1 - Lavanda e Veludo

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🎵 Música: Lavender and Velvet - Alina Baraz


Então eu me pegava pensando em nós dois, deslizando os dedos entre minhas pernas numa noite qualquer sozinha em meu quarto, ou buscando seu beijo em outros lábios. E, ao mesmo tempo que eu o desejava, eu me condenava. Ele era estritamente proibido! O que eu estava pensando?

Então eu escrevia o nome dele no meu diário. Proibido. Muito proibido. Doce proibido.

Perfeito proibido.

E quem é que poderia não gostar?

Ele se insinuou para mim e não deveria ter feito. No entanto, apesar de saber desde sempre que ele era sinônimo de problema, eu não conseguia me importar porque eu o queria.

E continuei a querer até o dia que fomos corajosos – ou insanos – o suficiente para nos rendermos a nossos caprichos.

*

Era metade de janeiro e eu estava trabalhando na sorveteria numa tarde quente de terça-feira. Avental amarrado por cima da roupa, cabelos presos dentro da touca. Feliz e despreocupada pesando o sorvete de um cliente quando ela se aproximou atraindo os olhares das pessoas da praça, da rua e, quando chegou mais perto, dos poucos clientes daquele dia.

Loira, cabelos brilhantes e compridos, 1,67 esculpidos cheios de curvas mais os lábios carnudos e os olhos verdes muito claros: a mistura perfeita de Cameron Diaz e Scarlett Johansson. Quem poderia culpá-la?

Susana, minha prima, com seu andar hipnotizante e sua autoconfiança invejável, parecia deixar mágica por onde passava. Quando se aproximou o suficiente, pude sentir o cheiro de menina rica que exalava de seus cabelos.

— Oi. — Ela sorriu para mim com os dentes brancos e esticou um envelope azul marinho aveludado por cima do balcão. — A tia tá aí? — Perguntou. Eu assenti.

— Tá lá dentro.

— Pode entregar pra ela? Vamos passar a semana na Pedaço de Paraíso... Vai pra lá com a tia. É pra comemorar o meu casório... — Ela piscou. Eu assenti de novo. — Vamos ficar esperando.

Susana jogou um beijinho no ar para mim e se virou, deixando o rastro de perfume e estrelas douradas que pareciam emanar de seu bronzeado perfeito. Eu ainda fiquei parada observando-a se afastar, assim como o cliente que acabara de pesar o sorvete. Quando voltei a mim, pigarreei para o rapaz que ainda tinha os olhos fixos nas "costas" dela.

— Deu 7,65.

Meu cliente ficou sem graça e mexeu no bolso, entregando-me o dinheiro e indo se sentar. Mamãe surgiu da cozinha pouco depois.

— Acho que temos compromisso semana que vem. — Entreguei-a o convite, que sequer fora olhado, e ela se animou na mesma hora.

— Olha que lindo, filha! Quanto bom gosto da Su! Vai ser um festão.

— Uhum... — Comentei fingindo despreocupação.

— Vamos ter que ver se a Rita quebra essa pra gente... — Minha mãe disse ainda hipnotizada com o convite. — Você viu? — Ela segurou o envelope em frente a minha cara e eu afastei suas mãos.

— Já vi. Tá lindo mesmo.

— Pode falar com a Rita quando ela chegar? Daqui a pouco vou ter que sair pra repor umas frutas...

— Uhum.

Minha mãe se afastou e eu me peguei com vontade de quebrar a cara de alguém. Eu já sabia sobre o casamento e sabia que era inevitável. Afinal, Susana e Rafael já namoravam há uns bons dois anos... Mas eu não queria ver a confirmação disso, muito menos ser parte do teatrinho. Eu deveria ficar feliz por minha prima, sei muito bem disso, mas eu não estava. Nem um pouco.

E nem podia... Afinal, é impossível se empolgar para o casamento do cara que você é apaixonada. 

Perfeito ProibidoWhere stories live. Discover now