A nerd e a Popular (em revisã...

بواسطة Hiyola_girl

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Hermione era muita coisa em minha vida... Era a nerd que me ajudava no dever. A chata que me impedia de beber... المزيد

Aquela sensação
O Amor Muda.
Emergência Gay
Cheiros
Ser forte.
De volta pra casa.
A festa.
Provocações.
S.O.S emergência lésbica.
Emprego.
Minha Lua.
Mudanças
Ato de Coragem.
Amar
Luz.
Padrinho e Afilhado.
Cobertor
Romper.
Conselhos de Tonks
Bebedeiras e Megeras
Bom menino
Egoísmo
Família
Princesas
Pote de Vagalumes.
Barreiras.
Refúgio
Refúgio ( parte 2)
Pagando Promessa
O que mais?
Clichê
Definitivamente namoradas.
Sua esposa(último capítulo)
Especial 1: Meu filho me odeia.

Eterno

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بواسطة Hiyola_girl


Pansy Parkinson

A segunda feira começou excepcionalmente feliz desde o momento em que eu acordei. Talvez fosse responsabilidade pelo ótimo encontro que eu tive com Hermione, porque eu sentia tudo ao meu redor ser mais colorido do que provavelmente era. Eu não havia sentido preguiça ao levantar, muito menos havia demorado no banho fazendo corpo mole. Por um milagre a neve em Londres havia cessado, deixando apenas o frio do inverno nessa altura, mas nem ele conseguiria me incomodar.

— Ei, você chegou.- Hermione saudou na porta de sua casa, parecendo querer falar mais algo em seguida. Não foi possível, eu segurei seu rosto entre minhas mãos logo após vê-la, beijando seus lábios num selinho demorado.

— Bom dia!- Sorri ao me afastar, vendo-a repetir a ação. Não resisti ao impulso, me aproximando mais uma vez para beijar Hermione. Ela riu, e eu repeti o ato por mais algumas vezes, em todo seu rosto.

Minha movimentação fez com que Hermione tombasse para trás, rindo do que eu fazia. Por algumas vezes eu escutei ela dizer “ Espera, me escuta.” Ou então chamar meu nome em tom de repressão, mas eu continuava a bombardeando com beijos. Entramos na casa, e eu a empurrei para a parede, ficando cara a cara consigo.

— Pansy, eu estou tentando te avisar que...- Eu interrompi de novo, beijando mais demoradamente dessa vez. Hermione, apesar de ser interrompida, se aproximou mais de mim, colocando as mãos nos meus ombros enquanto uma minha descia para sua cintura, a puxando para mim, e a outra ia para seu cabelo, se emaranhando ali.

Ela sorriu entre o beijo, o que fez com que eu me afastasse minimamente. Afundei mais ainda minha mão em seus cachos, sentindo a fragrância do shampoo dela se espalhar. Era incrível pensar que até essa pequena parte de Hermione era viciante e conseguia me deixar entorpecida instantaneamente.

— Hermione quem...Ai meu Deus!- A voz exasperada da mãe de Hermione fez com que nós duas pulássemos no lugar, nos afastando imediatamente. Eu tinha uma mão tampando minha boca, não se sabe se pela vergonha ou pela estranha vontade de gritar. Subi o olhar envergonhada, vendo Tia Jean com um olhar petrificado sobre nós.

— O que foi querida?- Seu marido surgiu da cozinha, parando ao seu lado. Nos encarou confuso, porém ao analisar por alguns segundos pareceu entender. Sorriu para nós duas, com um ar divertido. — Bom dia Pansy.- Saudou.

Eu virei meu olhar para Hermione, que tentava arrumar a pequena zona que eu havia feito em seu cabelo. Lancei meu melhor olhar de “ Você deveria ter me avisado!” e ela arregalou os olhos, provavelmente irritada. Anos conhecendo-a me faziam crer que ela respondera algo como “ Eu tentei, mas você não deixou”.

— Bom dia tio Aron, tia Jean.- Eu cumprimentei, dando graças a todos os deuses pela minha voz ter se mantido firme.

Os dois me chamaram para tomar café com eles, e me senti obrigada a aceitar. Hermione estava logo atras de mim, e eu busquei sua mão em minhas costas, para ter algum tipo de suporte enquanto andava. Eu me sentida de certa forma sendo levada a forca de bom grado, e meu rosto queimava em vergonha. Me culpava mentalmente por não ter dado espaço para Hermione falar, tudo isso seria evitado.

Me sentei no banco do balcão da cozinha e Hermione me acompanhou, sentando ao meu lado. Ainda estávamos de mãos dadas abaixo do tampo, e eu não conseguia olhar para frente, me entretendo apenas com o movimento giratório do banco. Podia sentir olhos em mim, e me perguntava quanto tempo até aquela tortura acabar.

— Então, vocês duas...- O pai dela iniciou, e eu senti meus ombros encolherem com o som da sua voz. Alguns instantes de silêncio se passaram. — Já não era sem tempo, não é?- Ele assobiou. — Espero que não se assustem, mas eu terei que restringir suas visitas para cá, senhorita Parkinson.

O tom brincalhão me fez levantar o olhar, surpresa. Aron segurava a risada, e sua esposa batia em seu ombro rindo. A mão de Hermione apertou-se mais a minha, enquanto seu rosto virava em timidez.

— Podemos não fazer isso ser mais vergonhoso do que já está? — Ela pediu, e dessa vez eu que tive de rir. — Pare você também.

Eu obviamente ignorei, fazendo com que Hermione soltasse minha mão e cruzasse os braços, como uma criança birrenta. Virei o banco, com meu corpo de frente para Hermione. Ela mantinha o rosto sério, ficando ainda mais linda do que já era.

— Não nos levem a mal, sempre soubemos. – Tia Jean se manifestou casualmente, mexendo em alguns dos pratos ali. — Na verdade, quem não sabia, não é querido?- Ela provocou, chamando seu marido para ajudar.

— Ah sim, nos perguntávamos quando iriam acordar.- Ele suspirou cansado. — Desde a adolescência até aqui, muito tempo se passou conosco apenas assistindo.- contou, puxando para si um pão. — Por alguns anos eu inclusive pensei que namoravam escondidas, porque não era possível!

Eu era um misto de vergonha e divertimento, pois apesar de estar sendo completamente exposta e sacaneada, eu me sentia bem em saber que era para ser e que tínhamos apoio. Isso sem falar em Hermione, que estava completamente inquieta ao meu lado.

— Eu esqueci uma coisa no meu quarto, vou lá buscar.- Ela alertou, saindo disparada logo em seguida. Seus passos eram tão rápidos que até Bichento e Klaus, que chegavam à cozinha naquele instante, desistiram de seguir sua dona. Eu ri, distraída demais com a castanha para lembrar de seus pais ali.

Quando virei o rosto, me deparei com sorrisos cumplices para mim. Lembrei do constrangimento, e da Tia Jean nos pegando no flagra, e me encolhi no lugar. Os dois se encararam, de um modo muito carinhoso e somente deles.

— Ficamos felizes pelas duas, de verdade.- Foi ele o primeiro a falar algo, buscando a mão da esposa em cima do balcão. — Hermione andava em conflito, Deus sabe o quanto isso era transparente em si.- Ele explicou.

— Nos preocupamos durante a viagem, ela parecia meio perdida.- Admitiu a mulher. Me senti internamente culpada, porque foi uma confusão causada por mim. — Não sei como, mas sabíamos que tinha a ver com algo entre as duas. Só isso para deixar Hermione assim.- Completou.

— Esperamos que sejam felizes Pansy, por muitos anos.- Tio Aron desejou, recebendo um aceno de sua esposa em apoio. — É claro para todos que o que vocês tem é uma coisa forte, um amor ardente.- Explicou, fazendo uma parte do meu corpo ascender em alegria. — E esperamos que seja eterno.- Sorriu para mim em forma de apoio.

Será, eu garanto.

Xxxxx

Harry Potter.

A segunda feira em que eu teria que enfim voltar para a escola se demonstrou ainda mais infernal do que eu esperava. Meus esforços de ignorar toda ansiedade e apreensão em finalmente ver o rosto de Draco pareceram inúteis a medida que eu subia as escadas da fachada. Toda luta em manter os problemas presos do lado de fora de casa só serviram para fortalecer eles, fazendo com que viessem ao meu encontro com dez vezes mais força. Eu sentia minha coragem definhando lentamente, à medida que a intensidade de tudo me atingia.

Obviamente eu não deixaria transparecer. Não, não mesmo. Eu não queria mais ter que lidar com essa merda, e o primeiro passo era demonstrando a todos que eu estava bem, que eu não ligava. Sem as milhares de caras de preocupação ou pena seria fácil, pois não haveria perguntas ridículas com “Como você está?” ou “Vocês já conversaram?”. Perguntas que me relembrariam o quanto doía, o quanto eu ainda me sentia desnorteado. Eu não precisava delas, eu só precisava me manter quieto. Com o tempo passaria. Com o tempo eu esqueceria.

Foi com esse pensamento que eu coloquei um sorriso no rosto, assim que minha visão alcançou meu grupo de amigos. Estavam lá os gêmeos, Angelina grudada no braço de George, Luna e Blaise, assim como Rony, Hermione e Pansy. Três casais, ótimo começo, isso claramente não me lembraria o quanto eu sentia vontade de andar desse modo com ele. A mão de Pansy na cintura de Hermione e sua cabeça posta sobre seu ombro não me lembraria o quanto eu sentia vontade de estar agarrado a ele dessa maneira enquanto conversava com todos. A maneira como quando riam as duas se agarravam ainda mais não me faria sentir saudade da risada dele, de seu corpo tremendo perto de mim quando isso aconteceria.

A primeira a me ver foi Luna, que estava apoiada na lateral do corpo de Blaise, completamente confortável ali. Ela sorriu para mim, um sorriso puro e verdadeiro como só ela saberia dar. Eu duvido que ela já esteja sabendo sobre o que aconteceu, e sinceramente isso me faz feliz, porque eu realmente não sinto vontade de contar a ninguém. Os olhares que vieram em seguida eram um pouco mais tristes, e pude jura que vi Hermione tentando se afastar um pouco do aperto de Pansy em sua cintura. “Perfeito” pensei incomodado.

— Bom dia!- Eu saudei animado ao parar de frente para todos, e rezei para minha animação não parecer exagerada demais. — Sobre o que estavam falando?- Questionei antes que desse tempo para qualquer um fazer uma das perguntas. Rony parou ao meu lado, e eu pude jurar que algo ruim vinha. Rony e sua insensibilidade, certamente faria alguma pergunta ruim ou puxaria a conversa para mim.

— O Zabini passou parte das férias de natal com a Luna e seu, frise essa palavra, sogrão.- Ele me surpreendeu ao apenas embarcar no meu fluxo e fez com que todos rissem novamente, atraindo a atenção de volta para o eixo original. — diga Zabini, foi emocionante?- Zombou, fazendo com que ao nosso lado Blaise risse.

— Xenófilo é um ótimo sogro, se quer saber.- Ele respondeu.¬ — Estar nas férias com ele e com minha Lua foi ótimo.- Abraçou mais a menina loira ao seu lado, fazendo com que ela fechasse os olhos, completamente segura em seu abraço.

— Ainda sim não pode negar que ele falando “ Por favor meu jovem, me chame de Sogro!” não foi um evento inusitado e, no mínimo, estranho.- Angelina opinou gargalhando, e quem olhasse para George naquele momento o veria sorrindo bobamente para a mulher.

Hermione e Pansy não prestavam atenção, estavam presas em uma nova bolha. Pansy sussurrava alguma coisa no ouvido de minha amiga, algo que fazia com que a cada palavra seu sorriso aumentasse e seus olhos se fechassem mais, a medida que as bochechas subiam. Acho que não notava, mas ela fazia um carinho leve na mão de Pansy, as mãos dançando gentilmente pelos dedos da outra, que ainda estavam postos em sua cintura. O cabelo de Hermione estava todo jogado para um lado, mas alguns cachos ainda encostavam o rosto de Pansy a medida que ela balançava o corpo da outra calmamente, como se estivessem num tipo de dança lenta no lugar.

Senti uma mão bater de leve em minhas costas, e virei para me deparar com Ronald me encarando. Talvez eu estivesse entretido demais no relacionamento da minha amiga, possivelmente deixando a imaginação voar para os pequenos momentos em que eu e Draco também estivemos assim, num mundo só nosso. O olhar de Ronald em mim deixava claro sua preocupação e numa tentativa de acalma-lo sorri, numa afirmação silenciosa que eu estava bem. Mentira, nós dois sabíamos disso, porém ele apenas confirmou, voltando sua atenção novamente para o grupo. Eu me obriguei a entrar na conversa também, mesmo sem saber do que estavam falando, completamente alheio a tudo, deixando novamente minha cabeça voar.

Foi só quando nos despedimos todos que eu despertei, pronto para seguir o rumo a minha primeira aula e continuar fingindo estar tudo bem. No entanto fui interrompido por uma mão agarrando meu braço, me fazendo parar no lugar. Pansy havia esperado todos se afastarem minimamente, até Hermione, para então me lançar um olhar, apenas um olhar, que me fez entender que ela não deixaria estar.

— Eu o vi hoje.- Ela disse me desestabilizando. Uma frase e ela já havia me desestabilizado, mas não era o bastante. — Ele esta fugindo de mim, passou direto e sumiu quando eu tentei alcança-lo.- Completou.

— Bem, se ele fugiu de você, a melhor amiga dele, imagina como seria comigo.- Eu zombei tentando parecer inabalado. Falhei, ela seguia me olhando daquele jeito.

— Você não quer ao menos tentar falar com ele?- “ Eu quero, demais.” Pensei, porém apenas dei de ombros em resposta. — Harry, vamos lá.- Ela suplicou.

— Ele nem ao menos se preocupou em me contar, Pansy.- Eu disse, finalmente deixando parte da minha frustração escapar. — Provavelmente você também sabia, mas não era sua responsabilidade me contar. Era dele. E ele não contou.- Eu ri fraco, começando a borbulhar de raiva por dentro. — E nem está tentando se explicar, não me procura desde aquele dia.- Neguei com a cabeça, começando a sentir os olhos arderem. — Eu não fiz nada de errado, e não vou procurar desesperadamente ele parar resolver algo como se tivesse feito. É ele quem me deve explicações, então ele que me procure.- Eu sentenciei, decidido. Encarei ela a minha frente, seu rosto demonstrava compreensão, e senti sua mão afrouxar o aperto. — Tenho que ir, mas antes que eu esqueça, fico feliz por você e Hermione.- Disse, recebendo um sorriso seu. Virei de costas, a abandonando e com ela toda aquela conversa.

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Pansy Parkinson

— Nenhum avanço?- Hermione questionou ao alcançar meu corpo, parado na frente da sala dela. Já haviam passado dois horários, e eu havia combinado de acompanha-la até a outra sala para conversarmos. Eu neguei com a cabeça enquanto me virava para ela, pondo uma mão por cima de seus ombros. — Harry consegue ser bem teimoso quando quer

— Eu nem consigo julgá-lo, entendo o lado dele.- Eu confessei cansada. Para ser sincera, até eu estava farta de correr atrás de Draco como se eu tivesse feito algo, como se eu fosse sua inimiga. Me frustrava o fato de ele não ter saído daquela casa, significava que ele estava disposto a manter toda aquela farsa, viver naquilo. Eu estava aqui, por que ele não me pedia para resgata-lo?

Senti a mão de Hermione cobrir a minha que repousava em seu ombro, e me virei para encontrar com seus olhos castanhos. Ela queria me ajudar, me tranquilizar de algum modo, eu podia ver isso neles. De certa forma havia funcionado, não sei que dom hipnotizante Hermione possuía, porém eu me encontrava presa naquelas íris, encantada por sua beleza.

Beijei o topo de sua cabeça, sentindo meu coração palpitar pela sensação boa que aquele momento trazia. Era estranho, eu a conhecia a tantos anos, era apaixonada por ela durante todo esse tempo, e mesmo assim tudo agora parecia novo, parecia surpreendente. Borboletas que eu nunca imaginaria ainda viverem se agitavam em meu estômago, apenas com um simples olhar, com um simples sorriso. Nossos passos sincronizados enquanto subíamos as escadas me deixavam com um sorriso bobo, e uma chateação me alcançava a cabeça ao notar que já estávamos chegando a sua sala.

— Quando essa faculdade ficou tão pequena?- Eu não pude esconder o desapontamento ao pararmos na porta. Hermione riu, obviamente, se desvencilhando de mim e parando a minha frente. — Posso jurar que esse caminho demorava mais antes.- Me inclinei para ela, sorrindo. Ela negou com a cabeça, me dando um rápido selinho.

— Espero que seja igualmente curta enquanto você caminha para sua sala.- Disse, fazendo meus ombros murcharem. Foi sua vez de me dar um selinho. — Ande logo, antes que você se atrase.

Puxei a cintura dela, para aproximar mais ainda nossos corpos e beija-la de modo mais profundo. Senti os lábios de Hermione se desprendendo dos meus enquanto ela sorria entre o beijo, fazendo com que eu replicasse o movimento. Ela me deu mais um selinho antes que suas mãos parassem nos meus ombros, nos afastando.

— Ande, vai!- Ela ordenou, e tão boba quanto eu sou, obedeci. — Nos vemos mais tarde, vou ficar para ver seu treino.- Avisou, me fazendo relembrar algo.

— Hoje eu vou faltar treino.- Contei, ela me encarou confusa automaticamente. — Meu pai, para a surpresa de todos, para última hora comprar o terno, e me pediu ajuda com isso.- Revirei os olhos, apesar de estar animada em encontra-lo. — Vou da escola direto para uma dessas lojas chiques de ricos.- Bufei, arrancando uma gargalhada dela. — O que?

— Você cresceu cercada de lojas de ricos.- Ela zombou, fazendo com que eu fechasse a cara numa carranca. — Desculpe babe, porém é a verdade.

Eu não escutei mais nada depois do “Babe” pois me dei conta que era um apelido carinhoso. Uma porra de um apelido carinhoso. Deuses, eu estava morta.

— Não me chame de Babe de novo se quiser ir para a aula.- Eu aproximei nossos corpos de novo, colando meus lábios próximos ao seu ouvido. — Ou chame, eu estou implorando para ter uma desculpa para te sequestrar daqui. — Eu ri, e senti todo o corpo de Hermione se arrepiar. Novamente meu coração palpitava, porém soltei a castanha do aperto. — Vai, não posso me tornar um desvio na vida acadêmica da brilhante Hermione Granger.

Ela chiou um pouco pela última frase, reclamando pelo apelido, porém entrou na sala de aula. Eu tentei a todo custo acalmar meu coração, ou meus lábios que tremiam para formar um enorme sorriso. Rodei meu corpo, encostando na parede atrás de mim. Céus, eu estava radiante.

Notei uma movimentação apressada no corredor recentemente deserto, e olhei rapidamente para o lado. Vi de relance roupas escuras e fios loiros, e a mudança em mim foi súbita: Levantei apressada meu corpo, me perguntando se era ele...

Era, com certeza era. Eu conheço Draco desde o berço, eu nunca o confundiria, nem que eu estivesse numa sala com duzentas pessoas. Eu sabia, e por isso comecei a correr, apressada para alcançá-lo. Ele havia acabado de entrar no corredor que fazia curva com o que eu estava, daria tempo. Tinha que dar.

Eu mal havia começado a correr, porém o nervosismo me fez ofegar ao parar de frente para um novo caminho, completamente vazio. Olhei para os lados, e nada. Comecei a desconfiar que eu havia perdido a oportunidade, porém o som quase imperceptível de uma das portas de ferro do banheiro masculino se fechando me guiou. E como se o corredor fosse explodir naquele instante eu entrei no local, tão rápido que demorei a raciocinar.

Só havia uma cabine fechada, limitando meu alvo a um lugar. Uma raiva inexplicável tomou conta de mim enquanto eu a encarava, e senti minha mão se fechar em um punho firme. Dei três passos rápidos até ficar de frente a ela, e então comecei a esmurrá-la.

— Draco Lucius Malfoy!- Eu gritei entre os socos, ficando ainda mais irritada a medida que o barulho de metal me invadia os ouvidos. Nenhuma resposta foi dita, me fazendo permanecer no movimento. — Abre essa maldita porta, ou eu vou quebrar esse maldito banheiro! Abre!- Eu gritei, batendo ainda mais.

O silêncio vindo dele esgotou minha última gota de sanidade, e num ato completamente impensado eu chutei a porta agressivamente. Podia jurar que senti o ferro amassar com o impacto, mas eu não queria pensar naquilo, não agora. Não enquanto eu voltava a socar a porta, irada.

Ele não havia ido atrás de mim.

Ele havia ficado lá, ficado com eles.

Ele nem ao menos tentou me deixar ajudar.

— Eu te odeio!- Eu gritei, encostando minha testa na porta, esmurrando seguidas vezes. — Eu te odeio tanto.

Essa frase foi dita com uma voz fraca, chorosa. Não era verdade, eu não o odiava verdadeiramente, talvez só naquele momento em específico. Só enquanto ele não me deixava salvá-lo, enquanto ele me afastada para sofrer sozinho. Inferno, eu o odiava por fazer isso consigo mesmo, porque eu só conseguia odiar aquele que fizesse mal ao meu amigo, e nesse momento era ele mesmo.

— Eu vou contar até três, me ouviu?- Avisei com uma voz falha, sentindo minha garganta arder enquanto as palavras saíam. — Se você não sair até o três, eu nunca mais vou falar com você.- Completei, sentindo agora lágrimas se acumularem nos meus olhos. — Porque ai eu vou saber que você não me quer mais na sua vida....Um, dois...- Esperei um instante, suplicando para que ele surgisse. — Três.

A porta de repente se abriu, quase me fazendo cair para frente se não fosse pelo corpo se chocando violentamente contra mim. Ao sentir Draco se agarrando a mim, tão forte que meu corpo doía, uma onda de alívio tomou meu interior. Atraquei minhas mãos em suas costas, temendo que ele subitamente fugisse de mim outra vez. Seu corpo tremia no meu aperto, e eu escutava seus murmúrios chorosos meio abafados pelo seu rosto na minha blusa.

Caminhei lentamente para trás, com cuidado para que ele não caísse, e o corpo de Draco me acompanhou. Me abaixei de maneira cuidadosa, e já no chão ele parecia uma criança pequena agarrada a mim, sua mãe. Afaguei seus cabelos loiros, deixando que ele chorasse o quanto podia, o quanto queria.

—Não me abandona, por favor.- Ele suplicou com a voz entrecortada, a dificuldade de respirar aparente pelo choro. — Por favor não me deixa sozinho, eu tô com medo.- Insistiu, se agarrando mais a mim. — Pansy, eu tô com medo.

Draco tremia, tremia muito. Tremia enquanto se apertava mais a mim, e suas pernas encolhiam-se próximas as minhas, como uma forma de pedir colo. Eu mal tinha reação, a não ser acariciar sua cabeça com uma mão e o aconchegar mais a meu corpo com a outra. Eu sussurrava algumas palavras como “ pronto, eu estou aqui, aqui com você” para o tranquilizar, porém isso parecia piora-lo.

Exausta tombei minha cabeça para trás, encostando no azulejo frio da parede do banheiro. Fechei os olhos e respirei fundo, buscando forças em mim para sustentar meu amigo pelos minutos que se passaram. E se passaram muitos, de verdade, eu sabia pelos sinos que tocavam indicando o fim dos horários. Passei todos com ele, o protegendo, o cercando.

E novamente na minha vida, supliquei para alguém nos Céus, supliquei para que salvasse meu amigo.

Xxxxxx

Harry Potter

Saí da faculdade sentindo o peso de carregar um sorriso no rosto ficar para trás. Não havia esperado ninguém, muito menos cogitei a ideia de ir a algum lugar com quem quer que fosse. Estava cansado de fingir, então tudo o que eu queria era ir para casa. Decidi ir a pé, talvez me cansasse o suficiente para me fazer dormir quando chegasse em casa. O caminho não estava muito movimentado hoje, talvez porque ainda fizesse um pouco de frio, mesmo já sendo de tarde. Virei duas ruas e não via muita gente passando, o que só colaborou para que minha cabeça voasse longe nos pensamentos.

Ele com certeza fugiu de mim hoje, com toda certeza. Naquela maldita faculdade era impossível não cruzarmos nossos caminhos, mas eu nem vi sua sombra no dia de hoje. Parei no meio do caminho, bem ao lado de uma arvore, irritado.

Ele nem tentaria se explicar? Pedir desculpas? Nem lutaria por mim?

—Desgraçado.- Eu praguejei, deixando meus ombros caírem. Neguei com a cabeça, afastando a minha vontade de chorar, porque eu não choraria por aquele maldito. —Desgraçado!- Eu gritei.

Sem muita lógica em minha mente, sem um fio de sanidade, chutei a maldita árvore ao meu lado. Tudo para não chorar, porque ele não merecia que eu chorasse por ele. A dor atingiu meu pé rapidamente, fazendo com que momentaneamente eu me encolhesse incomodado. Não demorou me levantei, notando que a dor dissipou a ardência nos meus olhos por alguns instantes. Soltei uma risada fraca, fechando a mão em punho e acertando em cheio a parte mais grossa do tronco.

Tudo para não chorar.

Eu não iria chorar.

Ele não merecia isso.

Eu não choraria.

Eu não...

— Uau, eu nunca conheci ninguém que odiasse tanto árvores até agora.- Disse uma voz sarcástica, atraindo minha atenção para o que estava em minhas costas. A quanto tempo ele estava ali? Quanto tinha visto?— Sério cara, você deve ter dado uns quinze socos aí, sua mão já está toda ferrada.- Apontou, fazendo eu mirar para mim mesmo.

Minha mão estava avermelhada, e com vários arranhões. A outra não estava muito distante, e algumas farpas eram aparentes. Abri e fechei as mãos lentamente, sentindo-as doer demasiadamente, até que dedos se colocaram acima delas.

Eu me virei para ver novamente o rosto de quem falava, pois já não me lembrava dele. Me deparei com um par de olhos castanhos, porém com bordas esverdeadas. Subi o olhar para a franja lisa um pouco acima dos olhos, vendo fios ruivos como eu já havia visto em minha mãe. A pele tinha sardas que iam até as bordas dos olhos, e tinha uma cor pálida. Pisquei algumas vezes, tentando voltar ao raciocínio.

— Está sentindo muita dor?- Ele perguntou encarado minha mão, sua voz era um pouco mais grossa que a minha, e eu o encarei confuso. — Oi?- Ele levantou o olhar para me encarar, fazendo com que eu negasse rapidamente. — Certo, você vai ter que limpar isso com álcool setenta ou soro, tudo bem? Os cortes não foram ruins, apenas alguns arranhões, mas recomendo tirar as farpas com pinças, não esqueça de nenhuma, entendido?- Instruiu, porém na minha cabeça só surgia a pergunta “Quem é esse?”

— O que? Quem...- Eu comecei a falar, porém a minha voz morreu. Limpei a garganta tentando recuperá-la. — Quem é você?- Consegui perguntar. Ele me olhou mais uma vez, agora mais profundamente, como se me analisasse por completo.

— Samuel Walker, mas pode me chamar de Sam, ou Sunny. Para ser sincero só meus pais me chamam assim, desde pequeno. - Sorriu minimamente, e eu notei um par de covinhas.

— Sam, Sunny, certo, obrigado.- Eu disse, meio atordoado e sentindo uma lentidão assumir meu corpo. — Eu já vou.- Falei começando a caminhar, porém um aperto leve na minha mão interrompeu meu ato.

— O consultório em que eu estagio não fica muito longe, vamos lá limpar isso.- Ele sugeriu, e me faltaram palavras para negar. Ele puxou minha mão, e meu corpo foi em seu sentido, completamente mole.

Realmente não era distante. Ele deve ter me guiado por três ruas depois que atravessamos da calçada em que estávamos para o outro lado. Na metade do caminha senti a necessidade de fugir, porém a mão dele estava trancada a minha, a medida que todas as vezes que tentei mexe-la, ele segurou mais firme ainda. Quando parou, me surpreendi ao ver qual o tipo de clínica que ele trabalhava, uma clínica veterinária. Sim, isso mesmo, uma clínica de animais.

— Desculpe mas isso é um...- A frase morreu ao vê-lo destrancar a porta do local, me puxando para dentro em seguida, sem ao menos me dar possibilidade de escolha.

— Vamos até os fundo, tem uma caixa de primeiros socorros lá.- Instruiu enquanto fechava a porta. Retirou o grosso casaco que cobria seu corpo, demonstrando que era magro como aparentava pela face, e começou a andar até o local indicado.

Era uma clínica simples, eu observei enquanto caminhávamos até onde quer que ele estivesse me levando. Na parede haviam quadros de animais, e as paredes era lisas e brancas. O cheiro era parecido com o de hospital, porém o ambiente não era tão frio quanto um. Viramos a direita quando chegamos ao fim de um corredor, e dei de cara com uma placa escrito “ Sala dos funcionários.”

— Sente-se na cadeira, vou procurar uma caixa de primeiros socorros.- Ele apontou ao entrarmos, e só me restou obedecer a suas ordens. O observei caminhar até um grande armário de madeira, o abrindo e analisando as prateleiras. — Então, senhor odiador de árvores inocentes, por que estava batendo nela? - Questionou, ainda de costas, enquanto remexia em algumas prateleiras. — Parecia bem empenhado nisso.

Ri fraco, começando a me perguntar o que havia dado em mim. Sirius faria uma série de perguntas quando eu chegasse em casa, e Remus ficaria bem preocupado. Amália ficaria assustada, eu não devia submetê-la a isso.

— Juro que normalmente eu sou muito amoroso com árvores, senhor veterinário.- Usei do mesmo tom com ele. — Não sei, talvez ela tenha me lembrado um certo alguém.- Dei de ombros escutando seus passos se aproximarem de mim. — Parecia certo descontar a raiva nela, naquele momento.

Samuel se abaixou enquanto colocava luvas nas mãos, sentando-se no chão enquanto gentilmente pegava a minha. Analisou o estrago, virando-a de um lado para o outro, concentrado naquilo. A soltou, alcançando a maleta de cuidados ao seu lado e remexendo nela. Tirou de lá uma pinça fina e uma vasilha com o que eu arriscava chamar de soro. Pelo menos eu esperava, álcool arderia muito mais.

— Certo, então você estava com raiva de alguém e decidiu que esfolar a mão era um bom modo de lidar com isso.- Disse sarcástico, abrindo a vasilha com líquido e despejando em mim. Com a ardência alcançada eu notei que se tratava de álcool, e tentei recuar a mão pelo incômodo, porém não pude. — Desculpe, mas eu tenho que limpar.

Com muita paciência e delicadeza o rapaz começou a retirar as farpas, que se somavam aos montes, e essa parte era indolor. A luz do quarto era forte, e permitia que ele tivesse uma visão precisa do que estava fazendo. As mexas ruivas balançavam à medida que sua cabeça movimentava ou virava, sempre acompanhando o movimento dele.

— Não sabia que veterinários podiam atender seres humanos. - Eu observei, olhando ao redor da sala. Abaixei a cabeça para encará-lo de novo, e ele sorria enquanto tinha a cabeça abaixada. — O que?

— É que na verdade não podemos.- Ele riu um pouco, e notei que seu corpo tremia. — Mas se você não contar para o meu chefe, eu que não vou contar.- Levantou a cabeça, mostrando seu sorriso.

Ele devia ser uma pessoa de sorriso muito fácil, o que não era ruim considerando o sorriso bonito que tinha. Os olhos chegavam a brilhar, e as covinhas ficavam aparentes mesmo quando o sorriso era mínimo.

— Mas então, foi uma ex?- Ele perguntou, me fazendo tombar a cabeça confuso. — A pessoa que você estava sentindo raiva.- Explicou.

— Ah...- Eu disse inicialmente. — Quase, na verdade foi um ex.- Me encolhi de dor ao sentir a pinça me beliscar. “ Desculpe” foi o que ele disse. — Ele me enganou, e agora está fugindo de mim.

— Deixa eu adivinhar: Ele não era assumido para os pais.- Ele chutou como se já conhecesse a história.

— Quase isso na verdade, só que nunca escala um pouco maior.- Eu dei de ombros. — Digamos que ele tinha um casamento planejado, e eu era a pedra no caminho.

— Sei bem como é, já aconteceu o mesmo comigo.- Ele confessou, movendo novamente minha mão, antes de solta-la e se encaminhar para a outra. — Acho que eu não o culpo de todo modo, a família dele era muito complicada.- Descansou os ombros, me encarando mais uma vez. — Você também não vai culpa-lo em breve, agora você está com raiva, é normal.

— Eu não estou com raiva! Não ligo mais.- Eu retruquei, recebendo um olhar debochado dele. — Disse o cara que socou uma árvore.- Eu mesmo brinquei, envergonhado.

Ele negou com a cabeça, voltando sua atenção novamente para a minha mão. Ficou bem mais uns dez minutos, removendo as farpas e limpando com álcool os arranhões. Passou alguma pomada gelada em mim, antes que colocasse diversos band-aid em mim. Sorriu satisfeito quando terminou seu trabalho, pondo as mãos na cintura orgulhoso.

— Prontinho, devidamente curado.- Ele sorriu pegando minhas mãos, e então fez algo que me deixou ardendo em vergonha: Depositou um beijo em cada mão, sorrindo. — Assim sara mais rápido.

A ação não parecia maldosa, muito pelo contrário. Seu sorriso indicava que havia sido apenas um ato de pura gentileza, como se ele fizesse isso o tempo todo. O olhar carregava um pouco de expectativa, e acabei sorrindo por entender que era isso que ele esperava, um sorriso. Não acho que tenha sido falso, como diversos outros que eu dei durante todo o dia, era verdadeiro e genuíno.

— Obrigado por isso, Sammy.- Eu disse. Não sei ao certo se me referia aos curativos ou a gentileza, talvez até pelo sorriso que eu conseguira dar. Estendi uma dar minhas mãos para ele. — Eu sou Harry, Harry Potter.

Xxxxx

Draco Malfoy.

Fechei a porta de casa completamente derrotado pelo primeiro dia. Eu sentia meus olhos inchados pelas horas chorando no banheiro com Pansy. As garantias vindas dela que diziam que tudo ficaria bem, e que daríamos um jeito não serviu em nada para me acalmar, porém eu ficava aliviado de finalmente ter estado com ela para chorar.

— Draco, querido.- Minha mãe chamou receosa. Faziam dias que ela me chamava desse jeito, como se sentisse com culpa por falar comigo. — Tem uma visita para você.- Ela avisou, e pela sua face, sabia que eu não gostaria.

Quando eu vi o corpo de Daphne se levantar do sofá, se virando para mim, senti um pequeno de já-vu. A alguns meses atrás ela também tinha vindo aqui, havia mentido para mim e havia fingido ser minha amiga. A alguns meses atrás eu havia cometido o erro de confiar nela, e esse deve ter sido o maior erro da minha vida.

— Draco, oi.- Ela saudou receosa, e me admirava como ela não havia tentado forçar uma falsa amizade entre nós. — Podemos conversar?- Pediu.

Eu estava realmente na porra de um de já-vu.

— Claro.- Respondi a contragosto, apontando com a mão para as escadas, num pedido silencioso que isso fosse feito no quarto. Daphne não tardou em se encaminhar para lá, com a cabeça abaixada e ombros encolhidos. Dei um último olhar para minha mãe, me obrigando a sorrir, e então a segui.

As escadas pareceram duas vezes maiores durante toda a subida, talvez pela lentidão dela ao andar. Parecia assustada, como se eu pudesse machuca-la. Não seria impossível, eu diria, mas improvável. Quando eu fechei a porta do meu quarto virei para encarar sua face, completamente contorcida em receio e hesitação.

— Então?- Cruzei os braços e me encostei na porta. — Não vai soltar o cabelo, falar o quão ruim foi ter que passar esse tempo todo fingindo com essa carinha de cachorrinho pidão?- Eu questionei. — Ande Greengrass, nós sabemos que isso é tudo uma farsa, mas aqui dentro não tem necessidade de fingir nada!- Gritei, impaciente. Seus ombros encolhendo após meu descontrole só me irritaram ainda mais.

— Como você está?- Ela questionou, me fazendo rir. Sério, ela realmente estava fazendo aquilo?

— Ah, eu estou maravilhosamente bem, de verdade.- Forcei um sorriso. — Eu fui enganado por alguém que eu acreditei ser minha amiga, fui exposto para um jornal, perdi meu namorado, porque obviamente ele não quer me ver depois daquela baboseira de fofoca, falei para meus pais que sou gay e presenciei minha melhor amiga ser detida pela polícia, sem poder fazer absolutamente nada.- Listei, sentindo o ar me faltar a medida que eu despejava apressado as palavras. Soltei uma lufada de ar quando terminei. — Tem como não estar bem?

— Draco, eu precisei.- Ela tentou se justificar. — Eu não po...

— Para.- Mandei. Imediatamente ela se calou. — Você não vai fazer isso, não vai fingir se arrepender para mim.- Eu neguei com a cabeça.

— Mas Draco eu realmente...

— PARA!- Eu gritei dando um soco na porta. Daphne encolheu no lugar, apavorada. — Para de mentir para mim, já basta ter fingido ser minha amiga!- Acusei sentindo minha visão ficar turva.

Um nó surgiu na minha garganta, mas esse já era um velho conhecido nesses dias que passaram. Algo ardia em mim, em todo meu interior enquanto minha cabeça martelava quem era aquela na minha frente. Era a traidora, o motivo de tudo isso estar acontecendo comigo. Se ela não tivesse surgido na porra da minha vida, se não tivesse fingido ser minha amiga, nada disso estaria acontecendo.

— Você deve estar adorando isso.- Eu ri sentindo as primeiras lágrimas escorrerem. — Toda essa mentira, é isso que você gosta não é?- Eu a encarei, vendo-a com os olhos marejados.

— Eu precisei, eu juro.- Ela tentou se justificar, mas eu neguei. — Meu pai me pressionou Draco, ele me obrigou.

— Até parece.- Respondi sério. Limpei com as mãos meu rosto, me recompondo. Respirei fundo. — Você fez isso porque quis, Greengrass. Você fez isso porque queria continuar na sua mentira perfeita.- Cuspi as palavras, com extremo desprezo. — Você adora esse teatrinho, faz bem pra sua alma podre.

Ela parecia não aceitar isso, negava violentamente com a cabeça num estado de choque. Eu não tinha energias em mim para me importar com isso, então apenas me encaminhei para a cama, passando por ela.

— Bem, a boa notícia, Daphne.- Disse seu nome com um tom de nojo. — É que agora eu estou realmente preso na sua mentirinha.- Me sentei. — Porém a má é que, se você transformou minha vida num inferno, eu vou fazer de tudo para retribuir o favor. Bem de perto.- Sorri forçadamente, vendo-a abaixar a cabeça. — Parabéns Greengrass, você fudeu com a sua única amizade real. Lide com as consequências agora.

Ela não esperou qualquer ordem para que eu a expulsasse dali, se retirando assim que o silêncio se instaurou. Agradeci por isso porque, assim que me vi sozinho no quarto, me joguei de lado na cama, exausto. Implorando para que de qualquer modo aquele inferno acabasse.

Porque eu já não aguentava mais.

Xxxxxx

Gina Weasley.

— Você acha que vai ficar tudo bem?- Theo me perguntou pelo que era a quinta vez, me fazendo revirar os olhos impaciente. — Certo, desculpe.- Se ajeitou.

Nós estávamos na casa dele, alguns lanches prontos acima da mesinha de centro da sala. Theo ao meu lado era uma pilha de nervos, o que chegava a ser estranho visto que ele era o sempre calmo e sereno da situação. Nesse momento ele balançava os pés agitado, completamente inquieto. Eu me mantinha tranquila, afinal o estresse não ajudaria de nada.

Comecei um carinho na cabeça de Theo, tentando de alguma forma o trazer para a realidade, o acalma-lo. Ele de primeira me encarou surpreso pelo contato, mas a sobrancelha que eu subi como quem diz “ Nem um pio.” O fez voltar sua atenção para a mesinha de centro. Os pés se mexiam menos agora, porém era notável sua tensão corporal.

Levantou tão rápido quando escutou a campainha tocar que quase tombou para frente. Se estabilizou antes de correr para atender quem esperávamos, e em poucos segundos eu escutei a porta se abrir. Alguns murmurinhos foram ditos, porém eu não conseguia entende-los. O fato era que, um pouco depois, Theo e Neville estavam um ao lado do outro me olhando. E Deuses, eles eram lindos.

— Oi Nev- Eu sorri, tentando soar calma. Os dois, ao contrario de mim, pareciam uma pilha de nervos. Neville tinha o rosto e as orelhas corados, e Theo mexia o corpo completamente ansioso. Me vi obrigada a ser a tranquila da situação. — E se sentarmos no chão?

Os dois concordaram em silêncio, se abaixando com as pernas cruzadas. Estavam sentados lado a lado, e eu desci do sofá, me sentando sozinha na frente do móvel. Nos olhamos os três, meio perdidos sobre o que fazer.

— Então.- Eu iniciei, porém a frase morreu aí. Olhei Theo e Neville.

— Então.- Nev replicou, dançando o olhar por nós, antes de sorrir constrangido. — Acho que eu devo uma explicação para os dois.- Riu nervoso.

— Só se você se sentir a vontade, nós vamos entender- Theo se apressou em tranquilizar o outro, e chegava a ser engraçado vê-lo assim. Não contive a risada. — O que foi ruiva?- Questionou confuso.

— Somos um desastre.- Eu expliquei, gargalhando um pouco mais enquanto jogava minha cabeça para trás. Escutei a risada fraca dos outros dois, me fazendo rir um pouco mais. — Sério, somos horríveis.

Levantei minha cabeça, fitando os dois novamente. Pareciam bem mais leves com sorrisos no rosto agora. Respirei fundo, pensando em como era uma situação um tanto inusitada. Éramos inexperientes num geral nesse lance de relacionamentos, eu ainda mais. Nunca senti vontade de me envolver com ninguém nesse nível, quem dirá com duas pessoas assim.

— Desculpem por sumir, eu estava confuso.- Neville finalmente disse, coçando a cabeça envergonhado. — Coisa demais pra pensar, eu odeio isso.- Completou.

— Acho que eu também não introduzi a sugestão de uma maneira ruim também.- Theo puxou a culpa para si, me fazendo encara-lo. — Eu esqueço que as vezes o que é simples para mim pode ser...complicado para os outros. Desculpe Neville.- Pediu, empurrando de leve o ombro dele.

— Eu não fiz nada demais.- Soltei, novamente para descontrair. Eles riram, para então eu olha-los mais séria. — Mas então, o que vamos fazer sobre...nós.

Nos encaramos quietos.

— Eu vou embora na quarta, é impossível começar um relacionamento.- Deu de ombros. Eu e Theo nos olhamos. — Não é?

— Bem, eu já te esperei por vários anos, mais dois não são nada.- Theo respondeu simplesmente. Eu o encarei impressionada. — Depois que você terminar a faculdade eu vou estar por aqui, e acho que a ruiva também, né ruiva?

Ok, as atenções agora estavam em mim, e eu me senti meio acanhada. Eu esperaria? Dois anos parecia...muito. Olhei para Neville, que tinha aquele olhar gentil no rosto, um olhar doce e que eu via em poucas pessoas. De algum modo, aquele olhar mexia comigo, deixava alguma coisa nova no peito ardendo.

E tinha Theo. Theo que por si só havia entrado na minha vida aos poucos, paciente e cauteloso, gradativamente ganhando um espaço no meu coração. Era engraçado, provocante e me fazia contradizer meus próprios planos. Era bom.

— O que são dois anos comparado ao que ele esperou? É quase uma questão de honra conseguir também.- Brinquei, porém os dois não riram. Respirei fundo, fechando os olhos e tomando coragem. —Sim, eu consigo sim. É meio estranho, estar num relacionamento, mas...eu gosto dos dois. Então sim, eu consigo esperar dois anos.

Theo abriu um sorriso genuinamente grande após eu afirmar isso. E não tardou em alcançar meu rosto para me dar um selinho surpresa. Eu ri enquanto ele replicava o ato com Neville. Se sentou ao meu lado, puxando o outro para o acompanhar.

— Não é como se não fossemos ter as férias de qualquer modo.- Theo deitou a cabeça no meu ombro, e eu instintivamente busquei a mão do Neville. Ela era mais quente que a minha, notei. — Nas próximas férias estaremos aqui, esperando você voltar.

— Isso mesmo, nós dois estaremos aqui.- Eu disse, acariciando a mão dele. — Só esperando você voltar.

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