Fogo Caminha Comigo

By nestroves

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Nestha Archeron sempre foi uma loba enjaulada. Presa em sua dor e impotência, ela toma uma decisão radical ao... More

Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capítulo XXXIV

Capítulo XXIII

945 90 873
By nestroves

Oi, mamaciters. Tudo bem? Espero que o último capítulo não tenha traumatizado vocês e também que vocês não tenham desistido de mim!

Enfim, esse é um capítulo sobre mulheres, relações e irmãs! Basicamente a irmandade Archeron, em especial Feyre e Nestha. Espero que vocês se emocionem com essas duas e tudo que a Ness tá sentindo e lembrando.

Peço para que todos favoritem, comentem, salvem na lista de leituras, etc... etc... Eu sempre faço esse pedido porque, além de motivar, ajuda a história com visibilidade.

Falando em histórias, deixarei meus novos dois projetos aqui. Um é uma fantasia sombria que estou desenvolvendo e vocês podem encontrar nesse link: https://www.wattpad.com/story/271640668-can%C3%A7%C3%A3o-da-f%C3%BAria

A outra é uma nova fic AU nessian, com a Nestha representando nosso mundinho fanfiqueiro. A diferença dela é que é para ser uma pegada mais hot, porque eu estou querendo aprender a escrever esse gênero. E você pode ler aqui: https://www.wattpad.com/story/272044121-fanfiction-net

No mais, amo vocês e boa leitura!

Summit — Washington, 22 de setembro de 2020.

Foram os braços de Feyre que a envolveram durante todo seu estupor, medo e dor. Elain permaneceu estática na porta do quarto, este que minutos antes era fonte de carinho. A irmã do meio se encontrava em choque também, suas duas mãos paradas na boca, que certamente estava aberta.

Nestha balançava-se nos braços de Feyre, inquieta, o choro agudo e quase sem som explodindo de dentro de si. Era um misto de emoções e ela não conseguia saber, entender, nada daquilo. Só sentia e o sentimento era horrível. Era a sensação de perda de rumo e controle novamente. Mais uma vez seu corpo estava fora de seu alcance, de suas mãos e vontades. Novamente ela era uma agente passiva dos acontecimentos, cuja vida parecia ser uma peça de marionete na mão das divindades.

Mas, no meio de todo o alvoroço que acontecia no local, em meio a toda raiva e tristeza que gritavam em sua cabeça, um nome ainda ressoava em sua memória.

Gwyn. Gwyn. Gwyn.

Ela não poderia deixar Catrin sozinha, por mais que sua própria alma estivesse em pedaços agora. Por mais que ela mesma não pudesse ficar sozinha. Seus olhos nervosos e ansiosos procuraram por alguém, qualquer pessoa, que pudesse retribuir seu olhar. Felizmente, Elain estava lá.

— Emerie... — Ela disse entre os soluços, a voz entrecortada. — Avise ela... que Gwyn... — A falta de controle de suas próprias palavras a amedrontaram ainda mais. — Gwyn acordou... o hospital.

Feyre ainda tinha seus braços ao redor do corpo dela, protegendo-a como se a mulher fosse um bebê, como se fosse ela a irmã mais velha. Feyre, sua garotinha forte, a embalava como em uma canção de ninar, afundando seu rosto nos cabelos da irmã, limpando as lágrimas que caíam na face vermelha.

— Podemos chamar Emerie? — Feyre perguntou e Nestha assentiu. — Vou explicar que você teve uma crise de ansiedade com o que aconteceu e pedir para ela ir ao hospital.

Nestha levantou um pouco seu rosto, os cabelos grudando onde as lágrimas passaram. Seu choro agudo havia se tornado um incessante soluçar e ela mal conseguia falar enquanto aquela água salgada tomava seu semblante. Mas ela viu Feyre, viu sua irmã, os olhos iguais aos de sua mãe, mas que a olhavam com tanto amor que ela quase sentiu-se sufocada. Era aquele amor que as duas sentiam uma pela outra, mais fielmente e lealmente que qualquer outro, mas que nenhuma das duas sabia exprimir.

Mas a mais nova havia demonstrado, de um jeito ou de outro, quando se sacrificou por todos. Quando tinha quatorze anos e já arranjava empregos temporários enquanto Nestha ficava perdida em sua própria dor, no mundo que havia criado para se afastar da imagem das mulheres de sua família.

E agora ela seria uma dessas mulheres para alguém. Para alguém que estava dentro de si.

Outra onda de desespero sacudiu seu corpo e ela sentiu que novamente voltaria a chorar de forma descompassada, mas então olhou para o rosto de Feyre e essa segurou a face dela com as duas mãos, uma de cada lado das bochechas de Nestha. Ela encostou sua própria testa na da irmã mais velha, sussurrando palavras doces.

— Respira comigo. — E naquele momento só existia as duas. — Inspira. — A própria Feyre puxou o ar com força, enquanto Nestha tentava fazer o mesmo ato, embora de forma desajeitada. — E respira. — Quando elas soltaram a respiração, juntas, o ar quente de cada uma beijou a face com sardinhas da outra.

— Desculpa. — Nestha sibilou baixo. — Estou estragando seu chá de bebê. — Feyre deu um sorriso delicado, nunca tirando sua testa da dela. Nestha enrolou suas mãos nos pulsos da irmã, como se não quisesse nunca se soltar daquele toque. — De novo fazendo merda. — A frase foi uma tentativa de deixar o clima menos pesado e Feyre deu um risinho.

— Você nunca faz merda, Ness.

— Se isso — Ela olhou para baixo, tentando fazer entender que estava encarando sua barriga ainda lisa, mas que em pouco tempo, se aquilo continuasse, tomaria contornos iguais aos de Feyre. — não for uma grande merda, então o que será?

A mais nova não teve tempo de responder, porque Elain, que havia saído, já tinha retornado, agora com Emerie em seu encalço. Os olhos castanhos da garota, sempre divertidos, ficaram obscuros quando encontrou as duas Archeron enredadas em um mundo própria, com uma Nestha ainda soluçando copiosamente, embora as lágrimas tivessem diminuído um pouco.

— Pela Mãe. — Ela exclamou, ajoelhando em frente as garotas, mas sem tentar entrar no mundo particular dela. Uma de suas mãos pousou nas madeixas castanhas de Nestha. — O que aconteceu, Ness?

Nenhuma resposta veio, foi Feyre quem falou.

— Emerie, a Nestha está tendo uma crise ansiosa, aconteceu porque Gwyn acordou e ficamos sabendo agora. — Emerie ficou estática, a surpresa preenchendo seus olhos. — Catrin precisa de alguém lá, mas minha irmã não tem condições de fazer isso agora. Preciso que você vá porque vocês se conhecem. — Era possível sentir a súplica nas palavras. — E que vá agora.

Emerie estava ajoelhada ainda, os dedos um pouco mais longe de Nestha. Ela sentia que havia algo muito errado com amiga, mas também compreendia que não era momento para questionar isso. Estavam pedindo algo importante, não só para suas amigas, mas para ela também, ela que havia começado a conversar com Catrin depois que se encontraram no hospital em uma das vezes que acompanhou Nestha e passara a nutrir um carinho pelas garotas Berdara.

Por isso ela foi rápida em beijar a cabeça de Nestha e sussurrar que tudo ficaria bem e que ela ajudaria as meninas no hospital. Quando ela saiu, o mais rápido possível, conseguiu ver o transtorno na bela face de Elain. Emerie fez uma nota mental de estranheza, pois nunca, em todo tempo que se conheceram, tinha visto aquela feição na mulher. Somente na época que Nestha reapareceu ela tinha a face, outrora plácida, perturbada. Mas aquilo havia sido uma situação excepcional. E Emerie nem imaginava o quanto essa também era.

— Nestha, precisamos conversar. — Elain saiu de sua posição estática depois da saída da morena, sentando-se no chão também, observando como as irmãs entrelaçavam-se.

— Tem... tem pessoas ali em baixo? — Nestha indagou, limpando as lágrimas.

— Sim. — Elain replicou baixinho, assustada com toda a explosão de Ness. Seu olhar voltou-se para Feyre, que finalmente desgrudou da testa da irmã, mas a ligação entre elas continuou pela mão. — Todos estão aí, Rhys está aí. Ele queria falar com você, Feyre, mas avisei que estava ocupada.

— Nós... não temos tempo... para ficar aqui. — Nestha recompunha sua voz, os cílios, grandes, molhados.

— Shh... — Feyre sussurrou. — Temos todo tempo do mundo. Não vamos deixar você assim. — Ela apertou as mãos frias de Nestha.

— Não vamos te deixar sozinha com isso, Ness. — Elain disse e sua irmã percebeu que ela não falava somente daquele momento. Afinal, o "isso" poderia ser algo muito, muito duradouro.

Nestha não queria pensar nisso, não queria pensar em ninguém falando daquela situação como se fosse algo que perduraria. Ela já tinha feito sua escolha, não tinha realmente pensado de verdade ou direto, mas suas emoções só mandavam ela resolver a situação. Poderia escutar até mesmo a voz de sua mãe. 

"Resolva isso, Nestha", "Você fez merda de novo, não é?", "Pense com a cabeça, esqueça das emoções". Foi uma fileira de frases da matriarca, saídas de uma voz que, há anos, ela não se lembrava. E agora recordava o som e toda pontada de desgosto dirigido para ela. Como Nestha poderia sujeitar-se a ser esse tipo de pessoa para alguém? Não, não poderia admitir isso. Se não por ela, então por aquilo que estava ali dentro.  

Mas, mesmo não querendo admitir, havia ficado feliz com as palavras de Elain, porque elas significavam que sua irmã não estaria junto dela somente naquele momento.

— Ness, querida, você imaginava que isso seria possível? — Feyre indagou.

Era um retrato engraçado aquele momento, Feyre e Nestha uma na frente da outra, as mãos dadas e apertadas, enquanto Elain estava sentada em frente aos dois corpos. As três em cima do tapete fino no chão. Nestha afastou os cabelos do rosto e os amarrou em um coque.

— Não... Kallias pediu esses exames quando me consultei por causa das dores de estômago... ele disse que eu precisava fazer todos, mesmo sem nenhuma suspeita ou menstruação atrasada... — Nestha pareceu embaraçosa, as últimas palavras saíram com constrangimento. — Porque eu... eu tinha... tido relações sexuais recentemente.

— Ah, Ness. — Elain disse ainda mais surpresa. Era óbvio que suas irmãs nem imaginavam o que se passava com ela. Nestha havia tido dificuldades até mesmo para fazer amizades, imagine transar com alguém. E tudo teria continuado assim e sido fácil assim se não fosse Cassian. O maldito Cassian entrando em sua vida.

Não é culpa dele, um pensamento incessante levantava em sua mente. Talvez aquela voz que vinha desenvolvendo durante a terapia.

— Eu realmente achava que nunca aconteceria algo assim. — Nestha finalmente se sentia mais segura para dizer algumas palavras. — Eu errei, eu sei... não usamos camisinha, mas eu tomo pílulas, porra. — Ela quase gritou. — Nunca deixei de usar uma pílula na vida, uma camisinha... e quando acontece... só um deslize, uma vez, essa merda acontece.

— Ness...

Feyre começou, mas Nestha, sem motivo aparente, havia arregalado os olhos. Sua expressão havia se tornado brilhante. Elain e Feyre ficaram desconcertadas e só entenderam a situação quando a outra começou a falar freneticamente, balançando as mãos com nervosismo.

— Mas é isso, não é? — Nestha parecia quase feliz. — Não é possível que uma vez cause isso e também não é possível que as pílulas tenham falhado. — A voz havia tornado a pura expressão de uma epifania. — E era muito recente, como os exames poderiam apontar isso? — Os fios dos cabelos dela caiam, enquanto Nestha quase pulava em desespero e falsa esperança. — É um erro, não é? — Parecia outra mulher, outra Nestha, ela estava feliz como suas irmãs nunca haviam visto. O brilho infantil percorrendo seus traços. — É um erro como Elain disse. — Ela terminou como se sua energia recente a tivesse esgotado.

— Nestha... — Feyre começou. — Pode ser um erro, mas as chances são muito pequenas. Você tem que estar preparada para ser uma verdade absoluta.

O sorriso no rosto anguloso dela estremeceu e esmaeceu. Seu coração falhou várias batidas, enquanto a ficha caia lentamente. Sim, poderia ser um erro. E sim, poderia ser verdade. Provavelmente era verdade, o íntimo dela sentia isso, alguma coisa essencial e primitiva gritava que sim, ela estava fodida.

— Quem é o pai? — Elain disparou, tentando ser delicada, mas a apreensão tomou conta do ar.

As meninas tinham medo do que havia acontecido com a irmã, de quem poderia ser o pai da criança. Sabiam como aquilo havia desestruturado o mundo que ela tentava construir e só de pensarem que o pai poderia ser alguém que causasse mais problemas... elas simplesmente não conseguiam lidar com essa ideia.

Nestha simplesmente balançou a cabeça em negativa, não sabia se deveria ou não contar para as irmãs.

— Não importa. Ele nem vai ficar sabendo. Eu darei um jeito nisso.

A voz potente e a face fechada de Nestha Archeron voltaram. Ela estava, pedrinha por pedrinha, subindo sua muralha novamente. Mais do que nunca, precisava ser forte nesse momento. Precisava parar de chorar e tomar uma ação. Felizmente aquilo era recente o suficiente.

— Como assim dará um jeito? — Feyre perguntou dura. A face tensa. Elain segurou a respiração.

— Você entendeu. — Nestha disse baixinho, o desespero sendo tomado por uma dor aguda.

Os estágios do sofrer são estranhos, assim como os da compreensão. O sofrimento primeiro de Nestha tinha sido mais um choque do que qualquer outra coisa. É aquele baque que sentimos frente a uma notícia triste e inesperada. Você sofre, sofre muito, mas ainda não entende as implicações reais daquilo. É uma dor que varre, mas ao mesmo tempo passa rápido, acalma, te tira da realidade do fato. Mas então isso passa e existem outros momentos, como a euforia presente em Nestha, quando a ficha não tinha caído e o mundo poderia voltar ao normal. E isso também passa e você percebe que o é verdade, seja lá o que for, aconteceu! E o que se segue é aquela dor terrível e horrível que começa pequena e vai tomando seu corpo, dia após dia.

— Você não pode estar querendo dizer isso. — Elain parecia exasperada quando indagou a irmã.

Nestha riu, com sarcasmo, levantando os olhos vermelhos para encarar o mar de chocolate que eram os de sua irmã do meio.

— Aborto é legal nesse Estado, Elain. Não é você que mudará a lei. — Elain suspirou com dor. Feyre observava tudo com medo a corroendo. Ter um filho poderia acabar com Nestha, fazer um aborto definitivamente acabaria com Nestha, por todas as implicações que isso seria. Mas, ela tentava se concentrar e não se desesperar, pois se sua irmã seguisse com o seu plano, faria de tudo para impedir essa destruição.

— Você tem que pensar bem. — Feyre conseguiu dizer e Nestha a encarou com raiva, a narina abrindo e fechando com a respiração rápida.

— Já pensei. No momento em que Elain abriu a boca para contar isso, eu já tinha decidido. — Era óbvio que não era verdade, mas fingiria ser. Ela precisava ser forte, embora o desespero e a dor a arruinasse.

— Você não quer esse bebê?

— Não é questão de querer, Feyre. — Ela parecia furiosa, não com a irmã, mas com o mundo, consigo mesmo. Porque seu corpo era sempre uma peça de um jogo maligno do destino? — É questão de não poder, não ter capacidade.

— Quem disse isso? — Elain indagava quase indignada e Nestha somente sorriu, o sorriso mais triste em sua vida.

— É preciso dizer? Você acha que não vejo nos olhos de todo mundo. — Ela cuspiu as palavras. — Até mesmo nos de seu círculo íntimo. — Disse, virando-se para Feyre. A expressão de Nestha estava dura, mas na hora em que viu a dor em sua irmã, ela conseguiu suavizar-se. Não regrida, Nestha. Ela não tem culpa. — Não quero te ofender, Feyre. Me desculpe falar isso, mas é a verdade. — Sua irmã limitou-se olhar para baixo, suas mãos ainda nas de Nestha. Depois de pouco tempo replicou.

— Não importa a opinião de ninguém, Ness, que não seja a sua. É sua opinião que está impregnada de ódio por si mesma. — Ela levantou o rosto e olhou fundo nos olhos cinzas gélidos. — Se veja pelos meus olhos, por favor. Uma única vez, se veja pelo meu olhar. — E, naqueles breves segundos, Feyre passou todo o amor e confiança que sentia pela irmã através de seu rosto.

O corpo de Nestha se tencionou quando ela conseguiu enxergar o que a irmã queria, todo o amor, toda a promessa de que a ajudaria sempre. Seu queixo tremeu antes de uma nova onda de lágrimas e desespero sacudir seu corpo. Ela toda se mexia, enquanto Feyre a envolvia novamente. O pescoço de Nestha se projetando para trás, sua boca abrindo-se em um grito mudo.

Todos embaixo deveriam estar ouvindo, mas ela não se importava com isso. Só queria que Cassian não estivesse ali, mas ela tinha esquecido que havia escutado a voz dele e sim, ele definitivamente estava naquela casa. Casualmente conversando com alguém ao mesmo tempo em que Nestha descobria estar grávida dele.

— Nós podemos te ajudar com tudo. — Elain sussurrou.

— É mesmo? — Nestha disse, ironicamente, novamente aos soluços. — Você... vocês... acham que quero... que eu quero... ter um bebê para... para ele... depender de Feyre também.

Nestha se desviou completamente do toque de Feyre pela primeira vez, mas pareceu imóvel no lugar que estava. Suas mãos enroscaram-se na barra de sua saia, a tocando com força. Ela respirou fundo até sua voz voltar ao tom normal e poder falar novamente.

— Eu mal tenho um emprego. — Seu som era decidido. — Mal tenho um futuro. — Uma mão passou por suas irmãs, apontando entre elas. — Elain tem sua faculdade, Feyre tem todo o sucesso do mundo que merece. Qualquer uma de vocês pode formar uma família. Vocês podem, têm capacidade para isso. Qualquer uma das irmãs Archeron tem direito de ter uma família, menos eu.

— Por que está dizendo isso? — Feyre parecia quase indignada, como Elain momentos antes.

— Porque eu nunca irei saber o que é ser mãe. — Ela disse mais alto. — Nunca, em toda minha vida. Porque eu nunca tive uma mãe. — Ela puxou a respiração com força para dizer o que viria a seguir. — Eu nunca tive o amor de uma mãe de verdade. Vocês eram muito jovens para lembrar. — Nestha olhou para cada uma delas com angústia. — Vocês crescerem sem mãe também, mas porque ela foi tirada de vocês antes que tudo pudesse acontecer... Eu cresci sem mãe porque não tive uma desde o dia que criei consciência e descobri que a mulher que me botou no mundo não tinha a mínima habilidade, e nem tentou ter, para isso.

Feyre e Elain olhavam para ela com choque. Nestha nunca gostava de falar sobre a mãe e as outras meninas não se lembravam tanto dela. Parece ter sido a mais velha a que teve mais contado. Feyre se sentiu mal pelas vezes em que sentiu raiva por perguntar sobre a mãe e Nestha não responder, pois a mais velha somente queria as proteger de más histórias.

— Você nunca disse isso. — Um sibilo saiu de Feyre.

— Porque eu não queria estragar as coisas mais ainda para vocês. — A raiva era cortante em seu ser. Raiva pela situação, pela mãe e sua família inteira de pessoas odiosas. — Mas a verdade é que a gente vem de um ciclo de mulher infelizes. — Sua respiração estava descompassada e era difícil falar tudo, mas ela conseguia sem soluçar. — Vocês não sabem nem metade do que aquelas mulheres eram.

— Mulheres? — Elain indagou confusa.

— Sim. Nossa mãe e também nossa avó. — Seus olhos procuraram os de Feyre. — Você nem chegou a conhecer aquela mulher. — O escarnio parecia ser ainda maior do que aquele usado quando ela citava a mãe. — Eu amava dançar, Feyre. — Nestha dizia como se aquilo fosse especificamente para Feyre. Seus olhos vazios perdidos na irmã mais nova, enquanto Elain só assistia. — Eu amava dançar, mas ela me batia nas mãos toda vez que eu dava um passo errado. Minha vida era a música, os livros e os filmes e ela me obrigava a sentar e ter aulas idiotas de etiqueta. — Ela riu com ódio, todo ódio guardado pela educação retrograda e idiota que havia tido. — E ai de mim se eu errasse. Sem comida ou presa no quarto... enquanto isso nosso pai andando pelo mundo a negócios e enriquecendo aquele coração mesquinho das matriarcas.

— Não pode ser, Ness. — Feyre quase chorava. — Você passou por isso? Meu Deus.

— Nós nascemos de um ciclo vicioso. Nossa mãe nunca aprendeu a amar de verdade, assim como eu também não. — Elain balançou a cabeça, querendo dizer que não, que sua corajosa irmã amava mais lealmente e profundamente que qualquer um. — E nossa avó, não sei... não sei se algum dia ela foi amada ou se também nasceu com o destino já traçado por causa do ódio de terceiros. E nós viemos disso, mulheres tendo mulheres e não as amando. — Ela riu baixinho. — Você vai quebrar isso, Fey. Nem posso dizer como fiquei aliviada por saber que era um menino. Mesmo eu sabendo, desde sempre, que você era diferente, que você era tão boa que quebrou a roda, eu ainda tinha medo que fosse uma menina. — Ela lembrou-se da raiva sentida quando Cassian falou sobre ela ser a possível mãe de meninas da família. Ah, Cassian, se você soubesse... ela pensou. — Você quebrou a roda, mas eu nunca irei fazer isso.

— Pare de dizer essas coisas, Nestha. — Feyre implorou chorando e Elain teve que segurar suas próprias lágrimas.

— Nossa mãe nunca me viu como indivíduo, pelo amor de Deus! Ela nunca me olhou como nada além de extensões dos desejos e sonhos dela. Ela me chamava de pequena rainha, não porque me amasse, mas porque eu era o trunfo em sua manga para ascender ainda mais socialmente. — Um soluço preso saiu dos lábios pálidos dela. — Nossa avó era péssima, nossa mãe era péssima. — Seus olhos vagaram entre as duas irmãs, se não havia vazio ali era porque a dor, durantes aquelas frases, havia tomado cada espaço. — E, pela lógica, eu serei a pior delas. — Esse término foi quase cuspido por Nestha, como se ela mesma sentisse nojo de si.

— Nestha. — Elain a chamou, a firmeza estava presente no seu tom. — Os erros dela não são os seus.

Ness riu, suas irmãs ainda não tinham percebido quão profundo era aquilo, aqueles traumas, a dor e o sufocamento.

— Vocês não entendem que eu já errei antes, antes mesmo disso? — Nestha apontou para sua barriga e sua voz era quase uma súplica para que elas a entendesse. — Antes mesmo desse bebê, se é que o posso chamar assim. Antes mesmo de ele nascer, eu já teria falhado. — Nestha esfregou as mãos nos olhos perdidos. — Eu já teria falhada porque falhei com vocês.

— Nunca mais repita isso. — A irmã mais nova tomou a frente. Ela tomou o rosto fino de Nestha entre as mãos, apertando um pouco mais forte do que acreditava. — Pare de se culpar pelo passado, pelos erros que carregamos de nossos pais. Para de se culpar por ter sido só uma adolescente. Você errou, mas todos nós erramos e todos nós podemos concertar.

Nestha estava começando a entender isso, depois das sessões de terapia. Mas, naquele momento, parecia que era um sonho muito distante melhorar, assumir seus erros e muda-los, se perdoar e ser perdoada.

— Eu estou tão perdida... eu... — Ela começou com dificuldade, depois de, mais uma vez, acalmar seus nervos. Suas irmãs a ajudaram, ou pelo menos estavam tentando. Ela olhou com carinho para as duas e decidiu que deveria dar um voto de verdade, de confiança. — O bebê... ele, ele é do Cassian. — Os olhos perdidos dela vagaram para suas próprias mãos.

Pareceu ter demorado alguns anos para que ela conseguisse, tivesse coragem de verdade, para encarar suas irmãs. Aquele era um dos momentos em que tanto o constrangimento quanto a força de certas verdades atingem todos direto na face. Quando ela olhou, Feyre tinha a boca aberta, o puro choque preenchendo cada um de seus traços. Ela parecia ter levado um soco no estômago. Elain tinha abaixado sua cabeça, as mãos preenchendo seu rosto delicado.

— Meu deus. — Elain conseguiu dizer, a única coisa possível para ela.

— Como eu não percebi? — Feyre se perguntava, tanto para Feyre quanto para Nestha... e talvez para o universo também.

— Também não sei, porque você descobre as coisas de um jeito fácil... fácil demais até. — Ness falou baixinho.

— Vocês... desde quando? — A mais velha se surpreendeu que Elain tivesse retomado o ar.

— Desde a briga aqui nessa casa, desde aquela noite. — Era meia verdade, pois ela sabia que tudo havia começado no momento em que seus olhos se abriram naquela cama de hospital e ela o escutou chamando-a de Ness.

Porém, para Cassian, havia começado nos momentos em que ele encontrou aquela foto em cima da lareira.

De todo modo, o sentimento de surpresa preencheu cada espaço do local em que elas estavam. O estranhamento piorava a cada hora. Feyre compreendeu que agora teria que se preocupar com Cassian também. Ela sabia que ele apoiaria sua irmã, diria até mesmo que era um alívio ele ser o pai. Mas se Nestha levasse seu plano adiante, então ele quebraria em mil pedacinhos. Feyre sabia que sua irmã não tinha o conhecimento de como o homem sempre quis ter filhos, embora houvessem muitos traumas e questões nele, que o impediam de ter levado o plano para frente muitas vezes. Mas a despeito disso, era óbvio o sonho de Cassian de ter uma família e evidente que ele iria querer o bebê.

Mas Feyre saiu de sua própria mente quando uma batida forte soou na porta. Na verdade, as três irmãs. As três cabeças castanhas se levantaram naquela direção, olhos azuis e castanhos curiosos. Ninguém precisou fazer a pergunta, mas Nestha entendeu a resposta que suas irmãs esperavam. Ela disse um baixo "sim, pode ser importante", deixando que aquela intromissão as tirassem daquele mundinho particular. 

— Pode entrar. — Se o comando partiu de Elain ou Feyre, Nestha nunca iria saber.

Porém, quando a porta se abriu, ela quis se afundar no mais baixo dos mundos. Havia deixado, sim, que a pessoa entrasse. Deixou porque jurava que era uma das mulheres que ali estavam. Deixou porque acreditava que nada ficaria pior.

Mas quando Cassian colocou sua cabeça para dentro e arregalou os olhos escuros assim que viu o estado das irmãs; com uma Nestha claramente vermelha pelo choro, cujo olho estava até mesmo inchado, Nestha Archeron percebeu que o mundo realmente a detestava.

Não é culpa dele, não é culpa dele, a voz tentou acalmá-la. 

Feyre e Elain não souberam reagir de imediato, afinal, elas ainda estavam absorvendo toda a situação. Mas, obviamente, ficaram ainda mais perdidas ao verem ele. Feyre foi a mais rápida quando entendeu o que aconteceria a seguir: Cassian preocupado, Nestha entrando em combustão e raiva pulsante novamente. E, por isso, devemos dar os créditos, Feyre até mesmo tentou.

— Cassian, não é uma boa hora. — Ela tentou, tocando no braço de sua irmã, tentando a segurar na realidade. Mas era tarde demais.

Nestha levantou-se como um furacão, com rapidez e fúria. Aquele fogo que inflamava estava mais do que na superfície. Na verdade, um furacão não, era um vulcão em erupção. A vida inteira ela havia soltado suas lavas, mas nunca explodido de verdade porque sua raiva era gelada, contida e cortante. E então... O vulcão estava realmente ativo. A explosão iria acontecer e a lava levaria tudo.

Quando Nestha passou pela porta, Cassian tentou a segurar, mas ela somente lhe deu um olhar de pura dor, puro sofrimento, enquanto via nele todos os erros que ela mesma tinha cometido.

— Não me toque.

Cassian estava acostumado com tudo que ela dava, sempre..., mas aquilo, aquela raiva e dor. Aquele fogo. Nem mesmo durante a pior briga deles ela parecia tão destruída. Nunca havia visto tamanho sofrimento em alguém que não fosse em seu círculo de amizades ou em si mesmo.

Enquanto a via andar por aquele corredor e descer as escadas, Cassian sabia que não poderia mais ficar parado enquanto a via se afastar e se destruir. Não poderia mais deixar de lutar por ela. Era a hora de aceitar seus verdadeiros sentimentos. E ele nem mesmo escutou as vozes, cheias de medo, das irmãs Archeron, pedindo para que ele ficasse. 

Tudo bem por aí? Com quais sentimentos vocês chegaram até aqui??

Bem, como sempre pergunto para vocês: o que será que vai rolar? Quem acertar ganha uma bala ou então eu deixo ler um dos capítulos antes de todos hahaha Um dica sobre o próximo capítulo: total interação nessian, mas o que vai acontecer... ai é segredo.

Enfim, espero que tenham gostado e que eu me controle e não poste na sexta-feira, somente na próxima quarta. 

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