Legend - O Mago Infernal (Liv...

By Y_Silveira

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Órion Kilmato ao perceber uma grande evolução de seus poderes é sequestrado por estranhas criaturas demoníaca... More

Sobre o livro
MAPA - GUIA
EPÍGRAFE
PRÓLOGO
PARTE I
I- O ASSASSINATO DO REI
II- A VISITA
III - O JOVEM MAGO
IV - Cosmos
V - A PROFECIA
VI - GRIMT'S
VII - BORBOLETAS
VIII - O EGRESSO
XIX - A FUGA
PARTE II
X - UM ASSASSINO EM FRENTE
XI - DÚVIDAS
XII - SUNIRA
XIII - A FACE DE ISTH
XIV - A FLECHA
XV - A FLORESTA
XI - O BORDEL
XVIII - A PRESENÇA
XIX - ARCABUZ
XX - CONVALESCENÇA
XXI - A ALMA INFERNAL
XXII - MAHIN
XXIII - A DESPEDIDA
XXIV - A REVELAÇÃO
XXV - O TREINAMENTO
XXVI - PIRATAS?
XXVII - ENCONTROS
PARTE III
XXVIII - UMA VIDA ESTRANHA
XXVIX - UM DESTINO INCERTO
XXX - SEM SURPRESAS
XXXI - A AFRONTA
XXXII - A RUÍNA
PARTE IV
XXXIII - ENTRE GRADES
XXXIV - PESO MORTO
Aviso - Mudanças
XXXV - A BUSCA

XVII - BERILO

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By Y_Silveira


A música ainda ressoava de madrugada, apenas uma música abafada tocando em uma vitrola. O som do violino deixava aquela noite ainda mais melancólica. A luz da vela quase derretida sob um candelabro iluminava o quarto em um tom amarelo e obscuro. Sombras dançantes e horripilantes se misturavam a penumbra.

A noite estava fria, Kari puxava para si o cobertor de lã. Ela não conseguia dormir. Era difícil fechar os olhos e imaginar involuntariamente todo o seu passado, principalmente o ano anterior quando ela viu um homem de cabelo prateado deixar o quarto de sua mãe. Ela não poderia esquecer daqueles olhos de serpentes, daquele sorriso sórdido e de quando ele desapareceu subitamente ao descer nas escadas. Ela o reconheceria facilmente em qualquer lugar.

— Não consegue dormir?

Náidius a despertou de seus devaneios. Ele estava ao lado dela com os olhos vidrados para o teto, um tanto pensativo.

— Deveria descansar — ele continuou. — Ignore esse lugar e apenas durma.

Ela olhou para ele, percebendo o semblante desconfortável dele.

— Diego lhe contou, não foi? — ela adivinhou.

O silêncio de Náidius era a sua resposta.

— Me desculpe por essa... esse meu comportamento aqui — ela falou. — Pareço tão fraca e inútil.

— Você não é inútil e nem fraca. Todos nós temos um passado, temos algo que nos afeta emocionalmente. Não deixe que isso se torne uma fraqueza. Você é muito melhor que isso tudo.

— Não é fácil.

— Eu sei que não.

Náidius refletiu um pouco. Ele parecia estar tão sentido com aquela história que a própria Kari. Talvez fosse difícil ver uma garota de catorze anos com um passado sombrio. Ele olhava para si mesmo, que história ele realmente tinha? Um único fato apenas de sua mãe lhe odiar por ser filho de um feiticeiro. Ele não conseguia se comparar. Não conseguia mais sentir a sua dor estando ao lado daquela menina. Kari parecia ser mais velha, de fato, tanto fisicamente quanto mentalmente, entretanto, ela foi obrigada a crescer.

Um grilo cricrilava em algum canto do quarto e o vento fazia as folhas de uma árvore baterem na aba de madeira da janela. A música já tinha parado e o barulho dos quartos vizinhos também já haviam se silenciado. Kari dormiu, mas Náidius ainda pairava pensativo.

...

Era mais um quarto naquele bordel. Haiko olhava para o teto, concentrando o seu disfarce de Ako. Os cachos castanhos caíam sob sua face, enquanto seus olhos amarelos eram lançados para o vazio dos seus pensamentos. A cor de sua pele nua se misturava com a noite mal iluminada em tom amarelado pela luz da chama da vela. O único acessório em seu corpo era o pentagrama preso em um cordão e nada mais.

Sônia dormia ao seu lado, ela estava coberta com um lençol. Estava dormindo. Ela parecia sorrir mesmo adormecida, talvez estivesse feliz. Haiko a fitou, estudando aquela face. Ele suspirou pesadamente e decidiu fazer algo que há muito tempo não fazia desde os últimos dezesseis anos.

Ele se endireitou-se, ficando por cima da maga. Continuava a fitá-la, a admirava e quanto mais fazia isso, mais o seu coração pesava. Isso era detestável! Ele nunca teve pena de nenhuma criatura após o seu exílio. Ele desfez completamente o seu amor pela humanidade, por todas as criações de sua mãe. Ele consumiu incontáveis almas, tantas que a sua própria alma já havia se perdido no vazio. Com Sônia não poderia ser diferente. Ele precisava do poder dela, precisava daquela alma.

Ele segurou abaixo do queixo dela com os dedos, fazendo com que ela abrisse os lábios. Estreitou os olhos e franziu as sobrancelhas. Concentrou o seu poder para que pudesse manipular a alma da maga. Aproximou os seus lábios aos dela. Esse era o momento.

Com os seus lábios quase tocando aos dela, ele sentia a energia sendo manipulada. Era forte como ele previa. Era frio e gelado como a chama azul que aquela maga dominava. Antes que a alma pudesse ser sugada, Sônia abriu vagarosamente seus olhos azuis escuro.

Haiko ficou inerte, vidrado naqueles olhos que os fitava. Ele poderia continuar o que estava fazendo, mas não conseguia, era como se todo o seu corpo houvesse paralisado com apenas aquele olhar. Não era a Sônia, era ele. Sem reação alguma, ele apenas a beijou, pegando a maga de surpresa.

Enquanto Sônia se entregava, passeando os braços por suas costas e entrelaçando seus dedos em seu cabelo encaracolado, Haiko apenas era dominado por suas aflições. Se relacionar com Sônia era justamente um atrativo para sugar sua alma e ter acesso aos outros magos de Coimbra, mas, por que ele não conseguia fazer algo tão fácil? Ela estava ali em seus braços, impotente. Ele já não conseguia mais pensar, estava tão perdido no toque daquele corpo, nos beijos, no cheiro, em tudo que a maga transmitia que os seus objetivos esvaíram de sua mente.

...

— Kari quebrou uma promessa, se é isso que quer saber — Diego falou.

Náidius e Diego aguardavam na porta do bordel enquanto Inarê e Kari buscavam seus cavalos no celeiro. Náidius havia questionado ele sobre ameaçar a irmã com a espada naquele dia, sabendo que eles tinham construído certo afeto.

— Ela apenas se desabafou comigo — Náidius respondeu, se lembrado da noite em que conheceu Kari em Sunira. — Ela é só uma menina, não deveria cobrar tato dela.

— Não é muito diferente de você.

Diego parecia sério e não era a serenidade comum que ele transbordava, estava pensativo, distante, como se o fato de Kari falar sobre a vida dele fosse o pior pecado do mundo.

— Eu normalmente não tenho o pavio curto — Diego continuou. — Mas, não gosto muito que as pessoas se intrometam em minha vida. — Diego olhou para ele com uma face sombria, segurou no punhal de sua espada. — Para o seu próprio bem, fique na sua.

Náidius entendeu que aquilo era uma ameaça, mas ele apenas estava preocupado com o bem estar da Kari, mesmo que a garota também houvesse lhe ameaçado com uma espada. Mas talvez Diego estivesse certo, ele estava se intrometendo demais. O seu foco naquela viagem era salvar Órion e ficar longe de Sidelena, não fazia sentido se importar com uma menina complexada e com um assassino. Tudo o que ele precisava era pensar somente nele e nada mais.

— Não deveria ter me contado sobre a vida dela então. — Náidius decidiu responder, mesmo sob a ameaça do assassino. — Não se preocupe, vou focar apenas em meus objetivos.

Náidius avistou Inarê não muito longe acompanhado por Kari e os animais, ele se direcionou para lá, ignorando qualquer tipo de reação de Diego.

Talvez Inarê já houvesse percebido mesmo nunca estando presente para observar aqueles dois. Tanto Diego e Náidius eram orgulhosos demais para admitir que entre eles crescia um tipo de afeto, a amizade, algo que ambos desconheciam, já que sempre foram implicantes um com o outro. Entretanto, Náidius já havia construído esse laço com Kari sem perceber. Por muitas vezes em que ele se perguntou a tamanha empatia com a garota, foi por isso, a amizade, quase como se ele a visse como sua irmã menor. Era pouco de se esperar de um jovem problemático que apenas se metia em confusões.

Diego ainda estava no mesmo lugar. Ele nunca gostou de viajar acompanhado. Ele nunca gostou de partilhar afetos e sentimentos. Isso sempre atrapalhou o seu trabalho e nos últimos dez anos ele percebeu que para um matador de aluguel constituir família era como amarrar a corda no próprio pescoço. No ano anterior ele cavou o seu próprio túmulo e de fato não pode ter convívio com mais ninguém.

...

Ainda era manhã no bordel, em um dos quartos Sônia despertava de uma das noites mais maravilhosas de sua vida. A luz do dia entrava pela janela juntamente com o frio matinal. Ela bocejou, abraçando um pedaço do lençol que cobria seu corpo.

— Bom dia! — Ako saudou.

Sônia virou-se para ele com um sorriso. Ele parecia feliz também. Ela observou que ele segurava a semente que ela levava em seu pescoço, ainda presa no cordão.

— Eu... Acho que já te contei essa história — ela falou, encantada com o sorriso do falso bruxo.

Sana. — Ele falou.

Ela assentiu, observando ele tocar na semente com curiosidade. De certa forma, ele já sabia da história por trás da semente de sana. Era ciente que aquela era a última e estava adormecida.

— Plante-a. — ele falou, para o espanto da maga.

Ako fechou o punho com a semente dentro e fechou os olhos, parecia até estar encantando-a. Sônia franziu o cenho.

— Quando chegar em sua cidade, plante-a, ela irá germinar. — ele continuou.

— Você sabe...

— Apenas faça isso. — Ele sorriu para ela e entregou a semente.

Sônia ficou em silêncio por um segundo, assentindo positivamente com a cabeça. Enquanto colocava o cordão no pescoço, ela não conseguia disfarçar a imensidão de sentimentos que lhe dominava, enquanto Ako continuava a fitá-la apaixonadamente.

Ela deitou sobre um braço, com os olhos fixos para os dele. Ela tocou na face dele com a ponta dos dedos, levando-os até a têmpora, até o encontro das mechas cacheadas.

— Eu... te amo — ela falou com a voz doce, pausadamente e emocionada.

Ako se desmanchou instantaneamente o sorriso, sentiu o seu corpo se paralisar. Ele se levantou em um pulo e como se previsse o perigo, começou a se vestir às pressas.

— Algo de errado? — Sônia perguntou, já arrependida de ter confessado seus sentimentos. — Eu não quis...

— Eu só preciso ir.

Ako falou secamente, como se tivesse apagado toda aquela noite, todo o sentimentalismo que ele transbordou. Havia uma tempestade na cabeça dele e Sônia conseguia perceber.

Haiko na verdade havia se esquecido de tudo, se esquecido de quem era. Ele não sabia o que estava havendo com ele. Ele sorriu, ele a beijou, a tomou como mulher e tudo que ele quis antes disso era sugar a alma da maga Cosmos. E seus objetivos? Era como se ao lado dela ele se esquecesse de tudo, até mesmo o seu real nome. Ele estaria... apaixonado?

Ako não esperou mas nenhuma palavra de Sônia e também não disse mais nada, apenas tocou em seu colar de teleporte e desapareceu, deixando o grande rastro de luz branca por todo o quarto.

...

Haiko não sabia onde havia surgido. Era algum tipo de campo, onde rebanhos de gado pastavam. O capim dourado cobria até a sua cintura e ele não conseguia mais ver nada depois disso. Estava desfocado, sentia a sua cabeça latejar, como se sua própria mente lhe sufocava. Perdeu o controle do seu disfarce, revelando em seguida a sua real forma, a élfica.

O semideus colocava as mãos na cabeça e curvava o corpo. Ele lutava mentalmente contra si mesmo, contra a realidade que ele estava tomando para viver. Ele se jogou no chão, caiu olhando para o céu, rangendo os dentes e lacrimejando os olhos. Não contendo mais tamanha pressão, os seus gritos ecoavam de uma maneira a afugentar os pássaros escondidos no capim.

Ele rolava pelo pasto, segurava a cabeça com as duas mãos como se um ataque epilético lhe dominasse. Ele não se importava com a terra nos olhos, com a folha do capim lhe cortando a face, com o cabelo comprido enrolando no pescoço, nem com seus gritos histéricos que poderia chamar a atenção em volta. Estava fora de si, o seu surto era maior que qualquer consciência que ainda lhe habitava.

Enquanto o som do ambiente parecia sumir e a visão tomava uma imagem mais distorcida e escura, ele ainda não notava que sua mente estava sendo afogada a uma presença felina em seu subconsciente.

"Respire".

Uma voz. Aquela voz lhe soando bem familiar.

Haiko se concentrou na voz, se concentrou em seu subconsciente, na imagem obscura que ia tomando forma em um lugar cinzento de paredes de vidro.

— Respire — a voz repetiu. — Sinta-se como em uma meditação. Como eu lhe ensinei.

Haiko seguia aqueles conselhos, já conseguia se ver mais calmo e conseguia notar um felino preto olhando para ele com seus olhos amarelos.

— Saia da minha cabeça — Haiko ordenou, tentando manter a calma nas palavras.

O gato continuava a fitá-lo.

— Vejo que a humanidade está lhe tocando novamente.

Haiko sentia um tom provocativo naquelas palavras.

— Saia da minha cabeça! — ele gritou, sentindo as paredes vibrarem conforme o tom de sua voz.

— Sinto um certo sentimento — o gato continuava. — Amor, paixão...

— Vai embora! O que quer? Me atormentar ainda mais?

Uma névoa densa tomava conta daquele ambiente, Haiko sentia seu coração bater forte, sentia a cólera lhe dominar.

— Está sentindo amor pela humanidade. Voltou a apreciar as criações de sua mãe.

— Saia da minha cabeça! — Haiko gritou.

A névoa dominava a sua mente, fazendo perder de vista a imagem do gato preto. Tudo estava escuro e sem foco, mas aquela voz persistia.

— Você quer escurecer a sua mente, você quer lutar contra quem realmente você é.

Haiko arquejava, grunhia em tamanho ódio. Sentia o seu corpo se debatendo contra a terra seca, contra os pedregulhos que afundavam em sua pele.

— Não adianta escurecer a sua mente. Você sente amor pela humanidade. Está sendo tocado, Haiko. Ainda existe compaixão em você.

— SAIAAAA!

Haiko gritou, tão alto e forte que sentiu sua voz falhar no final. A voz de seu pai desapareceu, até mesmo a sua presença, deixando apenas uma vasta escuridão em sua mente, que logo foi preenchida por imagens de um suposto sonho. Ele adormecera.

...

O barulho de pequenos chocalhos ressoava em um som agudo, acompanhado de mugidos bovinos. Ventava frio, como uma brisa de outono e ouvia-se o gralhar de algumas aves carniceiras à espera da morte de alguma criatura. Mais um som chamava a atenção, não estava longe. Parecia gemidos. Um chiado fraco, lembravam soluços abafados, como se um corpo estivesse sendo sufocado.

Haiko abriu os olhos vagarosamente. Ainda estava deitado no pasto, era a única coisa que conseguia se lembrar. Uma vaca começou a pastar não muito distante dele, o chocalho ressoava alto em seu ouvido. Ele conseguiu levantar uma mão sob a face e retirar o cabelo que a cobria. Cuspiu um pouco da terra em sua boca e lentamente sentia a dor dos cortes provocados pelas folhas laminadas do capim.

Ele se sentou. Era tarde, talvez faltado entre uma ou duas horas para anoitecer. Com a cabeça à vista, para fora do pasto, ele conseguia ver as aves carniceiras, como um tipo de urubu que gralhavam à espera da morte de alguma criatura. Ele só esperava que não estivessem confundidos com ele, pois, ele estava bem vivo.

A sua cabeça latejava numa dor profunda. O seu surto lhe causou danos ao seu corpo, ele iria precisar de um tempo para se recuperar. Nada como uma boa meditação. Posicionava o indicador e o dedo médio, cada par em uma têmpora, e fechava os olhos. Respirou fundo, sentindo a brisa suava açoitar seu cabelo prateado.

Enquanto meditava, mentalizando o seu ser mais profundo, tentava ignorar o som do ambiente ao redor: o vento, as aves, os bovinos, até a sua própria respiração, porém... Um chiado fraco, rouco, uma lamúria desesperada, mas sem forças. A dor da morte. Não era por ele que aqueles pássaros carniceiros estavam por ali, havia algum ser vivo morrendo.

Por mais que ele tentasse ignorar, aquele ser desfalecendo agonizava, mesmo tão fraco, conseguia lhe desconcentrar. Ele abriu os olhos e olhou em volta em busca daquele som. Estava perto, mas não no mesmo lugar em que ele estava. Ele se pôs de pé, meio tonto, cambaleando.

Seguiu o chiado até localizar um pequeno ser escondido entre as folhas de capim. Era um filhote de gato. Pequeno, frágil, de pelagem amarela. Parecia até ironia do destino ele encontrar um felino agonizando pela morte após aquele vislumbre do seu pai em sua mente — que aos poucos, as memórias vinham à tona.

O gato realmente estava morrendo. Ele parecia se engasgar com próprio sangue. O seu miado fraco parecia ser o seu último suspiro, um último lamento para a vida, na qual, a mesma estava lhe deixando.

Haiko se agachou diante daquele corpo mórbido. Observava o pequeno filhote que mal teve tempo de viver e já sofria pela maldade daquele mundo. O corpo dele era magro, via-se sangue de suas narinas, pelo visto, ele havia sofrido algum trauma, alguém havia feito aquilo com ele. Ele estreitou os olhos. Um humano.

Haiko não sabia o que estava fazendo. Enquanto o felino desfalecia, enrijecendo o corpo, o semideus estendeu sua mão sobre ele. O seu corpo agiu antes que ele pudesse notar, quase involuntário. Ele não pensou, não ponderou por nenhum segundo o seu próximo ato, tal ato que ele nunca pensou que pudesse fazer.

A palma de sua mão emitiu um brilho fraco, de um azul celeste quase translúcido. Aos poucos, o corpo do animal pareceu ganhar mais vida. Os membros foram se fortalecendo, a fraca respiração voltava ao normal, o corpo rígido ficava mais arqueável, com as patas se movendo naturalmente, abrindo e fechando os dedos como se amaciasse algo. O chiado rouco desaparecera, dando lugar a um miado dengoso e preguiçoso, até então ele abrir os olhinhos verdes como esmeraldas e vidrá-los no elfo.

Haiko recuou a mão, assustado. Aqueles pequenos olhos fitavam os seus, emitindo um miado agradecido enquanto se levantava. O elfo se perguntava o que acabara de fazer. Por quê? Ele devorava almas de animais como aquele, não os devolvia a vida. Por que ele estava se importando? O seu pai estaria certo?

"Ainda sente amor pela humanidade" "Ainda existe compaixão em você"

Haiko arregalou os olhos. Não seria possível que Luciano Antunes estaria certo. Essa imagem não poderia ser a dele. Ele já estava à beira de um novo surto, à beira de explodir a sua cabeça quando sentiu um toque em sua perna.

O gato enroscava nele, o tamanho carinho parecia uma forma de agradecimento por salvar a sua vida. O felino parou por um momento e o encarou com seus grandes olhos, miando, como se quisesse obter algum tipo de resposta.

— Berilo... — Haiko nomeou-o com um tom emocionado em sua voz. O nome que se encaixava perfeito a aqueles olhos verdes como esmeralda, um berilo.

Acariciou o gato em seu torço, fazendo o felino arquear o copo e levantar o rabo, recebendo o carinho com afeto. O elfo não conseguia distinguir o misto de sentimentos dentro de si, a única resposta a aquilo tudo foram as lágrimas despencando dos seus olhos, correndo por sua face como cachoeiras. Ele não sabia porque estava chorando, mas seus gemidos era uma resposta a toda aquela dor que lhe dominava. Desde o início.

...




Capítulo em homenagem à Berilo, um gatinho que resgatei das ruas, cuidei, mas por conta dos traumas vividos pela maldade humana não resistiu e virou estrelinha. Foi uma perda que sofri muito. Ele não conseguiu chegar até o veterinário.

Obrigada, Berilo. Por tudo!


Adotei a irmanzinha dele que segue fazendo tratamento contra uma infecção bacteriana. 

A outra irmanzinha se encontra uma uma família de muito amor e carinho. <3


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