Não pensei que me importava tanto com Yoongi, mas a semana passada longe dele me fez ter certeza de que eu gosto dele ao ponto de passar horas relembrando nosso encontro no parque em busca de alguma afirmação de que o que tivemos - mesmo que brevemente - não se passou somente na minha cabeça. Ao mesmo tempo que isso acontece me sinto idiota por pensar em coisas assim, há tempo deixei de ser um adolescente bobo e apaixonado. No mundo real, pessoas se afastam e não há contos de fadas.

Eu só gostaria de saber escolher melhor minhas companhias.

— Kim Taehyung? — um senhor me encara com suas grisalhas sobrancelhas franzidas em uma tentativa de reconhecimento.

— Hm, perdão, eu o conheço? — começo a passar os produtos dele, mas meus olhos continuam atentos no desconhecido.

— Imagino que não, te conheci quando ainda era criança. Ah, mas faz cinco anos que comprei um de seus quadros! Ships in the night, lembra? — arregalo os olhos quando o conhecimento bate lentamente na minha mente. Sim, eu lembro dele no dia em que o quadro foi leiloado, apesar de não ter nenhuma memória com ele que esteja ligada a minha infância.

— Lembro sim! — sorrio, animado. — O senhor usava uma gravata azul, lembro porque parecia a cor que usei para pintar o oceano da pintura.

— Se eu vasculhar bem tenho certeza que acharei aquela gravata. — ele ri. — Comprei seu quadro para minha filha, ela que o achou na internet. Temos bom gosto, não acha? — ele gargalha alto e não posso evitar o sorriso no meu rosto.

— Sou suspeito em confimar isso. — sorrio, envergonhado.

— Tae, é sua hora de almoço. — Jungkook caminha até o caixa e repõe as sacolas de papel que já estavam no fim. Seu rosto carrega uma expressão dura de poucos amigos, e eu sou amigo dele o suficiente para saber que seu pai está no mercado.

— Oh, você é o filho do Jeon! Você está a cara do seu pai quando jovem.

— Hm, não me ofenda assim. — murmura, Jeon. Mordo o lábio para não rir.

— O que disse? — questiona o senhor com um sorriso brincalhão no rosto.

— De onde conhece meu pai? — pergunta Jeon, parece tentar ser civilizado ao mesmo tempo que também está curioso.

— Estudamos juntos. — mas quem diz isso não é o homem que um dia comprou meu quadro. Quem diz isso é Jeon Junhyun, o pai de Jungkook. Ao contrário da tia, Junhyun parece ter envelhecido bastante desde que estive fora. Seus cabelos estão grisalhos, apesar de bem penteados. Rugas emolduram as áreas ao redor de seus olhos amendoados, e quando ele sorri para o homem parece cansado.

— Lindo reencontro, Tae, por que você não vira aquela plaquinha para que as pessoas saibam que o caixa está fechado? — Jungkook põe as mãos no bolso e evita encarar os olhos do pai.

— Não seja mal-educado, Jungkook. — diz o pai, então sua atenção se volta pra mim. Engulo em seco, no fundo sempre tive medo do pai de Jeon. — Você está ótimo, Taehyung, é bom finalmente revê-lo!

— Igualmente, senhor. — sorrio, esperando que o gesto pareça gentil.

— Ainda lembro desses dois correndo pelas ruas, você tinha um trabalho em dobro com eles.

— Nem me fale, Tom.

Termino de passar as compras do homem - que aparentemente se chama Tom - e espero que ele pague. Mas agora Junhyun e ele estão imersos em uma conversa, olho para Jungkook para ver o estado do meu amigo e o vejo revirar os olhos com tanta força que tenho medo que se percam em algum lugar de sua cabeça.

ᴅᴏʟʟʜᴏᴜsᴇ | ᴋᴛʜ + ᴍʏɢWhere stories live. Discover now