Capítulo XIX

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Mederi Cartter

No meio da explosão, vejo um reluzir violeta.

Aqueles olhos não me passariam despercebidos em lugar algum do mundo.

— Kaid... — peço, olhando pela janela. — Me dá o mapa de visualização, por favor.

O homem grisalho me estende o dispositivo sem nem olhar para mim, e eu o pego já ajustando o ângulo de observação do drone de mapeamento de batalha.

O dispositivo é um recurso inteligente que, com as imagens aéreas captadas de um drone com membrana invisível, consegue identificar e esquematizar nossas posições no campo de batalha. Com o reconhecimento facial e busca no banco de dados, o sistema identifica cada agente da OCRV, vendo se ele está em desvantagem numérica e emite alertas caso se precise de algum auxílio em determinado local. Também é possível aproximar a imagem em alta definição, o que é exatamente o que eu quero com o recurso nesse momento.

Na parte mais recuada do combate, próximo a um prédio decrépito, vejo os nomes de "Jade Rost" e "Jonas Schneider" — nomes que agora eu sei pertencerem às personagens adotadas por Malika e Vladmir.

Não consigo ver onde Malika está, mas consigo visualizar Vladmir. Ele está praticamente irreconhecível; mas, os olhos violetas não deixam dúvidas. E usando uniformes pretos e violetas, Bernard, Akira e Aisha lutam como feras, dizimando e derrubando inúmeros agentes, vez após vez. Os olhos violetas estão iluminados, como que brilhantes, e a cor se torna mais intensa a cada vez que eles usam seus poderes. A lâmina da katana de Akira brilha em vermelho, enquanto ele avança como uma máquina mortífera. Anippe deve estar invisível em algum lugar, porque não a vejo, mas suas flechas surgem do ar e são praticamente sempre letais. O grupo todo se move como um só corpo: fogo e gelo, lâminas e pulsos de força, além de flechas e virotes explosivos que causam confusão entre seus oponentes.

Uma aura de medo se espalha entre os agentes, e é possível ver seu desespero mesmo daqui de cima. Todos conhecem muito bem a fama deles, e ninguém gostaria de enfrentá-los em uma luta.

Eles são imbatíveis.

— Desgraçados... — murmuro.

Ao seu lado, além de uns poucos agentes que não sei de quem se tratam, há um exército de soldados portando armas altamente letais. Por seu comportamento em campo e seu porte físico, é visível que eles são treinados e possuem grande potência em armamento. Até um homem de cabelos compridos e comportamento histérico parece ter extrema destreza com o arco, e mantém os olhos castanhos abertos, sem piscar, parecendo um louco.

De onde saiu essa gente?

Kaid solta um palavrão ao meu lado.

— Mas o que é isso? O que eles são?

Procuro o que deixa o piloto tão estupefato, e dou um pequeno pulo na poltrona. Também não acreditaria se não me contassem. Mas agora, diante dos meus olhos, vejo Akira, Bernard e Jonas/Vladmir flutuando no ar em blocos imensos de concreto, que servem como uma barreira a todo ataque que eles sofrem de baixo. Relembro as nossas ordens diretas de capturar a todos com vida, e as amaldiçoo novamente, porque não teríamos tantas baixas caso estivéssemos autorizados a matá-los.

Mas uma certeza surge em minha mente, e um comichão sobe pelo meu pescoço ao discernir uma verdade: a OCRV não se importa com as baixas dos seus soldados. Somos instrumentos de matança. Ano que vem, mais agentes, mais jovens e mais fortes, serão recrutados para substituir essas pessoas que deram a vida aqui hoje em prol de uma luta que não é deles. Todos são substituíveis.

Exceto por eles. As queridas aberrações.

De repente, de cima do prédio, vejo um flash dourado que capta a minha atenção. Uma flecha com fogo sai do nada, e fixo meu olhar no ponto onde o ar parece se condensar.

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