O filho perfeito

By RobertaDragneel

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Dinesh Yamir é o filho de um grande empresário, por isso as expectativas sobre o seu futuro são altas. Então... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Especial [+18]
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27 (Parte I)
Capítulo 27 (Parte II)
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35 (Parte I)
Capítulo 35 (Parte II)
Bônus: "A Carta"
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38 (Parte I)
Capítulo 38 (Parte II)
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 32

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By RobertaDragneel

"Talvez eu esteja muito ocupado sendo seu para me apaixonar por outra pessoa
Agora pensei bem sobre isso
Me arrastando de volta para você." - Do I Wanna Know?, Artic Monkeys


Miyuki atravessava aquele andar em passos apressados, segurando uma enorme caixa de papelão retirada da sala de arquivos. A sua chefe, Youko, e toda a sua equipe estava com o trabalho dobrado para realizar uma propaganda impecável. A chegada de um novo produto, o diamante sintético, na empresa exigiu um maior empenho dos funcionários. Por isso, a jovem não queria ficar para trás ao ver todos ao seu redor se esforçando.

Enquanto se dirigia até a sala de Youko, ela acabava esbarrando em alguém fazendo a caixa e, consequentemente, os documentos em seu interior caírem no chão.

— Desculpa, moça.

A sua voz suave a fez se questionar internamente se ele era um funcionário da empresa. O rapaz se abaixou junto com Miyuki a ajudando a recolher os papéis. Ele possuía cabelos negros e lisos tocando seus ombros. A sua pele era morena, possuindo os mesmos traços faciais do Dinesh – apesar de ter cílios mais longos e um nariz mais fino – exceto os olhos dourados como duas gotas de mel.

— Sem problemas, eu quem estava distraída. — ela dizia sorrindo sem jeito e o rapaz retribui o sorriso, expondo as covinhas nas bochechas. — O senhor seria...?

— Pode me chamar apenas de Kiran. Eu sou o irmão do dono da empresa.

Miyuki não conseguiu esconder a expressão surpresa, o que rendeu uma baixa risada do mais novo. Ele se erguia entregando a caixa para jovem com um sorriso gentil.

— Vocês são tão...

—... diferentes, eu sei. Eu e o Dinesh temos nossas divergências de filosofias, mas sou igualmente competente para liderar a empresa.

Talvez tudo fosse mais fácil se o Kiran tivesse sido o diretor, mas por que eu ainda prefiro o canalha do irmão dele?, ela pensava.

— Entendo. E o senhor está aqui para supervisionar o trabalho na ausência dele, certo?

— Na verdade, eu estou acompanhando a mamadi. Ela veio conversar com o atual diretor sobre umas questões administrativas.

— Mama... O que?

— Significa mãe. — comenta contendo a risada. — Desculpa, às vezes não consigo abandonar a minha língua nativa.

Naquele momento, ela recordava do Dinesh falando "baldi" e não pôde deixar de rir baixo, pensando em como um homem frio como o seu chefe poderia parecer fofo ao usar tal termo.

— Eu gosto dessas expressões.

— Sério? Que curioso! Bem, eu preciso ir antes que ele apareça.

— Ele? Quem?

— O Dinesh.

Diante do olhar confuso da jovem, Kiran decidia se explicar.

— Ele retornou ao Japão hoje, não sabia?

Miyuki até perdia o fôlego com a informação, negando com a cabeça sem esconder a expressão surpresa. Kiran analisava com um semblante confuso e abria a boca para comentar algo, mas via a sua mãe sair da sala apertando a mão de Masaichi. Então, ele fazia uma breve reverência como despedida e se aproximava de Mahara. Enquanto isso, a jovem permanecia estática tentando assimilar a chegada do seu chefe. Por um motivo que desconhecia, sentia-se nervosa como uma adolescente diante do seu amor secreto.

Eu tenho que me esconder!

Então, ela correu até o elevador apertando desesperadamente o botão e entrando na cabine quando as portas se abrem. Miyuki batia o pé de forma inquieta contra o chão até chegar ao setor da sua chefe, entrando na sua sala de forma apressada.

— Você está pálida, Miyuki. — comenta Youko, preocupada. — Viu algum fantasma?

— Não, não. Eu só... Como posso dizer...

— Está fugindo do Dinesh?

— Sim.

— Por que? Ele é o dono da empresa e frequenta todos os andares em suas vistorias, você não poderá evitá-lo para sempre.

— Eu sei mas estou com medo. — dizia soltando um longo suspiro. — Medo dele ter voltado mais frio e indiferente do que antes... Eu sinto como se essa empresa consumisse toda a energia dele.

Youko abria um sorriso de canto ao entender o motivo do medo da jovem, aproximando-se dela e apoiando a mão em seu ombro.

— E por que você tem medo dele ser indiferente contigo?

— Porque eu... Eu ainda o amo.

— Então, não há o que temer. O Dinesh é muito perceptivo quanto aos sentimentos alheios, por isso não ousaria te tratar mal sabendo do que sente. E se ele ousar, pode me contar que eu dou um puxão de orelha daqueles!

Miyuki ria fraco diante da ameaça de Youko, sentindo-se menos tensa com a volta do indiano. Então, ela a abraçava com força e balança a cabeça em concordância.

— Obrigada.

Durante o restante do dia, Miyuki não saiu da sala de reuniões fazendo anotações e ajudando a estagiária com o relatório a ser enviado para o canal de televisão. As suas passaram boa parte do expediente matinal organizando a questão burocrática para a apresentação do comercial enquanto Youko e sua equipe de publicitários formulavam a propaganda. Na hora de descanso, Miyuki preferiu pedir para que uma de suas colegas trouxesse o almoço para a sua pequena sala. Apesar da sua atitude causar estranhamento, ninguém ousou perguntar o motivo.

— Eu sou uma idiota infantil... — murmura cutucando o arroz com os hashi's. — Eu vou passar a vida toda trancada nessa sala? É impossível.

Após terminar o almoço, voltava ao seu trabalho mas ouvia batidas na porta. Por algum motivo, tinha um péssimo pressentimento com a chegada de Youko em sua sala.

— Poderia entregar esse roteiro para o Masaichi? — dizia estendendo a folha de papel para a jovem. — Está bem resumido como ele pediu.

Ela engolia seco, ficando de pé e pegando cuidadosamente o papel. Youko percebia o receio dela e ria um pouco alto.

— Calma, calma. O Dinesh ainda não chegou.

— N-Não?

— Não, o voo dele atrasou. Talvez nem venha hoje, então não se preocupe.

Miyuki encontrava-se dividida entre a alegria e a decepção, mas disfarçava com um fraco sorriso. Então, ela seguia para fora da sua sala sem medo de se esconder, indo até o último andar onde se encontrava a diretoria da empresa. Quando trabalhou como secretária do Dinesh, tornou-se amiga dos funcionários daquele setor e, por isso, todos a cumprimentavam com gentileza. Ela não podia negar como sentia falta daquele ambiente, mas estava se adaptando muito bem ao setor de publicidade.

Ela deu leves batidas na porta, ouvindo a confirmação e entrando cuidadosamente. Masaichi repousava os papéis sobre a mesa, ficando de pé e fazendo uma breve reverência para a jovem. Miyuki não pôde deixar de admirar a grande humildade dele que, mesmo ocupando o mais alto cargo, continuava a agir como um mero funcionário perante os demais.

— O relatório. — dizia entregando o papel para ele. — Deve ser cansativo administrar tudo isso.

— Sim, mas o Dinesh já está aqui. Essa será a última documentação que vou assinar como diretor.

O coração dela falhava nas batidas, olhando ao redor de forma desesperada.

— O senhor Yamir está na empresa?

— Ele acabou de chegar. Por sinal, o setor está pronto para recebê-lo. — comenta passando pela jovem e abrindo a porta. — Não vem?

— Não, não. Eu preciso ajudar a Youko na próxima reunião.

— Mas a Youko irá participar a festinha de recepção também...

— Quer dizer, eu tenho que resolver umas questões no RH.

— Como quiser. — dizia desconfiado. — Se mudar de ideia, nós estaremos aqui.

Ela acena positivamente com a cabeça, retirando-se da sala em passos apressados. Porém, seu corpo gelava ao ver Dinesh saindo do elevador e cumprimentando as pessoas presentes no último andar. Ele se encontrava surpreso quando os funcionários paravam ao seu redor, batendo palmas e Masaichi surgia jogando confetes nele. O indiano permanecia com um semblante neutro, retirando os confetes dos ombros. Miyuki mordeu o interior das bochechas para não rir diante da cena, imaginando que seu chefe estivesse contendo a vontade de gritar com todos presentes.

— Masaichi, não é para tanto. Eu só fui resolver questões da empresa por algumas semanas.

— Mas o seu nome começou a ficar limpo entre os funcionários. — murmura Masaichi no ouvindo do amigo. — Isso significa que seu trabalho aqui será mais fácil. Então, deixe-me comemorar um pouco, seu chato!

Ele dava nos ombros em sinal de indiferença e se encaminhava para a sala da diretoria, ignorando todos os olhares.

Quase todos.

Dinesh interrompeu a caminhada ao avistar Miyuki, mudando o trajeto para a sua direção. Nesse momento, a jovem sentiu a força de suas pernas sumirem e, lentamente, começou a recuar evitando o contato visual à todo custo. Contudo, o olhar penetrante do indiano atravessava a sua palma causando calafrios por todo o corpo. Ele parou à sua frente a encarando de forma intensa, fazendo as bochechas dela esquentarem.

— Dine...

— Olá, senhorita Sato. Então, voltou para a empresa? Que bom, espero que continue se esforçando.

Dito isso, Dinesh seguia seu caminho em direção à sala do diretor sendo acompanhado por Masaichi que o atualizava da situação da empresa. Os demais funcionários dividiam o bolo entre si enquanto Youko chegava no andar em passos apressados, abraçando o indiano com um largo sorriso. Miyuki via a cena do seu chefe se afastar após demonstrar total frieza com o reencontro dos dois, suspirando decepcionada. Então, ela decidiu voltar para a sua pequena sala enquanto secava algumas lágrimas com as costas da mão.

A jovem repousou os braços sobre a mesa e escondeu o rosto, tentando lidar com o aperto em seu peito. Ao ouvir o som da porta sendo aberta, rapidamente retornou à postura séria até ver uma pessoa desconhecida diante dos seus olhos. O homem aparentava ter 1,70 e um corpo esquio, mas bem destacado pela farda da empresa. O cabelo preto dele cobria parte de sua testa em uma franja que, particularmente, Miyuki achou fofo. Os seus olhos castanhos a encararam igualmente surpreso antes de abrir um sorriso tímido e se reverenciar.

— Desculpa incomodá-la, senhorita Sato. Eu sou Masuda Kojima, o novo estagiário da senhora Shimada.

— Prazer, senhor Kojima! Pode me chamar apenas de Miyuki. — dizia ficando de pé e fazendo uma reverência. — A Youko está em uma pequena comemoração no momento, mas pode aguardá-la aqui.

—Muito obrigado, Miyuki!

Ela sorria fraco e voltava a se acomodar na sua cadeira enquanto Masuda sentava-se à sua frente, analisando seu semblante cabisbaixo.

— Se me permite perguntar, está tudo bem com a senhorita?

— Ahm... Está sim. Eu só estou um pouco cansada do trabalho.

Masuda apoiava a sua mão sobre a dela que estava situada em cima da mesa. Miyuki ergue o olhar, confusa.

— Se precisar desabafar, saiba que eu estou aqui. E-Eu confesso que estou um pouco assustado por finalmente trabalhar na empresa do temido senhor Yamir, mas não quero ficar para trás. Quero dar o meu melhor a cada dia e ajudar as pessoas ao meu redor.

Um sorriso involuntário surgia nos lábios de Miyuki e ela repousa sua outra mão por cima da dele.

— Você é tão gentil, Masuda.

(...)

Kiran saía da empresa antes de encontrar o seu irmão. Ao entrar no seu carro, uma Lamborghini Veneno preta, deixava o ar sair de seus pulmões. Mahara sentava-se no banco do passageiro e lançava um olhar de reprovação que não passa despercebido pelo filho antes de dar partida no carro.

— Eu não vou falar com ele.

— Por que não, Kiran? Ele é seu bhaya.

— Isso não apaga os erros dele, não muda a forma como ele me tratou por todos esses anos.

Mahara suspirava pesadamente, acomodando-se no banco.

— O Dinesh está tentando mudar por nós e por si mesmo, porque quer se desvencilhar da pessoa que era no passado. Você não acredita na redenção dele, Kiran?

Ele apertava com força o volante, sentindo os músculos serem pressionados contra o terno.

— Eu...

— Você seguiu em frente depois do que o Aseem fez, mas por que não perdoa o seu bhaya? Por que perdoá-lo é tão difícil?

— Porque ele era a pessoa quem eu mais confiava! — gritava com lágrimas nos olhos, virando o rosto em direção à mulher. — O Dinesh... Ele era o meu herói, o exemplo que eu sempre quis seguir. Então, de um dia para o outro, eu não passei de um mero lixo em sua vida. Como quer que eu reaja, mamadi? Por que ele começou a agir dessa forma com a própria família? Eu não consigo entender.

Por breves segundos, Mahara encontrava-se sem palavras pois precisava concordar com seu filho. Dinesh, por muito tempo, negligenciou a própria família e valorizou somente o seu trabalho, como se a empresa fosse tudo o que importasse em sua vida. Ela percebia como a forma de agir fria dele magoava todos ao seu redor, mas os seus conselhos começaram a perder o efeito conforme o coração do Yamir se tornava cada vez mais frio.

— Não tem sentido... O Dinesh nunca trataria a família assim sem um bom motivo. Certo dia, o Raj me pediu para ser compreensiva com ele, então isso me faz crer de que há algo mais profundo no coração do Dinesh que não compreendemos.

— Como o que? O Dinesh está bancando o vilão para nos proteger? — questiona Kiran ironicamente, secando as lágrimas e voltando a atenção para a pista. — Isso não é o estilo dele.

— Tem certeza? Ele sempre teve um lado protetor, principalmente quando se tratava da sua família. As pessoas não perdem a sua essência, Kiran. Elas apenas as ocultam quando é necessário.

Ele optava por ficar em silêncio durante o resto do caminho, parando o carro na frente da mansão enquanto abria a porta para a sua mãe, mantendo o típico sorriso gentil. Kiran seguia para a sala onde via sua irmã fazendo alguns desenhos, mas logo virava o rosto em sua direção quando percebia a chegada dos dois.

— O bhaya já chegou?

— Ele passou na empresa primeiro para resolver uns assuntos pendentes, então provavelmente virá no final do dia.

Maya fazia um leve bico em desagrado, voltando a desenhar em seu caderno. Kiran seguia para o seu quarto, jogando-se na cama e afundando o rosto em seu travesseiro. Em meio ao silêncio de longos minutos, acabava murmurando para si mesmo:

— Eu só quero o antigo bhaya de volta...

(...)

Dinesh coçava a nuca enquanto seus olhos cansados estão focados na prancheta que Masaichi segurava em suas mãos. O vice diretor explicava minuciosamente as mudanças na empresa, gesticulando com certo ânimo por ter seu amigo de volta. Por outro lado, o indiano bocejava durante a conversa e isso fez o mais velho interromper a caminhada em direção ao RH.

— Assim não dá, Dinesh! Você precisa estar inteiramente focado.

— Eu estou focado.

— Está? Então, o que eu estava falando agora?

— Em como o seu namorado é lindo e eu sou o chefe mais gostoso de todos.

— De fato, o Yuri é lindo mas não estava falando sobre isso.

— Então, acertei quando disse que estava falando que eu era o chefe mais gostoso de todos? — dizia com um sorriso convencido.

Masaichi revira os olhos, cruzando os braços logo em seguida.

— Claro que não!

— "Não" sobre esse ser o foco da conversa ou "não" de que não sou o mais gostoso?

— E isso importa?!

— Nunca se sabe, alimentar o meu ego sempre é bom. — comenta dando nos ombros. — Não acha, querido?

— Eu acho que seu ego está tão bem alimentado que mal pode sair da cama.

— Geralmente, são as pessoas que não conseguem levantar da cama quando estão comigo. — Dinesh dizia abrindo um sorriso malicioso. — Por Ganesha, Masaichi! Estamos na empresa, precisamos de uma conversa séria.

— Espera! Eu quem deveria estar te dando uma bronca por não se concent-...

— Que seja. Eu pegarei um café, senão vou dormir com essa conversa entediante.

Dinesh seguia em direção à pequena sala reservada para os funcionários almoçarem ou descansarem. Raj havia implantado um "cantinho de lazer" em cada setor para que todos pudessem aproveitá-lo no horário livre e, também, aliviar um pouco o stress do trabalho. Ao chegar na sala, encontrava Miyuki e Masuda conversando animadamente. A sua ex-secretária jogava a cabeça para trás, deixando escapar uma alta risada enquanto o rapaz ao seu lado estava com a mão apoiada sobre o ombro dela.

A cena causou certo desconforto no Yamir.

— Estou atrapalhando?

A voz grave e seca ecoou no lugar, fazendo as duas pessoas presentes virarem o rosto em direção indiano, expressando surpresa com a sua presença.

— S-Senhor Yamir?

— O dono da empresa?! — Masuda exclama surpreso, fazendo uma rápida reverência. — Eu sou o seu fã. Desde que a revista Tokyo Business fez um artigo sobre a sua rotina, criei uma imensa admiração pelo seu esforço desde jovem.

Provavelmente foi uma das revistas que a Youko firmou contrato, Dinesh pensava enquanto se aproximava com as mãos dentro dos bolsos do terno.

— Sério? Que interessante.

Masuda continuou falando sobre os grandes feitos do Dinesh no mundo dos negócios, mas o próprio estava com o olhar focado em Miyuki. Ela, por outro lado, retribuía a intensa troca de olhares com uma expressão confusa.

— Colega de trabalho?

— Desde quando isso te interessa, senhor Yamir?

Ele demonstra surpresa por causa da agressividade na fala de Miyuki, mas não demora para rir de forma seca.

— Anda afiada, senhorita Sato.

— O senhor não é o único que sabe responder alguém.

— Então, passou esse tempo da minha ausência tentando ser igual à mim? — questiona inclinando levemente o corpo. — Ainda há muito o que aprender para a sua infelicidade.

— O senhor não é o meu parâmetro.

— Será?

— Estou atrapalhando algo? — questiona Masuda, receoso.

— Nã-...

— Está sim. — Dinesh interrompe a jovem e olha de canto para o estagiário, meneando com a cabeça em direção à porta. — Saía daqui. Eu preciso ter uma conversa com a senhorita Sato.

O mais jovem buscava uma explicação em Miyuki e ela sorria envergonhada, fazendo uma breve reverência como pedido de desculpas. Em seguida, Masuda saía da sala deixando os dois à sós.

— Não deveria ter agido assim com o Masuda.

— Já o chama pelo primeiro nome? Estão bem íntimos, hein.

— Como você e a Allisson? — pergunta com ironia. — Não, nós ainda não transamos.

Dinesh estreita os olhos mas permanece calado.

— E o senhor não tem o direito de ficar assim, sendo que agiu com total frieza quando me viu...

— Frieza? Oh... Eu não queria te prejudicar no trabalho.

Miyuki o encarava sem entender e o Yamir tratava de se explicar.

— Se eu te tratasse de uma forma especial, iam pensar que você foi realocada para a sede por minha causa e não por sua capacidade. Eu sei muito bem como alguns funcionários podem ser tóxicos e espalhar boatos cruéis. — dizia recordando de quando ouviu três funcionários lançando comentários nada agradáveis sobre a sua pessoa, por ter um jeito mais bruto de administrar a empresa. — Eu fui tão frio assim? É força do hábito.

Dinesh ria fraco para quebrar o clima enquanto Miyuki estava levemente corada com sua confissão.

Ele fez isso pensando em mim, pensa com um sorriso bobo.

— Você...

— Eu sou incrível, eu sei.

Ela revira os olhos, voltando a estar indiferente com a sua presença.

— Idiota.

— O que disse?

— Nada.

O indiano lança um olhar desconfiado, mas decide deixar de lado.

— Eu preciso ir, tenho umas questões a resolver no RH. — ele comenta pegando um pouco de café e seguindo em direção à saída até sentir a mão da jovem segurar o seu braço. — Sim?

— Eu também irei para o RH.

— Não te perguntei.

Dito isso, ele saía da sala mas podia ouvir um xingamento nada agradável vindo de Miyuki. Ela o acompanhava em passos pesados, mas disfarça sua raiva com um sorriso ao encontrar Masaichi que também entrava no elevador, ficando entre os dois. Dinesh olhava para um lado, a jovem para o outro e o vice diretor encontrava-se no centro, batendo de forma impaciente o pé contra o solo.

— Não é por nada... — Masaichi começava a falar alternando o olhar entre ambos. — Mas por que tem uma puta tensão sexual aqui?

Dinesh conteve a risada enquanto Miyuki se encontrava vermelha, mal podendo responder a pergunta pois as portas se abrem e os dois homens seguem sem olhar para trás. Ela os acompanha com o olhar antes de andar em direção oposta, apoiando a mão sobre o coração o sentindo inquieto.

O restante do dia foi exaustivo para o Yamir que passou por duas longas reuniões. Felizmente, Masaichi encontrava-se do seu lado o incentivando e também fazendo anotações sobre as reuniões. Em seguida, os dois tiveram um encontro particular com um dos sócios para um debate sobre a questão financeira da empresa e, assim, terminaram o expediente.

Por outro lado, Miyuki se jogava sobre a sua mesa após um longo dia. Youko havia saído alguns minutos antes e a jovem aproveitou para organizar a sua mesa, visando ter menos trabalho no outro dia. Porém, ela erguia o olhar quando uma caixa dourada era depositada em sua frente e encarava, surpresa, o rapaz de sorriso dócil.

— Nada melhor do que terminar um dia cansativo com chocolate.

Miyuki puxava a fita vermelha e retirava a parte superior da caixa, surpreendendo-se com os bombons ovais de chocolate branco. Instantaneamente, levantou-se da sua cadeira e deu um forte abraço no estagiário.

— Você é um amor, Masuda. Eu nem sei como te agradecer.

Ele apoiava as mãos na cintura dela para prolongar o contato físico, mesmo após Miyuki desfazer o abraço.

— Não precisa. Eu só quero te ver bem.

Em resposta, ela abria um sorriso singelo de agradecimento e pega sua bolsa a ajeitando em seu ombro. Masuda envolvia seu braço no dela em um gesto de cavalheirismo e ambos saíam da sala, dirigindo-se para o elevador. Miyuki já começava a atacar os doces, oferecendo-os para o rapaz que, mesmo sem jeito, acabava aceitando após muita insistência.

— É bom saber que estarei rodeado de pessoas boas nessa empresa.

— A maioria dos funcionários são simpáticos.

— Exceto o senhor Yamir. Ele me deu um pouco de medo... Será que é sempre tão intimidador assim?

Miyuki pigarreia diante de sua pergunta, apertando o botão do elevador para irem até o térreo.

— Talvez.

— Ele pareceu te conhecer muito bem.

— Impressão sua.

— Não sei. — murmura desconfiado. — De qualquer forma, vou evitá-lo à todo custo. Eu acho que ele não gostou de mim.

— Eu acho que o senhor Yamir tem uma lista muito restrita de pessoas que gosta. — comenta Miyuki rindo baixo e levando outro bombom à boca. — Mas, no fundo, ele é uma boa pessoa.

— Não é o que dizem. Eu ouvi boatos que ele é um monstro sem coração no mundo dos negócios, pisando nos concorrentes e intimidando os seus adversários.

Eu não posso discordar, ela pensava.

— Ele tem seus pontos positivos na personalidade.

— Como qual?

Antes que Miyuki pudesse responder, ela sentia o celular vibrar e lia a mensagem de Youko. Masuda saía do elevador e a encarava esperando que o acompanhasse.

— Pode ir, eu tenho que entregar um relatório ao presidente.

— Agora?

— Sim, é um pedido da Youko. Ela é quem manda.

Mesmo triste, Masuda acena em concordância e se despedia com uma reverência. Depois de pegar o relatório no setor de publicidade, a jovem se dirigia para o último andar que se encontrava vazio, pois a secretária do presidente já havia sido dispensada. Por um momento, encarou a cadeira vazia relembrando da sua antiga função e sorriu fraco. Então, seguiu até o final do corredor e deu leves batidas na porta antes de entrar. A sala continuava da mesma forma, mas menos bagunçada e mais organizada nas prateleiras.

Os seus olhos percorrem o ambiente até repousar no homem fazendo anotações em sua mesa. O computador já estava desligado e os papéis organizados em pilhas ao seu lado. Em passos lentos, Miyuki se aproximou e repousou o relatório na frente dele. Dinesh ergueu a cabeça para fitá-la diretamente nos olhos, o que fez o coração da jovem disparar. Ela sempre ficava intimidada e presa ao seu olhar penetrante.

— Obrigado. Irá sozinha para casa?

— Bem, eu tentarei ir com o Masud-...

— Eu te dou uma carona.

— Hein?

— É isso o que você ouviu. Eu te darei uma carona.

— Tudo bem, senhor Yamir.

— Apenas Dinesh, o horário de trabalho acabou.

— Ah, é mesmo...

Ela olha para os lados um pouco desconfortável com o silêncio, batendo os pés de forma inquieta e repousando a bolsa sobre a mesa.

— Olha, é melhor eu ir com o Masuda. Talvez ele ainda esteja próximo da empresa.

— Você irá comigo.

— Desde quando você manda em mim?! — gritava impaciente, fazendo Dinesh a encarar com as sobrancelhas arqueadas. — Não pode usar a sua posição como dono da empresa ou o que houve entre a gente como pretexto para agir assim comigo! Eu vou embora sozinha e ponto final.

Dito isso, Miyuki dava as costas se dirigindo à porta em passos pesados até sentir uma mão firme em seu braço. Ela olhava para o Yamir por cima dos ombros e um calafrio percorria o seu corpo por aquele simples contato físico.

— O q-que...

— Você ia esquecer a sua bolsa.

De forma quase imediata, a jovem olhou por cima dos ombros dele avistando a sua bolsa sobre a mesa. Ela riu sem jeito mas a sua risada morreu gradativamente ao perceber que Dinesh não soltava o seu braço. Ele a fitava de forma intensa e descia o olhar para os lábios rosados de Miyuki. Por outro lado, a jovem estava perdida nos detalhes de sua face até focar unicamente em sua boca.

O tempo parou naquele momento.

Dinesh a puxou contra seu corpo enquanto sua boca se unia à dela, dando início a um beijo necessitado. Miyuki não demorou em retribuir, fechando os olhos e se entregando àquela sensação antiga que, querendo ou não, sentia falta. O seu corpo pedia por aquilo e, mais ainda, o seu coração também.

Uma chama, até então apagada, reascendeu.

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