que o perfil deles encaixa com o nosso, o que quer dizer? — Louis pergunta novamente.

— O casal procura específicamente por crianças com as características predominantes parecidas com a de vocês, pele e olhos claros.

— Nosso filho vai ser criado por um casal preconceituoso de merda, que reconfortante. —Harry não guarda para si a indignação que a frase lhe causou, extravagando em um riso irônico.

— Não é bem assim! — O homem nega com veemência. — Casais como esses procuram crianças específicas para apresentá-los como seus filhos biológicos, entendem? O homem é alto, atualmente é calvo mas foi loiro durante toda a vida, a mulher possui cabelos cacheados castanhos e traços finos. Ambos tem olhos esverdeados, há uma grande semelhança entre vocês.

— Espere um momento. — Jay diz em forma alarmante, fazendo o representante estremecer. — Você não mostrou nenhuma foto dos meninos, certo? Não preciso lembrar que ambos são menores de idade.

— Perfeitamente, senhora. Como eu disse, há um processo que protege suas informações, isso o que estou dizendo... É puro abuso, em razão da minha amizade com Desmond.

— Sendo assim... — Johanna recua, voltando a entrelaçar os braços com os do filho.

— Agora, peço que leiam as cláusulas do contrato e assim onde está destacado. — Uma caneta antiga é posta entre os dedos de Harry. — Lembrando que este é um contrato provisório, iremos assinar o definitivo com uma semana de antecedência do parto. Inclusive, preciso de uma copia dos resultados e laudos dos últimos exames.

Anne assente, levantando para entregar a pasta que contêm tudo o que foi pedido. Ela espreita o que está escrito no papel, lendo rapidamente linha por linha.
— Por que assinaremos o definitivo tão tarde?

Assim que tem o papel assinado em mãos novamente, o homem fecha a maleta novamente e se põe em pé, prestes a pedir licença para deixar a casa.

— É uma precaução, caso haja desistência de uma das partes. — Ele cumprimenta os adolescentes com um aperto de mãos, sendo acompanhado pelas mulheres até a porta. — Sendo assim, nos veremos em dois meses.

Louis não sabe ao certo quantos minutos demorou para limpar a louça suja, quando acabou havia apenas Anne e Johanna jogando conversa fora, ambas segurando uma taça de vinho em mãos, ao que parece Harry esteve reclamando de cansaço e preferiu subir para o quarto. Como não havia nada mais para fazer, ele foi atrás do rapaz. A porta do quarto está aberto, Louis dá dois toques na madeira para anunciar sua entrada, o cacheado está deitando na cama, segurando uma das fotos em mãos. Em silêncio, o castanho deita ao lado do rapaz, apoiando sua cabeça ao lado da proeminente barriga de Harry.

— O que está fazendo?

— Pensando. — O menor acaricia os cabelos lisos e macios de Louis.

— Não concordamos em dar as fotos? — O tom de Louis é alarmante.

Harry suspira, assentindo lentamente.
— Eu sei... Vou entregá-las quando o bebê nascer.

Louis assiste os olhos do outro brilharem, mesmo na escuridão do quarto, as orbes esverdeadas ainda são destacadas.

— Eu estou feliz, aliviado é a palavra certo. — Harry completa, deixando o silêncio de Louis preecher o ambiente. — Ele vai ser criado por uma coroa que provavelmente faz ioga e um médico, vai ter até mesmo uma casa na árvore! É uma boa vida, deve ser bom crescer com pais ricos. O bebê vai ter coisa que nós não poderíamos dar, mesmo que quisessemos. Esse é o ponto, não há porquê ficar triste.

— Você ouviu só? Você vai se rico! — Louis sussura em tom diverto para a barriga de Harry, arrancando um riso nasalado do mesmo. Após o som da risada cair em silêncio, o mais levanta o tronco para encarar o outro nos olhos. — Mesmo assim, tudo bem estar triste. Pessoas ficam triste quando perdem outras pessoas, quando perdem filhos. Está tudo bem sentir o que sente.

— Olhe... — O cacheado entrega a foto para o outro, circulando desenhos imaginários nela. — Viu como ele irá se parecer com você? Estava pensando nisso. Os olhos dele serão azuis, assim como os seus.

Sua voz é falha, o timbre fica mais estremecido a cada palavra, sobretudo, ele parece indefeso. É um momento delicado, Louis quase se sente culpado por aproveitar da situação para adormecer abraçado com Harry.

-x-

As preces de Louis de fato fora ouvidas, desde então, ele e Harry relembraram os velhos tempos e voltaram a serem próximos um do outro. Ainda não era como um namoro, mas está sendo o suficiente para Louis. Após uma das consultas rotineiras do bebê, o mais velho recebeu uma ligação de Anne, a mulher repetiu várias vezes que eles precisam comprar algumas roupas e fraldas para o bebê usar no hospital. Sendo assim, os adolescentes perderam o resto da tarde tentando adivinhar qual tamanho um recém-nascido veste. Também houve uma surpresa em relação as fraldas, Louis arregalou os olhos ao deparar com o preço de um único pacote. Ao chegarem na casa de Harry, um olhar desgostoso foi dado por Anne para todas as peças pequenas que eles haviam comprado, a mulher teve que explicar pacientemente que alguns bebês nascem grandes e acabam usando tamanhos maiores. Ainda sim, tudo o que compraram foi guardado por Harry.

O mês passou depressa, assim como todo o tempo que dividem juntos. O relógio corre desenfreado quando estão na companhia um do outro, Louis odeia isso. Doncaster está em uma época fria e chuvosa, o castanho pretendia passar o resto de seu dia assistindo novelas com a mãe, mas mudou de ideia quando Harry ligou pedindo-lhe para dormir na casa de Anne. Louis estranhou o pedido, ao que parece o cacheado não está sentindo-se bem e quer outra companhia além da mãe. Sendo assim, ele foi imediatamente para a casa do companheiro. De fato, Harry não tem uma aparência agradável, há fundas olheiras em seu rosto em conjunto com bolsas de cansaços nos olhos, ele não dormiu bem nos últimos dias, reclamou sobre o bebê estar entrando em suas costelas, Louis estremeceu imagindo a situação. O relógio beira as onze da noite quando Harry decide vestir o pijama para deitar, após estar confortável, ele deita na cama e fica longos segundos encarando o teto.

— Louis. — Ele cutuca o corpo do outro.

Louis grunhe irritado, estava prestes a pegar no sono quando sentiu os dedos afiados de Harry.

— Temos que arrumar a bolsa do bebê. — O cacheado completa.

— Amanhã faremos isso, temos um mês pela frente até o bebê chegar.

Harry revira os olhos, levantando da cama fazendo todo o barulho que poderia ser feito, acendendo as luzes do quarto em seguida. O corpo de Louis sobressai quando sente o peso de uma bolsa sendo jogado contra seu corpo, ele semicerra os olhos ao percebe que tratava-se da bolsa que seria usada na maternidade.

— Eu quero fazer isso agora. — O cacheado diz autoritário.

Louis bufa insatisfeito, porém é melhor obedecer. Não há muita coisa para colocar na bolsa, apenas duas trocas de roupas e o pacote de fraldas, assim como foi orietado pela agência de adoção. O castanho encara o outro dobrando delicadamente as roupas minúsculas, soltando um suspiro incomodado.

— É estranho, um bebê chegará em breve e temos apenas isso de roupas e fraldas.

Harry concorda, levando um macacão até o nariz, fungando o perfume da roupa.
— Minha mãe as lavou com um amaciante para roupas de bebês.

Louis não contém o riso, o menino é adorável quando quer.

— É só isso? — Harry assente. — Excelente, podemos dormir agora?

— Vou tentar. — O menor acaricia a barriga, deixando a bolsa de lado para deitar novamente.

Não fora Harry que acordou Louis após um par de horas de sono, os trovões de som ensurdecedor foi o que o acordou. O castanho sente o coração desperar dentro do peito, seu tronco levanta abruptamente do colchão. Assim que percebe ser o barulho da chuva, um alívio invade seu peito. Ele tateia cegamente para encontrar o corpo de Harry no colchão, sentindo a pena a maciez do lencol contra seus dedos. A luz que passa pela fresta da porta chama sua atenção, o som de passos arrastados que caminham dali fazem seu coração acelerar novamente. Logo, a porta abre revelando a figura de Harry.

— Louis. — Ele assusta ao deparar com a fisionomia doente de Harry, havia acumulo de suor na testa do menino, algumas gostas insistentes escorrem por seu pescoço e o seu andar faz parecer que caíra em breve. — Eu estou com muita dor.

Antes que ele terminasse a frase, Louis ja estava de pé prestes para ajudá-lo.

— O que sente? — Louis passa um dos braços do rapaz pelo pescoço, ajudando a carregar o peso de seu corpo.

— Dor. — Ele deixa Harry sentado à beira da cama. — Há um peso enorme nas minhas costas e a minha região abdominal parece estar sendo dilacerada.

O castanho pisca confuso, o sono ainda atrapalha seus neurônios de funcionarem em sua forma perfeita, ele engole seco, levando uma das mãos para enxugar a testa molhada de Harry.

— A dor aumenta a cada minuto. — A camiseta de Louis é puxada de abrupto, fazendo o corpo de menino sobressair, por muito pouco não o fez perder o equilíbrio.

— Tudo bem, tudo bem... — Ele tenta acalmar o outro, no final a frase acaba por soar como um alicerce para em ambos. Afinal, Louis está paralisado, procurando por uma solução enquanto em cara a expressão dolorida no rosto de Harry. — Vou acordar a sua mãe, não saia daqui.

Ele sai correndo pelos corredores da casa, tateando pelas paredes em busca de um interruptor. Anne surge em passos bambos, pressionando as bochechas de Harry entre as mãos para perguntar o que o filho está sentindo. Enquanto o rapaz se queixa choroso da dor que judia de casa osso de seu corpo, ela nota a rigidez na barriga saliente de Harry.

— Precisamos ir para o hospital, agora! — A mudança drástica na postura de Anne espanta ambos os garotos, ela ajuda o filho a levantar, pedindo de forma alarmante pela ajuda de Louis. — Acho que Harry está entrando em trabalho de parto, precisamos ir o mais rápido o possível.

— O bebê só vai nascer no mês que vem! — Harry toma voz em meio aos grunhidos de dor que deixa escapar. — Ainda é muito cedo.

— Eu sei, meu amor. De qualquer forma, é melhor prevenir... Se for o caso e esperarmos de mais, será tarde para fazer a cirurgia. — A voz de Anne é suave, o timbre solene consegue acalmar o filho. No entanto, havia muita preocupação em seu olhar, seu desespero silêncio foi notado por Louis, que já está com a chave do carro em mãos. — Iremos descer a escada, está bem? Só mais um pouco e chegaremos até o carro.

— Pegue a bolsa da maternidade. — Harry pede forma súplicante enquanto segura firma os braços de Louis.

— Depois veremos isso, vamos! — A voz de Anne predomina, seus gritos aceleram ainda mais Louis.

De fato, o coração de Louis nunca bateu tão forte e com tanta veracidade como no momento. Até mesmo quando está na sala de espera do hospital, sendo acariciado no braço pelas mãos acolhedoras de sua mãe, ele ainda sente que irá cuspir o coração pela boca, é quase sufocante sentir a celeridade contra seu peito. Ele também não guarda para si toda a ansiedade que sente no momento, batendo os pés contra o chão de forma incessante, fazendo todo o corpo chacoalhar em razão de ter os braços apoiados em suas coxas. A figura similar de Anne traz um pouco de calmaria, o necessário para respirar em paz. Ela sorri de forma serena, caminhando em direção aos bancos onde o rapaz está.

— Tudo correu bem, Harry será encaminhando para o quarto em breve. — Enquanto Anne fala, Louis levanta de abrupto, ele enxuga as mãos suadas no tecido da calça. — Terei que fazer alguns telefonemas, você pode ficar com ele?

O menor assente de forma exasperada, a mulher deixa em suas mãos um crachá de acompanhante e o número do quarto, os corredores do hospital não pareciam tão longos até o momento em questão. Assim que adentea o qaurto, Louis sorri ao deparar com Harry deitado na cama hospitalar, deixando até mesmo a porta bater por correr ansioso até o rapaz.

— Você está bem? — A pergunta de Louis sai falha pelo sorriso estampado em seus lábios.

— Muito cansado, anestesia. — É tudo o que Harry consegue falar. Ele tinha olhos inchados e brilhosos, nem mesmo a feição cansada consegue deixá-lo feio diante aos olhos de Louis. — Estou voltando a sentir as minhas pernas, é tão estranho...

O castanho sorri, ele entrelaça os dedos nas madeixas onduladas da Harry. Seu olhar cai sobre o ventre do rapaz, tentando assimilar que já não havia mais um bebê ali.

— Eu vi o bebê. — O cacheado diz encantado, sorrindo ao lembrar da cena. — Ele é tão bonito, Louis. É tão pequeno, macio e quente.

— Eu imagino que sim. — Um sorriso igualmente largo cria forma nos lábios de Louis. — Onde ele está?

— A enfermeira o levou para a encubadora, mas ela me disse que ele ficará por poucas horas! Logo ela irá trazê-lo para o quarto. — Harry faz um grande esforço para organizar as palavras e as pronunciar corretamente, suas piscadelas estão cada vez mais lentas. — Eu preciso dormir, Louis. Você me acorda quando ela trouxer o bebê? Quero estar acordado.

— É claro. — Ele deposita um beijo na testa de Harry. — Agora vá descansar, estarei ao seu lado, bem aqui.

O menino assente, caindo no sono logo em seguida.

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A forte luz do hospital causa irritação nos olhos recém abertos de Harry, ele fraze o cenho para o cenário atípico em que acordou, a visão embaçada devido ao sono contribui para que seu coração disparasse assustado. Só recordou estar no hospital quando sentiu uma dor aguda no pé de sua barriga, causada pela cirurgia. Ele grunhe ao mexer na cama, havia vozes familiares ecoando pelo quarto. Sua primeira reação é tocar a barriga volumosa com as mãos, como ele esteve fazendo todos os dias quando acordava durante os últimos meses. Logo, Harry percebe que já não há mais um bebê lá e lhe resta apenas inchaço Finalmente sua consciência acorda por completo, ele passa a enteder o porquê de estar em uma cama de hospital. Os olhos correm para o pequeno berço ao lado da cama, que está vazio. Como se uma mão estivesse apertando sua garganta, ele sente uma súbita falta de ar, a solidão é sufocante. Seu corpo sobressai novamente, sua tentativa de levantar é falha.

— Ele é tão lindo. — A voz de Anne o faz percebe que não está só.

Harry semicerra os olhos para o que vê em sua frente, duas mulheres de costas entretidas com algo. A outra voz que notou ser familiar é o tom angelical de Johanna, ela sorria para o braços de Anne. Os murmúrios finos o faz percebe que sua mãe segura o bebê, ele ganha os sorrisos de Johanna e toda sua adoração, as mulheres estão tão hipnotizadas no recém-nascido que não notam quando Harry desperta. Ele não consegue conter o suspiro angustiado que estava preso em sua garganta, o som acaba por atrair a atenção de Jay, que leva o olhar até a cama. O primeiro instinto da mulher é sorrir, ela acena para Anne.

— Você acordou! — Anne vira o corpo bruscamente para onde o filho está, Harry pode ver meramente o rosto do bebê, a coberta em que ele está aconchegado cobre boa parte de seu corpo. Ele só nota estar sendo abraçado por Anne quando sente outra pontada no local da cirurgia. — Como você está?

— Bem... Eu não sei. — Harry desvencilha dos beijos, seu olhar ronda pelo quarto... Louis está adormecido na poltrona ao lado da cama, seu sono parece desconfortável. O murmúrio infantil atrai novamente a atenção de Harry, ele nem sequer notou quando a mãe passou o bebê para Johanna. — O que estão fazendo aqui?

— Louis está exausto e alguém precisava ficar com o bebê. — Jay diz enquanto sorri para o menino que segura nos braços.

— Era só ter me acordado. — O tom de voz de Harry ganha uma certa seriedade.

— Querido, você precisa descansar. — Anne acaricia os cabelos sedosos do filho, mesmo que a atenção do rapaz esteja focada em Johanna. — Uma cirurgia dessa é muito invasiva.

Ele franze o cenho, ignorando as palavras da mãe. Johanna continua a ninar o bebê, o que aumenta sua irritação. Harry assiste a serenidade com a qual ela segura e nina o bebê, é uma sensação que ele deveria desfrutar. Afinal, o filho é dele.

— Me dê o bebê. — Ele estende os braços.

— É melhor não fazer esforços. — Anne continua a enrolar os dedos entre os cachos do filho. — Pode descansar querido, o bebê está bem! Nós demos um banho nele e o alimentamos.

— Por que não me acordaram? Eu poderia ter feito isso!

A mulher lança um olhar confuso para filho, analisando a feição decepcionada do rapaz. Ela afasta alguns centímetros, cruzando os braços. O silêncio de Anne é capaz de expressar muito mais do que suas palavras poderiam fazer, Harry retribui de forma igualmente desafiadora.

— Você sabe como segurar um recém-nascido? — Ela pergunta com seriedade, mantendo contato visual.

Harry tenta balbuciar algo, mas desiste.
— Não.

Anne suspira cansada, negando descrente.
— Você tem que apoiar a cabeça dele... A cabeça é uma parte muito delicado pois está tecnicamente aberta. Bebês precisam de cuidados, Harry.

O cacheado engole seco, deixando o olhar cair para seu colo vazio. O som de passos aproximando o faz encarar o redor novamente, é Johanna quem se aproxima. Ele levanta o pescoço para tentar ver o rosto do bebê, mas é repreendido pela sogra.

— Coloque o braço assim, como eu estou fazendo. — Ela indica com o corpo. — Lembre-se do que sua mãe lhe disse, cuidado com a cabeça.

O peso repetino nos braços de Harry faz o coração do garoto vacilar, ele não esperava que a mulher passasse o bebê para o seu colo, lançando um olhar arregalado para a mesma quando percebeu o que ela havia feito. O rapaz estava prestes a entrar em desespero, até ouvir um suspiro sereno vindo do bebê. Ele checa todo o rosto do filho, sorrindo para a pele macia e traços delicados.

— Ele parece muito com o Louis. — Jay toca levemente o nariz do bebê.

— Sim, mas ele me lembra você! Também era tão delicado quando nasceu... — Anne inclina para encarar o bebê. — A enfermeira disse que está tudo bem com ele, não há nada fora nas normalidades, os pulmões dele já estão completamente formados. Sendo assim, não precisará ficar no hospital, terá alta em três dias.

— Lhe deram deu um dia a mais por precaução. — Jay completa.

Harry concorda, ainda preso em encarar o rosto do filho.
— Eu vou ter tão pouco tempo com ele.

— Bom... Então aproveite. — Ele sente o beijo de sua mãe. — Já que está acordado, nós duas podemos ir tomar um café e tomar um banho em nossas casas.

A fala de Anne faz o menor arregalar os olhos.

— Não, não... — Ele implora. — Eu não sei cuidar dele sozinho, e se sujar a fralda ou começar a chorar? Ou então eu posso machucá-lo, ele é tão delicado... Por favor, mãe! Fiquem, vocês duas.

Anne ri involuntariamente.
— Oh meu amor, eu quero te ajudar... Mas o horário de visita acabou.

Johanna assente.

— Pode contar com ajuda das enfermeiras, é aperta esse botão. — Ela mostra o botão vermelho anexado na parede. — E sinta-se a vontade para acordar Louis, ele deve te ajudar.

— Voltaremos durante a noite, meu amor. — Anne sorri para o bebê, Harry demorou para entender que ela não está falando diretamente com ele. — Fique tranquilo, filho.

Harry concorda, levando o nariz até o rosto do bebê, sorrindo para o cheiro bom que o filho exala. O hospital é um péssimo ambiente para ter noção do tempo, horas passam e tudo ainda estão claro. Apenas o relógio grudado na parede evidência que já está perto do jantar. O bebê dorme tranquilamente nos braços de Harry, o rapaz já não sente mais o membro em razão do peso que esteve segurando por horas. Ele encara o relógio preocupado, já fazia um par de horas que está a sós com o bebê e não imagina qual seria o horário certo para alimentá-lo. Usando o braço livre, ele arremessa um travesseiro no rosto de Louis, que ainda está adormecido na poltrona. Harry sente que precisará de uma ajuda. O impacto faz o castanho acordar assustado, atordoado olhando aos redores.

— Aconteceu alguma coisa?

— Sim.— Harry o encara com seriedade. — Nós tivemos um bebê e agora temos que cuidar dele.

Louis afunda na poltrona, suspirando pelo sono interrompido.
— Estava sonhando.

Harry ri sarcástico.
— Você foi pai na adolescência, está vivendo o sonho de muitos.

— Com certeza. — Louis entende a ironia, ele desliza a palma da mão pelo rosto, levantando de cadeira em seguida. Ele anda pelo quarto, encarando as paredes claras, a iluminosidade faz seus olhos doerem. — Ele parece estar dormindo.

— Sim... Mas acho que deveríamos alimentá-lo, nossas mães cuidaram disso mais cedo, mas ja deve estar na hora.

Louis continua a andar pelo curto espaço, parando ao lado de Harry para encarar o bebê que o rapaz segura nos braços.
— Ele está dormindo tão tranquilamente, tem certeza?

Harry assente.
— Como faremos isso?

Louis sorri, balançando os ombros.
— Minha mãe disse que o hospital vai nos ceder o leite.

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Não há muito que fazer com um recém-nascido, eles apenas dormem o tempo inteiro, Harry gosta de observar o bebê dormindo, é encantador a maneira em que o peito desce e sobe com a respiração. Para passar o tempo, ele está conversando muito com Louis, sobre vários assuntos. Como faziam antigamente, quando ainda namoravam. Essa é uma boa questão para trabalhar, sua atual relação com Louis. No momento, ambos estão próximos um do outro mas não nenhum contato romântico, não há de se falar sobre amizade, quando Harry ainda sente paixão pelo rapaz. Para ele, o sentimento ainda é mútuo, pois Louis ainda lhe olha com um brilho atencioso no olhar, é diferente de como ele encara outras pessoas. Todas essas questões passam pela mente de Harry enquanto ele sente o peso da mão de Louis sobre a sua, sentindo o rapaz deslizando os dedos contra sua pele. Eles dividem uma conversa comum, relembrando uma das festas em que foram no passado.

— Então, Harry... O bebê irá para seus novos pais, mas e quanto a nós? Como será quando sairmos do hospital. — A frase de Louis não foi uma coincidência com os pensamentos do outro, ele soube exatamente o que se passou na mente de Harry quando o cacheado encarou seus dedos entrelaçados nos dele. — Eu não sei o que temos atualmente.

Harry balança os ombros, afastando o braço para desvencilhar o contato, fazendo Louis franzir o cenho e encarar constrangido o chão.

— Nós somos amigos?

O olhar perfurante de Louis cai sobre a figura de Harry, que engole seco ao perceber ser o alvo de tanta intimidação.

— Como quiser.

O cacheado suspira, olhando para os arredores. Seu olhar para no pequeno berço ao lado da cama, ele decide continuar.
— Louis, acho melhor não ficarmos tão próximos um do outro depois que o bebê for. Nós vamos precisar superar isso, como se fosse uma página passada.

A determinação das palavras de Harry não lhe convence, sendo assim, Louis decide reivindicar.

— E quanto tempo você acha que irá demorar para superar isso? — Ele gesticula apontando para o berço. — Ficar longe de mim não vai adiantar.

— Vai ser como ter um buraco no meu peito, para toda a vida. — Harry corta as palavras duras do outro. — Mas sendo sincero, você eu consigo superar.

O choro sôfrego do bebê passa a ecoar pelo quarto assim que o de olhos verdes finaliza a frase. Louis levanta rapidamente para ir atender o filho, mas desiste ao perceber que o mesmo já está sendo reconfortado por Harry.

— Está tudo bem. — Ele cantarola em tom baixo, ninando o filho nos braços. Sua atenção volta para o rapaz sentado na poltrona ao lado da cama. — Já faz muito tempo desde a última mamadeira? Digo, acho que é fome... A fralda está limpa.

O castanho nega cabisbaixo, pensando em tudo que havia discutido agora à pouco. Louis poderia estender o assunto até se sentir satisfeito com alguma resposta, mas uma ligação de sua mãe o impede de fazer. Após poucos minutos conversando com a mulher pelo telefone, ele desliga para repassar as informações.

— O cara da agência de adoção, o representante... Está vindo nos fazer uma visita.

O clima fica tenso, ele pode ver a mandíbula rígida da Harry.

— Será que já vão levar o bebê? Ainda temos mais dois dias no hospital. Ele não está de alta ainda. — O mais novo começa a andar pelo quarto em passos aflitos, segurando o bebê a todo momento.

— Não vamos sofrer por antecedência. — Louis começa a preparae uma dose de leite para alimentar o bebê. Isto é, deixar pronto para Harry fazer a tarefa. Ele ainda não pegou o filho, mesmo que já faça um dia.

O cacheado engole seco antes de concordar, voltando para a cama. Como prometido, chegaram rápido. Harry arregalou os olhos ao perceber que o quarto está pequeno para tantas pessoas presentes, lhe causando um breve desespero. Não havia nenhum estranho fora o agente da adoção, fora ele há apenas sua mãe e Johanna. Ainda sim, Harry prefere como estava antes, apenas Louis e o bebê. O homem se aproxima, nada fora do costume, segurando uma maleta e com uma gravata de nó apertado que ele insiste em tentar afrouxar ao longo da conversa.

— Então, ele nasceu com um mês de antecedência. — Harry assente devagar. — Isso nos deixa em uma posição complicada.

Louis raspa a garganta para se fazer presente no assunto.
— Defina melhor, por gentileza.

O homem parece suar, levando as mãos trêmulas até a testa oleosa.
— Os papéis que assinaram até o momento, foram provisórios. Não há nenhum termo reconhecido, de fato. Como foi combinado com as partes, iríamos assinar os papéis de guarda no próximo mês, quando o gestante estivesse próximo a quadragésima semana.

— Não sabíamos que o bebê seria prematuro! — Anne não esconde a preocupação que sente conforme o rumo da conversa. — Não houve nenhuma previsão médica, não poderíamos saber!

— Eu entendo. — O homem mostra as palmas das mãos para a mulher, suplicando por paciência. — Mas para tudo há uma solução. Temos um protocolo restrito em situações como essa. Como os papéis definitivos não foram assinados ainda, o procedimento correto deve ser encaminhar a criança para um lar temporário para darmos continuidade ao processo de adoção nos prazos definidos.

— Lar temporário? — Os olhos de Harry saltam para fora, sua voz vacila ao dizer. — Onde ele ficaria?

— Em um lar de adoção, o que é o mais recomendado para os recém-nascidos. — O homem não hesita em responder. No entanto sua fala acarreta no silêncio imediato de todos no quarto, Anne suspira derrotada, caminhando de um lado para o outro procurando acalmar os nervos. Enquanto Johanna apenas assiste calada, cruzando os braços ao término da frase.

A respiração de Harry passa a ficar mais ofegante, as mãos trêmulas já o impede de segurar o bebê de forma confortável, fazendo o pequeno chorar.

— Louis. — Ele exaspera.

Mesmo que Louis não tenha pego o filho ainda, já havia cuidado de inúmeros irmãos nessa fase, sabendo ao certo o que teria de fazer. Sendo assim, ele encaixa o bebê nos braços, murmurando palavras serenas para o acalmar. A voz de Louis é inigualável, nenhuma outra pode ser confundida com a dele. O seu timbre é o que faz o bebê cessar o choro, transformando a reclamação apenas em curtos murmúrios.

— Não foi isso o que combinamos! E quanto ao casal de médicos aposentados, com uma vida boa e um golden retriever?!  — Harry parece inconsolável.

— Como mencionei, daríamos continuidade com o prazo definido meses atrás, eles assinariam os papéis no próximo mês e em seguida conseguiriam a guarda da criança. — Ele explica pacientemente para o menor, mesmo que esteja escancarado a insatisfação de Harry.

— Não podemos mandá-lo para um orfanato! — A fala de Harry é dirigida para Louis. O castanho apenas encara o bebê que segura em mãos, fugindo de todo ambiente catástrofico que está formando ali. — Ele é prematuro! Por muito pouco não nasceu com menos de dois quilos, ele é tão pequeno...

— Harry. — Anne caminha até o filho. — Milhares de crianças passam pela mesma experiência, meu filho. E são muito bem cuidadas, em lugares como este, há muito preparo e profissionalismo.

— Eu sei, mãe. — Ele consegue ser ainda mais suplicante. — Mas eu não concordei com isso! Não foi esse o combinado. Ele não vai viver em um lar adotivo, quem garante que será bem cuidado? Que terá toda a atenção que precisa, que será alimentado nos horários certos... Não, apenas não.

— O que acabei de dizer, hum? — A mulher tenta mais uma vez. — Será provisório.

— Como é a equipe de vocês? Há cuidados especiais para recém-nascidos? — Johanna pergunta enquanto assiste as súplicas de Harry, sua experiência como enfermeira exige que ela esteja segura quanto a isso.

O homem tosse.
— Não costumamos receber recém-nascidos, nossa especialização é adoção imediata, o procedimento que estavamos dando continuidade. Ainda sim, garanto que temos uma equipe boa de pediatras e cuidadores.

A resposta atrai uma reação negativa de Johanna, ela lança um olhar preocupado para Anne, a amiga entende exatamente o que significa.

— Você precisa nos dar mais garantias, é certeza que ele será adotado pelo casal que havia mencionado? — Anne caminha rapidamente de volta ao representante. E aparentemente, não há uma resposta concreta.

O peito de Harry parece subir e descer mais rápido do que de costume, ele sente dificuldade em puxar o ar para os pulmões, como se houvesse um grande peso contra seu peito que o impedisse de respirar. O único som que consegue ouvir é as batidas acelaradas de seu coração, ele só percebe estar pressionado o botão de alarme quando sente a superfície gélida em seus dedos. O volume alto do alarme interrompe toda a conversa, atraindo somente os olhares confusos dos adultos. Logo, uma enfermeira abre a porta do quarto de abrupto, empurrando Anne para liberar sua passagem. Ela checa Harry rapidamente, notando sua dificuldade em respirar.

— Há muita gente no quarto! O paciente precisa de espaço. — A profissional grita, fazendo os demais se retirarem do lugar. Assim que a porta se fecha novamente, ela assiste Harry normalizar gradativamente. — Está tudo bem?

— Sim. — Ele responde com dificuldade.

— Você costuma ter crises de ansiedades?

— Eu não sei.

A mulher afasta da cama, analisando a figura do rapaz.
— Você acabou de passar por um procedimento cirúrgico, não podemos te dar nenhum calmante... Sinto muito.

O cacheado engole, buscando por ar.
— Eu ficarei bem.

A enfermeira parece convencida, ainda recua antes de tocar na maçaneta.

— Quer que eu restringa as visitas? — O menino assente. — Certo, irei deixar registrado na recepção.

Harry solta um longo suspiro, sentindo o peito ficar mais leve a cada segundo. Ele checa ao redor, notando Louis segurando o bebê nos braços, desmontrando indiferença para toda a conversa que houve a poucos minutos. Isso faz o cacheado franzir o cenho, chamando pelo nome de Louis. Ao escutar o chamado de Harry, o castanho vira o corpo bruscamente, o ato faz o bebê resmungar em murmúrios altos, como se estivesse prestes a chorar.

— Está tudo bem. — Louis cantarola, voltando a caminhar pelo quarto. — A minha voz acalma ele.

— Bom, ele confia em você. — Harry sorri, encarando o rosto do filho. — É a primeira pessoa em que ele confiou, na verdade. Não se esqueça disso.

Louis assente com um sorriso nos lábios, caminhando em direção ao berço para que o bebê posso adormecer em um lugar mais apropriado. Após colocá-lo com delicadeza, ele volta a atenção para o rapaz deitado na cama hospitalar.

— Harry, isso é besteira... — O castanho diz casualmente. — Essa história de lar adotivo, não vai dar certo. Você sabe, não é?

O menino assente, deslizando a palma da mão pelo rosto em sinal de cansaço.
— Pois é.

Louis continua a andar em círculos, sua mãos mãos nos bolsos de sua calça moletom, ele caminha de forma arrasta os poucos passos que pode dar no espaço pequeno.

— Quer saber? Vamos esquecer isso! Não iria dar certo, de qualquer forma. — Ele diz pausadamente enquanto encara o outr nos olhos. — Eu acho que nós devemos fazer isso do nosso jeito, como podemos.

Harry torce os lábios, ele entende o significado das palavras de Louis.

— O bebê fica com a gente. — O castanho continua a dizer, medindo cautelosamente às palavras. Não há uma resposta concreta, apenas o som de Harry bricando com o lençol da cama. — Não vai ser fácil, é claro! Mas acho que assim, será menos difícil. Quero dizer... Você entendeu.

— Difícil será explicar para a minha mãe. — O cacheado assente.

— O filho é seu. — Louis balança os ombros. — Além do mais, ela vai respeitar as suas escolhas.

Harry coça os olhos, apoiando o rosto contra as mãos. Ele grunhe novamente, tentando expor sua frustração.
— Eu apenas não queria pensar nisso agora.

Um suspiro conformado escapa de Louis, o som faz Harry lhe encarar por cima das sobrancelhas. Assim que percebe ser vítima do olhar do outro, o castanho sorri constragido, levando o indicador até a franja de Harry para prender atrás da orelha do rapaz a madeixa insistente que fica caindo em seu rosto.

— Descanse, está bem? — Louis sibila, inclinando o corpo para ganhar mais proximidade. — Eu fui um frouxo, até agora... Tenho que admitir. Vou tentar conversar com elas, acalmar as nossas mães um pouco... Falar sobre a nossa decisão.

O cacheado permanece em silêncio, relaxando o corpo no colchão fino enquanto encara Louis passar pela porta. A conversa de fato acontece e é mais extensa e estressando do que o jovem previu. Ambas as mulheres não gostam do que ouviram de início, mas conforme foram conversando com o rapaz, suas vozes passaram a ser mais serenas e empática. Após o que pareceu ser uma hora insistindo e dialogando, elas aceitam. Johanna abraça o filho, beijando lhe nas bochechas enquanto Anne liga para Desmond. Segundo a mulher, o pai de Harry precisa estar presente em decisões cruciais como essa. Sendo assim, o mais velho adianta sua passagem na cidade, chegando no hospital assim que o dia seguinte amanhece. O silêncio é incômodo para todos que estão presentes no quarto. A ansiedade de Louis o faz apertar as unhas contra a carne da palma de sua mão, enquanto Harry morde desesperadamente a carne de seus lábios buscando a mesma finalidade, acalmar os ânimos. Anne decidiu que o pai de Harry deveria estar presente, o mais velho sempre conciliou deveras bem os problemas familiares, foi um bom guia durante muitos anos. No momento, há apenas Desmond e os garotos no quarto de hospital. O mais velho segura o neto nos braços, encarando o bebê com adoração, sequer percebendo o tempo que havia perdido apenas observando o bebê adormecer em seus braços. Ele pigarreia assim que percebe, levando o recém-nascido ao berço, aproveitando a proximidade para encarar o filho, notando seu nervosismo.

— Bom, faremos dessa maneira... — É a primeira frase que ele diz desde que adentrou o quarto, foi previamente orientado por Anne, que lhe avisou sobre a decisão do filho. — Criar um filho não é fácil, mas garanto que darei todo o meu apoio e ajuda financeira possível. No entanto, quero que prestem atenção no que falarei a seguir.

Louis trava a mandíbula, já prevendo o discurso conservador que Desmond faria.

— Harry não irá interromper os estudos, de forma alguma. Pode ficar esse semestre com o bebê, mas irá para a faculdade no próximo está ouvindo? — Desmond aponta para o rapaz, que concorda exasperadamente em resposta. — Se for preciso, eu pago escolas integrais e outras atividades para o garoto, mas você deve continuar os estudos. E Referente ao seu namorado...

O tom sério de Desmond cai sobre Louis, que escuta atentamente recostado na parede, mantendo os braços cruzados contra o peito.

— Como eu não quero que o seu futuro seja uma merda, irei arcar com os custos dos seus estudos também, mas você deve começar imediatamente. Pago a faculdade que quiser, não me importa. Apenas proporcione para o meu neto uma boa vida, é o que me dará em troca.

O castanho assente, embora raspe a garganta para impedir que o mais velho continue o discurso.

— Não será necessário. — Seu ego infla com o que falará a seguir. — Eu ganhei uma bolsa de estudos, integral.

Desmond arquiea as sobrancelhas surpreendidos, é possível ver a feição animada de Harry. Antes que o cacheado pudesse lhe parabenizar, é interrompido pelas palavras do pai.

— E sobre vocês dois. — Desmond gesticula. — Não fiquem iludidos, não estamos no século passado. Poderão criar o menino de forma separada. Eu não quero que Harry sinta-se forçado a ficar com você por conta do bebê, quero que pensem sobre a relação de vocês e se valerá a pena investir, caso contrário, é melhor parar por agora. Ao meu ver, é apenas um namoro adolescente, não terá futuro. Acreditem, eu gostaria de ter ouvido um conselho como esse no passado.

Essa foi a cereja do bolo para Louis, era o que estava faltando. Após tantas palavras boas e solidariedade, ele já esperava que Desmond fizesse novamente. Assim como no início da gravidez, ele quer manipular os pensamentos de Harry, fazendo-o acreditar que estará melhor longe de Louis. O castanho aberta as unhas contra os bíceps, sorrindo descrente para as palavras do homem. Seu olhar ligeiramente cai sobre Harry, que escuta com atenção as palavras do pai. Como na outra vez, ele sabe que não terá valor algum nessa ponderação. Contudo, apenas o pensamento de criar o bebê junto a Harry já o agrada. Mesmo que pareça hipocrisia, ele também aceita as condições de Desmond. Afinal, sua prioridade agora é outra.

— Bom, desejo lhes boa sorte. Não será fácil, mas também não vai ser impossível. — Após bagunçar o cabelo ondulado de Harry com os dedos, Desmond deixa o quarto. Já havia um cigarro preso nos lábios quando passou pela porta, a ansiedade para ter a nicota em seus pulmões o fez caminhar em passos rápidos.

Louis arqueia as sobrancelhas para Harry, o mesmo bufa supreso pela conversa que havia tido com o pai.

-x-

Não é fácil, mas também não é impossível.  A concepção de tempo ficou bagunçada para Louis, durante alguns meses. Ele só notava o quão rápido tudo está passando quando vê o filho, a cada semana ele parece maior e mais esperto. O fim do semestre também o assusta, as aulas da faculdade passaram mais depressa do que esperava, ele não entendeu como seis meses passaram em tão pouco tempo. Sobretudo, Louis ignora preocupações como essas quando se está dando bem com a paternidade. Como não moram juntos, ele visita o filho o máximo que consegue, indo para a casa de Anne pelo menos três vezes por semana. É mais fácil quando se tem Harry arcando com todas as responsabilidades, ele quase não deixa espaço para Louis. Inclusive, seu processo de amadurecimento foi notável. Todas as vezes em que conversam, Louis nota algo diferente no rapaz, hoje Harry conversa sobre perspectivas para o futuro e se preocupa antecipadamente, diferente do jovem inconsequente que era meses atrás.

Seu último ato de rebeldia foi a escolha no nome do filho, sua mãe e Johanna decidiram que deveria ser um nome nobre, de príncipe. Na época ambas ainda tinham atitudes indesajadas em relação ao bebê, faziam coisas para o pequeno sem a presença ou autorização de Harry, como por exemplo comprar o enxoval que apenas Anne havia gostado. Em um ato desafiador, Harry escolheu o nome mais popular entre bebês do momento. Fazendo Anne e Johanna ficarem insatisfeitas, obviamente. Ao menos, ambas entenderam que o filho é somente de Harry e Louis. Desde então, as mulheres mantém um limite respeitável na criação do neto.

O corpo de Louis estremece pela brisa gelada que insiste em passar pelas frestas de sua jaqueta, ele segura diversas sacolas plásticas em seus braços, esperando pacientemente em frente à porta da casa de Anne. Agradecendo mentalmente assim que ouve os passos da mulher, indo imediatamente para o interior quente da casa assim que ela abre a porta. Um pouco de neve cai de seu gorro, enquanto a mulher está preocupada em auxiliar Louis com as compras, ele empurra a neve para o tapete. Apesar de ser forte, exagerou carregando tantas sacolas ao mesmo tempo. Não havia muitos produtos, apenas o básico da alimentação do bebê, caixas de leite em pó e algumas frutas.

— Ele realmente quer começar a introdução alimentar do bebê. — Anne vasculha as compras, ela diz ao notar os cachos de banana. — Não precisava ter comprado tanto, isso vai estragar em uma semana.

— Eu não sabia o que comprar. — Louis ainda se desfaz das inúmeras camadas de roupas, ele perde algum tempo assoprando as mãos assim que tira as luvas. — Harry pareceu animado quando pediu as frutas e legumes.

— Ele está realmente nisso. — A mulher continua a tirar os ítens das sacolas, frazindo o cenho para algumas embalagens de biscoitos. — Tyler irá comer isso?

Louis ri meramente para a ironia da mulher, aproximando alguns passos.
— Esses são os preferidos de Harry.

Anne segura uma embalagem de biscoito em mãos, lançando um olhar semicerrado para o jovem à sua frente.
— Ele não te pediu para comprar isso, pediu?

O rapaz apenas balança os ombros, ambos sabem que Louis só havia pego para agradar Harry. Afinal, o cacheado nunca lhe pede nada. Até mesmo para pedir as coisas do bebê há uma certa hesitação ou o notável nó que forma na garganta de Harry todas as vezes em que ele lhe diz sobre algo que Tyler esteja precisando. De qualquer forma, eles se falam quase todos os dias, quando o trabalho impede Louis de ver o filho, ele ainda manda uma sequência de mensagens para checar, quando Harry está de bom humor, até mesmo envia uma foto do bebê para desejar um boa noite.

— Escute, Louis... — A voz cautelosa de Anna lhe tira de seus devaneios. A mulher disserta enquanto retira as compras das embalagens. — O Harry está muito sozinho ultimamente... Você é a única pessoa que ele vê frequentemente, eu sei que vocês não estão namorando...

Pois é, também há esse campo escuro da relação atual entre ambos que Louis ainda não adentrou. Eles conversam quase todos os dias, mas é sempre sobre o bebê. Foram poucas as vezes em que conversaram sobre algo aleatório, tal como sempre faziam no colégio. Harry não lhe dá liberdade, não há o que fazer além de respeitar. Louis morde o interior da bochecha, ponderando se deveria ou não falar sobre isso com Anne.

— Chame ele para sair, nem que seja para tomar um sorvete ou algo para ele fazer com os amigos. O Harry vai começar a faculdade em breve, e você é a única pessoa com a mesma faixa etária que ele vê e conversa todos os dias.

— Anne... — O castanho leva a mão até o pescoço, coçando a pele da região. — O Harry não me da abertura para nada, você o conhece... Sabe como ele é sério e quer vestir uma armadura de ferro. Olhe, eu vou ver o que consigo fazer.

A mulher vibra, prendendo o corpo de Louis em um abraço. Após muitos agradecimentos, ele consegue uma brecha para fugir da mais velha e ir até o quarto de Harry, subindo a escada em passos animados. Não há outros sons ao redor, apenas pequenos balbucios que ecoam pelos corredores. Chegando até a porta, ele pode ver que é Tyler quem cria os sons. O bebê está deitado na cama do pai, ele está muito empenhado em levar um dos pés até a boca para devorar seus minúsculos dedos, resmungando alegre quando consegue. Em
um rápido movimento, ele rola pelo colchão, ficando perigosamente próximo à borda. O movimento inesperado faz Louis correr até a cama, pegando o filho nos braços.

— A cama é grande o suficiente para ele. — No canto do quarto, Harry está com olhos arregalados e seu peito ofegante por ter se assustado com a presença repentina de Louis.

— Eu apenas me assustei. — Louis sente as mãos cheias de saliva contra seu rosto, franzindo o cenho para os golpes que o bebê distribui por sua face. Notando a irritação do filho, ele devolve o bebê para a cama, sentando ao lado do filho para evitar outro susto. Ele vasculha pelo quarto com o olhar, notando o quão entretido Harry está com um amontoado de papéis em mãos. — O que está fazendo?

— Checando a documentação para a faculdade. — O cacheado espreguiça o corpo, abandonando os papéis em sua mesa de estudo. — Já está tudo certo, eu acho.

Louis concorda em silêncio, se ocupando em aproveitar o pouco tempo que lhe resta com o filho. Uma lembrança da conversa anterior surge como um devaneio, lhe dando um dose de coragem antes puxar assunto.

— Quando as suas aulas começaram? Quero dizer, o meu segundo período começa em uma duas semanas.

Ele assiste o cacheado ponderar em silêncio, espremendo os olhos para responder a pergunta.

— No proximo mês, eu acho...

— Entendi. — O castanho franze os lábios, voltando a atenção para o bebê que brinca com seus dedos.

Notando a tentativa de interação e o silêncio que tomou posse do ambiente, o cacheado suspira incomodado.

— Por você não me ajuda a organizar as roupas do bebê? Tem muita coisa... — Uma pilha de roupas pequenas é arremessada na cabeça de Louis, o que abre um mero sorriso nos lábios de Harry pelo arremesso certeiro.

— Okay, okay... — O castanho sorri antes de começar a dobrar as pequenas peças, dividindo a atenção para o rosto tímido de Harry e o bebê que insiste em rolar pela cama. Um pequeno vislumbre pelo quarto o faz ficar confunso. — O que houve com seu computador?

— Eu o vendi... O Tyler precisa de uma cômoda, quero dizer... Ele tem muitas roupas e pouco espaço e aquele computador era velho. — Harry aponta para o espaço vazio, gesticulando.

— E como você vai estudar? — A voz de Louis soa incrédula, o que faz o outro rolar os olhos.

— Eu troquei por um notebook e ainda vou comprar a cômoda. — Ele deixa escapar um sorriso ao notar a preocupação de Louis. — Não se preocupe comigo.

— Eu não sei. — O castanho retribui com a voz falha. — Você está tão absorto, sequer sabe quando suas aulas começam.

— Eu me viro. — Harry sibila. — Olha... Se quiser ajudar, pode cuidar disso e olhar o Ty enquanto eu tomo um banho.

— Sem problemas! — O castanho guincha, apertando as bochechas do filho que pisca sonolento.

A água fresca beijando os ombros de Harry soa como um calmante natural para seus nervos a flor da pele. Seu coração acelera todas as vezes que relembra a proximidade do início das aulas da faculdade, fora suas preocupações diárias com o bebê, o qual ele quer disponibilizar todo o seu tempo. Ele quer tomar os minutos no chuveiro para despejar suas frustrações e apagar seus pensamentos, que mesmo sorrateiros, o sabotam diariamente. Enquanto as gotas frias escorrem por seu corpo, ele bufa cansado, tentando pensar em algo fora a faculdade e o bebê. Logo, a fisionomia de Louis surge em sua mente como um devaneio, lhe fazendo relembrar de como as borboletas em seu estômago ainda permanecem vivas, tão insistentes. Ainda que tenha criado uma parede imensa de gelo entre os dois, ele ainda sorri ao escutar a voz rouca de Louis.

E quando o timbre da voz de Louis está mais próximo do deveria, o corpo de Harry sobressai, assustando-se com o bater da porta do banheiro. Em um movimento agil, ele prende a toalha na cintura, franzindo o cenho para a figura confusa do outro à sua frente.

— Que porra? — Harry balança os cachos entre os dedos, fazendo o excesso de água respingar pelo banheiro.

— O Tyler vomitou em mim! — O castanho exaspera, há um notável rastro de gorfo por sua camiseta. Ele abandona a peça de roupa no canto do banheiro, correndo até o chuveiro para livrar o corpo dos resíduos de leite.

— E você o deixou sozinho?! — A voz de Harry sobressai quando seu corpo é empurrado para abrir passagem até o chuveiro.

— Eu esperei ele dormir! — A água cai pelo tronco de Louis, molhando a bermuda que ainda veste. — Fiquei uns dez minutos com vômito seco no pescoço.

O cacheado suspira, rolando os olhos para o desespero do outro, que rodopeia nos próprios pés enquanto a água cai, para garantir que a água limpe todo o seu pescoço.

— É apenas fórmula! — Harry nega incrédulo, cruzando os braços em frente ao corpo para a bagunça que Louis havia feito em seu banheiro, fora o rastro de água que sua bermuda encharcada deixa ao sair do chuveiro. O castanho resmunga para a roupa molhada, olhando chateado para a peça suja abandonada no chão. O cacheado rola os olhos mais uma vez, pousando a mão na maçaneta para deixar o banheiro. — Eu vou te emprestar algumas roupas.

Louis aguardou como um cachorro molhado, respingando água por todo o azulejo do banheiro. A porta se abre novamente e ele guincha de alegria, já estava ficando incomodado com a sensação da roupa molhada contra sua pele. Antes que Harry possa entregar a muda de roupas e deixar o cômodo para lhe dar privacidade, as roupas são tomadas de suas mãos.

— Eu trouxe uma calça moletom e uma blusa minha que usei antes da gravidez... Acho que vai servir.

— Certo, certo. Não vamos comentar o fato de você ter ficado mais alto que eu, qualquer coisa irá servir. — O castanho rapidamente veste a calça, sem dar tempo de Harry admirar suas pernas torneadas e a cueca marcando seu pau... Ele conseguiu reparar pelo canto dos olhos.
— E você não está tão alto assim.

O cacheado dá meia volta, pousando a mão na maçaneta para abrir a porta, ele rola os olhos.
— Não estou, você que é muito baixo.

Um murmúrio ofendido escapa dos lábios de Louis, o som engraçado atrai a atenção do outro, que lhe lança um olhar desinteressado. Antes que Harry possa piscar novamente, Louis aparece em sua frente para checar as alturas. Não é como se estivessem em um banheiro amplo, ainda sim, ele foi rápido para chegar até Harry.

— Você precisa se colocar em seu lugar. — Louis usa uma de suas mãos para medir a diferença de altura, se afastando um pouco ao perceber que havia uma notável diferença. Ele brinca constragido, coçando a nuca.

O desapontamento ficou visível em seus olhos, Harry não pode conter o riso para a feição decepcionada de Louis. Ele ri estridente, tombando a cabeça para atrás pelos solavancos que seu corpo dá conforme gargalha. Como fazia tempo que não ria dessa forma, a reação foi exagerada, seu peito chegou a doer pelas risada incessantes. Durante alguns segundos não houve nada além do som de Harry esgasgando com o próprio riso, pensando que o outro estaria desconfortável, ele tenta contornar a situação.

— Não ligue para isso. — Ele diz ofegante. — Você ainda parece bem, de qualquer forma.

— Pelo menos um elogio após rir da minha cara. — Louis raspa a garganta, amassando a toalha que segura em mãos antes de arremessar para longe, há um breve arqueio da sobrancelha de Harry quanto a isso. — Relaxa, eu pego depois.

— Eu posso pendurar em você, se quiser. —
Aproveitando a oportunidade para outra provocação, o cacheado diz em tom divertido, mordendo os lábios em seguida.

— Essa foi a última. — Louis aponta o dedo indicador, lançando lhe um olhar desafiador. O sorriso de Harry desaparece aos poucos, ele aproveita da proximidade e silêncio para encarar os traços do rosto de Louis. O ar prende nos pulmões do castanho quando ele nota os olhos esperar analisando cada expressão de sua face, antes que pudesse fazer algo a respeito, o momento é quebrado pelo choro estridente vindo do quarto. Os ruídos do filho acorda Harry de seus devaneios, ele imediatamente abre a porta atrás de si para ir até o bebê.

Louis demora para deixar o cômodo, perdeu alguns minutos recostado contra a pia, pensando no momento que havia tido com Harry. Ele suspira antes de caminhar para o quarto, pensando no que diria a seguir. O cacheado cambaleia pelo quarto com o bebê nos braços, tentando acalmar o filho que ainda está choroso. Notando a presença de Louis, ele contorce o pescoço meramente para olhá-lo nos olhos.

— Ele acordou assustado, não costumo deixá-lo sozinho.

— É claro, vocês estão sempre juntos. — Louis rouba o bebê dos braços do outro, aninhando o filho contra o seu corpo. Estando com os braços livres, Harry senta na cama após um suspiro cansado, levando uma das mãos até o pescoço para massagear a região, Louis observa seus gestos pelo cantos dos olhos. Os murmúrios infantis diminuem consideravelmente, ele beija as bochechas do filho como recompensa por ser um bebê bonzinho.

— Harry... Vai ter uma pequena festa com o pessoal da minha sala hoje, como aquecimento para o retorno das aulas. Venha comiga, vai ser legal... Você sabe, terá toda uma experiência universitária e conhecer outros calouros.

Há um breve resquícios de animação no olhar de Harry quando ele encara o outro, este mesmo brilho se esvai rapidamente após escutar um murmúrio alegre de Tyler.

— Alguém precisa ficar com o bebê. — Ele estala os dedos em nervosismo.

— Sua mãe disse que ficaria. — Louis o interrome, cuspindo as palavras antes que o outro criasse mais alguma desculpa.

A boca de Harry se move milimetricamente, como se ele estivesse prestes a dizer algo mas desistisse no meio do caminho.

— É claro que pediu para você fazer isso. — Ele balança a cabeça, engolindo seco.

Louis pisca atônito, percebendo a insinuação que criou ao sugerir que só o convidou a pedido de Anne. Ele encara as paredes, pensando melhor antes de voltar a dizer qualquer coisa.

— Eu apenas quero estar com você. — Após muito ponderar, as palavras de Louis saem como uma confissão.

Harry assente.
— Tudo bem... Então me busque às oito. O Ty dorme por volta desse horário.

-x-

Louis permanece recostado contra uma mesa ao que parece minutos, seus colegas de classes estão espalhados pela casa e Harry nunca teve dificuldades em fazer amizades. Sendo assim, ele apenas assiste distante enquanto segura seu copo com energético. Sempre checando a sua frente, é claro. Há esse sofá em que Harry está sentado, cercado por duas garotas que parecem estar hipnotizadas em sua beleza. Não é culpa delas, Louis também mordeu os lábios quando viu o cacheado vestindo a regata branca e a bermuda folgada. E o que deixa a beleza de Harry mais avassaladora, é o seu sorriso. No momento ele sorri de orelha a orelha, deixando sua covinha proeminente. Ele está em uma conversa animada com uma das meninas, trocando gargalhadas e gestos. Não é como um flerte, mas está perto disso. Afastado da cena, Louis encara o líquido em seu copo, tentando afastar os pensamentos intrusivos que surgiram em sua mente quando notou a mão da garota pousada sobre o joelho de Harry.

Afinal, isso nunca foi um encontro. Harry precisava sair um pouco de casa para se divertir e Louis o convidou como um bom amigo faria. Sendo assim, ele manteve- distância desde que chegaram. Bastou uma simples apresentação para Harry começar a socializar com os amigos de Louis, no final, ele é quem está se divertindo. Enquanto Louis periodicamente sorri para uma piada de seus amigos, hoje definitivamente não é o seu melhor dia para uma festa. Há certos momentos em que ele percebe estar sendo encarado de canto por Harry, retribuindo com um olhar penetrante apenas para assisti-lo ficar constrangido e desviar o olhar. Ambos estão observando um ao outro desde que chegaram, não é como se Louis tivesse outro ponto interessante para olhar quando Harry está tão bonito com sua regata branca e touca vermelha.

— Louis. — Um dos amigos da faculdade toca em seu ombro, fazendo um mínimo sorriso brotar nos lábios do castanho.

— Como vai? — Ambos trocam um cumprimento de mãos, batendo o copo em seguida.

— Animado para mais um ano? — Feito a pergunta, ele abraça os ombros de Louis, recostando o corpo na mesa tal como o castanho fez. Novamente, Louis percebe está sendo encarado pelo olhar furtivo de Harry, dessa vez ele escolhe ignorar por completo. Ainda sim, sua inquietude não passa despercebida. — E quem é o rapaz que você trouxe?

— O Harry? — Louis acena em direção ao cacheado, ele pondera em como definirá a relação de ambos. Olhando de canto, ele percebe como Harry está envolto em sua conversa com a menina de cabelos loiro. — É um amigo.

— Poxa. — O rapaz leva a mão até o pescoço, analisando de longe a fisionomia do cacheado. Seus dentes prendem seu lábio inferior, o gesto não passa despercebido por Louis.

— Por quê?

— Não é nada... Ele apenas está roubando a atenção das garotas. — Louis repara em como o olhar do amigo tornou-se alarmante quando entrou na defensiva. O rapaz engole seco, levando o dedo indicador para coçar a ponta da sobrancelhas. — Eu não ligo para homens, no geral... Mas você acha que eu teria alguma chance com o seu amigo?

Louis arqueia a sobrancelha surpreendido, afinal a frase havia começado de um jeito e terminado totalmente diferente. Ele abre a boca em surpresa, mesmo que não saiba o que dizer nesse momento. Ele arregala os olhos descrente, repreendendo a si mesmo por ter se colocado nessa situação.

— Eu... Eu não sei. Por que não vai lá e tenta? — Tentando esconder a inquietude que a pergunta lhe causou, ele morde o interior da bochecha, redirecionando o olhar para qualquer canto.

Antes que pudesse ouvir outra frase ousada como a anterior, o cheiro de um perfume familiar o faz relaxar um pouco. Louis sabe que se trata de Harry antes mesmo de escutar sua voz.

— Ei. — O cacheado caminha em passos saltitantes até Louis, o abraçando pela cintura assim que seus corpos estão próximos o suficiente. — Eu liguei para a minha mãe, ela disse que o Tyler já pegou no sono.

Louis concorda enquanto o encara, observando como os olhos verdes piscam a cada palavra.

— Quem é Tyler? — Por poucos segundos, ele havia esquecido de seu colega de sala. O rapaz encara ambos com um olhar confuso, pigarreiando em seguida para disfarçar toda a atenção que atraiu para si.

Assim que os olhos batem na figura do rapaz desconhecido, a face de Harry assume uma careta tediosa.

— Nosso filho... Ele já tem seis meses, é uma graça. — O cacheado responde ríspido, a última frase saiu em tentativa de soar mais educado.

— Oh certo, porra... Você tem um filho, tinha me esquecido disso. — Após segundos de um silêncio constrangedor, o rapaz afirma envergonhado, levando a mão até a nuca. Ele franze o olhar, relaxando a face após alguns segundos. — Tudo bem, eu estou indo.

Um suspiro de alívio por muito pouco não escapa dos lábios de Louis quando o colega parte para outro cômodo. Ele o assiste rodopiar nos próprios pés e se afastar dali. Sua atenção é pega pelo aperto distribuido em seu quadris, as mãos de Harry beliscam sua pele para Louis perceber que ele ainda está lhe abraçando. O cacheado sorri quando os olhos azuis checam seu rosto novamente.

— Louis...

Antes que possa terminar sua sentença, uma voz feminina chama pelo nome de Harry. É garota com quem estava conversando segundos atrás, ela prende a borda dos corpo entre os dentes sugestivamente antes de começar a falar.

— Vamos jogar cerveja poing, você vem?

O cacheado assente lentamente, ponderando sobre sua resposta.
— Eu vou buscar algo com o Louis no carro dele, talvez depois...

A menina loira pisca surpresa, mas aceita a resposta, voltando até onde um grupo de pessoas está reunido. Harry acena para a porta, arrastando Louis pelo braço até a saída. Fora da casa é frio e há uma pequena colina que eles precisam subir para chegar até o carro, o curto caminho e brisa leve que sopra entre as árvores, foram motivos o suficiente para Louis começar  com suas reclamações.

— Você não está bebendo? — Eles diminuem a velocidade dos passos quando estão próximos ao veículo, Harry rodopia nos próprios pés para encarar o outro nos olhos. As bochechas rosadas e o sorriso travesso revelam que ele, de fato, esteve bebendo durante a noite. Ao contrário de Louis, que permaneceu com o mesmo copo de energético.

— Eu estou dirigindo, então... — Louis torce os lábios, ele percebe a revirada de olhos que Harry dá ao ouvir sua resposta. O cacheado é o primeiro a alcançar o carro, esperando por Louis durante alguns segundos. — O que você quer pegar?

— Hum, na verdade nada, apenas queria fugir dali. — Harry assiste o outro clicar nos botões da chave. — Você não tem um baseado para fumarmos ou coisa assim?

Louis lhe lança um olhar tedioso, recordando o tanto que andou para chegar até seu carro. Ele desliza a língua entre os lábios, pedindo aos céus por paciência, porquê Harry claramente está bebado e não foi consciente quando lhe arrastou para fora da casa.

— Eu não fumo há um bom tempo. — Louis finalmente responde a pergunta.

— Não mais do que eu. — Harry chuta uma pedra.

— Você não está gostando da festa? Por que quis sair?

— Você não estava falando comigo. — O cacheado pondera antes de responder, estalando a língua na boca assim que o faz.

Louis arqueia as sobrancelhas surpreendido, escovando a ponta da língua pelo interior da bochecha antes de responder.
— Eu não queria te atrapalhar.

— Sei. — Harry balança os ombros, sua mandíbula fica rígida. — E aquele cara, que você estava conversando?

— O que tem ele? — O castanho franze o cenho.

O cacheado prende um mecha de cabelo atrás da orelha, disfarçando antes de dizer as seguintes palavras.
— Vocês estavam flertando ou algo assim?

A frase soa um estalo na mente de Louis, que pisca atônito pensando no porquê desta pergunta.

— Não. — Ele diz reprimindo um sorriso. — Na verdade, aquele cara estava interessado em você.

Harry arregala os olhos, redirecionando o olhar para encarar os próprios pés, constragido com a cena que havia criado em sua mente.

— Espere um pouco. — O castanho retoma as últimas palavras ditas pelo outro, as quais tomam forma em sua mente com o decorrer dos segundos. — Você achou que ele estava flertando comigo e foi interromper isso?

O cacheado prende o lábio inferior entre os dentes, semicerrando o olhar. Ele tenta resmungar algo, mas gagueja em todas as tentativas, decidindo deixar seu silêncio constrangedor responder.

— Eu estava de dando espaço! — Louis diz em tom de brincadeira, ainda sim empurra os ombros de Harry para longe, sorrindo descrente para o rapaz envergonhado à sua frente. — O que deu em você?

Harry chuta o ar, raspando os sapatos contra o chão. Ele faz um cena antes de encarar o outro nos olhos.

— Eu já disse, você estava agindo como se eu não tivesse lá! Não é justo não falar comigo e ficar flertando com outras pessoas na minha frente. — Harry infla as bochechas, soltando o ar em uma lufada.

Louis ainda não consegue conter a risada, ele agarra os braços de Harry, o puxando para ficarem mais próximo.

— Certo, eu entendi. Você quer ter exclusividade, sou todo seu. — Ele gargalha, afinal o ciúmes apesar de ser instigante, também é engraçado. Ainda mais vindo de Harry, que tem lhe evitado nos últimos dias.

— Sim. — O cacheado concorda sério, deslizando a língua pelos lábios para tomar coragem e conseguir continuar sua confissão. — Eu estou aqui, okay? Não me ignore. Eu quero conversar com você, caso contrário não estaria aqui. Quero dizer, quando você me convidou eu genuinamente pensei que fosse um encontro.

O castanho arregala os olhos, sorrindo meramente ao escutar o final da frase.
— Podemos ter um encontro onde você quiser!

— É claro. — Harry também sorri, aproveitando da proximidade para abrar o corpo de Louis, o prendendo entre os braços. O mais velho cambalea, mas aproveita do contato para encarar os olhos esverdeados brilhantes, há uma leve vermelhidão envolta da íris, algo que ele decide ignorar. — Eu quero um encontro no banco traseiro do seu carro, pode ser?

Louis pondera, deslizando a língua entre os lábios para olhar ao redores e checar se de fato estão sozinhos, esse tempo de rolar os olhos pelos cantos é o suficiente para pensar se deveria ou não cair na tentação de Harry, que agora lhe olha com uma feição esperançosa. Bom, ele já fez isso uma vez. Tendo esse pensamento em mente, Louis tateia pelos bolsos, buscando pela chave do carro. Após poucos menos de uma hora, da qual ambos desfrutaram cada segundo, eles retornam para a casa. Dessa vez, havia uma mordida no mandíbula bem marcada de Harry e o torso arranhado de Louis, que franze o cenho para a maneira que o tecido da camiseta fricciona nos machucados recentes.

-x-

2

— Papai, você pode fazer panquecas de dinossauro? Por favor? — A voz estridente de Tyler ecoa pelo apartamento. Harry não precisa estar na cozinha para saber que ele saltita em torno do fogão, enquanto assiste Louis preparar o café da manhã. O filho está em uma fase obcecada por qualquer coisa que tenha formato de dinossauro, sendo assim, os dias de paz acabaram quando Louis descobriu uma forma similar para panquecas. Não é como se ficasse algo nítido, na verdade, a massa esparrama além da forma, ficando totalmente distorcida quando cozida. No entanto, Tyler fica realmente satisfeito e está determinado a tê-las todas as manhãs.

— Não. — A voz de Louis é firme, no entanto. — O seu pai vai ficar bravo comigo se eu fizer panquecas de novo... Você as comeu ontem!

Harry ainda consegue ouvir toda a conversa que acontece no outro cômodo, mas seu nervosismo o impede de prestar atenção no assunto, em outro momento, ele daria total razão a Louis... No entanto, agora apenas precisa de silêncio para que sua mente possa agir com clareza, sendo assim, aceitaria qualquer coisa para que ambos ficassem quietos. Harry recosta o corpo na porta do banheiro, fechando a mesma. Ele escorrega pela madeira, encarando o teste abandonado em cima da pia. A visor mostra uma palavra conhecida, que lhe traz um significado contrário. Postivo. Ele espreme os olhos, castigando a si mesmo. Logo, um filme passa em sua mente, apenas um pequeno vislumbre de como sua vida voltará a ser dentro de alguns meses, o que já é o suficiente para lhe deixar cansado.

Após um longo suspiro, ele lava o rosto, esperando que a água fria o acorde de seus desvaneios. E funciona, afinal já pode ouvir novamente insistência de Tyler por suas panqueca, nem ao menos o som de seus pequenos pés batendo contra o chão passa despercebido. De relance, seus olhos caem sobre o teste de gravidez, lhe fazendo estremecer novamente. A carga em seu coração é o suficiente para fazer seu peito balançar, como se o ar fosse puxado de seus pulmões. O que o impede de entrar em uma crise de ansiedade, é o minúsculo ser que passa pela fresta da porta.

— O papai pode fazer panquecas de dinossauro? — Os grandes olhos azulados de Tyler são esperançosos, ele puxa a barra da camisa do pai, o máximo que ele consegue alcancar. Harry sorri para o filho, o pegando nos braços imediatamente. — Pode ou não pode?

A franja de Tyler cai em seus olhos, o cabelo está grande, já passa das sobrancelhas do menino, o que o faz balançar a cabeça inúmeras vezes para tirar o cabelo de cima dos olhos. Harry sorri toda vez que vê Tyler repetindo esse gesto, é algo que herdou de Louis. As bochechas do menino ainda são fartas e róseas, o cacheado sempre deposita inúmeros beijos nas bochechas fartas do filho. E também há a curva de seu nariz arrebatado, como se houvesse sido desenhado por um pincel. No final, dar atenção a pequenos detalhes como estes, servem como um lembrete de que há um lado bom em ter um bebê, fazendo o emocional de Harry se estabilizar novamente e as batidas de seu coração voltam gradativamente ao normal.

— Que isso? — O dedo indicador do menino aponta para o teste na pia. — Você 'ta com febre?

— Oh, não... — A preocupação genuinamente inocente do filho também aquece seu coração, um sorriso até ameaça aparecer em seus lábios ao constatar que o pequeno havia confundido o teste com um termômetro. — Está tudo bem.

— Tyler, eu fiz suas panquecas! Venha comer. — O chamado de Louis faz o menino se exasperar no colo do pai, percebendo a ansiedade do filho, Harry o coloca no chão. Assim que os braços estão livres de Tyler, o cacheado leva uma das mãos até seu longo cabelo, deslizando os fios entre os dedos enquanto toma fôlego para encarar o esposo.

O apartamento é pequeno, são poucos passos do banheiro até a cozinha. Sendo assim, não demora para Louis notar a figura do esposo, arqueando as sobrancelhas sugestivamente para ele.

— O que acha? — Louis se refere ao avental preso em seu torço, ele veste a peça em cima de sua bermuda. Para uma melhor visão, o castanho rodopiou nos próprios pés. Só notando algo estranho, ao perceber que a expressão de Harry continuou fechada. Seus olhos também estão nebulosos, como se estivesse distante... E quase não há cor em sua pele, seus lábios aparentam não ter nenhum resquício da coloração rosada. Louis franze o cenho, preocupado com a aparência arruinada de seu parceiro. — Está tudo bem? Parece que viu um fantasma.

A boca de Harry se abre, mas nenhuma palavra é dita. Quando finalmente reúne forças para dar uma resposta a Louis, suas pernas são empurradas, tal como Tyler sempre faz quando o pai está atrapalhando sua passagem. Harry redireciona o olhar para o chão, o suficiente para enxergar o filho e ver o que ele está fazendo com tanta inquietude.

— Você esqueceu seu termômetro, papai! — O pequeno segura o teste em mãos e faz questão de mostrá-lo para ambos os pais, batendo a superfície do teste contra a perna de Harry, para que o maior pegasse em mãos.

Harry sorri conformado, como se estivesse cego, sem saber o que fazer. Ainda sim, ele inclina o corpo para pegar o que o filho está lhe oferecendo, agradecendo o pequeno em seguida. Afinal, na mente de Tyler, ele havia feito uma boa ação.

— Isso é um teste de gravidez? — A inquietação de Louis é palpável, ele engoliu seco antes de perguntar. O outro assente hesitate, mostrando a mensagem descrita no visor do teste. Louis espreita para enxerga o positivo, assumindo uma postuea rígida quando se dá conta.
— Wow.

— Deve ter sido na viagem, não é? —O cacheado torce os lábios, ponderando sobre o que dizer. Maldita França e seu charme, Harry condena a forma em que ele é facilmente seduzido Louis.

E Louis pisca atônito, deslizando a palma da mão por sua barba rala. Há um curto período em que ele se cala, precisando de uma boa lufada de ar para pensar em algo. O som de talheres batendo contra porcelana chama a atenção de ambos, que recai sobre Tyler. O menino tenta de forma desastrosa, pegar sua panqueca com uma colher, seu lábios estão abertos enquanto se esforça ao máximo para conseguir levar a massa até a boca. Vendo a cena, a tensão de Louis esvai facilmente.

— Você quer ganhar um irmãozinho? — O mais velho inclina o corpo abruptamente para fazer cócegas nas costelas do filho.

— Eu quero panqueca. — Apesar de ter soltado uma gargalhada pelas cócegas, a expressão de Tyler rapidamente transformou-se em uma careta por estar sendo atrapalhando. O pequeno franze as sobrancelhas, soltando um resmungo insatisfeito por não conseguir cortar a massa.

— O papai corta para você, meu amor... — Harry senta ao lado do menino, partindo a panqueca em tiras, assim impede uma futura crise de choro que Tyler costuma ter quando algo o chateia. Enquanto desliza a faca pela mesa, o cacheado encara o esposo por cima das sobrancelhas, um sorriso brota em seus lábios ao perceber os olhos de Louis brilhando.

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Os fios do cabelo de Harry ficaram mais longos ao decorrer da gravidez, houve uma certa hesitação de cortar as madeixas onduladas, seu cabelo ficou mais saudável ao decorrer da gestação. No entato, ele não gosta quando o vento faz seu cabelo voar em seu rosto. E em um dia ao livre, como o de hoje, é obrigada ao fazer um coque para impedir que fique distraído com o cabelo voando contra seus olhos. Não quando está assistindo Tyler e Louis jogando futebol em seus pés saltitante. Há um largo sorriso no rosto de Tyler, sua franja balança conforme corre pelo gramado, o que o deixa ainda mais adorável. Um soluço lhe faz tirar os olhos da cena, roubando sua atenção para o bebê que dorme tranquilamente no bebê conforto. Há uma joaninha pousado na ponta arrebitada do nariz de Annalise, mesmo que esteja tentado a tirar uma foto desse momento, Harry retirou o inseto cuidadosamente, evitando que voe pelo rosto da filha e a acorde.

Ele sequer percebe quando Louis corre ofegante em sua direção. O castanho respira apoiado em seus joelhos, sentando no banco de forma desleixada para descansar os pulmões. O som escapando de seu peito é o que chama a atenção de Harry, que franze o cenho ao percebe o quão cansado o esposo está apenas com alguns minutos de exercício.

— O Tyler não descarrega. — Ao perceber o olhar crítico do esposo, Louis tenta disfarçar seu cansaço.

De fato, um garoto de quatro anos pode oferecer mais energia do que seu pequeno corpo pode suportar. As aulas de futebol tinham como escopo gastar a energia do menino, no entato, houve algum tipo de efeito reverso, que deixa Tyler ainda mais energizado quando vê uma bola de futebol.

— Papai! — O menino rodeia a bola, chamando por Louis.

— Ele precisa de um pausa! — Harry grita para o filho, já que Louis não parecia ter fôlego para fazer o mesmo. Tyler fica descontente com a resposta, bufando de forma audível.

Foi preciso alguns segundos para Louis recuperar as estruturas, quando seu peito está cheio de ar novamente, ele respira tranquilo, aproveitando o ar limpo do bosque. Seus olhos rodeiam pelo cenário verde, caindo ao seu lado, onde Annalise está adormecida. A menina dorme serenamente, como se não houvesse o chiar passaros nos arredores. Ele nota um pequeno cílio caído perto do nariz da filha, aproveitando o momento para admirar como tudo em seu rosto é delicado e pequeno, parecendo ter sido moldado à pinceladas. E reparar em detalhes como estes, o faz torcer o lábios em adoração. Com muito cuidado, Louis prende o cílios entre seu polegar e dedo indicador. Harry também parece curioso para o pequeno cabelo preso nos dedos do esposo, interessado no que Louis faria a seguir.

— Assopre. — Ele mostra o pequeno fio, aproximando perto do rosto de Harry.

— O cílios é da Anna, ela quem deveria assoprar. — Apesar de estar fascinado com a ideia de Louis, ele decide fazer uma pequena provocação.

O bebê solta um suspiro durante seu sono, o som é delicado e faz o peito de Harry de estremecer em adoração, ele morde os lábios enquanto assiste a filha.

— Vou acordar essa dorminhoca... — Louis cutuca a barriga farta do bebê, seu ato é repreendido pelo marido.

— Ela não dormiu a noite toda! — Harry empurra o braço para longe. — Deve ser os dentes nascendo...

Os ombros de Louis balançam, sua postura cai gradativamente.
— Já? Ela está crescendo assim...

Harry forma um bico nos lábios, encarando o esposo com olhos empáticos. O relance de Tyler chutando a bola em sua direção o faz estremecer, a bola vêm a toda velocidade, antes fosse em sua direção... Se não fosse por Louis estendendo o braço em frente ao bebê, a bola acertaria Annalise. Como se o chute houvesse sido cálculado, teria sido certeiro se não fosse o bom reflexo de Louis. O ar esvai dos pulmões de Harry, por muito pouco uma
bola pesada de futebol não atingiu seu bebê em cheio. Ele estremece, deixando os lábios abertos em choque. Louis também esboça a mesma reação, piscando em choque para o que havia acontecido. Seu braço passa a ficar vermelho onde foi atingido, o que lhe faz soltar um chiado de dor. Louis recolhe o membro, encarando com as sobrancelhas franzidas.

— Isso foi o Tyler?!

Harry engole seco, redirecionando o olhar para onde o filho estava há poucos segundos. Tyler encara o pais com os braços cruzados frente ao corpo, uma carranca em seu rosto evidência seu descontentamento. Ainda sem saber se a fala de Louis havia sido uma afirmação ou pergunta, o cacheado assente. Afinal, o garoto era o único que estava brincando de futebol até então.

— Harry, isso me machucou... — A voz de Louis falha ao término de sua frase, ele ainda encara a pele lesionada de seu braço. — Ele queria atingir o bebê.

Harry ainda está absorto pelo susto, seu coração está normalizando as batidas.

— Está ardendo? — Ele toca suavemente a pele vermelha de Louis. — Deve haver alguma pomada na bolsa do bebê... A que está no carro.

O castanho faz um careta quando levanta, correndo em pequenos trotes para longe dali, o estacionamento não está muito longe. Harry espreme os lábios quando percebe o filho ficando mais próximo, provavelmente indo buscar a bola. Tyler para em frente ao pai, olhando para Annalise brevemento para procurar pela bola de futebol. Antes que ele pudesse dar meia volta, Harry o pega pela cintura, sentando o menino em suas pernas.

— Tyler, a bola quase atingiu a sua irmã, não viu? — O menino concorda. — Você a chutou para a nossa direção, poderíamos ter nos machucado... Principalmente a sua irmãzinha, que ainda é muito delicada.

— Eu sei. — O pequeno franze as sobrancelhas. — Mas o papai estava brincando comigo, não com ela.

De fato, é ciúmes. O que é compreensível, Tyler tem apenas quatro anos e até pouco tempo tinha toda a atenção dos pais focada para si, o que mudou com a chegada do bebê. Há muito esforço dos pais em integrar o filho nas atividades do bebê e na tentativa de deixá-los mais próximos. Ainda sim, ambos ainda são pequenos para isso e Tyler ainda é uma criança imprevisível.

— E você fez isso para chamar a atenção do papai.

— Para acertar nela! — Ele aponta o dedo indicador para o bebê.

— Não. — Harry arregala os olhos. — Ela é a sua irmã, você precisa cuidar dela! Não querer machucar a pobrezinha. Eu sei que está com ciúmes e nós entendemos seu sentimento, okay? Mas também queremos que você entenda que precisamos cuidar também de Annalise. Irá ter horas em que o papai vai precisar cuidar e da atenção para ela, assim como ele faz com você.

Permanecendo com as sobrancelhas franzidas, o menino pula do colo de Harry, firmando os pés contra o chão.

— O papai é meu.

O mais velho corrige a postura, inflando as narinas para o filho. Antes que possa lhe repeender novamente, ele enxerga o esposo pelo cantos dos olhos. Assim que se aproxima o suficiente, Louis pega o filho pelas axilas, ajustando o garoto sem colo.

— Você tem que tomar mais cuidado
com a bola. — Ele diz após beijar a bochecha do menino. — Eu sei que não foi por querer.

— Mas foi! — Ignorando o olhar alarmante de Harry, o menino diz sem hesitar.

— Certo. — Louis estala a língua no céu da boca, usando a mão livre para coçar os cabelos do filho. — Hora de ir.

— Você terá todo o caminho para pensar no que fez! — O tom de Harry é sério, o que faz o menino estremecer nos braços do pai, se encolhendo contra o peito de Louis. Por mais que corte seu coração ver Tyler acanhado dessa forma, é necessário ser firme.

-x-

3

Enquanto tenta conter o enjoo que sobe por sua garganta, Harry escuta atentamente todas as palavras dita por Louis, o qual já está a mais de meia hora falando sem parar. De fato, ele já falou por tempo o suficiente, os minutos foram contatos pelos ponteiros do relógio, que Harry encara pelos cantos dos olhos. Uma série de pedidos de desculpas, isso é o que aconteceu. Assim como na última vez em que Louis pediu para ser escutado, ele demonstrou estar arrependido. No entanto, no último episódio de arrependimento, Harry não foi um bom ouvinte. Ele apenas concordou, estando fraco e frágil para retrucar ou começar outra briga, somente aceitou Louis de braços abertos e terminou a noite com sexo de solidariedade. E é por isto que está tendo que lidar com essa situação enquanto sua vida aparentar estar caindo aos pedaços.

Ainda em silêncio, Harry cruza os braços em frente ao corpo, encarando o esposo nos olhos enquanto escova a parte interna da língua com a boca. Não há nada além de vazio em seus olhos e uma expressão indiferente estampada em seu rosto, impossibilitando que o outro lesse seus sentimentos.

— Você não vai falar nada?! — Louis está certamente incomodado com o silêncio tortuoso, lançando lhe um olhar confuso, onde havia um acúmulo pequeno de lágrimas nos cantos de seus olhos. Após tanto tempo falando e falando, pedindo que para Harry aceite suas desculpas, ao menos espera receber algo entre o sim e o não. Já esse silêncio, ele não sabe seu significado.

Harry assente, sentindo a garganta fechar quando ponderou dizer a primeira coisa que veio em sua mente. Ele toma um tempo, abrindo e fechando os lábios, decidindo de uma vez por todas, despejar a merda no ventilador.

— Eu estou grávido. — As sobrancelhas de Harry erguem ao término da frase, como se ele também estivesse surpreso.

Ele assiste o piscar absorto de Louis, que franze as sobrancelhas e desliza a língua pelos lábios. O castanho pousa a mão na cintura, batendo a língua contra os dentes, como se estivesse desistindo de falar algo. Sua expressão muda novamente, mostrando em seu rosto uma faceta incrédula.

— Ahn?

Por Deus. Harry leva os dedos até as têmporas, massageando a região, pedindo a si mesmo para ser mais paciente.

— Certo. A nossa última noite. — Não é preciso responder, as engrenagens do cérebro de Louis começam a funcionar. E tudo fica quieto novamente. Tão silencioso que é possível ouvir o som da garganta de Harry engolindo seco.

— Eu fiz o teste pela manhã, de sangue... No hospital.

As expressões perplexas no rosto de Louis vão sumindo aos poucos, ele toma fôlego antes de caminhar alguns passos para ficar próximo ao corpo de Harry.

— Meu amor, isso é muito bom. — O tom dos dedos no braço de Harry é frio, quase o faz estremecer. Isso causa uma ligeira confusão, os toques de Louis sempre foram quentes, mas dessa vez, sua pele parece não ter aceitado. O cacheado ergue apenas uma mão, pedindo por espaço, o que faz o outro recuar alguns centímetros. — O que há?

— Estou enjoado. — Ele prende o fôlego, soltando o ar em um lufada. — Mas estou enjoado de você, então vai passar.

O castanho ergue as sobrancelhas surpreendido, aceitando as palavras calado. Seu constrangimento é perceptível quando ele deixa cair o olhar sobre os pés, sugando o ar pelas narizas.

Querendo dar um fim a esta conversar tortuosa, Harry pigarreia antes de continuar.
— Olhe, quer saber... Ainda está na começo e você quer o divórcio, eu tiro. Sem problemas.

— Não, não... — Apesar de parecer tenso, a voz de Louis continua serena. — Harry esse é o melhor momento para uma gravidez!

— Está falando sério?! Você literalmente quer começar um divórcio, Louis.

— Esqueça, estou arrependido de ter pensando dessa forma. E eu falei isso para você, pela última meia hora! — O toque de Louis nas mãos de Harry é igualmente suave e macio como o tom de sua voz. — Pense bem, nós estamos com uma boa vida financeira, as crianças já estão crescidas, temos uma casa grande... Poderia ter momento melhor do que esse? Quero dizer, uma crise não é nada comparado com uma gravidez na adolescência e outra quando se está tentando conseguir estabilidade na vida.

— Eu entendo o que você quer dizer. — Em um movimento rápido, Harry esconde as mãos atrás de seu corpo, quebrando o contato com o esposo. — Mas você também precisa encarar isso com outros olhos, Louis.

— Harry...

— Não. — Ele adverte, recuando para manter a distância entre os dois corpos. — Olhe, quer saber... Você estava certo, precisamos de um tempo para nós dois, um tempo separado um do outro. Eu amo você, Louis. E tudo bem, vou aprender a lidar com isso quando estivermos separados. Não adianta dizer que você já não quer mais isso, um dia você quis... Então aproveite a oportunidade, faça tudo o que queria fazer. Entre em uma jornada de auto conhecimento, fodase.

— Não precisa ser assim.

— Precisa e será dessa forma. — Harry balança a cabeça de forma positiva. — Você escolheu a separação e eu escolho sustentar isso. Acredite, vai ser melhor assim.

Louis desliza a língua entre os lábios, engolindo tão seco ao ponto de faltar saliva em sua boca.

— E... esse bebê, Harry? Vamos criá-lo juntos, como fizemos com as crianças! Fomos felizes dessa maneira e vamos continuar. — Ele pondera em silêncio, gaguejando quando voltar a falar.

— Louis, por favor... — Harry clama, colando as palmas de suas mãos uma na outra, como se estivesse implorando por um tempo. — Eu não sei como vou fazer, mas não será desse jeito está bem? Entenda, não tem volta mais! Acabou! Você quis isso de antemão, fique feliz com o resultado.

— Tudo bem, que seja! — Louis se esforçou para sustentar um baixo tom de voz durante uma conversa em que queria gritar seus sentimentos, ele o faz nesse momento, esbravejando ao interromper as palavras do outro. Ele precisa de mais segundos em silêncio antes de continuar, suspirando para manter a calma. — Eu vou respeitar, qualquer seja a sua decisão. Se isso o que deseja, tudo bem... Mas não pense que serei menos pai do que fui para o Tyler e Annalise.

Os nomes ditos por Louis soam como um lembrete na mente de Harry, afinal não está sozinhos. A conversa só começou porquê as crianças estão dormindo, do contrário, ele teria pedido para tocarem nesse assunto em outro momento. No entanto, o som de pequenos pés batendo contra o chão, mostra que estava errado a respeito dos filhos estarem dormindo. Assim que escuta o sons vindo da escada, Harry torce o pescoço para o lugar, vendo o filho descer atentamente degrau por degrau. O garoto não parece sonolento, pelo contrário, seu olhar é alarmante quando checa ambos os pais.

— Tyler. — Louis cumprimente o garoto, indo abraçar o filho. — Você não deveria estar na cama?

— Eu não consegui dormir, então resolvi pegar um copo de leite. — O menino responde, suspirando aliviado quando seu corpo é solto pelo abraço apertado do pai.

— Sinto muito se nós atrapalhamos seu sono. — Harry diz da forma mais serena que consegue, tentando afastar os pensamentos que o menino havia escutado toda a conversa. — Vou esquentar um pouco de leite para você, está bem?

— Não precisa. — Tyler torce os lábios. — Eu sei usar o micro-ondas.

Dito isso, o garoto caminha para a cozinha, deixando os pais trocando olhares assustados. Louis espreita com a cabeça para certificar que o menino está longe, voltando a dizer algo quando se sente seguro novamente.

— É melhor eu ir.

Harry assente de forma hesitante, mordendo a língua.
— Está tarde, se quiser pode ficar... Temos um colchão no sótão, você pode colocar no seu escritório. A casa também é sua.

— Não, tudo bem. — Louis pega as chaves em mãos. — Eu deixei a casa aberta, irei ter que voltar de qualquer maneira.

Como se o som da porta batendo funcionasse como uma válvula, os olhos de Harry ficam imersos em lágrimas assim que está só novamente. Ele respira fundo antes de rodopiar nos próprios pés e alcancar Tyler, que já está indo para o quarto.

— Filho, é feio bisbilhotar outras pessoas... Você sabe. — Harry pousa a mão no ombro do menino, que lhe retribui com olhos arregalados pelo susto.

— Vocês estavam falando alto! Não foi culpa minha.

O mais velho nega descrente, inspirando fundo para não descontar suas frustrações em um discussão com o filho.

— O quanto você ouviu?

Tyler olha para os lados.
— O suficiente para saber que pessoas tiram bebês.

O cacheado engole seco.

— Venha, vamos dormir juntos essa noite... Podemos conversar até você sair no sono, hum? — Ele deposita um beijo no topo da cabeça de Tyler.

-x-

4

Há um conjunto de vozes ecoando pelo banheiro, o som estridente faz os ouvidos de Harry estremecerem. Ele caminha cansado até o cômodo, vestindo apenas uma bermuda a qual adotou como um pijama, o que lhe dá uma boa visão de seu abdômen definido. Enquanto anda em passos arrastados, em sua mente apenas lhe ocorre o pensamento de que os meses na academia foram em vão. Se sua intuição estiver certo, logo sua barriga estará tão gigante quanto uma melancia madura. Ainda acontece a pequena discussão no banheiro, ele para no batente da porta para observar a cena.

Ao que parece, Tyler se solidarizou com a pele da irmã manchada de tinta e ofereceu ajuda para Annalise, assim ela não teria que passar a noite toda esfregando o corpo com uma esponja. Anna veste uma camiseta cavada e a parte de baixo de seu pijama, o resto de seu corpo está coberto com tinta verde. Nem seu cabelo escapou, há listras verdes em meio a cor preta dos longos fios.

— Você tinha que pintar o corpo inteiro? — Tyler esfrega os braços da irmã, que está sentada na banheira.

— Eu não poderia arriscar! E se aparecesse algum pedaço da minha pele sem tinta durante algum movimento? — A menina retruca, ela também está ocupada em pentear o cabelo para tirar os resíduos da tinta que acumulou nos fios. — E não foi o corpo inteiro, só até os ombros e joelhos!

— Mas a sua roupa cobria até suas mãos e o calcanhar! Era só ser mais esperta. — O menino esbraveja a irritação contra a esponja, esfregando a pele da irmã com mais força, o que a faz guinchar pelo atrito.

— Você vai manchar o meu pijama!

— Dá próxima vez, faça isso sozinha. — De fato, está tudo errado. A porcelana da banheira está verde, assim como os pisos do banheiro. Fora, a tintar estar começando a manchar a pele de Tyler também.

No entanto, Harry sente tanto cansaço e há essa dor insiste no pé de sua barriga, simplesmente não lhe resta força para repreender os filhos. Do contrário, ele apenas choca os dedos contra porta e ignora toda a cena à sua frente.

— Anna, pode me dar um daqueles seus remédios de cólica?

A menina pisca confusa para o pedido atípico do pai, ainda sim, aponta para uma pequena caixa de remédios que fica no banheiro. Harry agradece a filha, dedilhando entre as diversas cartelas até encontrar uma apropriada para a dor que sente no momento. Mesmo que de relance, ele ainda consegue enxergar os olhos curiosos sobre si. Principalmente o olhar de Tyler, que está semicerrado para o pai... Como se seus olhos falassem. Ele não é mais um garoto inocente, se lembra de como o pai ficou na gravidez de Alicia e essas tais lembranças devem estar criando confusão em sua mente. Assim que encontra o remédio certo, Harry deixa o cômodo, desejando aos filhos uma boa noite.

As pontadas no pé de sua barriga o faz guinchar durante todo o percurso até seu quarto, é um alívio para Harry quando ele deixa sei corpo cair no colchão macio. O som do acolchoado faz Louis surgir no quarto, deixando o banheiro enquanto esfrega os cabelos recém lavados contra a toalha. O cheiro de sabonete inunda o ar do quarto, fazendo Harry murmurar em satisfação.

— Está tudo bem? — Louis abandona a toalha molhada em qualquer canto do quarto, seu comportamento teria gerado uma pequena briga se fosse outro momento. Ele senta ao lado de Harry, notando como o esposo infla as narinas quando inspira fundo.

— Apenas com dor... Cólicas. Peguei um dos remédios de Annalise.

A fala traz alguma lembranças na mente de Louis, que prende os lábios entre os dentes, pensando no que diria a seguir.

— Você realmente acha... Quero dizer, tem certeza?

O cacheado abre os olhos, ele franze as sobrancelhas enquanto encara o teto do quarto.
— É como se o meu corpo estivesse me dizendo alguma coisa.

Um sorriso fechado toma conta do rosto de Louis, que remexe o corpo no lençol para ficar mais próximo a barriga do esposo. Ele dedilha contra o abdômen de Harry, divagando enquanto desliza os dedos pela pele macia.

— Vai ser ótimo ter outro filho... Alicia vai gostar de ter um irmão que brinque com ela. Como Tyler e Annalise brincavam quando eram crianças.

Harry aproveita da posição para acariciar os cabelos sedosos de Louis, enrolando os dedos nos fios lisos.
— O Tyler demorou para se adaptar a Anna... Mas ele era filho único, Lilie já sabe lidar com a atenção dividida.

— Ou não. — O castanho pondera. — Talvez estejamos perto de uma grande dor de cabeça.

— Talvez. — Harry ainda pensa em como os filhos reagiriam a outro irmão e o quanto isso muderia tudo o que estão vivendo hoje. Tentando afastar os devaneios que lhe traz sofrimento por antecipação, ele deixa um sorriso incrédulo escapar quando pensa que definitivamente não pretendia engravidar novamente. Como se as palavras de Louis tivesse alguma força misteriosa, seus sintomas começaram dias após o esposo ter revelador querer outro filho. — Se eu estiver certo, todo o meu tempo gasto frequentando a academia, foi para o lixo.

— Você nunca precisou de academia. — Louis deposita um beijo no abdômen do esposo. — Até mesmo quando o Tyler nasceu, seu corpo continuou o mesmo, como se você fizesse séries de abdominais todos os dias.

— Invejoso. — Harry prende os cabelos de Louis para puxar os fios levemente, sua fala arranca sorrisos do outro. O silêncio predomina por alguns seguntos, o cacheado que antes encarava o teto pensativo, redireciona o olhar para o esposo, que também parece ponderar algo em seus pensamentos. — Você vai no hospital comigo, para fazermos o teste amanhã?

— É claro. — Louis diz sem hesitar. — Essa vai ser a primeira vez que vamos fazer isso juntos, em um hospital de verdade.

— Bom, uma hora teríamos que fazer isso. — De fato, será a primeira vez em que farão juntos, como um casal. A lembrança dos inúmeros testes anteriores voam pela mente de Harry, o que lhe faz dar um sorriso genuíno, seguido de um bocejo.

Antes que Louis pensasse em dizer algo, o som de metal caindo contra o chão faz seu corpo sobressair pelo susto, o eco dos corredores criou um verdadeiro estrondo. Logo, o barulho é seguido pelas vozes de Tyler e Annalise, que culpam um ao outro por ter derrubado seja lá o que for. Harry trava a mandíbula para o barulho, estufando as narinas pela raiva que sentiu ao escutar a bagunça que está acontecendo fora de seu quarto.

— Eles vão acordar a Alicia! — Ele bufa, imaginando que a filha caçula já teria acordado com o barulho.

Louis suspira, caminhando até a porta.
— Eu lido com eles, vá dormir.

— Obrigado. — Ele espreme os olhos pelo sono, checando o rosto bonito de Louis mais uma vez antes de fechar os olhos. — Eu te amo, okay?

— Eu também amo você, muito. — Louis lança um beijo para Harry, pronto para destruir toda a atmosfera romantica dando uma boa bronca em suas crianças.

...

E é com esse longo capítulo especial, que me despeço dessa fanfic :( Quero agredecer a todos vocês, por terem tirado um tempo para ler essa obra, significa muito cada notificação que chega desta história. Também vou deixar um obrigada muito grande a todos que me incentivaram a continuar essa obra, sou extremamente grata a vocês, admito que precisava de um empurrãozinho! E outras, vocês merecem, não é? Sei o quanto amam essa história.
Não pretendo parar de escrever! Confiram minhas outras obras no meu perfil, estarei postando uma long fic abo incrivel chamada PEACHES, deem uma olhadinha, prometo que irão gostar!

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