Capítulo VIII

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Akira Yamaguchi

"No berço da prisão

O brilho da pedra atrai

Mas a jóia sozinha

É fria como defunto.

Unidade e divisão

Do berço que sai

Suas partes separadas

Devem se encontrar em conjunto."

Anippe terminou de dizer aquelas palavras e todos nós continuamos olhando a pequena caixa branca que estava em cima da mesa redonda. Ninguém sabia de onde ela tinha vindo, mas Angela a trouxera do Centro de Correspondências. Ela viera endereçada à Jack, mas continha uma pena branca cravada em baixo relevo na caixa de madeira.

Eu, Aisha, Bernie, Jack, Ani e Angela circundávamos a mesa como se a caixa fosse um defunto, mas, na verdade, nós ainda esperávamos que alguma coisa explodisse.

Mas nada explodiu.

— Eu não entendi nada — Angela disse, com a mão sempre em cima da arma no coldre.

— Será que tem algo a ver com aquele endereço que recebemos? — Aisha questionou, tão confusa quanto eu.

Mas foi Ani que falou algo que começou a fazer sentido.

— Não, não é sobre o endereço — ela andou até o microscópio que estava na bancada encostada na parede do fundo e, de lá, retirou o anel de rubi e o levantou. — Esse poeminha aí tá falando disso daqui.

"O brilho da pedra atrai", não precisava ser um gênio pra entender.

Todos nós ficamos ali olhando o anel preso entre dois dedos de Anippe, ainda sem entender muita coisa que fizesse sentido com nossa recente descoberta, além do poema.

Os olhos de Anippe foram minuciosos, mas não capazes de ver a inscrição mínima que estava esculpida em uma das facetas lapidadas do rubi vermelho e brilhante. Foi preciso a análise de Jack pelo microscópio para ver os dois números.

Uma fração.

½.

E aí, uma ficha caiu na minha cabeça, depois de um tempo que recebeu a informação.

— É isso! — Dei um soco na mesa que fez com que a caixa tremesse e todos dessem um pequeno pulo para trás. — Suas partes separadas devem se encontrar em conjunto! Um anel de pedra preciosa...

— Sempre tem também um par de brincos e colar que combinam! — Anippe completou meu raciocínio.

Bernard começa a coçar o queixo onde sua barba rala começa a crescer, e continua:

— Por isso a fração escrita nele, ele é metade de alguma coisa. Faz muito sentido.

Todos ficam agitados com a descoberta, e, após alguns segundos de intensa falação, é Aisha que nos traz de volta ao problema:

— E onde é que está a outra metade?

Silêncio.

Todos nós paramos, como se a animação tivesse ido embora de repente.

Anippe lê o poema mais uma vez, e depois outra mais.

Analisamos juntos, cada palavra escrita.

— Será que não é aquele endereço que recebemos? — Aisha mesma deu a ideia.

— Aisha, nós já vasculhamos tudo que era possível daquele papel. Aquele endereço não faz nenhum sentido, você sabe — Bernie respondeu, exausto. Ele passou quase um dia inteiro aqui no Centro procurando nos satélites, em sites de mapas e em tudo o que ele conhecia sobre geolocalização, mas nada útil foi encontrado.

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