As semanas vão passando e minha convivência com Renato está cada vez mais difícil. Dividir o mesmo teto com ele, os cuidados com a Mirella e agora ele está constantemente na produtora. Sinto que ele está me cercando de todas as formas possíveis para ver se consegue me fazer ceder. E pensar que há alguns meses eu daria tudo para ter ele em casa mais tempo.
Para Mirella está tudo maravilhoso. Agora ela tem o pai todos os dias, em todas as refeições e pondo ela na cama todas as noites. Confesso que fico um pouco balançada com as atitudes dele, com as mudanças que venho notando, mas as lembranças da traição são como um balde de água fria em tudo. Por mais que eu tente é impossível não lembrar dele com aquela mulher no colo dele quase sem roupa.
Minha mãe me liga todos os dias para saber como eu estou, por ela eu já tinha me mudado para São Paulo com a Mirella. Mas eu tenho uma vida aqui, não posso abrir mão de tudo que eu construí, não posso jogar tudo fora, mesmo que a partir de agora eu tenha que caminhar sozinha.
Em muitos momentos me pego pensando se deveria sair de casa, eu e Mirella, mas gosto tanto daqui, lutei tanto para ter essa casa, idealizei o projeto, escolhi cada detalhe junto com o arquiteto cuidei da decoração... Bem por enquanto vou ficando, mas no momento em que ver que não dá mais para viver aqui, vou abrir mão do meu lar.
Estou agora na minha cama, no quarto de hóspedes decidindo se levanto agora ou espero mais um tempo para ver se o Renato faz as coisas dele mais cedo e me dá um tempo sozinha. Escuto uma leve batida na porta.
- Quem é? - Pergunto.
- Sou eu, mamãe, a Mimi. - Ela responde do outro lado da porta.
- Pode entrar, filha. - Ela entra já vestida e banhada.
- Bom dia, mamãe.
- Bom dia, bebê.
- Eu não sou mais bebê, mamãe. Eu sou criança grande.
- Ah é verdade. Mas para a mamãe você vai ser um bebê para sempre.
- Tá bom, mas só para mamãe, certo?
- Combinado.
- Mamãe, o papai já cuidou da Mimi e agora está fazendo um café da manhã bem gostoso. Vem tomar café da manhã com a Mimi, mamãe?
O Renato usa todas as armas que pode, inclusive a Mirella. Eu sei que isso tudo foi planejado por ele, mas eu não posso dizer "não" para a minha filha, então vou ter que ceder.
- A mamãe vai só tomar um banho e trocar de roupa, tá bom?
- Tá bom, vou ficar aqui bem comportada esperando a mamãe.
- Está bem, a mamãe já volta.
Tomo um banho rápido e escolho um vestido de algodão. Mirella está me esperando na cama quando saio do closet, está distraída com um desenho na televisão.
- Vamos tomar café, filha?
- Vamos. A mamãe está bem bonita, o papai vai querer namorar a mamãe..
- Ai, filha, onde você aprende essas coisas?
- Não sei.
Descemos as escadas de mãos dadas. Quando entramos na cozinha a mesa já está posta. Ele caprichou fez tudo que eu gosto para o café da manhã. Não tenho sentido muito apetite, mas só de ver essas delicias me deu vontade de comer.
- Até que enfim minhas princesas resolveram descer. Pensei que não viriam mais.
- A mamãe foi tomar banho.
Me sento ainda em silêncio, pois não sei nem o que dizer e nem como agir, assim resolvo começar a servir Mirella.
- Você quer suco ou leite, filha? - Pergunto
- Suco, por favor. - Coloquei o suco dela e comecei a comer também.
Enquanto eu como percebo que ele me encara como se quisesse me falar algo. Conforme vou comendo vou ficando cada vez mais incomodada.
- Você não vai comer? - pergunto a ele ainda sem encara-lo.
- Vou. Só estava observando vocês.
- Hum. Entendi.
- Você vai ao escritório hoje?
- Não. Vou comprar umas roupas com a Mirella. Ela está crescendo muito rápido.
- Eu posso ir com vocês, se você deixar.
- Olha eu não...
- Oba, o papai vai passear também. - Mirella me corta e eu não tenho outra opção a não ser aceitar.
- A que horas nós vamos?- ele me pergunta.
- Às 10H.
- Ótimo. - Ele sorri e finalmente começa a comer.
Renato
Essa é a minha chance de reconquistar a minha mulher. Com a Mirella entre nós o clima fica mais leve. Já faz duas semanas desde que elas voltaram para casa, desde então não dormimos mais juntos, mal nos falamos e eu tenho que ficar atrás dela o tempo para ver se consigo estabelecer algum dialogo com ela.
Conforme o combinado às 10 nós saímos de casa. Camila vai ao meu lado no banco do passageiro, mas não me encara. A Mirella vai cantando o caminho todo. Minha filha está feliz pelo simples fato de estar com nós dois. Me recrimino mais uma vez por lembrar de todas as vezes em que poderia estar em casa com a minha família mas estava viajando com a Tatiana e os amigos dela. As vezes passávamos 3, 4 dias num quarto de hotel. Não consigo acreditar que fiz tudo o que fiz e só vim perceber tudo isso agora que estou prestes a perde-las.
Estaciono o carro e ponho o boné e os óculos escuros para evitar chamar a atenção. Quando saio do carro ela já está tirando nossa filha da cadeirinha. Eu amo vê-las juntas. Ela fica ainda mais perfeita no papel de mãe.
Acompanho as duas em várias lojas infantis. Por alguns momentos ela esquece suas mágoas, nossos atritos. De repente somos novamente aquele casal apaixonado, com nossa filha, que é uma parte de nós dois. A felicidade toma conta de mim de uma maneira surreal. É como se eu fosse explodir de alegria a qualquer momento.
Vamos à um restaurante com uma área verde para crianças. A Mirella adora e eu pude finalmente ficar sozinho com ela enquanto nossa alimentas os patos.
- Então, o que vai acontecer com a gente? - Pergunto.
- Sinceramente eu não sei.
- Eu sei que cometi muitos erros, e falo do fundo do meu coração que me arrependo. Não quero te perder, perder tudo que construímos.
- Olha, Renato, não é fácil. Lembrar de tudo o que eu vi é muito doloroso.
- Eu não estou te pedindo que me perdoe imediatamente. Mas que reconsidere e me dê uma chance. Eu nunca vou me perdoar se te perder assim, sem lutar.
- É um processo Renato. Você sabe que eu não posso prometer esquecer tudo assim de uma hora para outra. Se você quer realmente tentar vai ter que entender que eu não posso simplesmente esquecer.
-Tudo bem, eu entendo. Mas só de você me dar uma esperança já vale muito.
Nos recostamos e passo meu braço ao redor de seus ombros. Ficamos em silêncio observando Mirella brincar com outras crianças. Finalmente estou paz.
Nos dias seguintes tenho toda a paciência do mundo com ela. Jantamos juntos, vamos ao cinema, ficamos conversando na sala e até trocamos alguns beijos. Estou tentado reconquistar o amor da minha vida.
Hoje é sexta e acabamos de voltar da produtora. Meu telefone toca e vou atender. É o Thiago.
- Oi, irmão.
- Renato, preciso falar contigo urgente.
- Aconteceu alguma coisa?
- Sim vem aqui em casa agora. - Meu irmão ainda mora com meus pais.
- Você está me deixando preocupado.
- Só vem, por favor.
- Estou indo.- Desligo e vou avisar à minha mulher.
Encontro Camila no quarto da Mirella. Ela vai dar banho em nossa filha.
- Amor, meu irmão precisa falar comigo rapidinho. Vou na casa da mamãe e já volto.
- Está bem, não demora. Vou pedir o jantar.
- Já volto.
Vou caminhando pelo quintal pois a casa da minha mãe é atrás da minha. Entro na sala e minha mãe está com a cara péssima.
- Mãe, o que houve?
- Vai falar com seu irmão, ele está te esperando no escritório.
Saio de lá muito abalado, pois sinto que algo muito ruim está para acontecer. Entro no escritório de uma vez e tomo o maior susto da minha vida. Vejo um fantasma que veio me assombrar.
- Renato...
- O que você está fazendo aqui, Tatiana?
Meus queridos, perdão pela demora.
Confesso que não sabia que rumo a história tomaria, mas agora consegui definir o que vai acontecer com a nossa querida mocinha.
Espero que tenham gostado do capítulo.