Capítulo XX

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Sophia Medeiros

Essa viagem parece durar uma eternidade.

Não ouso abrir a minha boca, apenas olho ao redor. Nosso avião não tem muitos passageiros, pois tiveram que retirar parte dos assentos por conta desse aparelho enorme e coberto, o qual ocupa muito espaço. Não faço ideia do que pode estar ali, mas tenho certeza de que não vou gostar de descobrir.

Olho para a cabine do piloto, e penso em como eu daria tudo para saber o que se passa lá dentro. Eu poderia criar um clone, mas não tenho noção espacial completa do ambiente do avião, e não tenho certeza de que não seria vista.

Acho que a energia do mal sentiu meus olhares porque, enquanto penso isso, a porta se abre e a minha torturadora vem em minha direção.

— Oi, ruivinha. Curtindo a viagem? — O sorriso irônico jamais deixa seu rosto. — Acho que você já viu demais, hora de limitar esse privilégio.

Ao dizer isso, ela rasga um pedaço do pano que cobre a máquina e vem em minha direção.

A cabine está aberta. É agora ou nunca, penso.

Meus olhos são tampados, e não luto contra ela. Apenas mantenho minha feição de medo, pois quero que ela pense que tem algum poder aqui, enquanto minha ação de verdade se desdobra.

Ao perder a visão o meu corpo de verdade, apenas a do meu clone aparece, e não preciso de esforço para focar dessa vez. Minha menina está de pé logo atrás do piloto.

Olho ao redor, e levo um tempo calculando minhas próximas ações, pois sei que um movimento sequer entregaria minha localização e meu plano.

Vejo o painel cheio de botões do piloto e, ao seu lado, um dispositivo com vários pontos piscando sobre um mapa. Além disso, noto a presença de um papel e nele, em meio a vários nomes, dois que estão grifados captam minha atenção: Jade Rost e Jonas Schneider.

Desintegro meu clone quando escuto os passos de Mederi, e agora me resta apenas a escuridão e os sons ao redor. Nosso avião pousa, e escuto a cabine se abrir.

Será que chegou o momento de uma negociação? Serei levada ao encontro deles?

Essas perguntas rodam minha mente, e são silenciadas pelo som de alguém entrando novamente e pela aeronave decolando novamente.

Estou completamente perdida, concluo.

Paramos de novo e, dessa vez, todos parecem estar desembarcando do avião. Escuto a grande máquina sendo carregada e me permito dizer algo pela primeira vez em muito tempo:

— O que está acontecendo? Achei que hoje era meu dia de fazer alguma coisa.

— Silêncio! — Reconheço a voz de Karina, que vinha me treinando. — Seu papel é o maior trunfo e vai ser usado apenas no fim disso, se necessário. Me mandaram aqui para reforçar suas algemas, e já lhe aconselho a não tentar nada idiota. Voltaremos após lidar com Anippe.

Me coração dispara. Como assim "lidar com Anippe"? Por que especialmente ela?

Então eles estão mesmo aqui, penso. Tenho que me libertar agora.

Espero o barulho cessar e faço outro clone. Eles realmente pensaram que eu estava abatida o bastante para não usar meus poderes? Que idiotas. Faço um clone dentro da sala novamente, e vejo que o piloto está acompanhando Mederi pelo dispositivo de localização que vi antes.

A equipe toda está reunida em uma sala no prédio onde estamos pousados, e noto novamente os nomes falsos grifados no papel e um rádio sobre ele.

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