9 - Homem de 1 milhão de dólares

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🎵 Música: Million Dollar Man - Lana Del Rey



Nós amamos nossas mentiras e nos construímos em cima de falsas moralidades.

Quando voltei à piscina depois de recuperada do meu encontro às escondidas, sento-me sozinha num canto e fico observando minha família.

Tia Valquíria já havia dispensado os fornecedores e falava orgulhosa o quanto a festa da filha ficaria maravilhosa, e eu podia apostar que sua dívida expressiva nem passava pela cabeça dela naquele momento. Tio César estava com o braço em volta de Sirley e sorria satisfeito, provavelmente pensando em seu encontro com a empregada mais tarde. Pablo distribuía beijos em Roberta e de vez em quando olhava preocupado para o celular com a tela virada para baixo perto deles na mesa. E no meio disso tudo, Ítalo, o marido da minha prima Sabrina, fazia uma cabaninha enquanto ela amamentava uma das filhinhas porque dizia ser estranho o fato da mulher expor os peitos por aí. Nós estávamos em família, pelos céus!

E mesmo se não estivéssemos... As pessoas são hipócritas o bastante para não aceitar uma mulher amamentando em público, enquanto que para qualquer lugar em que se olha, há fotos sensuais e a total exposição do corpo feminino como um parque de diversões. Delicioso para se passar um tempo, mas feio quando levada em conta sua natureza. Mulheres amamentando, menstruação, pelos: coisas que nós aprendemos, de um jeito sutil e enraizado, a guardar para nós mesmas e ter vergonha, como se nossa própria origem fosse falha. Ideias absurdas que aprendemos com a mesma sociedade que ama enfiar seus podres embaixo do tapete e fingir que nada está acontecendo.

E, sendo essa a família que cresci, havia me acostumado muito a isso tudo. E agora você até pode continuar com raiva de mim por eu estar pegando o noivo da minha prima... Mas fala sério?! Quem se importa no meio desse circo?

*

O jantar desceu indigesto.

Rafael e Susana não paravam de se esfregar na minha frente na mesa e eu já estava de saco cheio. Não via a hora da sobremesa chegar para poder escapulir dali. E o pior de tudo é que quando o safado parava de agarrá-la, lançava-me uns olhares atrevidos que davam a entender que ele queria falar algo.

— Carlinha, tu vai achar a cidade irada. Tem muita coisa maneira, né mor? — Pablo cutucou Rogéria e sorriu. Carla começaria a faculdade de Medicina em São Paulo.

— Cerrrteza! — Ela disse em seu sotaque paulistano puxando o "r".

— Aquele clube no Pinheiros! Puts. Só tem noitada boa... — Ele continua.

— Ah, mas a Carlinha não gosta dessas coisas, né, filha?! — Tia Valquíria olha orgulhosa para a cria.

— De vez em quando é bom né, mãe... — Carla dá uma olhada para a mãe e continua prestando atenção em Pablo.

— Aí, a mãe acha que nós somos umas santinhas... — Susana interfere com um sorriso malicioso.

— Querida, você pode até não ser mais, mas tenho certeza que sua irmã aqui ainda é, né, amora?

As bochechas de Carla ficam vermelhas na hora e todos começam a rir.

— Meu deus, Valquíria, expondo as intimidades das meninas! — Tio César grita, divertindo-se.

— Mãe! — Carla repreende a mãe, mas já era tarde. Todos começam a fazer piadas com suas "primeiras vezes" e os assuntos ficam cada vez mais estranhos.

— Conta pra gente então, César, quem foi que te deflorou? — Tia Verônica pergunta rindo enquanto dava mais uma golada no vinho e eu só conseguia sentir vergonha alheia por eles.

Perfeito ProibidoWhere stories live. Discover now