Quando Eu Ainda Amava Você

By ClaraCasteloQEAAV

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[CONCLUÍDA] Quando as duas ex-melhores amigas e atuais rivais Carla e Adele se reencontram na faculdade anos... More

Quando você ainda me ignorava
Quando eu e você passamos uma tarde constrangedora juntas
#1
Quando você se escondeu no armário
Quando vi você naquela festa
Quando eu conheci você
Quando seu "com quem será?" não foi comigo
Quando eu me senti a pior pessoa do mundo
Quando eu conheci outra pessoa num café
#2
Quando saberemos se foi a escolha certa?
Quando tentei seguir em frente
Quando você a beijou na minha frente
Comunicado
Quando colocamos um ponto final
Quando trocamos lições sobre o amor
Quando encurtamos a distância
Quando meu pedido começou a se realizar
Quando você devolveu minhas asas
Enquanto eu ainda amar você
Epílogo
Atualizações
(eBook + novo livro + mais novidades)
#3
#4

Quando eu aprendi a abrir mão

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By ClaraCasteloQEAAV


Carla acordou cedo no seu primeiro dia de férias. Escovou os dentes, prendeu o cabelo num coque e preparou seu café. A mãe já havia saído para trabalhar. Enquanto comia uma panqueca, checou suas mensagens. Nenhuma de Luana ou de Adele. Ela suspirou e matou o tempo nas redes sociais. Após terminar de comer e lavar a louça, Carla foi para o quarto e trocou de roupa. Seria um longo dia na casa de seu pai.

Como se o universo quisesse lhe dar uma folga, o ônibus de Carla estava relativamente vazio. Ela escutou música e pensou em montar planos para as férias. Talvez ela finalmente fosse checar a nova livraria no centro da cidade com a namorada. Era espaçosa, cheia de plantas, com uma decoração aconchegante. Luana certamente devoraria os livros cultos que Carla nem conhecia por nome, pois ela e Adele sempre foram mais adeptas da literatura infanto-juvenil. Ela se perguntou se a ex-amiga já tinha visitado o local.

Antes que o ócio levasse os pensamentos de Carla em uma direção perigosa, ela chegou no ponto e caminhou até a casa do pai. Ele jogou a chave para que ela abrisse o portão. O cachorro latiu. Demorou para reconhecê-la.

O pai de Carla morava num prédio com dois andares e dois blocos de apartamento. Ele ficava no andar de cima enquanto a irmã morava no andar de baixo e o auxiliava quando podia. Carla não conhecia os outros vizinhos. Seu pai havia se mudado para lá depois da separação, e ela só ficava com ele por alguns dias ao mês.

— Odeio ter que subir e descer essas escadas todo dia. A sua tia não tem dó de mim, senão deixava eu ficar lá embaixo — ele reclamou enquanto ela entrava — Teu cabelo tá grande que só. Acho mais bonito que aquele corte de machinho que tu fez.

Carla suspirou fundo e abriu um sorriso.

— O senhor quer que eu ajude no quê hoje?

— Minha irmã fez umas compras pra mim ontem, então não precisa passar no mercado, mas eu agradeceria se tu lavasse o banheiro e ligasse pra farmácia porque um dos meus remédios tá acabando — Ele se sentou com dificuldade — Mas não se apresse, fale um pouco com seu velho. Parece que não lembra que eu existo quando não tá aqui.

— Eu soube que o senhor andou aprontando — ela respondeu enquanto se sentava ao lado dele — O médico falou pra não beber.

O pai grunhiu.

— A gente vai tudo morrer, mas médico quer que a gente morra infeliz.

— E o senhor não quer viver pra ver minha formatura, não?

Ela o amoleceu, ao menos um pouquinho, e o pai abriu um sorrisinho.

— Por você eu tento, mas nada de me dedurar pra tua mãe.

Carla abraçou o pai. Ele era uns dez anos mais velho que a mãe dela e sofria há uns bons anos com vários problemas de saúde. Ela sempre amou o pai, porém a bebida que ele tanto apreciava só piorava a vida de todos eles. Após o divórcio, e agora que o pai não podia mais andar tanto para beber, a convivência ficou melhor.

— E como vai aquela tua namorada Joana?

— Luana, pai.

— Isso mesmo que eu falei.

Ela abaixou a cabeça.

— Não tamo muito bem, mas tamo juntas.

— Ué, e o que tu fez?

— É só que... É complicado. Por causa de mainha.

— E quem tá namorando a menina é tu ou a tua mãe?

Carla riu balançando a cabeça.

— Pai, não é isso. É que mainha dificulta a gente se ver e eu não posso levar ela em casa. Ninguém gosta de ser escondido, sabe? Desgasta muito. Eu sei que Luana gosta de mim, mas às vezes gostar não é o suficiente.

— Pra mim gostar sempre é o suficiente. O meu casamento com a tua mãe só acabou porque ela deixou de gostar de mim. Se fosse por causa da minha saúde, por causa da bebida ou por causa do temperamento dela, a gente nem tinha se casado — ele disse, curto e grosso.

— Mas não era saudável, era? Podia ser o suficiente pra quererem ficar juntos, mas nenhum de nós três tava feliz — Carla disse, fazendo o pai se virar para encará-la — Eu não quero que Luana continue escolhendo ficar comigo só por gostar de mim, sendo que não nos faz bem.

O pai de Carla a estudou em silêncio por alguns segundos. Ela se perguntou se o havia ofendido acidentalmente e começou a ficar nervosa.

— Quem é você e o que fez com a minha filha?

— Oi?

— Poucos anos atrás eu não podia mais falar o nome da tua melhor amiga na tua frente sem você berrar. Tudo porque tu dizia que ela não escolheu ficar contigo. A menina foi parar no hospital aquela vez, tu foi com ela na ambulância e, ainda assim, foi embora antes que ela acordasse porque não queria conversa — Ele se endireitou no sofá — Agora me diz que forçar alguém a ficar contigo é errado. Quando isso aconteceu?

Carla deu uma risadinha sem graça e respirou fundo.

— Às vezes, se a gente tá com sorte, conseguimos olhar pra dentro e ver o que todo mundo já viu de fora. Eu acho que cansei de ser infeliz.

Há um certo tempo, um pensamento a afligia. Era a ideia de que não teria perdido Adele se não tivesse sido tão injusta. Carla sabia desde aquela época que ir embora não era culpa dela, mas seu comportamento autodestrutivo foi quase automático. Havia dentro de Carla um medo visceral de abandono, que a fazia se contorcer para aprisionar as pessoas em sua vida, mesmo que no fundo ela nem fizesse mais questão de suas permanências. Por outro lado, afastava quem realmente amava.

— Eu acho que é patológico — Carla soltou, após um momento de silêncio.

O pai, distraído, fez um barulho confuso enquanto virava a cabeça.

— O quê?

— Esse meu jeito de ser.

— E tu quer fazer terapia?

Carla deu de ombros. Luana dizia que, embora a terapia trouxesse muitos benefícios, não era uma fórmula mágica de cura. Nem todo método funciona pra todo mundo. Nem sempre é o que a pessoa mais precisa no momento. Começar a fazer terapia não é o suficiente para mudar e evoluir enquanto indivíduo. O primeiro passo é querer ajuda.

— Vou esperar pra ver. Eu me conheço e sinto que, se eu recebesse um diagnóstico agora, eu terminaria me acomodando e justificando meus erros, sabe? Quero primeiro mudar, depois me entender — Ela suspirou.

O pai deu uma risada.

— Mudar tu já começou.

*

Os dias foram passando, e Carla dormia mais e mais noites na casa de Luana, mas não conseguia se sentir em casa. Elas não brigaram nenhuma vez, e Carla sequer pensou em Adele naquela semana. Mesmo assim, as duas agiam como colegas de quarto que mal se conheciam. Em uma manhã de sábado, Luana preparou o café e colocou uma caneca na frente da namorada.

— Vamo na Metrópole hoje? — Carla perguntou, a encarando.

Luana nem mudou de expressão.

— Tá bem — Ela beijou a testa da namorada e foi pra sala.

Carla deu um gole no café, derrotada. Não houve nenhuma tentativa de sugerir outros planos, de dizer que estava atarefada demais, dando brecha para que Carla tentasse convencê-la a seguir sua ideia e as duas terminarem rindo e se beijando no sofá. Uma aceitação imediata vinda de qualquer uma delas era praticamente desistência.

De noite, elas se arrumaram. Carla não costumava usar maquiagem, mas passou bastante rímel e gloss. Suas sobrancelhas já eram suficientemente grossas sem serem preenchidas e ela não sabia fazer nada tão complexo quanto passar sombra ou delineador. Já Luana só passou um hidratante labial e trocou os óculos de armação redonda por lentes de contato.

Uber chegou, bora? — Luana estendeu a mão para Carla se levantar do sofá e elas foram.

A Metrópole era uma balada LGBT que nenhuma das duas particularmente gostava, mas era um canto certo para esbarrar em alguns amigos e poder encher a cara no fim de semana. O local estava consideravelmente cheio, embora não tanto quanto se esperaria, porque muita gente já havia viajado para passar o Natal fora.

— Vou procurar algo pra gente beber. Não tô muito no clima de dançar hoje — Luana disse pouco antes de cruzarem a porta e saiu de perto.

Carla foi inundada pela música ensurdecedora e começou a vasculhar o local à procura de rostos familiares. Seus olhos pararam numa mulher muito bonita de cabelo preto e liso, com um delineado gráfico azul combinando com a cor do vestido justo dela. Carla sabia que a conhecia, mas não reconhecia de onde. A mulher percebeu que estava sendo observada e piscou para ela, que se constrangeu e virou o rosto.

Dentro de trinta segundos ou menos, a mulher estava na frente dela segurando um copo de bebida.

— Você é uma das poucas pessoas que ainda não conheci hoje — ela falou para Carla, que não conseguia sustentar um contato visual.

— Não quero dar ideia errada, eu vim com a minha namorada — Carla procurava Luana na multidão, suas mãos suando.

A mulher riu e estendeu a mão.

— Eu sei. Eu sou a Sayuri. Sua amiga Adele já me falou sobre vocês, só queria me apresentar — E então, dando um gole na bebida, acrescentou: — Mas se vocês duas...

Totalmente desnorteada, Carla apertou a mão dela devagar, sem saber exatamente onde Sayuri estava indo com aquela frase e confusa com o status de relacionamento entre ela e Adele.

— Me ignora, tô bebinha já. Adele tá por aqui — Sayuri deu umas risadinhas e mudou de assunto, constrangida com a própria inconveniência — Quer que eu chame?

— Não, eu...

— Sayuri, tu sumiu, mulher! — Uma figura loira com seus um e setenta de altura apareceu do meio da multidão ao lado delas. As três se encararam num silêncio desconfortável, preenchido apenas pela música de fundo — Oi.

— Oi, Adele — Carla abriu um sorriso amarelo.

— Oi, Adele — repetiu outra voz, enlaçando a cintura de Carla no processo. Era Luana com as bebidas — E oi...

— Sayuri. Prazer em te conhecer. Luana, né?

— Isso — Ela analisou as três, com suas expressões de mal-estar e posturas enrijecidas feito estátuas — Bom ver que estavam todas se dando tão bem. Espero que aproveitem o resto da noite. Vamo, amor?

Pelas próximas duas horas, Carla e Luana conversaram à beça, riram e semi-dançaram umas duas músicas enquanto viravam seus copos. Surpreendentemente, aquela noite estava sendo muito agradável. Elas estavam se divertindo como não faziam há semanas, até que Luana a beijou. Elas se beijaram, e se beijaram, e se beijaram. Não havia nada de diferente das outras vezes, exceto o essencial. Luana deu um selinho nela, sorriu e pediu licença para ir ao banheiro.

Carla ficou sentada, anestesiada, olhando para a pista de dança. Viu Sayuri acenar pra ela, sentada em uma mesa com Adele. De repente, começou a tocar um remix de "Call your girlfriend" e as duas se arrastaram para dançar. Já suadas, cansadas, bêbadas e com mais energia do que no começo da noite. Carla as observou. Elas flertavam através da dança, se tocando, cantando trechos da música uma para a outra e até mesmo se beijando. Não estavam apaixonadas, isso era claro, mas igualmente clara era a química entre elas.

"Ligue para a sua namorada, é hora de terem aquela conversa," o refrão da música ecoava em seus ouvidos. Carla começou a chorar em silêncio. Enxugou as lágrimas quando viu Luana voltando.

— Eu tô velha demais pra madrugar. Pedi um Uber pra ir pra casa, mas você pode ficar se quiser — Luana disse.

Carla balançou a cabeça, compreensiva. Algo no olhar de Luana indicava que ela sabia o que estava por vir, mas aquele não era o momento certo para mencionar.

— Pode ir, eu vou ficar mais um pouco.

Cinco minutos depois, Luana foi embora, e Carla virou o que ainda estava em seu copo, antes de entrar na pista de dança e ser puxada por Sayuri para o círculo onde ela e Adele dançavam. As três começaram a pular e gritar a letra da música. Ela pensou nas palavras que Sayuri havia proferido mais cedo: "Mas se vocês duas..."

— Eu e Luana vamos terminar — Carla gritou no meio da música. Sayuri arregalou os olhos e riu.

— Quando? — ela perguntou.

— Amanhã! Ou daqui a uns dias. Antes do Natal.

Só agora a ficha estava caindo de que ela havia pensado em voz alta por causa da embriaguez.

— Por quê?! — Adele perguntou, e o coração de Carla saiu pela boca.

— Eu não deveria... Não deveria estar falando disso antes de... — Ela parou de dançar — Mas eu acho que Luana sabe.

Sayuri a abraçou e puxou Adele para o abraço desajeitado.

— Deve ser muito difícil pra você admitir isso, né? — ela falou junto do ouvido de Carla, por causa do barulho — Tô orgulhosa.

Adele não disse nada. Não conseguia encontrar as palavras certas. Carla não se importou. Sentiu as batidas aceleradas dela, a respiração curta e quando Adele engoliu em seco.

— Podem me deixar em casa? Eu tenho medo de pegar Uber sozinha de madrugada — Carla cortou o assunto, rindo de nervosismo.

— Qual casa? — Adele perguntou por reflexo. Carla sorriu calmamente.

— E tem outra?


Notas: Eu sei que ando demorando muito pra atualizar, porque sou perfeccionista e não fico satisfeita com os capítulos e adio demais... Vou tentar controlar esse perfeccionismo pra garantir que eu finalize a história. O próximo capítulo vai ser do ponto de algum personagem secundário (caham... Julia, André, Sayuri...), mas vai ter desenvolvimento da trama principal nele. Só faltam 8 capítulos para a história acabar! Depois vou reescrever e transformar em webcomic.

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