Caitlyn Macgiver é só uma adolescente normal

Ajuda mútua

O almoço estava pronto como era esperado. Assim que Caitlyn pisou em casa, sua mãe se surpreendeu, fora relativamente rápida e não era o que esperava. Se acostumara com a garota se atrasando propositalmente e por consequência sempre comia sozinha, o que não era a coisa mais agradável do mundo, diga-se de passagem. O marido trabalhava horas à fio, tinha conseguido um cargo na prefeitura recentemente e voltava para casa basicamente no período da noite, sua cabeça era um turbilhão e não sabia qual seria o futuro de sua relação. O que sabia menos ainda, é que aquele em quem confiara tanto tempo e que abandonou qualquer coisa para estar junto, chegava mais tarde em casa por outros programas que nada tinham a ver com o trabalho. Não seria uma descoberta agradável na verdade e nem tinha como ser, mas não era o tipo de coisa com o que ele se preocupava. Caitlyn não tinha ideia nenhuma sobre isso e sinceramente, no momento atual era melhor assim, sua relação com a mãe já era uma grande montanha-russa que parecia atravessar círculos de fogo e coisas do gênero, não sobraria ninguém ao seu redor. Pelo menos não dentro da família. Família não é o lugar mais agradável para qualquer jovem, todos os adultos são iguais com conselhos iguais e mentalidade igual, não é como se nunca fosse ouvir um "na sua idade eu..." ou "na minha época não existia isso, não era assim aquilo" e é algo que na cabeça de uma jovem como Caitlyn Macgiver só passava "sim, nós não somos a mesma pessoa, que tal parar de comparar suas experiencias e viver a própria vida ao invés de ditar como eu deveria viver a minha?" e essa é a maior dificuldade dos adultos. Aceitar a individualidade. Isso porque eles cresceram com outros adultos que por sua vez cresceram com outros e sempre o mesmo discurso patético e pré-pronto é passado à cada geração e como bem se sabe, a convivência gera hábitos e nos afeta também então se vivemos com pessoas que julgam muito as outras, dificilmente sairemos desse mesmo padrão. As comparações chegam a ser doentias, mas não é nada importante, afina estamos todos ocupados demais trabalhando em algo o dia inteiro para obter sustento e estudando coisas para trabalhar em lugares para obter sustento, pouquíssimas pessoas senão somente as mais abastadas serão tão felizes a ponto de poderem fazer o que bem entenderem. Por exemplo, Caitlyn adoraria criar sua própria loja pois secretamente amava artesanatos, Belinda adoraria ser blogueira e a irmã de Rennan adoraria ser escritora algum dia. Futuros improváveis.

- Você chegou... – Mary ensaiou a frase enquanto observava a menina sentar-se à mesa – Aconteceu algo?

- Não, nada na verdade – Sim, Belinda teve um surto, era uma pessoa completamente instável e não tinha noção nenhuma sobre o funcionamento da vida, completamente problemática e precisava com certeza de uma terapia urgente. Mas não julgava demais, talvez se não fosse o tratamento com o diário acabaria sendo muito pior – Você falou o horário do almoço e eu achei que já estivesse pronto por isso voltei

- Sim... Está. – A mãe tentava com fervor controlar a reação surpresa e a felicidade que sentia pela presença da garota, pode até ver um pequeno sorriso no canto do rosto de Caitlyn mas baby steps era o que pensava. Baby steps.

- Escuta... – foi a vez da garota ensaiar – Aquele meu colega que apareceu aqui outro dia – Sentiu o rosto corar de leve, mas se esforçou para continuar, tomou coragem e prosseguiu – Ele vem mais tarde estudar comigo hoje. Tudo bem?

- Acho ótimo! Inclusive talvez eu vá ao centro mais tarde. Quer que eu traga algo? – indagou colocando as panelas sob os protetores de mesa e sentando-se de frente para a filha que começou a servir o strogonoff com arroz e batata frita

- Na verdade – refletiu por algum tempo. Eles passariam um dia inteiro estudando? O garoto parecia precisar muito desopilar um pouco e só matérias da escola não seriam suficientes – Se puder trazer material de artesanato eu agradeceria, mas... Pode trazer comida? Tipo ruffles, sorvete, sabe?