Accordo Di Vaniglia || KiriBa...

By brisada_6969

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Bakugou Katsuki subiu ao posto de Delegado de Operações Especiais ainda muito novo, dedicando toda sua vida a... More

Guia - Termos BDSM
Capítulo 1 || Boas Novas
Capítulo 2 || Não Solicite, Peça
Capítulo 3 || Resistência em Ruínas
Capítulo 4 || Em Plena Madrugada
Capítulo 5 || O Que For Preciso
Capítulo 6 || Interações Tranquilas
Capítulo 7 || Diálogos Mordazes
Capítulo 9 || Investigações Extraordinárias - Parte 1
Capítulo 9.1 || Investigações Extraordinárias - Parte 2
Capítulo 10 || Contextos Fragmentados
Capítulo 11 || Necessárias Concessões
Capítulo 12 || Infindáveis Disputas
Capítulo 13 || Embates Acirrados
Capítulo 14 || Relatividade e Aceitação (+18)
Capítulo 15 || Ansiedade Indecifrável
Capítulo 16 || Caóticos Princípios
Capítulo 17 || Troca Equivalente (+18)
Capítulo 18 || Vivências Reveladoras
Capítulo 19 || Sinceridade Esclarecedora
Capítulo 20 || Duelo de Interesses (+18)
Capítulo 21 || Planos Desarmoniosos
Capítulo 22 || Cenários Indulgentes
Capítulo 23 || Experiências Intensivas (+18)
Capítulo 24 || Tratando de Negócios
Capítulo 25 || Consolidando Fatos
Capítulo 26 || Muralhas Intransponíveis
Capítulo 27 || Confronto Direto
Capítulo 28 || Complacência Pacífica
Capítulo 29 || Lírica Indisciplinada
Capítulo 30 || Renúncias Retomadas
Capítulo 31 || Interrupções Impertinentes
Capítulo 32 || Ansiosos Impulsos
Capítulo 33.1 || Almejada Desambição (Parte 1)
Capítulo 33.2 || Almejada Desambição (Parte 2) +18
Capítulo 34 || Torpor Premeditado
Capítulo 35 || Reflexões Ressonantes
Capítulo 36 || Noite Serena
Capítulo 37 || Fim de Jogo (+18)
Capítulo 38 || Ausência Imprecisa
Capítulo 39 || Gatilhos Nostálgicos (+18)
Capítulo 40 || Instáveis Recomeços
Capítulo 41 || Justificativas Dissuadidas
Capítulo 42 || Comunicação Defasada
Capítulo 43 || Consumismo Enervante
Capítulo 44 || Egoísmo Profano
Capítulo 45 || Laços de Contingência (Parte 1)
Capítulo 45 || Laços de Contingência (Parte 2) +18
Capítulo 46 || Cuidados Enfáticos
Bônus || Claro Cortejo
Capítulo 47 || Apoio Indispensável
Capítulo 48 || Perpétua Entrega (+18)
Capítulo 49 || Resoluções Conflitantes
Capítulo 50 || Acordo Selado
Capítulo 51 || Dolorosas Conclusões
Capítulo 52 || Ébrias Declarações (+18)
Capítulo 53 || Conversas Imprescindíveis
Capítulo 54 || Novos Planos
Capítulo 55 || Excêntricas Alianças
Capítulo 56 || Desafios Intrigantes (+18)
Capítulo 57 || Concebendo Inimizades
Capítulo 58 || Doces Promessas (+18)
Capítulo 59 || Entre Flores e Adagas
Capítulo 60 || Cruel Nostalgia
Capítulo 61 || Inquéritos Invasivos

Capítulo 8 || Análises Inconclusivas

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By brisada_6969

Hey hey. 

Estamos com muitas explicações maçantes por aqui, peço desculpas, mas estou tratando tudo com muuuuita seriedade. 

Boa leitura! 

[>>>>>>>>>]

Narrado por Kirishima Eijirou

Droga, as milhares de cenas que se desenharam na minha mente, ao saber que o Delegado um dia foi tenente, me deixaram instigado, mas também cauteloso. Aquela estampa militar realmente deve combinar com ele, contudo, seu passado é mais espinhoso do que estava cogitando, a síndrome do pânico pode ter sido adquirida, a instabilidade vai dificultar a confiança.

Me mantenho o mais neutro possível, dando-lhe as respostas que quer em meio a pequenos flertes, movendo-me como ele desejava; construindo a fluidez do cenário. Me desconcertei em certos momentos, ao observá-lo de cima a baixo com menos tecido que o habitual obstruindo a belíssima visão. Tudo nele é perfeitamente esculpido, até as cicatrizes que desfiguram parte da tatuagem cobrindo as dorsais dos ombros à lombar. Passa um ar de superioridade e imponência, o que só me atiça mais para dobrá-lo ao meu dispor.

No treino, aproveitei sua exigência por auxílio para virar o jogo ao meu favor, ditar implicitamente, recebendo uma resposta imediata e concentrada, me fez ter novas perspectivas; a imagem daquele homem trocando golpes potentes e totalmente concentrado em mim, me levou ao descontrole.

Ao final de tudo, poder provar do sabor etéreo que tanto desejava naqueles lábios, quase me deixou sem chão, pois por mais provocante e seguro, fui desprevenido para o contato árduo e cheio de calor. A pele de Bakugou sob meus dedos tensionava e se moldava ao meu corpo como se fosse tudo o que precisávamos, o ar se perdeu em meus pulmões mais rápido que o normal, pois seu ímpeto em me acompanhar na fervorosidade foi uma retribuição inesperada.

Ele queria tanto quanto eu, porém tenho certeza de que não ouvirei isso saindo de sua boca tão cedo. Por ora, tê-lo obedientemente me seguindo até o carro, após fechar a academia do colega soldado – que não parece ser uma ameaça até onde analisei –, já é suficiente. O silêncio é denso e me preocupa um pouco, mas não tento evitá-lo ou preenchê-lo com palavras vazias, sei que para o Delegado deve ser necessário um tempo a se pensar.

O tempo até minha casa é cerca de 40 minutos, então deixo em mente que aos 20 de trajeto, tentarei falar mais abertamente sobre o que pretendemos debater e explorar essa noite, mas para minha surpresa, quando estou prestes a abrir a boca para dizer algo, o Delegado se manifesta primeiro:

— Por que você frequenta aquele lugar se tem sua sala de jogos particular? — o questionamento chega em tom acusatório, da forma agressiva que parece ser a única viável para Bakugou. Relaxo os dedos sobre o volante e sorrio ladino, esperando alguns segundos excedentes antes de proporcionar alívio a esta curiosidade pertinente:

— Dom's tem algo com impor dominância, não somente aos submissos que lhe servem, mas aos outros do mesmo nível. É como esbanjar a superioridade e a posse, exibir seu troféu — Aproveito o sinal vermelho para olhar na direção do Delegado, adorando o fato de que ele me encara sem qualquer temor, mas enrubesce gradativamente quando devolvo a observação sem quebrar o contato com as írises carmesins.

— Então pra vocês é tudo uma questão de status, só querem mostrar que podem colocar outras pessoas na coleira para fazerem o que querem, quando e como querem — O loiro finalmente desvia o olhar, deixando-me chateado, mas somente até que eu precise encarar a rua de novo. Fico incomodado com o desprezo em sua resposta, ainda mais quando a distorção dos fatos não agrega o que estou tentando explicar.

— É muito mais que isso, Delegado. Dom's gostam de mostrar que são dignos o bastante para ganharem a confiança do submisso, da pessoa que se doa por inteiro, de corpo, mente e alma. Geralmente, os submissos gostam de serem exibidos e exaltados por seus donos, mestres, dominadores... — falo calmamente, tentando escolher melhor as frases para não o deixar com mais conclusões inóspitas. Pelo canto dos olhos vejo que voltou a ter atenção em mim, então é provável que se sente mais confortável sem me encarar diretamente com o tema — Sei que parece algo somente carnal quando digo dessa forma, mas é uma entrega sem precedentes, que ultrapassa qualquer barreira física que você possa estar tomando como base. BDSM é um estilo de vida, uma arte; é um jogo que se joga a dois, uma cena onde a atuação nunca é unilateral, muito menos superficial.

Mais uma vez o silêncio recai sobre nós, permitindo que Bakugou tenha seu espaço e tempo para absorver e digerir o que estou elucidando. É complicado falar sobre isso sem que haja uma demonstração real, sem que ele veja com os próprios olhos uma cena se desenrolando bem à sua frente; ou sentindo na própria pele o gélido arrepio de estar fadado a confiar em outra pessoa para fazer o que quiser com seu corpo, levando sua mente ao auge de seus maiores desejos.

— Não gosto da ideia de ser submisso, seja de você ou de qualquer outro merdinha egocêntrico, só preciso encontrar esse assassino e mandá-lo para a cela podre que o aguarda — O loiro reclama quase como uma criança, coisa que me deixa tentado a ensinar como se deve mostrar mais respeito pela dominância que tanto o irrita, mas entendo sua fala como uma maneira de ser mais sincero na situação, expondo o que sente para que possamos chegar a um consenso.

De fato, eu imagino o que deve se passar em sua cabeça para dizer com tanta convicção que não se agrada com os papeis do jogo, mas pretendo mostrar que os conceitos que se formam em seus pensamentos podem estar equivocados.

— Sei que está entrando nisso por um propósito longe do habitual para quem costuma buscar essas coisas, mas tente pensar de outra maneira... Como quando era Tenente, ou até mesmo como Delegado, você impõe sua superioridade em seus subordinados por querer menosprezá-los, ou por ter ciência de que sua experiência é viável para mantê-los seguros e extrair o melhor que eles podem ter? — planto a pergunta no ar, conseguindo identificar uma pontada de perplexidade no rosto sempre fechado do loiro ao meu lado. Ele grunhe insatisfeito por não saber o que responder de imediato, mas já fico contente de saber que está mesmo cogitando refletir sobre.

O restante do caminho ao prédio é tranquilo, ainda com a tensão palpável pairando entre nós, se elevando quando entramos no elevador e perdurando até que a porta do apartamento esteja aberta para nos receber.

— Vou pedir algo para comer, você tem alguma preferência? — questiono ao deixar a carteira e chaves do carro em cima da mesa, olhando para o Delegado que mantém sua bolsa no ombro, observando os arredores da mesma forma que fez ao vir pela primeira vez. Talvez seja algo de policial, estudar o local alheio sempre que chega nele, mas aproveito o instante de sua distração para olhar para ele um pouco mais. Não queria estar tão obcecado por tê-lo quando seus objetivos claramente não me envolvem diretamente, porém não me canso de desejar essa impetuosidade na minha cama, debaixo do meu corpo.

— Que seja breve, não quero me estender por aqui — A fala do Delegado me deixa um pouco chateado, mas decido deixar rolar, não o falando sobre meus planos de tê-lo descansando em meu quarto de hóspedes esta noite, ao invés de sair para sua própria casa na madrugada.

— Bem, vou ver o que consigo. Por favor, fique à vontade, se quiser tomar um banho enquanto esperamos, posso te apresentar a sala de jogos depois e conversamos sobre a entrada no clube — jogo exatamente os fatos que ele deseja ter, depois de ser solícito e dar espaço para sua aceitação. Sei que ficar em expectativa para saber o que posso revelar, o deixa em constante estresse, tanto que me sinto quase culpado por tanto mistério, quando Bakugou relaxa visivelmente por minha promessa de rumo.

— Fico grato se me mostrar onde é seu banheiro — ele não olha para mim por muito tempo, soando mais acuado que antes. Seu tom de voz diminuiu, mas a potência permanece a mesma como defesa, estar no meu território o incomoda e é compreensível, porém tenho esperanças de que isso caminhe a outras possibilidades em breve.

— Claro, por aqui — oriento o loiro com praticidade, levando-o ao corredor e abrindo a porta do banheiro bem ao fundo, somente sinalizando onde ficam as toalhas aquecidas e outros itens e acessórios que possa querer, shampoo, condicionador, barbeadores e escovas. Não que eu esteja cogitando que ele vá precisar de tanto, mas se nossa aproximação for constante, quero que o Delegado já tenha em mente como se adaptar ao espaço.

Me afasto depois de deixá-lo familiarizado, indo até a cozinha para pegar uma taça de vinho branco enquanto escolho o restaurante para solicitar uma refeição. O tempo é crucial dentro dos preceitos desse encontro, para que Bakugou absorva tudo o que falei, antes de conseguir coisas mais palpáveis e concretas. Ele ainda não compreende a extensão psíquica e emocional dentro desse mundo, a hierarquia e a disciplina podem não ser difíceis de listar, mas por sua rigidez de se prender a este conceito como se estivesse considerando um pelotão do exército, torna as coisas bruscas demais para a suavidade do que tento mostrar.

É intenso, é brutal em certos aspectos e complexo em quase todos os trejeitos, porém não é ruim, errado ou desumano, pelo contrário, recorre aos impulsos mais carnais e instintivos do ser humano, o poder. O poder de controlar explicitamente os sentidos de outro ser de igual nível, igual força e mentalidade, é estar em uníssono com seus sentimentos, sem que algo precise ser posto em palavras; o poder de conquistar a plena confiança e inteira dominância por uma situação, um corpo, uma mente. Atender às necessidades e suprir as expectativas daquele que dispõe da obediência, da paciência para ter o que o dominador acha viável impor.

Sorrio um pouco depois de deixar o celular na bancada, com o pedido sendo processado para começar o preparo. O vinho parece ainda mais doce, talvez, eu possa estar me precipitando ao deleitar-me como se já houvesse vitória. Bakugou é um homem forte, naturalmente dominante, mas não somente por apreciar o status de superioridade, há algo nele que me faz pressionar, vasculhar o que tanto esconde, o que tanto teme nessas rédeas curtas para com os fatos ao seu redor.

Tempo, é a resposta primogênita de uma só pergunta com diversos sentidos ocultos, um questionamento que se divide em teorias sem base sólida, até que eu sinta segurança em lhe dar mais elementos na equação.

Em meio a toda essa reflexão, me perco em certas hipóteses preocupantes e um tanto devastadoras para meu fascínio. Posso estar sendo tolo, cego pelo desejo de ter um homem desses sob meu comando, sob minha proteção. Ele é capacitado para coisas que eu jamais poderei imaginar, mas a ansiedade que possuo para tê-lo da forma mais crua e intensa... é inimaginável, sua determinação me deixa inspirado, não há como mensurar.

— Tá sorrindo demais pra quem tá no primeiro copo de vinho, Cabelo de Merda — O apelido me deixa intrigado, mas sorrio para a figura imponente do Delegado retornando à sala. Ele mantém a mochila novamente jogada sobre o sofá do canto, vestindo roupas leves que destacam seu perfil até mais que o uniforme ou a roupa de treino. Calças de moletom grossas e confortáveis, a cor preta em toda sua neutralidade; a camisa branca é uma dádiva, pois todo seu corpo escultural tem uma ênfase gloriosa sem vulgaridade, apenas a suavidade das curvas de uma estátua grega.

Os olhos vermelhos se destacam em todo o conjunto, então permaneço com meu olhar fixo no dele por alguns segundos arrastados, sorvendo aquela intensidade óbvia que o Delegado devolve sem pestanejar. A dinâmica de disputa é empolgante e me deixa cada vez mais tentado a prosseguir, porém não a estendo mais do que é necessário, sabendo que temos coisas melhores a conhecer.

— Temos alguns minutos antes do jantar chegar, me acompanha em um tour educacional sobre os elementos do BDSM na prática? Fica tranquilo que não é obrigatória a roupa de couro — falo com uma pitada de ironia, somente para ver aquela curvinha sutil que o lábio superior do Delegado forma ao se erguer, do lado direito, mostrando o canino afiado em um rosnado baixo. Tão sexy e tão fácil de conseguir. Ele ainda faz o combo, cruzando os braços fortes na frente do peito para deixar tudo mais evidente em sua tensão colérica.

— Não me irrite e mostra logo essa porra, Kirishima. Fica tranquilo que não é obrigatório uma testemunha pra eu arranjar motivo em te descer a porrada — dou risada pela resposta tão gentil e paciente, já caminhando em direção ao corredor com o policial logo atrás, provavelmente me fuzilando com o olhar.

— Nossa, eu amo esse tipo de ameaça em propriedade privada. Nunca fiquei tão excitado com o abuso de poder policial — tento descontrair um pouco mais, porém Bakugou já aderiu a uma seriedade sem igual, me olhando como um predador na selva enquanto enrolo com a mão pousando na maçaneta da porta de mogno.

Sei exatamente o que vou encontrar ali do outro lado, mas Katsuki pensa que verá o que?

— Ansioso, Delegado? — questiono tirando a mão da maçaneta, bebendo mais alguns goles do vinho que ainda resta na taça da outra mão. Ele parece severamente concentrado, então me surpreendo de tê-lo mantendo o contanto visual quando traz uma devolutiva:

— Quero estar preparado para lidar com o que tem naquele lugar, pois preciso de toda e qualquer informação que me ajude a traçar um perfil psicológico psicopático e suspeito entre os frequentadores. Não trate isso como se eu fosse a porra de uma virgem desastrada prestes a ir para o quarto vermelho, você não é a merda do Christian Grey — Ora ora, que bela comparação! Parece que temos um admirador da literatura erótica por aqui?

— Cinquenta tons de cinza, huh? Olha só, parece que tem estudado o assunto... Sinto muito por ser difícil achar livros desse tema que se encaixem melhor na sua realidade — É tão fácil me deixar levar pelo novo assunto, mas para o loiro parece muito inviável no momento, pois suas bochechas queimam e ele dá um passo a frente para se justificar, se antecipando fisicamente por conta da insegurança.

— Não venha me julgar, idiota. Estou fazendo tudo que tem ao meu alcance, não sou um expert de sadomasoquismo como você e não vou apenas sentar e esperar a sua boa vontade. E o que caralhos você quer dizer com encaixar na minha realidade? Acha que sabe alguma coisa sobre mim? — Creio que estou excedendo o quanto posso deixá-lo bravo, pois o pescoço dele está com veias ainda mais aparentes por conta do estresse, consigo ver o quanto seu peito sobe e desce mais rápido e as mãos tensionam para evitar o tremor.

— Sei que você é gay e poucos livros famosos abordam a homossexualidade no BDSM, então não se preocupe, uso apenas os fatos que você me deu de bom grado. Aliás, espero que continue me dando cada vez mais, assim como eu pretendo dar bastante a você — A ambiguidade dos meus dizeres torna isso tudo ainda melhor, tanto pela expressão azeda do policial quanto por sua falta de resposta.

Sorrio largo por ter vencido esta pequena batalha, mas sou ameno ao abrir a porta da sala de jogos logo de uma vez, além de dispor uma trégua sobre o assunto, sem usar deboche para que meu acordo de paz seja tratado com veracidade.

— Tenho alguns romances mais adequados para sua pesquisa, vou emprestar algum. Somente... trate como confidencial, por favor. Eu não os divulgo para terceiros — Arriscado, é um passo experimental e sem concretização de bons resultados à vista, mas sinto que se vamos entrar nisso, tem que ser recíproco. Elos de confiança não são somente contratuais ou intermitentes, deve ser algo contínuo e equilibrado em todos os parâmetros. Se não dispuser de algum tratado de igualdade nesse quesito, não há por que insistir tanto em exigir isso dele.

Entramos no local e Katsuki permanece em silêncio olhando ao redor, a sala tem as paredes acinzentadas, apesar de vermelho ser uma das minhas cores favoritas, não considerei uma opção para minha sala; os móveis de madeira escura são discretos, selecionados e criados para se adequarem ao ambiente de forma minimalista; metade do chão na ala Norte tem piso coberto por linóleo, onde o cavalete fica firmado ao piso com firmeza, a cera de vela na madeira polida da ala Sul seria um problema complicado.

Nas paredes, apenas quadros excêntricos, uma mistura de modernidade e jogo de sombras, silhuetas de corpos dos mais diversos tipos, gêneros, estaturas e posições; compartilhadas ou individualistas, eróticas e poéticas. Creio que pelo olhar astuto de Bakugou, ele deve estar buscando as ditas ferramentas de sadomasoquismo que – pelas diversas teorias – deveriam estar em ganchos grotescos nestas paredes elegantes.

— Onde estão os chicotes, varas, pedaços de pau, sei lá que porras você usa pra espancar as pessoas? Não parece um quarto diferente dos... — O comentário do Delegado morre ao olhar para cima, enxergando os estrados e correntes recolhidas, as quais utilizo para suspensão e certos tipos de shibari.

— Não se engane pela romantização do sadomasoquismo como uma sala de tortura, aqui não é um local onde desejo trazer a sensação de temor, apenas... acolhimento — declaro deixando a taça de vinho vazia sobre uma mesa no canto da parede, passando pelo cavalete até alcançar o display ao lado de uma cômoda, onde consigo controlar alguns itens bem interessantes. Aperto o primeiro botão para acionar o sistema de voz, sorrindo leve ao escutar minha assistente virtual dando boas vindas.

"Bem vindo de volta, Mestre. Gostaria de rever suas configurações para o reconhecimento de voz?"

— Obrigado, Hether. Sim, configurar reconhecimento de voz. Novo usuário — declaro em alto e bom som, acenando precisamente ao escutar o sinal sonoro para realizar o comando. Olho para Katsuki, que se manteve atento a cada movimento meu, encarando-me levemente confuso e admirado — Diga seu nome com clareza.

— Bakugou Katsuki — A voz rouca e profunda quase me faz estremecer, porém disfarço como é possível, voltando a encarar o display que apresenta as ondas sonoras de sua reposta ao sistema de reconhecimento.

"Bem vindo, Bakugou Katsuki. Informe sua ordem protetiva de limite excedido"

A nova ordem de Hether soa por todo o cômodo, mas o Delegado continua com uma expressão intrigada, buscando em meus olhos uma forma de como responder a isso. É um ponto que precisamos conversar, então fico feliz que o policial não pareça mais tão arisco para lidar com o assunto.

— Ela está pedindo por uma palavra de segurança, para muitos pode ser apenas um detalhe, mas a essência do BDSM envolve a transparência junto a confiança. É sobre explorar os limites do corpo e da mente, do prazer e da dor. Se estiver em seu ponto de ruptura, deve informar, caso considere que a cena não pode continuar ou se deseja não prosseguir, a palavra de segurança fará com que tudo acaba de maneira imediata e sem qualquer hesitação — minha seriedade agora pode até ser um tanto assustadora, pois não nego que já presenciei coisas perturbadoras pela falta de racionalidade dos envolvidos na cena, a quebra do elo de cumplicidade que levou a limites extrapolados e consequências graves.

— "Pare com isso" já não é suficiente? Você vai o que, me fazer implorar por misericórdia? Já lidei com coisas piores na guerra — Sua pose de ceticismo não me surpreende, mas vejo que a rispidez em seu linguajar não é mediante qualquer divertimento com o assunto, somente a mais pura incompreensão.

— Certas coisas são ditas em cena, mas não condizem com o real desejo de seu corpo. A questão é se entregar completamente a outra pessoa, então é normal que haja o receio, o medo e o temor, quando as coisas começam a subir de nível. Quando o estímulo for demais, for algo que você pensa não conseguir aguentar... — declaro pausadamente, dando passos na direção de Katsuki para ver o quanto consigo chegar sem que ele recue. Sei por sua expressão sólida que está sentindo a ameaça de minha aproximação, mas seu queixo se ergue e ele mantém a postura altiva, até que estou colado a ele, com poucos centímetros ditando a distância entre nossos corpos — Aguenta. Pode parecer mais fácil pedir que pare, que tudo cesse por completo, mas quem dita o ritmo do jogo, sou eu. Quem pretende mostrar até onde pode chegar, sou eu. O desconhecido pode parecer assustador, mas se realmente confiar em mim, acredite... Será valoroso ultrapassar a linha que te leva ao mundo novo de possibilidades.

— Então você se recusaria a parar caso alguém pedisse por isso? Devo levar como uma confissão de abuso, Kirishima? — Katsuki se adianta quase pisando no meu pé ao colar nossos peitos, compartilhando a mesma respiração que a minha e encarando-me com os olhos em chamas. Sua expressão é mais do que perigosa agora, então não hesito em recuar com as mãos erguidas, mostrando que jamais pensaria em algo do tipo.

— Vamos por outro lado, Delegado... A palavra de segurança serve para que eu saiba exatamente quando seu limite foi atingido, quando não há mais espaço para continuar o jogo, seja ele qual for. Isso é uma cena, lembre-se que papeis são interpretados a todo momento. Um dominador e um submisso, aquele que controla e aquele que se dispõe a ser controlado. — Volto a me aproximar do display na parede, apertando mais alguns botões para abrir o compartimento onde estão guardados os acessórios que ele esperava ver. Depois que a placa vira na parede, expondo os itens diversos e perfeitamente alinhados, volto a olhá-lo — A palavra de segurança existe para garantir que o dominador não exceda a integridade de seu submisso, é a coisa mais importante dentro de uma cena, a garantia de que nada passará o limite do são, seguro e consensual. Não abro mão disso mesmo que seja apenas um teatro para sua missão, por favor, escolha uma palavra para configurar o sistema.

— Pode ser qualquer coisa? — Ao ter seu questionamento, fico aliviado de estarmos na mesma sintonia. Consigo prever certa desconfiança, mas creio que aos poucos conseguimos construir essa base estrutural para dar certo.

— Qualquer coisa específica que não diria em contextos comuns — Sou mais específico para apoiar sua decisão, apertando novamente a configuração para salvar seu código protetivo em seguida. Bakugou acena com as feições duras, como se estivesse prestes a ditar um plano de interceptação no esquadrão aéreo.

— Gerânio — O Delegado fala sem hesitação, sendo respondido de imediato pelo sistema de reconhecimento, apesar da minha clara confusão com sua escolha. Não imaginava que uma flor seria sua escolha principal para algo do tipo.

"Ordem protetiva de Limite configurada: Gerânio. Qualquer atividade será interrompida com o pronunciamento desta no cenário"

— Bem, por que... — Antes da minha pergunta chegar ao fim, a campainha nos tira a atenção e Bakugou se vira para a porta com as mãos sobre a cintura, infelizmente não encontrando sua arma que deve estar guardada a esta altura — Tudo bem, é só a comida — Amenizo um pouco sua postura defensiva, mas me incomodo com o afastamento óbvio que ele dispõe quando tento tocar em seu ombro. Talvez o contato físico ainda seja uma má ideia — Vamos comer e depois continuamos, está bem?

— Tsc, que seja — Para quem estava tão curioso, o loiro dispara rápido demais para fora do cômodo, apressando-se em ficar perto de sua bolsa sobre o sofá quando chega na sala de estar. Busco o pedido na porta e começo a organizar tudo na mesa, observando pelo canto dos olhos o Delegado olhando seu celular com o cenho franzido, provavelmente se atualizando com o caso ou apenas se doando para o que ainda não tem resolução.

Decido aproveitar e manter o silêncio confortável que se instala quando começamos a comer, já é suficiente para mim saber que Katsuki não desgostou da minha escolha para o jantar e que está calmamente se alimentando, como não deve estar fazendo adequadamente nos últimos tempos conturbados. Sinto a necessidade de falar sobre alguns adendos em contrato, como seria comum fazer se isso fosse real e nossa relação tivesse meios convencionais de início.

Eu prezaria plenamente por poder controlar melhor sua rotina, seus hábitos e seus métodos de vida bem de perto; apreciaria se ele me desse poder para lhe dar visões imparciais sobre o que pode ser melhor para si ou não, porém imagino que esses critérios jamais seriam aceitos por alguém como ele.

Sua expressão não se torna mais amena com o tempo, apenas mais sobrecarregada e repleta de linhas firmes, como se Bakugou ponderasse veemente sobre o que sabe e o que vem absorvendo desde o início de nosso diálogo. A tensão que ainda o envolve deve ser pela menção de continuarmos com as apresentações, até o instante em que faremos isso acontecer na prática, como ensaios gerais antes do grande espetáculo.

Mal posso esperar para tê-lo de joelhos sob minhas ordens, mas me aguento para perguntar sobre a possibilidade de uma cena experimental até que ambos estejam satisfeitos, com as louças sendo guardadas na lava-louças sob meus protestos, já que Katsuki aproveita sua chance de ignorar plenamente qualquer pedido meu enquanto pode.

Apenas... enquanto ainda pode.

— Acho que podemos seguir com algumas demonstrações e planos para... — Não consigo chegar a questão fundamental desta noite, pois no momento em que o celular do loiro toca, fora do habitual de apenas vibrar e sinaliza-lo de notificações, o Delegado atende com uma velocidade que consegue me surpreender.

— Bakugou — ele diz simplesmente, ouvindo com atenção o que a pessoa o diz no outro lado. Seja lá o que for, parece ruim, pois os movimentos do homem são precisos e sem rodeios ao buscar a mochila no sofá, já caminhando decidido até a porta — Maldito Deku! Eu estou indo agora, em 30 minutos estarei chegando — A sua impetuosidade me preocupa a níveis alarmantes, pois o vejo desligar o aparelho e me encarar muito preocupado, a ponto de mal permitir que meu questionamento aconteça — Eu preciso de um carro, prometo trazê-lo de volta hoje.

— Eu posso te levar até onde precisa ir, posso ir com você se... — Bakugou aparenta ficar mais chateado do que já estava, se aproximando alguns passos para se fazer ainda mais entendível do que seria com mais distância.

— Kirishima, não gosto da ideia de falar da minha vida pessoal com você, mas agora eu preciso do seu carro e posso explicar depois. Você pode ser útil e me ajudar ou eu posso simplesmente fazer o percurso correndo, apenas decida se quer mesmo lidar comigo da forma que estou disposto a fazer — Cortante e direto, o Delegado sabe bem como usufruir de sua imponência para colocar alternativas óbvias em jogo. Me sinto frustrado pelos planos interrompidos, mas talvez mais indignado por não conseguir exatamente tudo o que quero como pretendia.

— Tudo bem, você sabe onde ficou... — Pego as chaves de Louise e entrego ao loiro, que sai sem ao menos um agradecimento, deixando a porta aberta atrás de si para não perder tempo.

Me vejo mais uma vez sozinho dentro desse enorme apartamento, com todos os meus cenários prediletos sendo colocados de escanteio uma vez mais. Não sinto que a interação de hoje foi completamente fracassada, mas tenho a impressão de que estamos longe de chegar em algum lugar.

Seja pelo meu fascínio obsessivo ou pela retenção instintiva do policial, não há como prever se essa missão será um grande sucesso ou um completo desastre, só sabemos que ela acontecerá com preparo ou não, pois Bakugou é determinado em seus objetivos, ele não desiste e fará com que a realidade exceda qualquer expectativa.

Por ora, só me resta buscar mais uma taça de vinho branco, antes de me sentar à frente do computador para uma breve pesquisa. O livro que recomendarei ao Delegado, deixo sobre a mesa para entregar quando tiver a chance posteriormente, o título "Ardentes Presságios" estampa a capa de couro reluzente e a taça de vinho ao lado tilinta pelo líquido gelado.

Ainda há tanto que preciso saber e nada que Katsuki tenha vontade de compartilhar, mas sua escolha concisa para a palavra de segurança me deixa pensativo, ainda mais pelas pesquisas que surgem em minha tela gradativamente.

"Gerânios estão associadas a superação pessoal, por serem flores delicadas e altamente resistentes à adversidades, contudo, os gerânios de cores escuras podem representar a tristeza; gerânios rosa, preferência; vermelhos, o consolo. Com forte carga sentimental, as cores mais vivas podem se relacionar ao romantismo e a sensualidade."

Novamente, tudo sobre o policial é misterioso e intrigante... Vamos lá, Katsuki, em qual sentimento você se prende? Os significados são somente blefes, ou há uma informação além do que posso encontrar com ferramentas de busca?

Algo me diz que não vai demorar até que essas respostas caiam exatamente sobre o meu colo, farei questão de que isso se torne tão real quanto qualquer missão. 

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