— E então, doutor? — Luna perguntou ao cirurgião plástico.
— Serão de cinco a dez sessões de cirurgias para tratarmos essa superfície dela, é um grande desafio mas não impossível. — passava as mãos no rosto de Rebeca mostrando certos pontos — Óbvio que ela continuará tendo que fazer alguns tratamentos estéticos, nada de muita intervenção, queremos deixá-la o mais natural possível.
— Quando podemos começar?
— Já pode marcar para amanhã, se quiserem.
— Quanto mais rápido melhor. — Luna sorriu — Viu, Rebeca, eu te disse. — abraçou-a.
— Muito obrigada, Luninha. — Rebeca deu um sorriso de pura gratidão.
...
Dois meses depois...
Não era apenas Rebeca que estava com os olhos vendados esperando para ver o resultado da última cirurgia, Luna também estava querendo se surpreender e portanto, Matias tapava seus olhos.
— Estão prontas? — o médico terminou de tirar a faixa do rosto de Rebeca.
— Sim. — responderam juntas animadas.
— Pois bem... — tirou a venda da mulher e Matias soltou as mãos do rosto dela.
— Meu Deus... — Rebeca se olhou no espelho emocionada.
— VOCÊ TÁ LINDA! — Luna correu até ela e abraçou-a.
— Obrigada, meu amor. — beijou a testa dela — Por tudo, minha linda.
— Sabe... eu me apeguei muito em você Rebeca, quero que more comigo e que você seja minha madrinha.
— Tem certeza?
— Simmm! — pulou animada e elas voltaram a se abraçar.
Matias sorria observando, estava feliz de ver que sua menina se sentia bem na presença da mulher, era um vínculo que tinha se criado. Luna cresceu sem a mãe e Rebeca não criou a filha, se completavam.
Saíram do hospital e passaram em um salão, tanto Luna quanto Rebeca fizeram o cabelo. A adolescente cortou, a mais velha mudou a cor e colocou aplique, foram fazendo compras pelas ruas de Miami, a mais velha já voltava a chamar atenção dos homens na rua por cada lugar que passava.
— Semana que vem voltamos para o México. — Luna falou abraçada ao braço dela — Até porque, logo começam minhas aulas, agora eu sou estudante do ensino médio. — sorriu.
— Que orgulho de você, princesa. — Bárbara beijou o cabelo dela — Não é, Matias?
— Sim, senhorita Rebeca. — concordou — Luna sempre me deu muito orgulho.
— Eu imagino. — mirou a garota.
— Matias, você nunca namorou? Ou casou? — a adolescente perguntou.
— Eu já fui casado, querida. — pegou as sacolas da mão de Luna — Minha esposa faleceu antes de você nascer, ela e minha filhinha em um acidente... — abaixou a cabeça.
— Eu não sabia... — Luna procurou pelo olhar de Matias.
— Quase ninguém sabe... Aí você nasceu, seus pais não te davam atenção, então comecei a me dedicar a você e estou aqui até hoje, querida. — o velho respirou bem profundamente — Você foi como uma bóia, que me trouxe do fundo da água onde eu tava me afogando, por isso sempre procurei te dar atenção, carinho.
— Eu sei bem disso, você tinha paciência de ler várias histórias para que eu pudesse dormir. — foi até ele e o abraçou encostando a cabeça no peito dele — Você nunca mais se apaixonou?
— Preferi me dedicar somente a você.
— Deveria ter cuidado de você também, Matias. Mas eu cresci e agora tem a Rebeca comigo também, então nós vamos arranjar uma namorada pra você.
— O QUE?
— Sim, sim, sim! — Rebeca comemorou junto com Luna.
— Luna, eu acho que...
— Assim que voltamos para o México, vamos fazer de tudo pra você arranjar alguém. Ebaaa! — a menina ria do semblante do homem.
— Por que eu ainda concordo com essas coisas? — ele negou com a cabeça.
— Porque você me ama. — beijou o rosto dele.
...
Aurora abriu a caixa de correio e viu que todas as últimas cartas que havia escrito para sua mãe tinham voltado para ela, sem abrir, completamente intactas. Ela entrou em casa e sentou no sofá encarando os envelopes.
— Mamãe, mamãe! — Santiaguinho entrou correndo e logo seu pai e seu tio Eduardo apareceram atrás dele.
— Oi, meu amor. — pegou-o no colo e sentou ele na perna.
— A vovó respondeu?
— Então... não... E dessa vez, todas as últimas cartas que eu mandei... voltaram, não foram sequer abertas. Mas ela lia todas e respondia todas. Aconteceu alguma coisa e eu vou ligar no presídio para saber.
— Não aconteceu nada, meu amor. Se tivesse acontecido algo, teriam ligado avisando. — Santiago comentou.
— Não vou ficar em paz se eu não ligar lá, Santiago. Isso está estranho. — ajeitou o filho nos braços.
— Você quem sabe...
— Vem tomar banho, seu porquinho. — Aurora saiu com o filho.
— Nãoooo.
— Você tá aprendendo a ser porco com o seu pai. — começou a subir os degraus com ele.
— Aurora! — Santiago se virou na direção da esposa.
— É verdade e você sabe. — a jovem morena sumiu do olhar deles.
— O que pode ter acontecido com Bárbara? — Eduardo encarou o cunhado.
— Eu acho que não aconteceu nada, às vezes Aurora errou algo no endereço, ou Bárbara foi transferida de cela e a carta não chegou nela. Não é nada grave. — sentou-se.
— Vai saber. Bom, eu vou dar uma volta na cidade. — pegou as chaves do carro e saiu.
Eduardo saiu dali direto para o presídio, ao chegar na entrada, caminhou-se até a portaria do mesmo onde estava um policial trabalhando. O oficial se levantou chegou perto da janela da guarita abrindo.
— Em que posso ajudar?
— Eu queria uma informação sobre uma das pessoas desse complexo.
— Pois pode me dizer o nome?
— Rebeca Sanchez Frutos. — ajeitou a postura.
— Um minuto. — voltou para o computador e começou a procurar enquanto Eduardo esperava — Ela não está mais nesse complexo, foi solta há quase três meses.
— Solta? Tem certeza?
— Sim, é o que consta. Entraram com um pedido de soltura por condições psicológicas.
— Como assim?
— Fizeram exames psicológicos com a então detenta e se certificaram de que ela precisava de cuidados nesse quesito, pois levantaram que as faculdades mentais dela estavam péssimas. Recorreram a sentença e ela está respondendo em liberdade sob tutela de outra pessoa e com a condição de que ela faça tratamento com um psiquiatra para poder voltar a conviver em sociedade. — pegou uns papéis nas mãos lendo — Pelo o que está marcado aqui, ela teve três dos melhores advogados do país e uma psiquiatra para ajudá-la a recorrer.
— Sabe quem tem a tutela dela?
— Infelizmente não posso dizer, isso já é uma informação confidencial.
— Ok... — balançou a cabeça compreensivo — Sabe e ou pode me dizer onde posso encontrar ela?
— Única coisa que sabemos é que ela se foi à Miami para passar com alguns médicos dermatologistas e cirurgiões plásticos para ver se conseguiam reverter a situação dela. É o máximo que podia te dizer.
— Obrigado, isso já é o suficiente. — assentiu e saiu voltando para o carro, ao entrar arregalou os olhos ao sentir a ficha cair — Meu Deus, ela foi solta. — deu partida e saiu com o carro totalmente perdido e curioso.
...
— Luna, eu quero mudar meu nome. — a loira falou fazendo cafuné na adolescente enquanto assistiam televisão.
— Assim que voltarmos pra casa, a gente vai no cartório e você muda. — falou sonolenta abraçada ao corpo dela.
— Me acostumei a ser chamada de Bárbara, eu quero que seja meu nome oficial, não me traz lembranças boas, todavia justamente por isso que eu quero voltar a ser chamada assim pra mudar meu histórico. — beijou a cabeça dela.
— Então já vou indo me acostumando a te chamar de Bárbara. Tia Barbie. — sorriu — Passei minha vida toda sem um carinho feminino e alguém que pudesse me aconselhar em certos assuntos que Matias não podia... — segurou a mão da mulher.
— Eu te entendo... Passei por isso e minha filha cresceu longe de mim em uma situação precária. — continuava o carinho — Eu não vou substituir ela por você, claro que não. Amo a minha filha, meu neto e em algum momento vou ter que ir atrás deles e de toda a família Elizalde para pedir perdão. Mas você, Luna, você me adotou, não foi nem o oposto e eu quero cuidar de você e te apoiar em tudo, não quero e não vou te deixar por nada, minha princesa.
— Eu também não vou te deixar, nunca. — se confortou mais ainda nela.