🎵 Música: Beautiful Undone - Laura Doggett
— Filha, oi? — Mamãe empurra a porta, mas eu não me mexo.
Desde que voltara do encontro com Rafael, eu estava jogada na cama, querendo ser engolida pelas cobertas e nunca mais voltar a viver minha vida patética. Como eu era burra! Achando que ele largaria tudo para ficar comigo. Até parece.
— Filha, o que tá acontecendo com você? — Minha mãe senta na beirada da cama, mas eu não a olho. Na verdade, só queria que ela fosse embora e me deixasse sozinha.
— Nada — Respondo seca.
— Isabela... Você não tá bem e não é de hoje. Me conta o que aconteceu, querida, por favor...
— Nada, mãe. Que droga! Eu só tô cansada de ficar aqui, sabe? Quero ir embora, quero minha casa!
— Ai, filha, mas já tá acabando... Só mais dois dias... Você pode ir embora se quiser, mas sabe como sua tia e sua prima vão ficar chateadas, né? Elas gostam muito de você... Faz um esforcinho...
— Tô fazendo! Mas quero ficar sozinha, tô cansada — Bufo. Minha mãe crispa os lábios e se levanta.
— Ok. Se você diz que é só isso, eu vou te deixar descansar... — Ela fala com a voz firme, contendo um pouco de irritação, e anda em direção à porta. Antes de sair, porém, vira-se para mim — Depois procura o Alex... Ele estava querendo falar com você.
— Arrrrghhh! — Gemo e enfio a cabeça no travesseiro.
— Bela, ele fez algo com você? É por isso que você tá assim?
"Ele está me chantageando a transar com ele!" As palavras vêm na ponta de minha língua, mas me calo. Falam que tudo o que não dizemos se acumula e vira veneno em nosso corpo. Se fosse assim mesmo, eu estava prestes a morrer.
— Não, mãe. Eu só tô sem saco mesmo. Daqui a pouco vou descer — Sento-me na cama e passo as mãos pelo rosto.
— Então tá.
Minha mãe sai e me deixa ali, com toda a raiva do mundo. Além de tudo eu ainda teria que aguentar o merdinha do meu primo querendo me comer! Era demais para mim. Mas quer saber? Eu não entraria no jogo. Rafael disse que ia dar um jeito e ele que desse. Porque eu definitivamente não ia me submeter a tamanha humilhação.
*
— Que é? — Pergunto assim que entro na sala de TV e vejo Alex sozinho.
— Oi, boa noite pra você também... Encosta a porta aí pra gente...
— Não precisa — Sorrio — Tenho certeza que ninguém vai se importar de entrar aqui e ver a gente conversando.
Alex franze a testa e estreita os olhos, depois se levanta e vem em minha direção, falando perto do meu ouvido:
— Será que não vão mesmo?
— Não — Eu o empurro — Sabe por quê? Porque eu não vou jogar esse seu joguinho patético — Meus olhos faíscam de raiva — Se você quer contar pra todo mundo, vá em frente. Não sou eu que estou comprometida.
— Uou. Peraí, Belinha. Você não tá comprometida, mas é o noivo da sua prima, esqueceu? O que é que a tia e todo mundo vai pensar de você depois disso? O que a Susaninha vai pensar? Vai ser um escândalo... Você conhece a nossa família... E... Sem querer dizer nada, mas... Você não acha que já é errada o suficiente?
Respiro fundo, ganhando tempo para digerir suas palavras. O salafrário ainda tinha a audácia de me acusar e me ofender!
— Então eu sou a errada?! Só eu? Como se você e todos os outros fossem perfeitos, né... Nunca falharam na vida.
— Mas pelo menos a gente nunca traiu alguém da nossa própria família...
— Ah, não? Você tá me chantageando, pelo amor de Deus!
— É claro que não, Belin...
— NÃO ME CHAMA ASSIM.
— Shhh... — Ele se aproxima de mim receoso — Não precisa gritar, tá? Bela, olha, eu não tô te chantageando, poxa. Eu só quero uma chance, só isso. Você nunca tentou... E eu sempre quis... Por que não usar essa oportunidade pra gente ficar mais próximo?
Ele se inclina na minha direção e tenta me beijar.
— Sai daqui, você é um cretino! Eu não quero ficar mais próxima de você. Você é podre, Alex. PODRE. Quer saber? Eu nunca fiquei e nem vou ficar com você porque eu tenho nojo de gente assim, que se acha o dono do mundo só por ter a merda de uma conta bancária gorda. Agora, foda-se você. Por que não vai chantagear a parte mais interessada nisso tudo, hein?! — Sibilo e aproximo meu rosto do dele, fazendo-o recuar — E já que você tá tão interessado em sexo, por que não pede para o Rafael te comer?!
— Opa, tudo bem aí?
Nós dois viramos para a nova voz e nos deparamos com Rafael entrando na sala.
— Tudo ótimo — Respondo, olhando satisfeita para a cara pálida de Alex.
— E aí, cara, beleza? — Rafael pergunta — Será que a gente pode conversar um pouco?
— Ah, que bom. Vocês dois podem ficar à vontade porque eu já tô de saída... Até, viu?
Saio da sala triunfante, com o coração martelando no peito. Poucas vezes na vida enfrentei alguém como enfrentara o Alex há pouco, mas era bom pra ele aprender. Rafael que desse um jeito na bagunça que arrumou porque eu acabara de tirar o meu da reta. E afinal, era ele quem ia perder o tal "casamento milionário".
*
TOC TOC.
— Quem é?
— Bela? Posso falar com você um instante? — Rafael fala do outro lado da porta e eu me levanto. Não estava animada para conviver em sociedade naquela noite e, depois da conversinha com Alex, belisquei algo e subi para ficar lendo.
— Que é? — Pergunto assim que abro a porta e Rafael olha para os dois lados antes de entrar e fechá-la.
— Tá tudo resolvido.
— Ah é?
— Aham. Ele não vai mais falar nada... Nosso segredo tá protegido por enquanto e você não está mais numa fria, viu? Eu disse que ia resolver...
— E o que você fez? Prometeu que ia comer ele? — Rio da minha própria piada e ele estreita os olhos para mim, mas sorri também.
— Claro que não, boba... — Ele me puxa pela mão e me aproxima dele — Digamos que eu tenho meus meios... — Disse, inclinando-se para me beijar, mas eu o afastei.
— Não.
— Qual o problema, linda? O sinal tá verde pra gente... O pessoal tá conversando lá embaixo...
— Não. Chega, Rafael. Já deu, tá? Você escolheu a Susana então vai lá ficar com ela...
— Ihhh... Ôh, linda, para com isso vai... Não é questão de escolher...
— Claro que é... Você não pode ter nós duas, Rafael, é simples assim.
— Mas nem um pouquinho? — Questiona em voz baixa e faz nova aproximação.
Com o olhar brilhando de desejo, ele passa a língua nos lábios e chega bem perto, fazendo-me perder todo o fio da meada.
— Hein? Só mais um pouquinho... — Ele esbarra os lábios nos meus e eu fecho os olhos, sentindo sua boca se aproximar da minha e suas mãos afundarem nos meus cabelos, puxando-me mais para perto. E sua língua me invade, lambendo, chupando, agarrando minha cintura e me pressionando contra ele faminto.
Que merda!
Por que diabos esse cara tinha tanto efeito sobre mim?! Por que ele tinha que ser tão gostoso e ter uma pegada tão maravilhosa? Por que ele tinha que descer aquela boca carnuda pelo meu pescoço, deixando rastros molhados e abrindo caminho para o que quer que ele desejasse de mim? Eu tinha que ser mais forte. Eu não podia deixar aquilo acontecer!
— Não, para. PARA — Empurro ele com toda força que posso — Vai embora, sai daqui. Me deixa em paz!
Ele me olha surpreso e eu sustento o olhar.
— Linda...
— Não, Rafael. Você me ouviu. Vai embora antes que a minha mãe volte. Anda. Vaza.
Ando decidida até a porta e a mantenho aberta para ele, que dessa vez apenas caminha até lá e, quando estava quase no corredor, vira-se para mim mais uma vez. Seus olhos estavam tristes e confusos, mas ele não diz nada e eu desvio o olhar, batendo os pés impaciente. Então ele sai e eu bato a porta atrás de mim e me jogo na cama, afundando a cara no travesseiro, ainda sentindo o perfume dele em minha pele.
*
Será que acabou tudo entre esses dois? Façam suas apostas 🤭
E... Não quero dizer nada não, mas o próximo cap promete hehehe 👀