"Talvez eu esteja muito ocupado sendo seu para me apaixonar por outra pessoa
Agora pensei bem sobre isso
Me arrastando de volta para você." - Do I Wanna Know?, Artic Monkeys
Miyuki atravessava aquele andar em passos apressados, segurando uma enorme caixa de papelão retirada da sala de arquivos. A sua chefe, Youko, e toda a sua equipe estava com o trabalho dobrado para realizar uma propaganda impecável. A chegada de um novo produto, o diamante sintético, na empresa exigiu um maior empenho dos funcionários. Por isso, a jovem não queria ficar para trás ao ver todos ao seu redor se esforçando.
Enquanto se dirigia até a sala de Youko, ela acabava esbarrando em alguém fazendo a caixa e, consequentemente, os documentos em seu interior caírem no chão.
— Desculpa, moça.
A sua voz suave a fez se questionar internamente se ele era um funcionário da empresa. O rapaz se abaixou junto com Miyuki a ajudando a recolher os papéis. Ele possuía cabelos negros e lisos tocando seus ombros. A sua pele era morena, possuindo os mesmos traços faciais do Dinesh – apesar de ter cílios mais longos e um nariz mais fino – exceto os olhos dourados como duas gotas de mel.
— Sem problemas, eu quem estava distraída. — ela dizia sorrindo sem jeito e o rapaz retribui o sorriso, expondo as covinhas nas bochechas. — O senhor seria...?
— Pode me chamar apenas de Kiran. Eu sou o irmão do dono da empresa.
Miyuki não conseguiu esconder a expressão surpresa, o que rendeu uma baixa risada do mais novo. Ele se erguia entregando a caixa para jovem com um sorriso gentil.
— Vocês são tão...
—... diferentes, eu sei. Eu e o Dinesh temos nossas divergências de filosofias, mas sou igualmente competente para liderar a empresa.
Talvez tudo fosse mais fácil se o Kiran tivesse sido o diretor, mas por que eu ainda prefiro o canalha do irmão dele?, ela pensava.
— Entendo. E o senhor está aqui para supervisionar o trabalho na ausência dele, certo?
— Na verdade, eu estou acompanhando a mamadi. Ela veio conversar com o atual diretor sobre umas questões administrativas.
— Mama... O que?
— Significa mãe. — comenta contendo a risada. — Desculpa, às vezes não consigo abandonar a minha língua nativa.
Naquele momento, ela recordava do Dinesh falando "baldi" e não pôde deixar de rir baixo, pensando em como um homem frio como o seu chefe poderia parecer fofo ao usar tal termo.
— Eu gosto dessas expressões.
— Sério? Que curioso! Bem, eu preciso ir antes que ele apareça.
— Ele? Quem?
— O Dinesh.
Diante do olhar confuso da jovem, Kiran decidia se explicar.
— Ele retornou ao Japão hoje, não sabia?
Miyuki até perdia o fôlego com a informação, negando com a cabeça sem esconder a expressão surpresa. Kiran analisava com um semblante confuso e abria a boca para comentar algo, mas via a sua mãe sair da sala apertando a mão de Masaichi. Então, ele fazia uma breve reverência como despedida e se aproximava de Mahara. Enquanto isso, a jovem permanecia estática tentando assimilar a chegada do seu chefe. Por um motivo que desconhecia, sentia-se nervosa como uma adolescente diante do seu amor secreto.
Eu tenho que me esconder!
Então, ela correu até o elevador apertando desesperadamente o botão e entrando na cabine quando as portas se abrem. Miyuki batia o pé de forma inquieta contra o chão até chegar ao setor da sua chefe, entrando na sua sala de forma apressada.
— Você está pálida, Miyuki. — comenta Youko, preocupada. — Viu algum fantasma?
— Não, não. Eu só... Como posso dizer...
— Está fugindo do Dinesh?
— Sim.
— Por que? Ele é o dono da empresa e frequenta todos os andares em suas vistorias, você não poderá evitá-lo para sempre.
— Eu sei mas estou com medo. — dizia soltando um longo suspiro. — Medo dele ter voltado mais frio e indiferente do que antes... Eu sinto como se essa empresa consumisse toda a energia dele.
Youko abria um sorriso de canto ao entender o motivo do medo da jovem, aproximando-se dela e apoiando a mão em seu ombro.
— E por que você tem medo dele ser indiferente contigo?
— Porque eu... Eu ainda o amo.
— Então, não há o que temer. O Dinesh é muito perceptivo quanto aos sentimentos alheios, por isso não ousaria te tratar mal sabendo do que sente. E se ele ousar, pode me contar que eu dou um puxão de orelha daqueles!
Miyuki ria fraco diante da ameaça de Youko, sentindo-se menos tensa com a volta do indiano. Então, ela a abraçava com força e balança a cabeça em concordância.
— Obrigada.
Durante o restante do dia, Miyuki não saiu da sala de reuniões fazendo anotações e ajudando a estagiária com o relatório a ser enviado para o canal de televisão. As suas passaram boa parte do expediente matinal organizando a questão burocrática para a apresentação do comercial enquanto Youko e sua equipe de publicitários formulavam a propaganda. Na hora de descanso, Miyuki preferiu pedir para que uma de suas colegas trouxesse o almoço para a sua pequena sala. Apesar da sua atitude causar estranhamento, ninguém ousou perguntar o motivo.
— Eu sou uma idiota infantil... — murmura cutucando o arroz com os hashi's. — Eu vou passar a vida toda trancada nessa sala? É impossível.
Após terminar o almoço, voltava ao seu trabalho mas ouvia batidas na porta. Por algum motivo, tinha um péssimo pressentimento com a chegada de Youko em sua sala.
— Poderia entregar esse roteiro para o Masaichi? — dizia estendendo a folha de papel para a jovem. — Está bem resumido como ele pediu.
Ela engolia seco, ficando de pé e pegando cuidadosamente o papel. Youko percebia o receio dela e ria um pouco alto.
— Calma, calma. O Dinesh ainda não chegou.
— N-Não?
— Não, o voo dele atrasou. Talvez nem venha hoje, então não se preocupe.
Miyuki encontrava-se dividida entre a alegria e a decepção, mas disfarçava com um fraco sorriso. Então, ela seguia para fora da sua sala sem medo de se esconder, indo até o último andar onde se encontrava a diretoria da empresa. Quando trabalhou como secretária do Dinesh, tornou-se amiga dos funcionários daquele setor e, por isso, todos a cumprimentavam com gentileza. Ela não podia negar como sentia falta daquele ambiente, mas estava se adaptando muito bem ao setor de publicidade.
Ela deu leves batidas na porta, ouvindo a confirmação e entrando cuidadosamente. Masaichi repousava os papéis sobre a mesa, ficando de pé e fazendo uma breve reverência para a jovem. Miyuki não pôde deixar de admirar a grande humildade dele que, mesmo ocupando o mais alto cargo, continuava a agir como um mero funcionário perante os demais.
— O relatório. — dizia entregando o papel para ele. — Deve ser cansativo administrar tudo isso.
— Sim, mas o Dinesh já está aqui. Essa será a última documentação que vou assinar como diretor.
O coração dela falhava nas batidas, olhando ao redor de forma desesperada.
— O senhor Yamir está na empresa?
— Ele acabou de chegar. Por sinal, o setor está pronto para recebê-lo. — comenta passando pela jovem e abrindo a porta. — Não vem?
— Não, não. Eu preciso ajudar a Youko na próxima reunião.
— Mas a Youko irá participar a festinha de recepção também...
— Quer dizer, eu tenho que resolver umas questões no RH.
— Como quiser. — dizia desconfiado. — Se mudar de ideia, nós estaremos aqui.
Ela acena positivamente com a cabeça, retirando-se da sala em passos apressados. Porém, seu corpo gelava ao ver Dinesh saindo do elevador e cumprimentando as pessoas presentes no último andar. Ele se encontrava surpreso quando os funcionários paravam ao seu redor, batendo palmas e Masaichi surgia jogando confetes nele. O indiano permanecia com um semblante neutro, retirando os confetes dos ombros. Miyuki mordeu o interior das bochechas para não rir diante da cena, imaginando que seu chefe estivesse contendo a vontade de gritar com todos presentes.
— Masaichi, não é para tanto. Eu só fui resolver questões da empresa por algumas semanas.
— Mas o seu nome começou a ficar limpo entre os funcionários. — murmura Masaichi no ouvindo do amigo. — Isso significa que seu trabalho aqui será mais fácil. Então, deixe-me comemorar um pouco, seu chato!
Ele dava nos ombros em sinal de indiferença e se encaminhava para a sala da diretoria, ignorando todos os olhares.
Quase todos.
Dinesh interrompeu a caminhada ao avistar Miyuki, mudando o trajeto para a sua direção. Nesse momento, a jovem sentiu a força de suas pernas sumirem e, lentamente, começou a recuar evitando o contato visual à todo custo. Contudo, o olhar penetrante do indiano atravessava a sua palma causando calafrios por todo o corpo. Ele parou à sua frente a encarando de forma intensa, fazendo as bochechas dela esquentarem.
— Dine...
— Olá, senhorita Sato. Então, voltou para a empresa? Que bom, espero que continue se esforçando.
Dito isso, Dinesh seguia seu caminho em direção à sala do diretor sendo acompanhado por Masaichi que o atualizava da situação da empresa. Os demais funcionários dividiam o bolo entre si enquanto Youko chegava no andar em passos apressados, abraçando o indiano com um largo sorriso. Miyuki via a cena do seu chefe se afastar após demonstrar total frieza com o reencontro dos dois, suspirando decepcionada. Então, ela decidiu voltar para a sua pequena sala enquanto secava algumas lágrimas com as costas da mão.
A jovem repousou os braços sobre a mesa e escondeu o rosto, tentando lidar com o aperto em seu peito. Ao ouvir o som da porta sendo aberta, rapidamente retornou à postura séria até ver uma pessoa desconhecida diante dos seus olhos. O homem aparentava ter 1,70 e um corpo esquio, mas bem destacado pela farda da empresa. O cabelo preto dele cobria parte de sua testa em uma franja que, particularmente, Miyuki achou fofo. Os seus olhos castanhos a encararam igualmente surpreso antes de abrir um sorriso tímido e se reverenciar.
— Desculpa incomodá-la, senhorita Sato. Eu sou Masuda Kojima, o novo estagiário da senhora Shimada.
— Prazer, senhor Kojima! Pode me chamar apenas de Miyuki. — dizia ficando de pé e fazendo uma reverência. — A Youko está em uma pequena comemoração no momento, mas pode aguardá-la aqui.
—Muito obrigado, Miyuki!
Ela sorria fraco e voltava a se acomodar na sua cadeira enquanto Masuda sentava-se à sua frente, analisando seu semblante cabisbaixo.
— Se me permite perguntar, está tudo bem com a senhorita?
— Ahm... Está sim. Eu só estou um pouco cansada do trabalho.
Masuda apoiava a sua mão sobre a dela que estava situada em cima da mesa. Miyuki ergue o olhar, confusa.
— Se precisar desabafar, saiba que eu estou aqui. E-Eu confesso que estou um pouco assustado por finalmente trabalhar na empresa do temido senhor Yamir, mas não quero ficar para trás. Quero dar o meu melhor a cada dia e ajudar as pessoas ao meu redor.
Um sorriso involuntário surgia nos lábios de Miyuki e ela repousa sua outra mão por cima da dele.
— Você é tão gentil, Masuda.
(...)
Kiran saía da empresa antes de encontrar o seu irmão. Ao entrar no seu carro, uma Lamborghini Veneno preta, deixava o ar sair de seus pulmões. Mahara sentava-se no banco do passageiro e lançava um olhar de reprovação que não passa despercebido pelo filho antes de dar partida no carro.
— Eu não vou falar com ele.
— Por que não, Kiran? Ele é seu bhaya.
— Isso não apaga os erros dele, não muda a forma como ele me tratou por todos esses anos.
Mahara suspirava pesadamente, acomodando-se no banco.
— O Dinesh está tentando mudar por nós e por si mesmo, porque quer se desvencilhar da pessoa que era no passado. Você não acredita na redenção dele, Kiran?
Ele apertava com força o volante, sentindo os músculos serem pressionados contra o terno.
— Eu...
— Você seguiu em frente depois do que o Aseem fez, mas por que não perdoa o seu bhaya? Por que perdoá-lo é tão difícil?
— Porque ele era a pessoa quem eu mais confiava! — gritava com lágrimas nos olhos, virando o rosto em direção à mulher. — O Dinesh... Ele era o meu herói, o exemplo que eu sempre quis seguir. Então, de um dia para o outro, eu não passei de um mero lixo em sua vida. Como quer que eu reaja, mamadi? Por que ele começou a agir dessa forma com a própria família? Eu não consigo entender.
Por breves segundos, Mahara encontrava-se sem palavras pois precisava concordar com seu filho. Dinesh, por muito tempo, negligenciou a própria família e valorizou somente o seu trabalho, como se a empresa fosse tudo o que importasse em sua vida. Ela percebia como a forma de agir fria dele magoava todos ao seu redor, mas os seus conselhos começaram a perder o efeito conforme o coração do Yamir se tornava cada vez mais frio.
— Não tem sentido... O Dinesh nunca trataria a família assim sem um bom motivo. Certo dia, o Raj me pediu para ser compreensiva com ele, então isso me faz crer de que há algo mais profundo no coração do Dinesh que não compreendemos.
— Como o que? O Dinesh está bancando o vilão para nos proteger? — questiona Kiran ironicamente, secando as lágrimas e voltando a atenção para a pista. — Isso não é o estilo dele.
— Tem certeza? Ele sempre teve um lado protetor, principalmente quando se tratava da sua família. As pessoas não perdem a sua essência, Kiran. Elas apenas as ocultam quando é necessário.
Ele optava por ficar em silêncio durante o resto do caminho, parando o carro na frente da mansão enquanto abria a porta para a sua mãe, mantendo o típico sorriso gentil. Kiran seguia para a sala onde via sua irmã fazendo alguns desenhos, mas logo virava o rosto em sua direção quando percebia a chegada dos dois.
— O bhaya já chegou?
— Ele passou na empresa primeiro para resolver uns assuntos pendentes, então provavelmente virá no final do dia.
Maya fazia um leve bico em desagrado, voltando a desenhar em seu caderno. Kiran seguia para o seu quarto, jogando-se na cama e afundando o rosto em seu travesseiro. Em meio ao silêncio de longos minutos, acabava murmurando para si mesmo:
— Eu só quero o antigo bhaya de volta...
(...)
Dinesh coçava a nuca enquanto seus olhos cansados estão focados na prancheta que Masaichi segurava em suas mãos. O vice diretor explicava minuciosamente as mudanças na empresa, gesticulando com certo ânimo por ter seu amigo de volta. Por outro lado, o indiano bocejava durante a conversa e isso fez o mais velho interromper a caminhada em direção ao RH.
— Assim não dá, Dinesh! Você precisa estar inteiramente focado.
— Eu estou focado.
— Está? Então, o que eu estava falando agora?
— Em como o seu namorado é lindo e eu sou o chefe mais gostoso de todos.
— De fato, o Yuri é lindo mas não estava falando sobre isso.
— Então, acertei quando disse que estava falando que eu era o chefe mais gostoso de todos? — dizia com um sorriso convencido.
Masaichi revira os olhos, cruzando os braços logo em seguida.
— Claro que não!
— "Não" sobre esse ser o foco da conversa ou "não" de que não sou o mais gostoso?
— E isso importa?!
— Nunca se sabe, alimentar o meu ego sempre é bom. — comenta dando nos ombros. — Não acha, querido?
— Eu acho que seu ego está tão bem alimentado que mal pode sair da cama.
— Geralmente, são as pessoas que não conseguem levantar da cama quando estão comigo. — Dinesh dizia abrindo um sorriso malicioso. — Por Ganesha, Masaichi! Estamos na empresa, precisamos de uma conversa séria.
— Espera! Eu quem deveria estar te dando uma bronca por não se concent-...
— Que seja. Eu pegarei um café, senão vou dormir com essa conversa entediante.
Dinesh seguia em direção à pequena sala reservada para os funcionários almoçarem ou descansarem. Raj havia implantado um "cantinho de lazer" em cada setor para que todos pudessem aproveitá-lo no horário livre e, também, aliviar um pouco o stress do trabalho. Ao chegar na sala, encontrava Miyuki e Masuda conversando animadamente. A sua ex-secretária jogava a cabeça para trás, deixando escapar uma alta risada enquanto o rapaz ao seu lado estava com a mão apoiada sobre o ombro dela.
A cena causou certo desconforto no Yamir.
— Estou atrapalhando?
A voz grave e seca ecoou no lugar, fazendo as duas pessoas presentes virarem o rosto em direção indiano, expressando surpresa com a sua presença.
— S-Senhor Yamir?
— O dono da empresa?! — Masuda exclama surpreso, fazendo uma rápida reverência. — Eu sou o seu fã. Desde que a revista Tokyo Business fez um artigo sobre a sua rotina, criei uma imensa admiração pelo seu esforço desde jovem.
Provavelmente foi uma das revistas que a Youko firmou contrato, Dinesh pensava enquanto se aproximava com as mãos dentro dos bolsos do terno.
— Sério? Que interessante.
Masuda continuou falando sobre os grandes feitos do Dinesh no mundo dos negócios, mas o próprio estava com o olhar focado em Miyuki. Ela, por outro lado, retribuía a intensa troca de olhares com uma expressão confusa.
— Colega de trabalho?
— Desde quando isso te interessa, senhor Yamir?
Ele demonstra surpresa por causa da agressividade na fala de Miyuki, mas não demora para rir de forma seca.
— Anda afiada, senhorita Sato.
— O senhor não é o único que sabe responder alguém.
— Então, passou esse tempo da minha ausência tentando ser igual à mim? — questiona inclinando levemente o corpo. — Ainda há muito o que aprender para a sua infelicidade.
— O senhor não é o meu parâmetro.
— Será?
— Estou atrapalhando algo? — questiona Masuda, receoso.
— Nã-...
— Está sim. — Dinesh interrompe a jovem e olha de canto para o estagiário, meneando com a cabeça em direção à porta. — Saía daqui. Eu preciso ter uma conversa com a senhorita Sato.
O mais jovem buscava uma explicação em Miyuki e ela sorria envergonhada, fazendo uma breve reverência como pedido de desculpas. Em seguida, Masuda saía da sala deixando os dois à sós.
— Não deveria ter agido assim com o Masuda.
— Já o chama pelo primeiro nome? Estão bem íntimos, hein.
— Como você e a Allisson? — pergunta com ironia. — Não, nós ainda não transamos.
Dinesh estreita os olhos mas permanece calado.
— E o senhor não tem o direito de ficar assim, sendo que agiu com total frieza quando me viu...
— Frieza? Oh... Eu não queria te prejudicar no trabalho.
Miyuki o encarava sem entender e o Yamir tratava de se explicar.
— Se eu te tratasse de uma forma especial, iam pensar que você foi realocada para a sede por minha causa e não por sua capacidade. Eu sei muito bem como alguns funcionários podem ser tóxicos e espalhar boatos cruéis. — dizia recordando de quando ouviu três funcionários lançando comentários nada agradáveis sobre a sua pessoa, por ter um jeito mais bruto de administrar a empresa. — Eu fui tão frio assim? É força do hábito.
Dinesh ria fraco para quebrar o clima enquanto Miyuki estava levemente corada com sua confissão.
Ele fez isso pensando em mim, pensa com um sorriso bobo.
— Você...
— Eu sou incrível, eu sei.
Ela revira os olhos, voltando a estar indiferente com a sua presença.
— Idiota.
— O que disse?
— Nada.
O indiano lança um olhar desconfiado, mas decide deixar de lado.
— Eu preciso ir, tenho umas questões a resolver no RH. — ele comenta pegando um pouco de café e seguindo em direção à saída até sentir a mão da jovem segurar o seu braço. — Sim?
— Eu também irei para o RH.
— Não te perguntei.
Dito isso, ele saía da sala mas podia ouvir um xingamento nada agradável vindo de Miyuki. Ela o acompanhava em passos pesados, mas disfarça sua raiva com um sorriso ao encontrar Masaichi que também entrava no elevador, ficando entre os dois. Dinesh olhava para um lado, a jovem para o outro e o vice diretor encontrava-se no centro, batendo de forma impaciente o pé contra o solo.
— Não é por nada... — Masaichi começava a falar alternando o olhar entre ambos. — Mas por que tem uma puta tensão sexual aqui?
Dinesh conteve a risada enquanto Miyuki se encontrava vermelha, mal podendo responder a pergunta pois as portas se abrem e os dois homens seguem sem olhar para trás. Ela os acompanha com o olhar antes de andar em direção oposta, apoiando a mão sobre o coração o sentindo inquieto.
O restante do dia foi exaustivo para o Yamir que passou por duas longas reuniões. Felizmente, Masaichi encontrava-se do seu lado o incentivando e também fazendo anotações sobre as reuniões. Em seguida, os dois tiveram um encontro particular com um dos sócios para um debate sobre a questão financeira da empresa e, assim, terminaram o expediente.
Por outro lado, Miyuki se jogava sobre a sua mesa após um longo dia. Youko havia saído alguns minutos antes e a jovem aproveitou para organizar a sua mesa, visando ter menos trabalho no outro dia. Porém, ela erguia o olhar quando uma caixa dourada era depositada em sua frente e encarava, surpresa, o rapaz de sorriso dócil.
— Nada melhor do que terminar um dia cansativo com chocolate.
Miyuki puxava a fita vermelha e retirava a parte superior da caixa, surpreendendo-se com os bombons ovais de chocolate branco. Instantaneamente, levantou-se da sua cadeira e deu um forte abraço no estagiário.
— Você é um amor, Masuda. Eu nem sei como te agradecer.
Ele apoiava as mãos na cintura dela para prolongar o contato físico, mesmo após Miyuki desfazer o abraço.
— Não precisa. Eu só quero te ver bem.
Em resposta, ela abria um sorriso singelo de agradecimento e pega sua bolsa a ajeitando em seu ombro. Masuda envolvia seu braço no dela em um gesto de cavalheirismo e ambos saíam da sala, dirigindo-se para o elevador. Miyuki já começava a atacar os doces, oferecendo-os para o rapaz que, mesmo sem jeito, acabava aceitando após muita insistência.
— É bom saber que estarei rodeado de pessoas boas nessa empresa.
— A maioria dos funcionários são simpáticos.
— Exceto o senhor Yamir. Ele me deu um pouco de medo... Será que é sempre tão intimidador assim?
Miyuki pigarreia diante de sua pergunta, apertando o botão do elevador para irem até o térreo.
— Talvez.
— Ele pareceu te conhecer muito bem.
— Impressão sua.
— Não sei. — murmura desconfiado. — De qualquer forma, vou evitá-lo à todo custo. Eu acho que ele não gostou de mim.
— Eu acho que o senhor Yamir tem uma lista muito restrita de pessoas que gosta. — comenta Miyuki rindo baixo e levando outro bombom à boca. — Mas, no fundo, ele é uma boa pessoa.
— Não é o que dizem. Eu ouvi boatos que ele é um monstro sem coração no mundo dos negócios, pisando nos concorrentes e intimidando os seus adversários.
Eu não posso discordar, ela pensava.
— Ele tem seus pontos positivos na personalidade.
— Como qual?
Antes que Miyuki pudesse responder, ela sentia o celular vibrar e lia a mensagem de Youko. Masuda saía do elevador e a encarava esperando que o acompanhasse.
— Pode ir, eu tenho que entregar um relatório ao presidente.
— Agora?
— Sim, é um pedido da Youko. Ela é quem manda.
Mesmo triste, Masuda acena em concordância e se despedia com uma reverência. Depois de pegar o relatório no setor de publicidade, a jovem se dirigia para o último andar que se encontrava vazio, pois a secretária do presidente já havia sido dispensada. Por um momento, encarou a cadeira vazia relembrando da sua antiga função e sorriu fraco. Então, seguiu até o final do corredor e deu leves batidas na porta antes de entrar. A sala continuava da mesma forma, mas menos bagunçada e mais organizada nas prateleiras.
Os seus olhos percorrem o ambiente até repousar no homem fazendo anotações em sua mesa. O computador já estava desligado e os papéis organizados em pilhas ao seu lado. Em passos lentos, Miyuki se aproximou e repousou o relatório na frente dele. Dinesh ergueu a cabeça para fitá-la diretamente nos olhos, o que fez o coração da jovem disparar. Ela sempre ficava intimidada e presa ao seu olhar penetrante.
— Obrigado. Irá sozinha para casa?
— Bem, eu tentarei ir com o Masud-...
— Eu te dou uma carona.
— Hein?
— É isso o que você ouviu. Eu te darei uma carona.
— Tudo bem, senhor Yamir.
— Apenas Dinesh, o horário de trabalho acabou.
— Ah, é mesmo...
Ela olha para os lados um pouco desconfortável com o silêncio, batendo os pés de forma inquieta e repousando a bolsa sobre a mesa.
— Olha, é melhor eu ir com o Masuda. Talvez ele ainda esteja próximo da empresa.
— Você irá comigo.
— Desde quando você manda em mim?! — gritava impaciente, fazendo Dinesh a encarar com as sobrancelhas arqueadas. — Não pode usar a sua posição como dono da empresa ou o que houve entre a gente como pretexto para agir assim comigo! Eu vou embora sozinha e ponto final.
Dito isso, Miyuki dava as costas se dirigindo à porta em passos pesados até sentir uma mão firme em seu braço. Ela olhava para o Yamir por cima dos ombros e um calafrio percorria o seu corpo por aquele simples contato físico.
— O q-que...
— Você ia esquecer a sua bolsa.
De forma quase imediata, a jovem olhou por cima dos ombros dele avistando a sua bolsa sobre a mesa. Ela riu sem jeito mas a sua risada morreu gradativamente ao perceber que Dinesh não soltava o seu braço. Ele a fitava de forma intensa e descia o olhar para os lábios rosados de Miyuki. Por outro lado, a jovem estava perdida nos detalhes de sua face até focar unicamente em sua boca.
O tempo parou naquele momento.
Dinesh a puxou contra seu corpo enquanto sua boca se unia à dela, dando início a um beijo necessitado. Miyuki não demorou em retribuir, fechando os olhos e se entregando àquela sensação antiga que, querendo ou não, sentia falta. O seu corpo pedia por aquilo e, mais ainda, o seu coração também.
Uma chama, até então apagada, reascendeu.